EDITORIAL
Biópsia da próstata transretal guiada por ultrassonografia: suas complicações e morbidade são subestimadas?
Miguel A. Milito
Médico Radiologista do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diretor Técnico do Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Santa Teresa, Petrópolis, RJ, Brasil. E-mail: miguelmilito@globomail.com
O Brasil apresentou cerca de 52.350 novos casos de câncer de próstata no ano de 2010, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer, confirmando ser o câncer de próstata o mais comum entre os homens(1). Embora apresente taxa de mortalidade relativamente baixa, estudos têm demonstrado que eficazes programas de rastreamento, possibilitando a detecção precoce, estão relacionados ao declínio sucessivo das taxas de mortalidade, ao mesmo tempo em que índices de sobrevida em cinco anos chegam a 99%(2). Deve-se ressaltar que, apesar da evolução contínua dos métodos de imagem na busca do correto diagnóstico do câncer de próstata, em especial da ressonância magnética, ainda cabe à biópsia transretal guiada por ultrassonografia um papel fundamental para a confirmação histopatológica. Embora este procedimento seja considerado seguro e também bem tolerado pela maioria dos pacientes, não se pode ignorar que existem estudos demonstrando complicações em até 73% dos pacientes(3). Estes dados levam a pensar se as complicações advindas deste procedimento se tornam efetivamente conhecidas por aqueles que o executam.
Vindo ao encontro deste questionamento, um artigo publicado neste número da Radiologia Brasileira por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo procurou avaliar a morbidade da biópsia prostática guiada por ultrassonografia. Solha et al.(4) avaliaram a incidência de complicações pós-procedimento em 97 pacientes submetidos a biópsia prostática, utilizando dados coletados em um questionário preenchido por contato telefônico, buscando informações sobre o surgimento de eventos adversos, febris ou hemorrágicos ocorridos até 14 dias após a biópsia prostática. Após antibioticoterapia profilática com ciprofluoxacino, todos os pacientes foram submetidos ao mesmo protocolo de biópsia de próstata, o qual incluía anestesia por bloqueio dos feixes neurovasculares periprostáticos. A retirada de 12 fragmentos de toda a próstata seguiu o padrão preconizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e pela Sociedade Brasileira de Urologia. Fragmentos adicionais foram coletados nos casos em que havia lesões focais na zona periférica ou nos casos de re-biópsia por saturação, quando 18 fragmentos foram retirados.
As complicações foram categorizadas em menores (autolimitadas) ou maiores (casos em que o paciente procurou serviço médico emergencial). Os resultados demonstraram que dentre os pacientes, quase 40% não apresentaram qualquer evento adverso após o procedimento. Pouco mais de 52% dos pacientes relataram complicações menores, sendo a hematúria macroscópica a mais prevalente, seguida da hematospermia e hematoquezia. Entre os cerca de 8% que necessitaram uma avaliação médica emergencial (oito pacientes), sete o fizeram por retenção urinária. Três pacientes (3,1%) referiram febre, sendo que em dois deles a disúria era um sintoma concomitante. Estes resultados se equiparam a outros estudos publicados. Os autores concluíram que o procedimento de biópsia prostática transretal guiada por ultrassonografia é seguro, com baixa incidência de complicações tardias maiores.
Embora o número de estudos científicos sobre a utilização da ressonância magnética como veículo na obtenção de fragmentos prostáticos esteja em constante incremento(5,6), demonstrando o esforço na otimização de equipamentos e do método, a ultrassonografia transretal é ainda a maneira mais empregada com este objetivo, com longo tempo de experiência acumulada. Estudos como o desenvolvido por Solha et al. reforçam a utilidade e segurança do método, estimulando o melhoramento técnico, visando a minimizar ainda mais a baixa incidência de complicações maiores.
- 1. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Câncer de próstata. In: Estimativa 2010. Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: INCA; 2009.
- 2. Kundra V, Silverman PM, Matin SF, et al. Imaging in oncology from the University of Texas M. D. Anderson Cancer Center: diagnosis, staging, and surveillance of prostate cancer. AJR Am J Roentgenol. 2007;189:83044.
- 3. Jeon SS, Woo SH, Hyun JH, et al. Bisacodyl rectal preparation can decrease Urology. 2003;62:4616.
- 4. Solha RS, Ajzen S, De Nicola H, et al. Morbidade da biópsia da próstata transretal guiada por ultrassonografia. Radiol Bras. 2013;46:714.
- 5. Schwab SA, Kuefner MA, Adamietz B, et al. MRI-guided core biopsy of the prostate in the supine position-introduction of a simplified technique using large-bore magnet systems. Eur Radiol. 2012 Nov 24. [Epub ahead of print]
- 6. Song S, Tokuda J, Tuncali K, et al. Development and preliminary evaluation of a motorized needle guide template for MRI-guided targeted prostate biopsy. IEEE Trans Biomed Eng. 2013 Jan 15. [Epub ahead of print]
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
07 Maio 2013 -
Data do Fascículo
Abr 2013