Acessibilidade / Reportar erro

Ciclo gravídico-lactacional: como utilizar os métodos de imagem na avaliação da mama

Resumo

A gravidez e a lactação são estados de intensa variação hormonal e mudanças estruturais e secretórias no parênquima mamário. Essas alterações se traduzem em características importantes nos aspectos de imagem da mama, bem como propiciam o surgimento de lesões benignas e malignas específicas. A presente revisão de literatura tem por objetivo discutir a segurança da utilização dos métodos imagem da mama (mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética) durante o ciclo gravídico-lactacional e apresentar as alterações fisiológicas esperadas e os aspectos de imagem das principais doenças mamárias que podem ocorrer nesse período, como galactocele, adenoma lactacional, fibroadenoma, mastites puerperais e câncer de mama relacionado à gestação.

Unitermos:
Gestação; Lactação; Mama; Diagnóstico por imagem

Abstract

Pregnancy and lactation constitute states of intense hormonal variation with secretory and structural changes in the breast parenchyma. These changes translate into important features on breast imaging, as well as the emergence of specific benign and malignant lesions. This literature review aims to discuss the safety of the use of breast imaging methods (mammography, ultrasound, and magnetic resonance imaging) during the pregnancy-lactation cycle, and to present the expected physiological changes and imaging appearance of the main breast diseases that may occur in this period, such as galactocele, lactating adenoma, fibroadenoma, puerperal mastitis, and pregnancy-associated breast cancer.

Keywords:
Pregnancy; Lactation; Breast; Imaging diagnosis

INTRODUÇÃO

Gravidez e lactação são estados biológicos que induzem mudanças notáveis nas glândulas mamárias em resposta a estímulos hormonais(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). Essas mudanças fisiológicas resultam, clinicamente, em aumento do volume, da firmeza e das nodulações das mamas, tornando o exame físico mais difícil(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Dentro desse cenário, há um aumento da importância dos exames de imagem como forma diagnóstica complementar. Os métodos de imagem, por sua vez, também se deparam com dificuldades, uma vez que as alterações da imagem mamária nesses períodos podem simular a presença de algumas doenças, bem como tornar confusa a avaliação de outras pré-existentes(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Sendo assim, as alterações ocorridas na mama durante esses estados fisiológicos tornam a avaliação clínica e radiológica dessas pacientes desafiadora(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.).

Este artigo faz uma revisão da utilização dos métodos imagem da mama durante a gravidez e lactação, analisando as alterações fisiológicas esperadas e as principais afecções mamárias encontradas nesses períodos.

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS ESPERADAS NA GRAVIDEZ E LACTAÇÃO

As alterações mamárias durante a gravidez e a lactação refletem os níveis séricos de estrogênio, progesterona e prolactina(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.

4 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.

5 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.
-66 Yu JH, Kim MJ, Cho H, et al. Breast diseases during pregnancy and lactation. Obstet Gynecol Sci. 2013;56:143-59.). Sob a influência de níveis crescentes de estrogênio, com início no primeiro trimestre da gestação, há crescimento e proliferação ductal e, em menor grau, crescimento alvéolo-lobular(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Ocorre expansão do tecido glandular e involução do tecido adiposo(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.), além de proliferação vascular e aumento do fluxo sanguíneo(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Durante o segundo e terceiro trimestres de gestação, a progesterona é responsável por hiperplasia lobular e involução do estroma fibrogorduroso(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Após o parto, ocorre diminuição do estrogênio e progesterona, desativando o bloqueio da prolactina que, associado a liberação da ocitocina, determina a conversão para um estado secretor(77 Tanaka A. Gestação e lactação. In: Bitencourt AGV, Marques EF, editores. Atlas de diagnóstico por imagem da mama: correlação entre os diferentes métodos de imagem. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2018. p. 355-66.). Essa conversão do tecido mamário, de um estado proliferativo durante a gravidez para um estado secretor durante a lactação, denomina-se lactogênese(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Na lactação, o hormônio prolactina domina e é responsável pela produção de leite(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

MÉTODOS DE IMAGEM

Ultrassonografia

A ultrassonografia é o método de escolha para avaliação inicial das mamas na gravidez e lactação, podendo ser realizada a qualquer momento, uma vez que não tem radiação ionizante ou contraste e apresenta sensibilidade de 87-100% para diagnóstico de lesões mamárias(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.

4 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.
-55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Apesar de não haver consenso na literatura, alguns autores referem que a ultrassonografia deve ser indicada para pacientes gestantes ou lactantes que apresentarem nódulos palpáveis por mais de duas semanas(88 Krishna I, Lindsay M. Breast cancer in pregnancy. Obstet Gynecol Clin North Am. 2013;40:559-71.,99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.), além de descarga papilar sanguinolenta espontânea associada(1010 Tirada N, Dreizin D, Khati NJ, et al. Imaging pregnant and lactating patients. Radiographics. 2015;35:1751-65.).

Na ultrassonografia durante a gravidez, o parênquima mamário apresenta aumento do componente fibroglandular não gorduroso, com hipoecogenicidade difusa no primeiro trimestre. No segundo e terceiro trimestres as alterações fisiológicas com proliferação lobular podem provocar aumento da ecogenicidade do parênquima fibroglandular. No final do período gestacional há aparecimento de estruturas tubulares hipoecoicas que correspondem a ductos com colostro. Durante a lactação os ductos ficam hiperecogênicos por conterem leite (componente adiposo), predominando hiperecogenicidade difusa, com sistema ductal proeminente e vascularização aumentada(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

Mamografia

A mamografia tem papel limitado durante a gravidez e lactação, em razão do aumento difuso da densidade do parênquima mamário (Figura 1)(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.), o que causa uma redução da sua sensibilidade. Além disso, a mamografia envolve o uso de radiação ionizante, embora a dose de radiação recebida pelo feto, com a proteção abdominal, seja estimada em 0,004 Gy e considerada segura, pois é necessária uma dose mínima de 0,05 Gy para o surgimento de malformações fetais(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). Assim, devido ao risco da radiação ionizante para o feto durante a organogênese, no primeiro trimestre da gravidez, a mamografia deve ser evitada(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,66 Yu JH, Kim MJ, Cho H, et al. Breast diseases during pregnancy and lactation. Obstet Gynecol Sci. 2013;56:143-59.).

Figura 1
Mamografia bilateral nas incidências craniocaudal e mediolateral-oblíqua em paciente lactante preferencial em uma das mamas (esquerda), notando-se assimetria entre as mamas, com aumento do volume e densidade na mama esquerda em detrimento da contralateral.

No segundo e terceiro trimestres, a mamografia pode ser realizada em casos selecionados, devendo-se obter somente as incidências necessárias e oferecer proteção abdominal com avental de chumbo às pacientes(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Por exemplo, a mamografia pode ser considerada em pacientes com queixa clínica quando a ultrassonografia for negativa ou revelar resultados indeterminados, suspeitos ou ausentes, em lesões suspeitas de conter gordura ou, ainda, se a biópsia de uma lesão sólida revelar malignidade(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

Na paciente lactante, a mamografia deve ser realizada após mamada ou ordenha, situações em que a densidade da mama diminui(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

Ressonância magnética

A ressonância magnética (RM) das mamas não deve ser realizada durante a gestação. No primeiro trimestre, a RM deve ser evitada, pelo risco teórico de influência do campo magnético na organogênese fetal. No segundo e terceiro trimestres, o aumento do volume abdominal da gestante dificulta o posicionamento do exame em decúbito ventral com as mamas pendentes. Além disso, o uso do contraste paramagnético, fundamental para avaliação do parênquima mamário, deve ser indicado apenas em situações em que a relação risco-benefício é clara na avaliação das pacientes gestantes, uma vez que o gadolínio intravenoso atravessa a placenta(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). Apesar de não haver comprovação de danos ao feto pelo gadolínio, já foi demonstrado retardo do crescimento fetal em estudos com animais quando administrado em doses elevadas(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

A RM pode ser realizada no período da lactação, no entanto, tem papel limitado pela vascularização marcadamente aumentada do parênquima mamário, que pode reduzir a sensibilidade do método(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Não há necessidade de suspender a amamentação após o uso de contraste gadolínio, pois a dose absorvida pelo recém-nascido é 0,0004% da dose injetada, representando menos de um centésimo da dose permitida no lactente (200 µmol/kg)(1111 Kubik-Huch RA, Gottstein-Aalame NM, Frenzel T, et al. Gadopentetate dimeglumine excretion into human breast milk during lactation. Radiology. 2020;216:555-8.). Porém, se a paciente desejar evitar qualquer ingestão de gadolínio pelo lactente, o leite materno deve ser bombeado e descartado por 24 horas após a administração do gadolínio(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.).

Biópsias percutâneas

Tanto a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) como a biópsia por fragmentos com agulha grossa podem ser realizadas normalmente durante a gestação, preferencialmente guiadas por ultrassonografia.

A PAAF com avaliação citológica é um método rápido e acessível, útil para avaliação de cistos palpáveis dolorosos, além de coleções no caso de suspeita de abscessos mamários(1212 Langer A, Mohallem M, Berment H, et al. Breast lumps in pregnant women. Diagn Interv Imaging. 2015;96:1077-87.). Na avaliação de nódulos sólidos tem papel secundário, devendo-se considerar a experiência do radiologista e do citopatologista, podendo haver falso-positivos devidos a achados relacionados ao estado gravídico-lactacional como hiperplasia lactacional e hipercromia(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,1212 Langer A, Mohallem M, Berment H, et al. Breast lumps in pregnant women. Diagn Interv Imaging. 2015;96:1077-87.).

A biópsia por fragmentos (core biopsy) também é um método seguro, amplamente disponível e com boa relação custo-efetividade, sendo considerado o padrão ouro na avaliação tecidual de lesões mamárias na gravidez e lactação(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). Tem como vantagens em relação à PAAF a possibilidade de definição de subtipos histológicos e imuno-histoquímicos e do grau nuclear das lesões(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). As biópsias são geralmente guiadas por ultrassonografia, porém, nos casos de achados mamográficos suspeitos como microcalcificações, podem ser guiadas por estereotaxia(1212 Langer A, Mohallem M, Berment H, et al. Breast lumps in pregnant women. Diagn Interv Imaging. 2015;96:1077-87.) em gestações iniciais(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). O risco de complicações como hemorragias, fístulas lácteas e infecções, inerentes ao procedimento, é teoricamente aumentado nas mulheres gestantes e lactantes, em razão do aumento da vascularização do parênquima mamário, produção de leite, dilatação ductal e traumas mamários inerentes à amamentação(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). Medidas podem ser utilizadas para reduzir o número de complicações, como a suspensão da amamentação anteriormente à biópsia, uso de agulhas com calibre menor (especialmente para evitar fístulas lácteas e galactoceles), compressão e assepsia rigorosas(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.).

ALTERAÇÕES BENIGNAS MAIS COMUNS

Oitenta por cento das pacientes que apresentam massa mamária palpável durante a gravidez e lactação terão diagnóstico de doença benigna(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.), sendo algumas específicas, como adenoma da lactação e galactocele(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Muitos tumores de mama diagnosticados durante a gravidez e lactação podem já existirem, mas se manifestam durante esse período decorrentes das mudanças hormonais e fisiológicas(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.).

Galactocele

Galactocele é a massa benigna mais comum da lactante(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.) e geralmente é vista após a cessação da amamentação(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.), mas pode também ser vista durante a lactação e, menos comumente, no terceiro trimestre de gestação(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). Geralmente ocorre como resultado de um ducto distal obstruído, o qual provoca distensão dos segmentos proximais lobulares(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.), apresentando-se clinicamente como massa palpável e indolor(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). Pode ocorrer em um ou em ambos os seios(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.) e frequentemente pode apresentar complicações como infecção e necrose(66 Yu JH, Kim MJ, Cho H, et al. Breast diseases during pregnancy and lactation. Obstet Gynecol Sci. 2013;56:143-59.). A aparência ultrassonográfica varia dependendo da quantidade de gordura, proteína e água(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.), bem como sua cronicidade(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Tipicamente, é uma lesão cística (50%) e o aspecto mais característico é de cisto formando nível líquido-gordura ou líquido-líquido espesso. Outras formas menos comuns são sólido-cístico (37%) e sólido (13%). Quando sólido, costuma ser circunscrito e com reforço posterior(77 Tanaka A. Gestação e lactação. In: Bitencourt AGV, Marques EF, editores. Atlas de diagnóstico por imagem da mama: correlação entre os diferentes métodos de imagem. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2018. p. 355-66.), e em alguns casos pode se apresentar de forma irregular e margens não circunscritas(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). Em caso de inflamação, a paciente pode referir dor local e a lesão pode apresentar paredes espessadas e conteúdo heterogêneo(77 Tanaka A. Gestação e lactação. In: Bitencourt AGV, Marques EF, editores. Atlas de diagnóstico por imagem da mama: correlação entre os diferentes métodos de imagem. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2018. p. 355-66.).

A mamografia e a RM podem ser necessárias quando houver suspeita de outras doenças como abscesso e câncer, pois a demonstração de gordura ou de nível líquido- gordura nesses métodos pode confirmar o diagnóstico (Figuras 2 e 3)(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.).

Figura 2
Paciente lactante de 29 anos, com queixa de massa palpável na mama direita. Ultrassonografia (A) demonstrou cisto complexo com conteúdo hipoecogênico e paredes espessadas, sem fluxo significativo no estudo Doppler. Mamografia (B) demonstrou nódulo com calcificações periféricas e áreas de densidade de gordura no seu interior. Estudo por punção confirmou o diagnóstico de galactocele.

Figura 3
Imagens de RM ponderadas em T1 (A) e T2 (B) mostrando cisto com finos septos e conteúdo heterogêneo, apresentando nível líquido-gordura, compatível com conteúdo gorduroso/galactocele.

A maioria dos casos regride espontaneamente(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). A punção pode ser realizada como diagnóstico ou terapia nos casos em que a galactocele se apresenta como massa complexa e que seja necessário diagnóstico diferencial com outras afecções mamárias, ou, ainda, que seja grande e sintomática(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.).

Adenoma lactacional

O adenoma lactacional é um tumor benigno relacionado às alterações fisiológicas do ciclo gravídico-lactacional, notadamente durante o terceiro trimestre da gravidez e a lactação(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). A exata etiologia desses tumores ainda é desconhecida e se discute a possibilidade de o adenoma ser uma lesão nova ou uma variante de uma lesão preexistente sob influência hormonal, como o fibroadenoma e o adenoma tubular(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). Histologicamente, consiste de elementos epiteliais com características secretoras, semelhantes ao parênquima mamário adjacente da lactante(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.).

O principal diagnóstico diferencial do adenoma lactacional é com o fibroadenoma, já que ambos podem se apresentar clinicamente como nódulo palpável, móvel e indolor, de aspecto ultrassonográfico benigno, ressaltando-se que o adenoma regride espontaneamente após a gravidez ou cessação da lactação(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,1313 Sumkin JH, Perrone AM, Harris KM, et al. Lactating adenoma: US features and literature review. Radiology. 1998;206:271-4.). Ambos podem ser indistiguíveis aos exames de imagem, com apresentação típica ultrassonográfica de lesão oval, circunscrita, hipo ou isoecogênica, com o maior eixo paralelo à pele, apresentando reforço acústico posterior e septações ecogênicas no seu interior (Figura 4). No estudo Doppler, o adenoma lactacional costuma ser mais vascularizado quando comparado ao fibroadenoma(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). A presença de áreas radioluzentes na mamografia e hiperecogênicas na ultrassonografia é útil para o diagnóstico do adenoma e representa componente gorduroso do leite secundário a hiperplasia lactacional(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). Em 5% dos casos os adenomas podem enfartar, diante do rápido crescimento e relativa redução do suprimento sanguíneo, apresentando-se como uma massa dolorosa. Nesses casos podem mimetizar uma lesão maligna no estudo ultrassonográfico, com aspecto irregular, sólido-cístico, com sombra acústica posterior(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). A RM também mostra nódulo de contornos regulares, com variação entre alto sinal e sinal intermediário nas sequências ponderadas em T2 e realce homogêneo nas fases pós-contraste(77 Tanaka A. Gestação e lactação. In: Bitencourt AGV, Marques EF, editores. Atlas de diagnóstico por imagem da mama: correlação entre os diferentes métodos de imagem. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2018. p. 355-66.).

Figura 4
Ultrassonografia de mama direita mostrando nódulo oval, hipoecogênico, circunscrito, sem efeitos acústicos posteriores e com maior eixo paralelo à pele. Biópsia por agulha grossa confirmou o diagnóstico de adenoma lactacional.

Fibroadenoma

Fibroadenoma é o tumor benigno mais comum na gestação e lactação e costuma responder aos estímulos hormonais do período. A maioria desses tumores é preexistente à gestação e sua identificação é facilitada pelo aumento dimensional decorrente da elevação dos níveis hormonais, voltando a regredir após a interrupção da amamentação(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.,33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Os achados típicos de imagem assemelham-se aos de mulheres não grávidas não lactantes, podendo apresentar discreto aumento da sua ecogenicidade na ultrassonografia. Entretanto, durante a gestação, podem apresentar aspecto atípico decorrente de hiperplasia secretória e alterações lactacionais, com acúmulo interno de leite simulando a galactocele (Figura 5). Nesses casos demonstram, no estudo ultrassonográfico, ecogenicidade heterogênea, com áreas císticas, às vezes formando níveis, e dilatação ductal(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). Apesar de incomum, quando apresentam crescimento rápido, podem evoluir com áreas de infarto, sendo suspeitados clinicamente com o surgimento de dor em sítio de fibroadenoma preexistente(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). De forma semelhante ao adenoma lactacional, a presença de achados atípicos nos exames de imagem pode necessitar de investigação anatomopatológica para confirmar o diagnóstico(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.).

Figura 5
Paciente de 34 anos, lactante, com queixa de crescimento de nódulo na mama esquerda. Imagens de RM ponderadas em T2 (A) e T1 pós-contraste (B) mostrando massa sólido-cística complexa nos quadrantes superiores da mama esquerda, na área de nódulo com biópsia prévia compatível com fibroadenoma. Nova biópsia percutânea confirmou o diagnóstico de fibroadenoma com alterações lactacionais.

Embora apresentem aspectos de imagem provavelmente benignos (BI-RADS 3), o manejo dos fibroadenomas na gestação e lactação pode ser dividido em dois grupos de pacientes. As pacientes com nódulos diagnosticados durante a gestação devem ser avaliadas individualmente, considerando fatores de risco e história familiar, em que nódulos com características provavelmente benignas menores que 10 mm podem ser acompanhados e os com características suspeitas ou maiores que 30 mm devem ser biopsiados, enquanto os com dimensões entre 10-30 mm deverão ter conduta individualizada. Nos casos das pacientes com nódulos provavelmente benignos diagnosticados anteriormente à gestação, estes nódulos devem ser monitorados com frequência semelhante e, caso mantenham estabilidade nos aspectos morfológicos e crescimento de até 20% das dimensões, a conduta deve ser expectante, ao passo que nos casos em que haja aumento dimensional superior a 20%, mudança morfológica ou dúvida diagnóstica, a biópsia percutânea deve ser realizada(1212 Langer A, Mohallem M, Berment H, et al. Breast lumps in pregnant women. Diagn Interv Imaging. 2015;96:1077-87.). Outros achados que sugerem realização de biópsia percutânea são fibroadenomas gigantes (superiores a 50 mm) e achados clínicos suspeitos como espessamento ou ulceração cutânea e inversão de papila(1414 Karaguelle E, Turk E, Erinanc OH, et al. Giant fibroadenoma growing rapidly during pregnancy. Iran Red Crescent Med J. 2014;16:e9531.).

Mastite puerperal e abscesso

Mastite é um processo inflamatório da mama, provocado ou não por infecção, e o abscesso é geralmente a sua complicação, definida como uma coleção purulenta. A mastite raramente ocorre na gravidez, porém, é relativamente comum durante a lactação, ocorrendo em aproximadamente 10% das lactantes, em geral nas primeiras seis semanas do pós-parto(1515 Spencer JP. Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician. 2008;78:727-31.). A sua fisiopatologia é explicada pela transmissão bacteriana originada do nariz e da boca do lactente para a mãe pelas fissuras mamárias. Outros fatores de risco incluem estase do leite, por este ser um excelente meio de cultura bacteriana, obstrução de ductos e ingurgitamento mamário(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). Os principais agentes etiológicos são o Staphylococcus aureus e o Streptococcus (1515 Spencer JP. Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician. 2008;78:727-31.), dos quais o primeiro determina um processo mais localizado e invasivo e o segundo tende a se manifestar como mastite difusa evoluindo com abscessos apenas nas fases mais avançadas(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.).

Aproximadamente 5% a 11% das mastites puerperais evoluem para abscesso(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). As pacientes geralmente apresentam sinais flogísticos (dor, edema e eritema) nas mamas, às vezes associados a sintomas sistêmicos, como febre, dores no corpo e fadiga(1515 Spencer JP. Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician. 2008;78:727-31.). Seu diagnóstico é clínico, reservando- se os exames de imagem para os casos complicados em que há suspeita de abscesso ou nos casos refratários ao tratamento(22 Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.). O diagnóstico de abscesso pode ser dificultado na fase pré-supurativa, sendo confundido com uma lesão maligna na fase supurativa(1616 Boisserie-Lacroix M, Dos Santos E, Belléannée G, et al. La femme enceinte?: difficultés diagnostiques. Imagerie de la Femme. 2004;14:145-52.).

A ultrassonografia é o método de eleição para a investigação de mastite complicada com abscesso, o qual se caracteriza tipicamente por formação anecoica ou hipoecoica, com septações finas ou débris no seu interior, paredes espessadas e contornos não circunscritos, determinando reforço acústico posterior(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). No estudo Doppler apresenta vascularização periférica, não sendo detectado fluxo dentro da coleção(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). A forma subaguda da mastite pode apresentar sinais de periductite, caracterizados por coleções fluidas ao longo dos ductos subareolares(11 Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.). A mamografia não tem papel bem estabelecido nos casos de mastite e abscesso, porém, quando realizada, demonstra espessamento da pele, podendo estar associado a assimetria global ou massa mamária(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). O abscesso pode se apresentar de forma atípica e simular uma massa sólido- cística, ou de aspecto puramente sólido, com hipervascularização adjacente no estudo Doppler, determinando retardo no diagnóstico adequado(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). O manejo do abscesso classicamente inclui a aspiração guiada por ultrassonografia, seja com intenção terapêutica, reduzindo a duração da doença e promovendo o rápido alívio da dor, seja para a elucidação diagnóstica nos casos atípicos(1515 Spencer JP. Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician. 2008;78:727-31.).

Mastite granulomatosa idiopática

É uma rara condição inflamatória e crônica da mama(1717 Han BK, Choe YH, Park JM, et al. Granulomatous mastitis: mammographic and sonographic appearances. AJR Am J Roentgenol. 1999;173:317-20.), encontrada em mulheres em idade fértil, comumente associada a pacientes no ciclo gravídico-lactacional, geralmente nos primeiros seis anos após a gestação(1818 Stefanon CC, Gonçalves AF, Lima R, et al. Mastite granulomatosa idiopática?: aspectos clínicos, radiológicos e ultra-sonográficos. Radiol Bras. 2005;38:225-30.,1919 Nikolaev A, Blake CN, Carlson DL. Association between hyperprolactinemia and granulomatous mastitis. Breast J. 2016;22:224-31.). A hipótese autoimune tem sido aventada, bem como a relação com hiperprolactinemia(1919 Nikolaev A, Blake CN, Carlson DL. Association between hyperprolactinemia and granulomatous mastitis. Breast J. 2016;22:224-31.), porém, a causa definitiva permanece incerta(1717 Han BK, Choe YH, Park JM, et al. Granulomatous mastitis: mammographic and sonographic appearances. AJR Am J Roentgenol. 1999;173:317-20.). O achado clínico mais comum é de massa palpável com relativa preservação da região retroareolar, podendo simular clinicamente o carcinoma mamário inflamatório. Outros achados incluem nódulos difusos e fístulas cutâneas. Linfadenopatia reacional pode estar presente em até 15% dos casos(1717 Han BK, Choe YH, Park JM, et al. Granulomatous mastitis: mammographic and sonographic appearances. AJR Am J Roentgenol. 1999;173:317-20.). As manifestações clinicorradiológicas são variáveis e inespecíficas, determinando um desafio diagnóstico para esta entidade(2020 Pluguez-Turull CW, Nanyes JE, Quintero CJ, et al. Idiopathic granulomatous mastitis: manifestations at multimodality imaging and pitfalls. Radiographics. 2018;38:330-56.). A investigação por estudo anatomopatológico é determinante, o qual demonstra granulomas não caseosos lobulares(1818 Stefanon CC, Gonçalves AF, Lima R, et al. Mastite granulomatosa idiopática?: aspectos clínicos, radiológicos e ultra-sonográficos. Radiol Bras. 2005;38:225-30.), devendo-se excluir outras doenças como tuberculose, infecções fúngicas, sarcoidose e granulomatose de Wegener(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.).

Apesar de não conclusiva, a ultrassonografia é o método de escolha tanto para investigação inicial quanto para auxiliar na punção diagnóstica, podendo demonstrar nódulo ou massa hipoecoica(66 Yu JH, Kim MJ, Cho H, et al. Breast diseases during pregnancy and lactation. Obstet Gynecol Sci. 2013;56:143-59.,2121 Canoy JM, Mitchell GS, Unold D, et al. A radiologic review of common breast disorders in pregnancy and the perinatal period. Semin Ultrasound CT MR. 2012;33:78-85.), única ou múltipla, heterogênea, com margens circunscritas, de aspecto tubular. Abscesso difuso e formação de fístulas também podem ser encontrados(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). Os achados mamográficos são também variáveis, podendo ser mascarados pela alta densidade da mama, sendo a assimetria focal ou global o achado mais comum(2222 Memis A, Bilgen I, Ustun EE, et al. Granulomatous mastitis: imaging findings with histopathologic correlation. Clin Radiol. 2002;57:1001-6.). De forma correspondente, a assimetria focal ou difusa de intensidade de sinal é a alteração mais frequente na RM, com a vantagem de avaliar a vascularização com base no uso do contraste dinâmico, bem como caracterizar melhor a extensão do processo inflamatório(2020 Pluguez-Turull CW, Nanyes JE, Quintero CJ, et al. Idiopathic granulomatous mastitis: manifestations at multimodality imaging and pitfalls. Radiographics. 2018;38:330-56.).

CÂNCER DE MAMA RELACIONADO À GESTAÇÃO

O câncer de mama relacionado à gestação compreende os descobertos durante a gravidez e até um ano após o parto(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.,99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). A incidência pode variar de 1:3000 a 1:10000 gestações(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). O câncer de mama relacionado à gestação apresenta comportamento biológico usualmente mais agressivo e receptor negativo para estrogênio e progesterona e positivo para receptores tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano(33 Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.). O diagnóstico é comumente retardado em razão das alterações fisiológicas mamárias durante a gravidez, levando às vezes a subvalorização de sinais e sintomas referidos(2323 Doyle S, Messiou C, Rutherford JM, et al. Cancer presenting during pregnancy: radiological perspectives. Clin Radiol. 2009;64:857-71.) e dificuldade na interpretação dos exames de imagem. Clinicamente, apresentam-se como massas palpáveis, e a ultrassonografia permanece como o melhor método para avaliação dessas lesões, permitindo diferenciação entre lesões sólidas e císticas(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.). Na ultrassonografia apresentam-se comumente como nódulos de forma irregular e contornos não circunscritos, predominantemente hipoecogênicos ou de ecogenicidade mista (Figura 6)(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). Pacientes com lesões suspeitas devem ter avaliação complementar por mamografia após o primeiro trimestre de gestação(99 Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.). Os achados de imagem, nesses casos, são semelhantes aos encontrados em mulheres não grávidas não lactantes(44 Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.).

Figura 6
Paciente de 33 anos com 27 semanas de gestação apresentando nódulo palpável na mama esquerda. Ultrassonografia demonstrando nódulo hipoecogênico de contornos irregular e margens não circunscritas. Biópsia percutânea confirmou o diagnóstico de carcinoma ductal invasivo.

Os estudos por RM mamária não são realizados na gravidez, uma vez que há passagem pela barreira placentária dos quelatos de gadolínio, e não existem estudos suficientes sobre seus efeitos no feto(55 Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.). No período da amamentação, o uso de contraste de gadolínio é permitido pelo American College of Radiology(2424 ACR Committee on Drugs and Contrast Media. Administration of contrast media to women who are breast-feeding. In: ACR Manual on Contrast Media. Reston, VA: American College of Radiology; 2020. p. 101-2.), sem necessidade de suspensão da amamentação após sua injeção. Apesar da segurança apontada na injeção do contraste de gadolínio durante a amamentação, ainda existe discordância entre os autores quanto à sua utilização. Em estudo desenvolvido por Myers et al.(2525 Myers KS, Green LA, Lebron L, et al. Imaging appearance and clinical impact of preoperative breast MRI in pregnancy-associated breast cancer. AJR Am J Roentgenol. 2017;209:W177-W183.), a realização da RM pré-operatória caracterizou área de doença maior que a visualizada na ultrassonografia e mamografia em 25% das pacientes com câncer de mama relacionado à gestação, modificando o planejamento cirúrgico em 23% das pacientes avaliadas. Os achados na RM são semelhantes aos encontrados em pacientes não gestantes, destacando-se massas com realce homogêneo ou heterogêneo, massa com realce periférico, realce não massa com distribuição focal, segmentar ou difusa (Figura 7)(2626 Ayyappan AP, Kulkarni S, Crystal P. Pregnancy-associated breast cancer: spectrum of imaging appearances. Br J Radiol. 2010;83:529-34.).

Figura 7
Paciente de 38 anos no sexto mês de puerpério. Ultrassonografia (A) mostrando nódulo irregular de contornos microlobulados, hipoecogênico. Imagens de RM ponderadas em T1 pós-contraste (B) e T2 (C) identificando área de realce não massa (B) no quadrante superolateral da mama direita, com baixo sinal em T2 (C), ao contrário do restante do parênquima mamário, que apresenta sinal intermediário a alto decorrente do estado lactacional.

CONCLUSÃO

O estado gravídico puerperal, bem como o período de lactação, corresponde a uma época de grande variação hormonal no corpo feminino, determinando importantes alterações estruturais e secretórias nas mamas. É importante o conhecimento dessas mudanças por médicos radiologistas que atuam na área de saúde da mulher, especialmente em imagem da mama, para que variações fisiológicas não sejam interpretadas equivocadamente, bem como as principais entidades benignas e malignas relacionadas a esse período sejam diagnosticadas com eficiência e precisão.

REFERENCES

  • 1
    Sabate JM, Clotet M, Torrubia S, et al. Radiologic evaluation of breast disorders related to pregnancy and lactation. Radiographics. 2007;27 Suppl 1:S101-24.
  • 2
    Vashi R, Hooley R, Butler R, et al. Breast imaging of the pregnant and lactating patient: physiologic changes and common benign entities. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:329-36.
  • 3
    Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389-96.
  • 4
    Joshi S, Dialani V, Marotti J, et al. Breast disease in the pregnant and lactating patient: radiological-pathological correlation. Insights Imaging. 2013;4:527-38.
  • 5
    Parker S, Saettele M, Morgan M, et al. Spectrum of pregnancy- and lactation-related benign breast findings. Curr Probl Diagn Radiol. 2017;46:432-40.
  • 6
    Yu JH, Kim MJ, Cho H, et al. Breast diseases during pregnancy and lactation. Obstet Gynecol Sci. 2013;56:143-59.
  • 7
    Tanaka A. Gestação e lactação. In: Bitencourt AGV, Marques EF, editores. Atlas de diagnóstico por imagem da mama: correlação entre os diferentes métodos de imagem. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2018. p. 355-66.
  • 8
    Krishna I, Lindsay M. Breast cancer in pregnancy. Obstet Gynecol Clin North Am. 2013;40:559-71.
  • 9
    Kakoulidis I, Skagias L, Politi E. Pregnancy associated breast cancer (PABC): aspects in diagnosis. Breast Dis. 2015;35:157-66.
  • 10
    Tirada N, Dreizin D, Khati NJ, et al. Imaging pregnant and lactating patients. Radiographics. 2015;35:1751-65.
  • 11
    Kubik-Huch RA, Gottstein-Aalame NM, Frenzel T, et al. Gadopentetate dimeglumine excretion into human breast milk during lactation. Radiology. 2020;216:555-8.
  • 12
    Langer A, Mohallem M, Berment H, et al. Breast lumps in pregnant women. Diagn Interv Imaging. 2015;96:1077-87.
  • 13
    Sumkin JH, Perrone AM, Harris KM, et al. Lactating adenoma: US features and literature review. Radiology. 1998;206:271-4.
  • 14
    Karaguelle E, Turk E, Erinanc OH, et al. Giant fibroadenoma growing rapidly during pregnancy. Iran Red Crescent Med J. 2014;16:e9531.
  • 15
    Spencer JP. Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician. 2008;78:727-31.
  • 16
    Boisserie-Lacroix M, Dos Santos E, Belléannée G, et al. La femme enceinte?: difficultés diagnostiques. Imagerie de la Femme. 2004;14:145-52.
  • 17
    Han BK, Choe YH, Park JM, et al. Granulomatous mastitis: mammographic and sonographic appearances. AJR Am J Roentgenol. 1999;173:317-20.
  • 18
    Stefanon CC, Gonçalves AF, Lima R, et al. Mastite granulomatosa idiopática?: aspectos clínicos, radiológicos e ultra-sonográficos. Radiol Bras. 2005;38:225-30.
  • 19
    Nikolaev A, Blake CN, Carlson DL. Association between hyperprolactinemia and granulomatous mastitis. Breast J. 2016;22:224-31.
  • 20
    Pluguez-Turull CW, Nanyes JE, Quintero CJ, et al. Idiopathic granulomatous mastitis: manifestations at multimodality imaging and pitfalls. Radiographics. 2018;38:330-56.
  • 21
    Canoy JM, Mitchell GS, Unold D, et al. A radiologic review of common breast disorders in pregnancy and the perinatal period. Semin Ultrasound CT MR. 2012;33:78-85.
  • 22
    Memis A, Bilgen I, Ustun EE, et al. Granulomatous mastitis: imaging findings with histopathologic correlation. Clin Radiol. 2002;57:1001-6.
  • 23
    Doyle S, Messiou C, Rutherford JM, et al. Cancer presenting during pregnancy: radiological perspectives. Clin Radiol. 2009;64:857-71.
  • 24
    ACR Committee on Drugs and Contrast Media. Administration of contrast media to women who are breast-feeding. In: ACR Manual on Contrast Media. Reston, VA: American College of Radiology; 2020. p. 101-2.
  • 25
    Myers KS, Green LA, Lebron L, et al. Imaging appearance and clinical impact of preoperative breast MRI in pregnancy-associated breast cancer. AJR Am J Roentgenol. 2017;209:W177-W183.
  • 26
    Ayyappan AP, Kulkarni S, Crystal P. Pregnancy-associated breast cancer: spectrum of imaging appearances. Br J Radiol. 2010;83:529-34.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    03 Jun 2019
  • Aceito
    06 Ago 2019
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br