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Transformações químicas do (+)-10b,14-diol-allo-aromadendrano, isolado de duguetia glabriuscula r. e. fries (r. e. fries) (annonaceae) e avaliações biológicas de alguns derivados obtidos

Chemical modifications of (+)-allo-aromadendrane-10b,14-diol isolated from duguetia glabriuscula r. e. fries (r. e. fries) (annonaceae) and biological evaluation of some obtained derivatives

Resumo

The sesquiterpene (+)-allo-aromadendrane-10b-14-diol 1 was the lead compound to the preparation of several derivatives in order to test their biological activity against A. salina, C. sphaerospermum, E. coli and S. aureus. In this way the monoalcohols (+)-viridiflorol 4, 9 and 11 were synthesized from 1 together with the acetal 6, the ketal 7, and the ketone 8. The oxirane 3 and nitrile 5 were also prepared using as an intermediate the tosylate derivative 2.

allo-aromadendrane-10b -14-diol; D. glabriuscula; biological activity


allo-aromadendrane-10b -14-diol; D. glabriuscula; biological activity

ARTIGO

Transformações químicas do (+)-10β,14-diol-allo-aromadendrano, isolado de duguetia glabriuscula r. e. fries (r. e. fries) (annonaceae) e avaliações biológicas de alguns derivados obtidos

Chemical modifications of (+)-allo-aromadendrane-10β,14-diol isolated from duguetia glabriuscula r. e. fries (r. e. fries) (annonaceae) and biological evaluation of some obtained derivatives

Dênis Pires de LimaI,*; Adilson BeatrizI; Alexandre Ayoroa RamosI; João Máximo de SiqueiraII; Celso Corrêa de OliveiraIII; Maria Rita MarquesIV

IDepartamento de Química - CCET - UFMS - Cidade Universitária S/N - CP 649 - 79070-900 - Campo Grande - MS

IILaboratório de Farmacognosia - DFB - CCBS - UFMS

IIILaboratório de Microbiologia - DPA - CCBS - UFMS

IVLaboratório de Bioquímica - DMF - CCBS - UFMS. e-mail: denis@nin.ufms.br

SUMMARY

The sesquiterpene (+)-allo-aromadendrane-10β-14-diol 1 was the lead compound to the preparation of several derivatives in order to test their biological activity against A. salina, C. sphaerospermum, E. coli and S. aureus. In this way the monoalcohols (+)-viridiflorol 4, 9 and 11 were synthesized from 1 together with the acetal 6, the ketal 7, and the ketone 8. The oxirane 3 and nitrile 5 were also prepared using as an intermediate the tosylate derivative 2.

Keywords: allo-aromadendrane-10β -14-diol; D. glabriuscula; biological activity.

INTRODUÇÃO

As substâncias naturais isoladas de diversas espécies de plantas apresentam características peculiares, atraindo o interesse de diversos grupos de pesquisa, seja por suas propriedades farmacológicas ou pelo próprio desafio acadêmico que alguns compostos representam do ponto de vista sintético. A descoberta de novas drogas, principalmente as antitumorais, foi realizada na sua grande maioria a partir de modificações químicas de produtos de origem natural1. Atualmente, substâncias naturais anti-tumorais são usadas com sucesso clinicamente; como exemplos podemos citar a daunorrubicina e doxorrubicina (Adriamycin®), mitomicina C, bleomicina, vincristina e vinblastina, actinomicina D, e muito recentemente, o taxol (Paclitaxel®). Adicionalmente, novos produtos naturais têm servido de substrato para hemi-sínteses de drogas antitumorais poderosas2.

Nas últimas décadas, uma classe de substâncias naturais, os sesquiterpenos, tem sido intensamente investigada sobre a ocorrência, isolamento e determinação estrutural1. Dentre estes compostos está o sesquiterpeno diidroxilado (+)-10β,14-diol-allo-aromadendrano 1 isolado de Pulicaria paludosa3e Duguetia glabriuscula4. Esta substância natural é um representante do grupo de sesquiterpenos tricíclicos, com estrutura caracterizada pela presença do anel dimetil ciclopropano fundido ao sistema anelar hidroazuleno5. Portanto, uma vez que 1 está presente em abundância em D. glabriuscula e esta planta é facilmente coletada em nossa região, partimos para o isolamento de quantidades adequadas do produto natural de forma a submeter o mesmo a uma série de modificações moleculares afim de produzir derivados simples e avaliá-los quanto a suas atividades antimicrobiana e citotóxica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando as características estruturais do (+)-10β,14-diol-allo-aromadendrano 1- o qual possui um esqueleto carbônico tricíclico, contendo três grupos metílicos, um em C-4 (α) e dois em C-11 (α,β) e duas hidroxilas em C-10 (β) e C-14 - efetuamos a série de transformações moleculares mostradas no esquema 1 direcionadas principalmente ao sítio 1,2-diol da molécula. Iniciamos com a conversão em tosilato da região da molécula contendo o álcool primário (C-14)6 com a finalidade de se obter o derivado 3, a partir da ciclização espontânea4 de 2, numa reação do tipo SNi. O derivado 2 foi isolado com bom rendimento (>90%), mas, o produto 3 formado nestas condições, levou a baixo rendimento (<1%). A estratégia para favorecer a SNi foi o tratamento de 2 com NaH em éter etílico anidro. Na sequência, 2 foi tratado com KCN em DMF7, conduzindo à nitrila correspondente 5, o derivado 3 recebeu o mesmo tratamento, obtendo-se o mesmo produto, porém com menor rendimento. A substância 3 foi ainda reduzida com LiAlH4, obtendo-se 4 [(+)-viridiflorol].

Continuando com as modificações estruturais na porção diol do sesquiterpeno natural 1, de forma a aproveitar essa característica, optou-se pela acetalização e cetalização deste. Para a formação do acetal benzilidênico 6 e o cetal isopropilidênico 7 foi utilizado técnica usual, via reações com benzaldeído e acetona, respectivamente, catalisadas com o ácido p-tolueno-sulfônico. A síntese de 8 foi via degradação oxidativa do diol por reação com clorocromato de piridínio ou com periodato de sódio e este por sua vez, foi tratado com NaBH4, resultando na mistura epimérica 9, inseparável pelos métodos convencionais de cromatografia instantânea em coluna contendo sílica e em camada delgada preparativa.

O derivado O-sulfinila 11 foi formado inesperadamente, quando se tentou a obtenção de uma lactona sesquiterpênica. O derivado instável 10 (obtido por reação de 1 com cloreto de tionila em presença de trietilamina)8 foi tratado, a 100ºC, com o carbânion do malonato de dimetila, [CH(COOMe)2]-Na+ e o monitoramento por cromatografia em camada delgada de sílica (CCDS) mostrou o aparecimento de um produto que foi isolado e identificado como sendo 11. Tal produto de eliminação pode ter sido formado devido às condições de reação empregadas, como já descrito no caso da pirólise de derivados O-sulfinilas quando tratados com azida sódica em altas temperaturas8. Apesar da não obtenção da lactona desejada, o produto foi também submetido à avaliações biológicas.

Alguns produtos puros das transformações químicas obtidos em quantidades razoáveis foram testados quanto à toxicidade sobre Artemia salina e às atividades antifúngica e antimicrobiana. A toxicidade à Artemia salina9, foi feita pela determinação da Dose Letal (DL50). A atividade antimicrobiana11 foi avaliada sobre cepas de Escherichia coli e Staphylococcus aureus, obtidas de pacientes do Hospital Universitário/UFMS e cepas padrões de E. coli (ATCC 25922) e S. aureus (ATC 25903). A atividade antifúngica12 foi determinada por bioautografia sobre Cladosporium sphaerospermum. A tabela 1 resume os resultados, na qual verificamos que os compostos 2, 5, 6, 7 e 8 apresentaram-se bem mais tóxicos para Artemia salina, quando comparados com o produto de partida, que é inativo. A toxicidade sobre a Artemia salina, por ser um bioensaio de baixo custo, rápido e por não exigir técnicas assépticas tem sido amplamente utilizado nos laboratórios de produtos naturais à procura de compostos bioativos 9. Diversas substâncias foram testadas em diferentes culturas de células tumorais, comparativamente com o bioensaio acima citado, no qual este último demonstrou ser superior ou de igual exatidão aos resultados de linhas de células humanas de tumor sólido10. Pode-se obter uma correlacão positiva entre os de ensaios, na qual a Dose Eficaz (DE50) da citotoxicidade é da ordem de grandeza de um décimo (1/10) da DL50 da toxicidade sobre a Artemia salina9. Com os nossos resultados, podemos então deduzir que estes compostos podem, possivelmente, também apresentar citotoxicidade de moderada à baixa em testes mais específicos com células tumorais9,10,13. A atividade dos compostos 2-8 sobre Cladosporium sphaerospermum foi bastante acentuada. O derivado 8 teve baixa atividade in vitro sobre Staphylococcus aureus (ATCC 25903) e Escherichia coli (ATCC 25922). Podemos ainda afirmar que as modificações estruturais no sesquiterpeno natural potencializaram o seu efeito tóxico sobre A. salina, porém, a atividade antimicrobiana foi diminuída, o que poderia sugerir a presença de correlação entre estes dois bioensaios, o que até o momento não se tem confirmado14. Mas o importante nesta etapa do projeto é que partindo de um produto natural e inativo obtivemos produtos tóxicos ao microcrustáceo.

PARTE EXPERIMENTAL

1) Transformações Químicas

Os pontos de fusão foram determinados no aparelho Uniscience do Brasil - Modelo 498. Os espectros de RMN de 1H e 13C, 300 MHz e 75 MHz, respectivamente, foram registrados no espectrômetro DPX-300 - Bruker. Os deslocamentos químicos estão apresentados em partes por milhão (δ) relativos ao tetrametilsilano (δ = 0,0), o CDCl3 foi utilizado como solvente e padrão interno. Os espectros de massas foram registradas em espectrômetro CG-EM. Os espectros de IV foram registrados no espectrofotômetro Perkin Elmer modelo 783. Para as cromatografias do tipo instantânea ("flash") foi utilizada sílica gel 60 (230-400 mesh) Aldrich. As substâncias utilizadas (solventes e reagentes) foram adquiridas comercialmente com grau de pureza P.A. O MgSO4 foi usado para secagem das partições orgânicas e os solventes foram evaporados sob pressão reduzida utilizando-se rota-evaporador. Todas as reações foram acompanhadas por cromatografia em camada delgada, técnica ascendente, utilizando-se placa ativada de sílica gel Merk-G com indicador de fluorescência.

10β, 14-Diol-allo-aromadendrano, 1. O produto natural foi isolado do extrato hexânico das folhas de D. glabriuscula. O extrato foi submetido à partição entre MeOH-H2O/Hexano. Da fração hidrometanólica obteve-se, por recristalização em acetona:água, um sólido cristalino que após análise espectral, observou-se que os dados eram consistentes com os relatados na literatura4,5.

Tosilato, 2. À uma solução de 1 (0,2 g, 0,84 mmol) em clorofórmio (3,0 mL) e piridina (1,0 mL), sob agitação e à temperatura inicial de 0ºC, adicionou-se cloreto de tosila (0,9 g, 4,72 mmol). A mistura foi submetida à agitação por 5 horas. Ao final desse prazo, adicionou-se éter etílico (5,0 mL) ao meio reagente e este foi transferido para um funil de separação contendo éter etílico-água 5:1. A fase orgânica foi então separada, secada com MgSO4, filtrada e o solvente evaporado sob pressão reduzida. O resíduo obtido foi submetido à cromatografia instantânea ("flash") em coluna de adsorção de sílica, o que forneceu o produto puro 2 (0,3 g, 90,5%), como um sólido branco cristalino: p.f. 96-98ºC; IV (acetona) umax 3360, 2940, 2880, 1460, 1325, 1150, 1090, 1000, 985, 860, 820 cm-1; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,12 (dd, J = 10,5, 9,8 Hz 1H), 0,61-0,75 (m, 1H), 0,93 (d, J= 6,6 Hz, 3H), 1,01 (s, 3H), 1,03 (s, 3H), 1,27-1,85 (m, 12H), 2,45 (s, 3H), 3,70 (d, J= 9,0 Hz, 1H), 3,80 (d, J= 9,0 Hz, 1H), 7,35 (d, J = 8,0 Hz, 2H), 7,79 (d, J = 8,0, 2H); EM (CG-EM) m/z (%): 220,25 (4,89), 189,25 (11,03), 177,20 (13,38), 175,20 (3,25), 174,20 (1,98), 173,20 (3,66), 159,20 (32,14), 149,20 (15,59), 135,20 (22,71), 121,15 (26,78), 107,15 (46,57), 95,15 (48,50), 94,15 (30,18), 93,10 (58,62), 82,10 (65,53), 81,10 (82,65), 80,10 (23,49), 79,10 (78,82), 77,05 (52,44), 67,05 (86,00), 64,05 (2,54), 55,05 (100,00).

Epóxido, 3. A substância 2 (0,075 g) foi solubilizada em éter etílico seco (10,0 mL) e a esta solução adicionou-se NaH em excesso. A solução reagente foi então submetida a agitação, à temperatura ambiente, por 15 minutos. Ao final desse período, verteu-se a solução em um funil de separação contendo AcOEt (20,0 mL). A camada orgânica foi lavada com água destilada (3 X 15,0 mL), secada com MgSO4, filtrada e concentrada sob pressão reduzida. O sólido obtido foi submetido a purificação por cromatografia instantânea, fornecendo assim o produto 3 puro (0,030 g, 73,2%), na forma de um óleo transparente: IV νmax 1460, 1360, 1265, 1165, 810 cm-1; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,20 (dd, J= 11,0, 9,6 Hz, 1H), 0,61-0,75 (m, 1H), 0,93 (d, J= 6,6 Hz, 3H), 1,00 (s, 3H), 1,02 (s, 3H), 1,21-1,48 (m, 2H), 1,49-1,60 (m, 1H), 1,60-1,80 (m, 4 H), 1,81-2,29 (m, 4H), 3,26 (d, J= 10,5, 1H), 3,34 (d, J= 10,5 Hz, 1H); RMN 13C (75 MHz, CDCl3) δ 16,1 (C-15), 16,2 (C-12), 19,00 (C-11), 20,9 (C-8), 24,6 (C-3), 26,2 (C-6), 27,1 (C-7), 29,3 (C-9), 32,1 (C-13), 36,4 (C-2), 39,3 (C-4), 41,2 (C-5), 48,9 (C-10), 54,4 (C-1), 60,0 (C-14); EM (CG-EM) m/z (%): 220,15 (5,27), 202,15 (9,77), 89,15 (13,80), 177,10 (14,06), 159,10 (29,62), 147,10 (28,22), 133,10 (25, 58), 121,05 (28,44), 105,10 (63,33), 91,05 (93,92), 81,10 (85,48), 67,10 (91,25), 55,10 (100, 00).

(+)-Viridiflorol, 4. Adicionou-se LiAlH4 (0,038g, 1,0 mmol) à uma solução de 3 (0,1g, 0,45 mmol) em tetraidrofurano (30,0 mL) e a mistura reagente foi submetida a agitação por 18 horas. Após esse tempo, a mistura foi diluída com éter etílico (20,0 mL) e cuidadosamente, acrescentou-se solução aquosa saturada de Na2SO4. A mistura foi então lavada com água destilada (5 X 15,0 mL) e a fase orgânica foi secada com MgSO4, filtrada e concentrada à pressão reduzida. Procedeu-se então, afim de se isolar o produto, cromatografia preparativa (AcOEt/Hexano 2:8). O viridiflorol foi dessa forma obtido (0,047 g, 47%), com bom grau de pureza: p.f. 74,5ºC, lit. 74ºC; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,06-0,116 (m, 1H), 0,55-0,63 (m, 1H), 0,91 (d, J= 6,7 Hz, 3H), 0,97 (s, 3H), 1,01 (s, 3H), 1,13 (s, 3H), 1,23-1,95 (m, 12H); RMN 13C (75 MHz, CDCl3) δ 16,1 (C-15), 16,3 (C-12), 18,4 (C-11), 18,8 (C-8), 22,2 (C-7), 25,8 (C-3), 28,5 (C-13), 28,7 (C-6), 29,0 (C-9), 32,1 (C-14), 37,7 (C-2), 38,4 (C-4), 39,7 (C-5), 58,2 (C-1), 74,6 (C-10); EM (CG-EM) m/z (%): 222,18 (2,02), 204,30 (17,27), 189,25 (21,32), 175,20 (6,09), 161,25 (51,66), 147,20 (23,31), 133,15 (17,48), 122,20 (34,16), 109,15 (25,52), 93,10 (42,04), 81,10 (62,52), 69,10 (100,00), 55,10 (87,42).

Nitrila, 5. A substância 2 (0,028 g, 0,07 mmol) foi solubilizada em DMF (10,0 mL) e a esta solução foi adicionado KCN (0,05 g, 0,77 mmol). A mistura reagente foi submetida a agitação, à temperatura de 75ºC, durante 15 horas. Após este período, adicionou-se AcOEt (30,0 mL), água destilada (20,0 mL) e solução saturada de NaCl (20,0 mL) ao meio reagente. Após a separação da fase orgânica, esta foi secada com MgSO4 e após filtração e concentração à pressão reduzida, obteve-se uma mistura de produtos que foi purificada por cromatografia em coluna de adsorção de sílica. Obteve-se assim a o produto puro 5 (0,007g, 43%), como um óleo transparente e de cheiro agradável: IV (CHCl3) νmax 3400, 3025, 2940, 2725, 2260, 1730, 1460, 1375, 1170, 1000 cm-1; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,09 (dd, J= 11,0, 8,8 Hz, 1H), 0,63-0,64 (m, 1H), 0,93 (d, J= 9,2 Hz, 3H), 0,98 (s, 3H), 1,01 (s, 3H), 1,23-1,98 (m, 12H), 2,38 (d, J= 15,9 Hz, 1H), 2,45 (d, J= 15,9 Hz, 1H); EM (CG-EM) m/z (%): 247,18 (2,87), 229,30 (6,64), 207,30 (6,72), 189,30 (22,80), 173,20 (7,19), 158,20 (5,39), 147,20 (25,74), 133,15 (20,28), 132,15 (8,05), 121,15 (16,75), 107,15 (22,00), 95,15 (37,51), 81,10 (67,69), 69,15 (100,00), 55,05 (98,38).

Acetal benzilidênico, 6. Uma mistura do sesquiterpeno natural, 1 (0,1g, 0,42 mmol), ácido p-toluenossulfônico (0,008 g, 0,04 mmol), benzaldeído (5,0 mL) e peneira molecular 4 Å (1,0 g), em benzeno (5,0 mL), foi submetida à agitação por 90 minutos. Ao fim desse período, adicionou-se AcOEt (20,0 mL) e H2O2 20% (60,0 mL), solução aquosa de Na2CO3 a 10% (20,0 mL, 45ºC). A fase orgânica foi então lavada com água (5 X 20,0 mL), secada com MgSO4, filtrada e o solvente evaporado sob pressão reduzida. O produto obtido foi purificado por cromatografia instantânea, levando ao isolamento do acetal puro (0,077 g, 52%) na forma de um sólido branco amorfo: p.f. 135-138ºC; IV (CHCl3) νmax 3100, 3040, 3065, 2945, 2875, 1490, 1460, 1310, 1260, 1220, 1090, 1065, 1025, 975, 890, 810, 750, 690 cm-1; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,10-0,22 (m, 1H), 0,61-0,65 (m, 1H), 0,91 (d, J= 6,6 Hz, 3H), 0,98 (s, 3H), 1,01 (s, 3H), 1,3-2,1 (m, 11H), 3,83 (d, J= 12,0 Hz, 1H), 3,90 (d, J= 12,0 Hz, 1H), 5,85 (s, 1H), 7,2-7,5 (m, 5H).

Acetal Isopropilidênico, 7. Uma mistura da substância 1 (0,1g, 0,42 mmol), peneira molecular 4Å (1,0 g) e ácido p-toluenossulfônico em acetona (0,002 M, 20,0 mL), sob agitação constante por 30 minutos e à temperatura ambiente, foi monitorada por CCDS. Quando detectou-se o consumo total do material de partida e a formação do produto, a solução foi filtrada e evaporou-se o solvente parcialmente. A fase orgânica foi então tratada com clorofórmio (10,0 mL) e a fase orgânica foi lavada com uma solução saturada de NaHCO3 (3 X 15,0 mL), secada com MgSO4, filtrada e o solvente evaporado sob pressão reduzida. O produto obtido foi purificado em coluna cromatográfica (Hexano/AcOEt 9:1), fornecendo assim a substância pura 7 (0,073 g, 62,0%), como um sólido cristalino incolor: IV (CHCl3) νmax 2990, 2960, 2860, 1450, 1370, 1250, 1215, 1150, 1100, 1070, 1050, 970, 900 cm-1; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,51-0,61 (m, 1H), 0,91 (d, J= 6,7 Hz, 3H), 0,97 (s, 3H), 1,00 (s, 3H), 1,25-1,30 (m, 6H), 1,31 (s, 3H), 1,35 (s, 3H), 1,45-2,1 (m, 6H), 3,67 (d, J= 8,3 Hz, 1H), 3,71 (d, J= 8,3 Hz, 1H); EM (CG-EM) m/z (%) 220, 203, 189, 107, 91, 79, 43 (100,00).

Cetona, 8. Foi adicionado à uma solução de 1 (0,1g, 0,42 mmol) em etanol (20,0 mL), a temperatura de 0ºC, uma solução aquosa de NaIO4 0,1 M (10,0 mL) e a mistura foi mantida em banho de gelo e sob agitação por 1 hora. O produto formado foi extraído com CH2Cl2 e lavado com água (5 X 20,0 mL). A fase orgânica foi secada com MgSO4, filtrada e o solvente evaparado sob pressão reduzida. O produto foi então submetido à purificação em coluna cromatográfica, fornecendo o produto puro (0,074g, 90,1%) na forma de um sólido branco amorfo. Os dados espectrométricos são consistentes com os relatados na literatura3: p.f. 59-62ºC; RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,36 (dd, J= 11,3, 9,2 Hz, 1H), 0,65 (ddd, J= 11,6, 9,1, 4,8 Hz, 1H), 0,94 (d, J= 6,8 Hz, 3H), 0,97 (s, 3H), 1,03 (s, 3H), 1,20-1,40 (m, 1H), 1,51-1,68 (m, 3H), 1,80-1,92 (m, 1H), 1,93-2,10 (m, 1H), 2,30-2,40 (m, 2H), 2,42-2,58 (m, 1H), 2,65 (ddd, J = 14,4, 11,6, 7,1 Hz, 1H), 3,10-3,25 (m, 1H); RMN 13C (75 MHz, CDCl3) d 15,2 (C-15), 15,4 (C-12), 17,8 (C-11), 18,9 (C-8), 24,3 (C-7), 24,5 (C-3), 25,2 (C-6), 28,2 (C-13), 31,7 (C-9), 38,9 (C-4), 40,3 (C-5), 44,3 (C-2), 55,5 (C-1), 211,9 (C-10); EM (CG-EM) m/z (%): 206, 191, 173, 163, 145, 135, 124, 111, 95, 83, 69 (100,00), 55.

Monoálcool, 9. À uma solução de NaBH4 (0,189g, 5 mmol) em etanol (10,0 mL), à temperatura de 0ºC, foi adicionada uma solução de 8 (0,1g, 0,48 mmol) em etanol (10,0 mL), também à mesma temperatura. A mistura ficou em banho de gelo e sob agitação por 30 minutos. Acrescentou-se então diclorometano (20,0 mL) e lavou-se a mistura com solução saturada de NaCl (3 X 10,0 mL). A fase orgânica foi secada sobre MgSO4, filtrada e concentrada sob pressão reduzida. O resíduo foi então purificado em coluna cromatográfica (AcOEt/Hexano, 5%). Obteve-se o produto 9 (0,04 g, 40%) na forma de um óleo transparente: RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,25 (tl, J= 10,4 Hz, 1H), 0,56-0,7 (m, 1H), 0,92 (dl, J= 6,3 Hz, 3H), 0,94 (sl, 3H), 1,01 (sl, 3H), 1,23-1,30 (m, 4H), 1,62-21,8 (m, 5H), 1,90-2,20 (m, 1H), 2,30-2,35 (m, 1H), 3,80-3,83 (m, 1H); RMN 13C (75 MHz, CDCl3) δ 15,0, 15,6, 15,9 (C-15 e C-12), 18,8 (C-11), 20,7 (C-8), 23,3 (C-7), 24,5 (C-3), 26,8 (C-6), 28,7 (C-13), 29,7, 30,5 (C-9), 33,5 (C-2), 38,7 (C-4), 40,1 (C-5), 49,3 (C-1), 73,8, 74,7 (C-10). (Sinais na sua maioria sobrepostos e/ou múltiplos, indicando tratar-se de mistura epimérica).

Derivado Sulfinila, 10. À uma solução de 1 (0,12g, 0,5 mmol) e trietilamina (5,0 mL) em tetraidrofurano anidro (10,0 mL), à temperatura de -25ºC, foi adicionado cloreto de tionila recém destilado (2,0 mL, 27 mmol) em tetraidrofurano (5,0 mL), à mesma temperatura. A mistura foi mantida sob agitação por 30 minutos a -25ºC e após evidenciar-se o consumo completo do material de partida (CCDS), adicionou-se AcOEt (50,0 mL), seguido por solução saturada de NaCl (30,0 mL). A fase aquosa foi separada e a fase orgânica foi lavada com solução aquosa de NaCl (4 X 50,0 mL), filtrada e o solvente evaporado sob pressão reduzida. O resíduo foi purificado em coluna cromatográfica (Hexano/AcOEt 4:1), obtendo-se assim a substância 10 (0,1 g, 70%): O produto foi usado, sem posterior purificação para a reação seguinte.

Álcool Alílico, 11. A substância 10 (0,1g, 0,35 mmol) foi então dissolvida em hexametilfosforamida, HMPA (15,0 mL) (CUIDADO, SOLVENTE TÓXICO!!) e a solução foi aquecida até 100ºC por 48 horas, em presença de excesso do carbânio do malonato de metila [CH(COOMe)2]-Na+(0,08 g, 0,52 mmol), previamente preparado e isolado. Após este período, adicionou-se ao meio reagente AcOEt (80,0 mL). A fase orgânica foi então lavada com água (3 X 50,0 mL) e solução saturada de NaCl (2 X 20,0 mL), filtrada e secada com MgSO4. O solvente foi então removido sob pressão reduzida, fornecendo dessa maneira um resíduo que foi purificado em coluna cromatográfica (AcOEt/Hexano 3:7). Obteve-se inesperadamente com esse tratamento o produto puro 11 (0,062 g, 80%), na forma de óleo amarelo: RMN 1H (300 MHz, CDCl3) δ 0,24 (dd, J= 11,9, 8,5 Hz,1H), 0,91 (d, J= 6,8 Hz, 3H), 0,99 (s, 3H), 1,03 (s, 3H), 1,22-1,31 (m, 2H), 1,55-2,00 (m, 8H), 1,90-2,20 (m, 4H), 2,62-2,65 (m, 1H), 3,88 (d, 12,0 Hz, 1H), 3,97 (d, J= 12,0 Hz, 1H), 5,71-5,75 (m, 1H); RMN 13C (75 MHz, CDCl3) δ 15,8 (C-15), 16,3 (C-12), 18,1 (C-8), 21,8 (C-11), 22,2 (C-3), 28,4 (C-6), 28,6 (C-7), 28,8 (C-13), 29,7 (C-2), 37,8 (C-4), 41,6 (C-5), 47,4 (C-1), 68,3 (C-14), 124,7 (C-9), 142,4 (C-10).

2) Ensaios de Atividade Biológica

O ensaio de atividade sobre A. salina foi executado de acordo com a metodologia proposta por McLaughlin9. As diluições das amostras e o controle positivo foram feitos pelo método de diluições aritmética15, diluídas em solução de sal marinho sintético (38,0 g/L, Enterprise, Co.), com 1% de DMSO (v/v). Todas as etapas foram acompanhadas utilizando-se o sulfato de quinidina como controle positivo13 e cada avaliação foi repetida pelo menos duas vezes. Utilizou-se o método Probitos de análise para obtenção das DL50 e respectivos intervalos de confiança16.

A atividade antibacteriana foi realizada utilizando o método de difusão em discos11 contra cepas de Escherichia coli e Staphylococcus aureus, obtidas de pacientes do Hospital Universitário/UFMS e cepas padrões de Escherichia coli (ATCC 25922) e Staphylococcus aureus (ATC 25903). As amostras foram solubilizadas em DMSO e foram aplicadas em discos de papel de filtro (6,0 mm) e incubadas 24 h, a 37ºC em placas de petri com meio nutritivo. Avaliou-se então, a atividade, medindo-se o halo de inibição (mm).

A atividade antifúngica foi determinada por bioautografia12, utilizando como suporte sílica-gel. A suspensão do fungo fitopatogênico, foi borrifada sobre a placa com as amostras e incubada a 37ºC. Observou-se o halo de inibição 24 h e 48 h após a aplicação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a PROPP (CPq)/UFMS pelo apoio financeiro e ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) do aluno Alexandre Ayoroa Ramos.

Recebido em 29/10/96; aceito em 17/4/97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 1997

Histórico

  • Aceito
    17 Abr 1997
  • Recebido
    29 Out 1996
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