Acessibilidade / Reportar erro

Ressonância magnética cardíaca e prognósticos clínicos na hipertensão arterial pulmonar

A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é uma das alterações mais importantes e potencialmente fatais da circulação pulmonar, com alta morbimortalidade e mau prognóstico, se não tratada(11 McGoon M, Gutterman D, Steen V, et al. Screening, early detection, and diagnosis of pulmonary arterial hypertension: ACCP evidence-based clinical practice guidelines. Chest. 2004;126(1 Suppl):14S-34S.). Com o aumento da pressão arterial pulmonar (PAP), surge falência secundária do ventrículo direito(22 Raymond RJ, Hinderliter AL, Willis PW, et al. Echocardiographic predictors of adverse outcomes in primary pulmonary hypertension. J Am Coll Cardiol. 2002; 39:1214-9.). O desenvolvimento de falência cardíaca em pacientes com HAP é um indicador de mau prognóstico(33 D'Alonzo GE, Barst RJ, Ayres SM, et al. Survival in patients with primary pulmonary hypertension: results from a national prospective registry. Ann Intern Med. 1991;115:343-9.).

Na última década, diversos estudos têm destacado a importância dos métodos de imagem na avaliação da doença arterial pulmonar, além dos métodos angiográficos, em especial a ressonância magnética cardíaca (RMC).

A RMC é considerada “padrão ouro” na avaliação da função sistólica e quantificação dos volumes cavitários, bem como da massa miocárdica(44 Pennell DJ, Sechtem UP, Higgins CB, et al. Clinical indications for cardiovascular magnetic resonance (CMR): consensus panel report. Eur Heart J. 2004;25: 1940-65.). Apresenta várias vantagens sobre os demais métodos, principalmente pela sua capacidade de avaliação de forma não invasiva e em apenas um exame da morfologia, função biventricular e caracterização tecidual, também sendo capaz de fornecer informações funcionais pelas técnicas de perfusão em repouso e estresse farmacológico e estudos de fluxo.

Os estudos de fluxo por RMC podem fornecer várias medidas não invasivas que refletem a hemodinâmica do sistema arterial pulmonar. Como exemplos, podemos citar: a curvatura do septo ventricular apresenta forte correlação com o gradiente de pressão ventrículo direito (VD) > ventrículo esquerdo (VE) e é comparável à pressão sistólica do VD pelo cateterismo(55 Swift AJ, Wild JM, Nagle SK, et al. Quantitative magnetic resonance imaging of pulmonary hypertension: a practical approach to the current state of the art. J Thorac Imaging. 2014;29:68-79.); o ângulo da excursão septal máxima em direção ao VE na sístole ventricular, ou seja, o ângulo interventricular (α), também mostra forte correlação com a PAP invasiva(66 Ley S, Ley-Zaporozhan J, Pitton MB, et al. Diagnostic performance of state-of-theart imaging techniques for morphological assessment of vascular abnormalities in patients with chronic thromboembolic pulmonary hypertension (CTEPH). Eur Radiol. 2012;22:607-16.).

A PAP média e a resistência vascular pulmonar também podem ser avaliadas na RMC usando equações de regressão(77 Swift AJ, Rajaram S, Hurdman J, et al. Noninvasive estimation of PA pressure, flow and resistance with CMR imaging: derivation and validation study from the ASPIRE registry. JACC Cardiovasc Imaging. 2013;6:1036-47.). Essa PAP média estimada tem sensibilidade de 87% e especificidade de 90% no diagnóstico de PAP > 32 mmHg(88 Goerne H, Batra K, Rajiah P. Imaging of pulmonary hypertension: an update. Cardiovasc Diagn Ther. 2018;8:279-96.). Correlação também foi demonstrada entre a velocidade do fluxo na artéria pulmonar e a PAP média.

Outros índices usados na HAP incluem: diminuição da mudança relativa da área; aumento do pico de velocidade máxima; aumento do tempo para velocidade máxima; mudança máxima no fluxo no momento da ejeção; aumento do índice de cisalhamento oscilatório; índice de aumento do intervalo de cisalhamento; gradiente transpulmonar na artéria pulmonar; fluxo transmitral; velocidade do tecido miocárdico; volume atrial esquerdo; e fluxo atrial esquerdo(88 Goerne H, Batra K, Rajiah P. Imaging of pulmonary hypertension: an update. Cardiovasc Diagn Ther. 2018;8:279-96.).

Além de todas as informações atrás descritas, a RMC permite estimar fatores prognósticos e estratificação de risco. Por exemplo, o volume do realce tardio miocárdico correlacionase com a massa do VD, volume do VD, disfunção do VD, remodelação do VD e curvatura septal, indicando prognóstico adverso(55 Swift AJ, Wild JM, Nagle SK, et al. Quantitative magnetic resonance imaging of pulmonary hypertension: a practical approach to the current state of the art. J Thorac Imaging. 2014;29:68-79.).

Neste número da Radiologia Brasileira os leitores encontrarão um interessante artigo de Mello et al.(99 Mello MM, Watte G, Altmayer S, et al. Relationship between right atrium area and right ventricular ejection fraction on magnetic resonance imaging: comparison with other prognostic markers in patients with pulmonary arterial hypertension. Radiol Bras. 2019;52:351–5.) que aborda o estudo da relação entre a área do átrio direito e a fração de ejeção do VD por meio da RMC e a comparação com marcadores prognósticos de pacientes com HAP. Nesse trabalho, os autores verificaram que tanto a fração de ejeção do VD quanto a área do átrio direito por RMC se correlacionaram com marcadores de prognóstico clínico; no entanto, a fração de ejeção do VD apresentou correlações mais fortes e significativas em relação à área do átrio direito.

REFERENCES

  • 1
    McGoon M, Gutterman D, Steen V, et al. Screening, early detection, and diagnosis of pulmonary arterial hypertension: ACCP evidence-based clinical practice guidelines. Chest. 2004;126(1 Suppl):14S-34S.
  • 2
    Raymond RJ, Hinderliter AL, Willis PW, et al. Echocardiographic predictors of adverse outcomes in primary pulmonary hypertension. J Am Coll Cardiol. 2002; 39:1214-9.
  • 3
    D'Alonzo GE, Barst RJ, Ayres SM, et al. Survival in patients with primary pulmonary hypertension: results from a national prospective registry. Ann Intern Med. 1991;115:343-9.
  • 4
    Pennell DJ, Sechtem UP, Higgins CB, et al. Clinical indications for cardiovascular magnetic resonance (CMR): consensus panel report. Eur Heart J. 2004;25: 1940-65.
  • 5
    Swift AJ, Wild JM, Nagle SK, et al. Quantitative magnetic resonance imaging of pulmonary hypertension: a practical approach to the current state of the art. J Thorac Imaging. 2014;29:68-79.
  • 6
    Ley S, Ley-Zaporozhan J, Pitton MB, et al. Diagnostic performance of state-of-theart imaging techniques for morphological assessment of vascular abnormalities in patients with chronic thromboembolic pulmonary hypertension (CTEPH). Eur Radiol. 2012;22:607-16.
  • 7
    Swift AJ, Rajaram S, Hurdman J, et al. Noninvasive estimation of PA pressure, flow and resistance with CMR imaging: derivation and validation study from the ASPIRE registry. JACC Cardiovasc Imaging. 2013;6:1036-47.
  • 8
    Goerne H, Batra K, Rajiah P. Imaging of pulmonary hypertension: an update. Cardiovasc Diagn Ther. 2018;8:279-96.
  • 9
    Mello MM, Watte G, Altmayer S, et al. Relationship between right atrium area and right ventricular ejection fraction on magnetic resonance imaging: comparison with other prognostic markers in patients with pulmonary arterial hypertension. Radiol Bras. 2019;52:351–5.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2019
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br