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QUAL O SEU DIAGNÓSTICO? WHICH IS YOUR DIAGNOSIS?

Walter Luís Frare da SilvaI; João Maurício Canavezi IndianiII; Marcelo Fontalvo MartinII; Rodrigo Ciotola BrunoIII; Luiz Arnaldo SzutanIV; Marcelo Souto NacifV

IMédico Aperfeiçoando do Terceiro Ano da Unidade de Radiologia Clínica (URC), São José dos Campos, SP, Brasil

IIMédicos Radiologistas da Unidade de Radiologia Clínica (URC), São José dos Campos, SP, Brasil

IIIMestre, Médico Cirurgião Geral e Coloproctologista do Hospital Vivalle, São José dos Campos, SP, Brasil

IVProfessor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Chefe do Grupo de Cirurgia do Fígado da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

VDoutor, Professor do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Marcelo Souto Nacif Rua Barão de Cocais, 324, Bosque Imperial São José dos Campos, SP, Brasil. 12242-042 msnacif@huap.uff.br / www.msnacif.med.br

Paciente do sexo feminino, 47 anos de idade, deu entrada na emergência com quadro de desconforto abdominal com 10 dias de evolução, apresentando dor contínua e em pontada na região epigástrica. Relatava piora com febre nos últimos três dias. A paciente não possuía nenhum relato de doenças pregressas. Os exame laboratoriais demonstraram leucocitose sem desvio. Como a dor epigástrica era importante, a paciente foi encaminhada para endoscopia, que demonstrou lesão elevada no antro, com aproximadamente 1 cm e umbilicação coberta por fibrina, sendo realizada biópsia.

A paciente evoluiu com piora do quadro álgico, mantendo-se febril, mas sem sinais de peritonite. Foi realizada tomografia computadorizada do abdome (Figuras 1 e 2) sem e com contraste intravenoso.



Descrição das imagens

Figura 1. A: Formação expansiva, predominantemente hipodensa, loculada e de contornos anfractuosos, medindo 8,1 × 6,2 cm, e com realce periférico e heterogêneo pelo meio de contraste intravenoso, localizada no lobo hepático esquerdo (segmentos II e III). Foram identificadas bolhas de gás de permeio. B: Observou-se, em íntimo contato com o lobo hepático esquerdo, formação linear hiperdensa, que se manteve em todas as fases do estudo.

Figura 2. Reconstruções MIP axial e coronal, na fase sem contraste, mostrando a formação linear hiperdensa, em íntimo contato com o lobo esquerdo hepático. Notar que a pequena curvatura gástrica apresenta-se em íntimo contato com o lobo hepático esquerdo.

Diagnóstico: Abscesso hepático piogênico causado por corpo estranho que perfurou a pequena curvatura.

COMENTÁRIOS

Abscesso hepático causado por corpo estranho é uma doença relativamente rara e de difícil diagnóstico(1) e foi descrito pela primeira vez em 1898(2,3). A grande maioria dos casos é causada por palito de dente, espinha de peixe (Figura 3) e próteses dentárias(1,3,4). O grau de suspeição por parte dos profissionais de saúde é limitado, uma vez que os sintomas são variados e inespecíficos e a maior parte dos pacientes não relata prontamente a ingestão do corpo estranho(1,2).


A maioria dos corpos estranhos (Figura 4) ingeridos atravessa o trato gastrintestinal sem intercorrências no prazo de uma semana(3). Para a formação do abscesso hepático, o local de penetração no trato gastrintestinal nem sempre pode ser identificado, no entanto, normalmente, é decorrente da perfuração do estômago, duodeno ou cólon transverso, com tamponamento pelo parênquima hepático ou penetração direta do corpo estranho(1). Usualmente, o corpo estranho aloja-se no lobo esquerdo do fígado(1,2), o que deve aumentar a suspeição diagnóstica quando identificado abscesso nesta região.


Os métodos de imagens, em especial a tomografia computadorizada, têm ótima sensibilidade para caracterização dos abscessos, além de possibilitar a identificação do corpo estranho, como neste caso(1,5). A lesão é tipicamente arredondada, de paredes bem definidas, podendo ser solitária ou múltipla. A variação da densidade depende da intensidade da necrose e da fase evolutiva do processo patológico(5). O tratamento é feito por antibioticoterapia, drenagem do abscesso e retirada do corpo estranho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O abscesso hepático causado por corpo estranho tem desfecho geralmente fatal por ter seu diagnóstico tardio na maioria dos casos(5). Quando não responde à aspiração ou drenagem e antibioticoterapia, deve-se procurar outra etiologia. Apesar da sua raridade, deve-se considerar um corpo estranho e procurar ativamente sinais radiográficos/tomográficos que identifiquem o objeto e auxiliem a cirurgia terapêutica(2).

Trabalho realizado na Unidade de Radiologia Clínica (URC) e no Hospital Vivalle, São José dos Campos, SP, Brasil.

  • 1. Liu HJ, Liang CH, Huang B, et al. Migration of a swallowed toothpick into the liver: the value of multiplanar CT. Br J Radiol. 2009;82:e79-81.
  • 2. Borba CC, Gomes ARS, Filgueira JPPS, et al. Abscessos hepáticos secundários a espinha de peixe. Relato de caso. Rev Bras Clin Med. 2012;10:83-6.
  • 3. Santos SA, Alberto SCF, Cruz E, et al. Hepatic abscess induced by foreing body: case report and literature review. World J Gastroenterol. 2007;13:1466-70.
  • 4. Waisberg J, Aráuz SNZ, Altieri LG. Abscesso hepático piogênico por corpo estranho. Rev Col Bras Cir. 2002;29:240-1.
  • 5. Silva RF, Junior PCA, Duca WJ, et al. Abscesso hepático por osso de peixe. Arq Ciênc Saúde. 2006;13:61-3.
  • Endereço para correspondência:

    Dr. Marcelo Souto Nacif
    Rua Barão de Cocais, 324, Bosque Imperial
    São José dos Campos, SP, Brasil. 12242-042
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Fev 2013
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