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Avaliação dos programas de pós-graduação em química no Brasil

Evaluation of graduate programs in Chemistry in Brazil

Resumo

A broad picture of the graduate programs in chemistry in Brazil is analyzed from the data collected during the period 1996/1997 for evaluation by CAPES. The results are compared with those from previous evaluations, indicating significant quantitative and qualitative progresses.

graduate programs in chemistry; graduate programs in Brazil; chemistry in Brazil


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ASSUNTOS GERAIS

Avaliação dos programas de pós-graduação em química no Brasil

A. Arnóbio S. da Gama* * arnobio@npd.ufpe.br, † faruk@reitoria.ufsc.br, ‡ caetano@dedalus.lcc.ufmg.br

Departamento de Química Fundamental - UFPE - 50670-901 - Recife - PE

Faruk José Nome † * arnobio@npd.ufpe.br, † faruk@reitoria.ufsc.br, ‡ caetano@dedalus.lcc.ufmg.br

Departamento de Química - UFSC - 80040-900 - Florianópolis - SC

José Caetano Machado ‡ * arnobio@npd.ufpe.br, † faruk@reitoria.ufsc.br, ‡ caetano@dedalus.lcc.ufmg.br

Departamento de Química - UFMG - 31270-901 - Belo Horizonte - MG

Recebido em 19/2/99

Evaluation of graduate programs in chemistry in Brazil. A broad picture of the graduate programs in chemistry in Brazil is analyzed from the data collected during the period 1996/1997 for evaluation by CAPES. The results are compared with those from previous evaluations, indicating significant quantitative and qualitative progresses.

Keywords: graduate programs in chemistry; graduate programs in Brazil; chemistry in Brazil.

INTRODUÇÃO

A avaliação da pós-graduação é uma das mais bem sucedidas iniciativas da educação superior brasileira e vem sendo continuamente aperfeiçoada. A evolução dos indicadores de desempenho na área de química tem sido bastante positiva ao longo desses vinte dois anos, conforme se pode constatar pelas análises dos dados coletados.

A avaliação tem sido sempre feita pelos pares, com base em critérios definidos e divulgados. A última definição do perfil de excelência (perfil do curso A) na área foi amplamente superado pela maioria dos cursos de pós-graduação em química. Com a definição de uma nova escala (1 a 7) e critérios para promoção aos níveis superiores (6 e 7), é de se esperar um crescimento ainda maior nos indicadores de desempenho dos programas nas próximas avaliações.

A comissão de avaliação é composta por oito membros escolhidos pela CAPES, a partir de uma lista elaborada pela coordenação da área, e procura atender critérios de distribuição por subáreas da química e por regiões do país.

Os indicadores mais importantes para a avaliação dos programas de pós-graduação em química são a produção científica, particularmente com participação dos alunos, e a formação de recursos humanos.

Para ser considerada na pontuação, a produção científica deve ser publicada em revistas indexadas e de circulação internacional, com expressiva participação discente. Os alunos devem ser formados em tempo adequado e suas teses devem estar vinculadas a publicações.

A avaliação também leva em consideração a qualidade do corpo docente, a infraestrutura disponível para as atividades do curso e a estrutura curricular. Entretanto, estes itens se refletem sobre os indicadores de produção: um corpo docente bem qualificado e contando com infraestrutura adequada deve apresentar uma produção elevada, e uma estrutura curricular adequada deve permitir que os alunos concluam suas teses/dissertações nos devidos prazos.

Nas seções seguintes apresentamos os indicadores de desempenho dos programas de pós-graduação em química, de acordo com os dados coletados para a avaliação no período 96/97 e anteriores.

METODOLOGIA

A análise dos indicadores de qualidade dos programas se fundamenta nos dados fornecidos pelos coordenadores e enviados à CAPES pelas pró-reitorias de pós-graduação das instituições. A CAPES investiu, nos últimos anos, no aperfeiçoamento da coleta e tratamento dos dados enviados, disponibilizando para os avaliadores uma grande quantidade de informações. Apesar disso, e pela necessidade de confirmar se os números oferecidos pelo "software", desenvolvido para esse fim, eram fiéis aos dados fornecidos pelas coordenações, a comissão extraiu as informações mais relevantes diretamente dos relatórios enviados.

Os aspectos analisados, de acordo com a ficha de avaliação, foram ponderados da seguinte maneira: corpo docente (20%), atividades de pesquisa (5%), atividades de formação (5%), corpo discente (20%), teses e dissertações (20%) e produção intelectual (30%).

Em relação ao corpo docente, considerou-se a qualificação, dedicação, contribuição para a produção e formação de recursos humanos e participação no ensino de graduação e orientação de iniciação científica.

Nas atividades de pesquisa, levou-se em conta as linhas de pesquisa e os projetos concluídos e em andamento, e a coerência entre estes e a produção do programa no período. Nas atividades de formação observou-se a estrutura curricular e a oferta de disciplinas.

O aspecto corpo discente inclui a titulação de mestres e doutores, os tempos médios de titulação e a relação entre as teses e as publicações, particularmente a participação dos alunos como autores dos trabalhos publicados. A análise qualitativa e quantitativa da produção discente, além de considerar a relação entre as teses produzidas e as publicações, considera também o número de teses e dissertações em relação ao total de alunos e ao total de docentes.

O item de maior peso, a produção intelectual, considera os trabalhos efetivamente publicados no período, em periódicos indexados e de circulação internacional. Como novidade, nesta avaliação, as publicações foram ponderadas de acordo com a classificação dos periódicos com base nos índices de impacto.

Inicialmente todos os cursos foram analisados pelos critérios que definem um curso de excelência (perfil dos cursos A) e assim classificados entre 1 e 5. Em seguida foram introduzidos novos critérios para diferenciação entre os cursos excelentes, verificando quais poderiam ser promovidos ao nível 6 e, em seguida, ao nível 7. Foi então considerado o percentual das publicações do programa em revistas de maior impacto e o impacto médio destas, o percentual de docentes com bolsa de produtividade do CNPq, o histórico evolutivo do programa e o conjunto de formação de recursos humanos e produção discente, em revistas internacionais, em relação ao tamanho do corpo discente.

ANÁLISE DOS INDICADORES

Produção Científica

Os trabalhos produzidos pelos programas de pós-graduação em química estão sendo cada vez mais publicados em periódicos indexados e de circulação internacional. No período em pauta foram publicados 2.269 trabalhos, a maioria em revistas estrangeiras (82,4%). Das publicações em revistas nacionais, 161 ocorreram em Química Nova (40,4%).

Uma das novidades da avaliação 96/97 foi a adoção pela CAPES de uma classificação de qualidade dos periódicos com base nos índices de impacto1. Revistas com índice de impacto igual ou superior a 1 foram classificadas como A, com índice maior ou igual a 0,5, mas inferior a 1, como B, e com índice inferior a 0,5 como C. Nenhuma revista nacional foi encontrada com índice superior a 0,5, entretanto a comissão arbitrariamente atribuiu valor equivalente a uma revista do exterior B para o Journal of the Brazilian Chemical Society e C para a Química Nova. Outras revistas nacionais foram classificadas em níveis mais baixos (D e E). A Figura 1 mostra a distribuição da produção da pós-graduação em Química, de acordo com a classificação dos periódicos. O gráfico mostra claramente que 67% da produção científica da pós-graduação em química brasileira está concentrada em revista nível A e B.


As Figuras 2 e 3 mostram a situação dos Cursos de Pós-Graduação em Química no biênio 1994-1995 e dos Programas de Pós-Graduação em Química no biênio 1996-1997, respectivamente. Pode ser observada a correlação entre a distribuição dos novos conceitos e a dos antigos conceitos, considerando que a soma dos conceitos 5, 6 e 7 corresponde ao antigo conceito A, que continua dominante na pós-graduação em química no biênio 96/97.


A evolução dos indicadores normalmente utilizados na análise dos cursos/programas de pós-graduação, cobrindo o período 1983 a 1997, pode ser observada na Tabela 1. Os dados dispensam maiores comentários, tendo em vista que, em praticamente todos os casos, mostram uma evolução significativa, em termos qualitativos e quantitativos, da pós-graduação em química no Brasil.

A Tabela 2 contém os principais números resultantes da análise dos programas de pós-graduação em Química referentes ao biênio 1996-1997, de acordo com o conceito do Programa.

Pode-se observar que os indicadores de desempenho: número de publicações/docente, participação de discentes nas publicações e percentual de publicações em revistas de impacto mais alto, concordam com a classificação dos programas. Entretanto, o mesmo não acontece com o tempo médio de titulação. Em relação ao tempo médio de titulação no mestrado há apenas uma inversão, tendo os cursos com conceito 5 um tempo médio superior aos de conceito mais baixo. No doutorado a inversão da ordem é completa, indicando, talvez, a necessidade de um tempo maior para uma boa formação de pessoal neste nível.

A produção científica da pós-graduação em química tem crescido significativamente a partir do biênio 92/93. O gráfico da Figura 4 mostra este crescimento. Um dos períodos de avaliação corresponde a três anos (87-89), indicando uma situação quase estacionária até 91.


Além de progredir qualitativamente, a pós-graduação em química permanece em crescimento. Não somente o número de alunos tem aumentado, mas também a oferta de programas nas diversas regiões do país. Como consequência da ampliação e consolidação dos programas ao nível de doutorado, tem sido significativo o número de pesquisadores qualificados disponibilizados anualmente para a sociedade. Com a pouca oferta de vagas para novos docentes nos centros mais tradicionais, começam a ser formados grupos de pesquisa mais fortes e dinâmicos em novos centros e assim surgem novos programas de pós-graduação.

Pode-se observar que a tendência de retração no número total de alunos indicada pelos dados da avaliação do biênio 94/95 não se verificou na última avaliação. Embora não se tenha distinguido os alunos de mestrado e doutorado, permanece maior o crescimento do número de alunos no nível mais alto.

Também o número de dissertações de mestrado defendidas, que vinha se apresentando entre decrescente e estacionário nos dois períodos anteriores, mostra-se em crescimento, assim como o número de teses de doutorado, como mostra o gráfico da Figura 6.


O tempo médio de titulação no mestrado permanece em queda. Ainda pode ser considerado muito elevado, quando se recomenda um tempo máximo de vinte e quatro meses. Entretanto, no doutorado, parece difícil descer do patamar dos sessenta meses, conforme se observa no gráfico da Figura 7. Aliás, este é o prazo máximo recomendado para aqueles que seguem diretamente para o doutorado, e que contribuem para o tempo médio calculado. De qualquer forma, vale refletir sobre o tempo adequado para formação de um doutor, particularmente, quanto à fixação de um tempo máximo sem distinção da área de formação. Na área de Química, assim como na Física e nas Ciências Biológicas, os tempos médios de formação no doutorado superam os sessenta meses nas Universidades Norte-Americanas3.


CONCLUSÕES

Os dados coletados no período 1996/1997 e a comparação com os períodos anteriores apresentam, mais uma vez, um quadro positivo da pós-graduação em química no país. Houve crescimento quantitativo tanto no número de alunos como na oferta de programas. A produção científica continua crescendo além do crescimento no número de pesquisadores atuantes, conforme se observa pelo índice de trabalhos publicados por docente e ano. Crescem também os titulados em mestrado e doutorado. Particularmente, o crescimento no número de doutores formados, o qual tem sido responsável pela expansão do sistema de pesquisa e pós-graduação em Química no país, atingindo todas as regiões.

É notável observar que este crescimento, e bom desempenho, tem se verificado apesar da retração nos investimentos federais em pesquisa e desenvolvimento nos últimos anos. Até mesmo o número de bolsas para a pós-graduação, principalmente ao nível de mestrado, tem sofrido redução. É paradoxal, portanto, observar que está se produzindo recursos humanos em maior número e com melhor qualidade do que se fazia em períodos de maior investimento. Como a formação de recursos humanos é um processo demorado, os resultados somente aparecem após um período considerável, sendo o crescimento hoje observado justamente uma consequência destes investimentos, que impulsionaram o sistema até o estágio atual.

Vale a pena refletir sobre qual seria o futuro da pós-graduação em Química no Brasil se o contingente de doutores formados atualmente pudesse receber o mesmo volume de financiamento que era concedido tradicionalmente na década de setenta pelas diversas agências. A realidade é que vivenciamos uma crise sem precedentes no financiamento da pesquisa e pós-graduação no País. Uma crise é ao mesmo tempo um momento de confronto e de novas oportunidades. Se os caminhos corretos forem trilhados, com a manutenção das taxas de bancada e/ou acadêmicas e a retomada de um programa de financiamento que permita a expansão do sistema de ciência e tecnologia, o futuro será altamente promissor. Trata-se de uma decisão política de fundamental importância, que não pode ser adiada, para assegurar o desenvolvimento integral da Nação.

REFERÊNCIAS

1. Journal of Citation Reports, 1996, http://www.slis.indiana. edu/Research/nisonger-ranking.html

2. Brocksom, T. J.; de Andrade, J. B.; Quím. Nova 1997, 20, 29; e trabalhos anteriores citados neste.

3. Ver, por exemplo, Allewell, N.; Bloomfield, V.; Biophys. J. 1992, 63, 1446; ver também http://www.aip.org

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Maio 2000
    • Data do Fascículo
      Jun 1999
    Sociedade Brasileira de Química Secretaria Executiva, Av. Prof. Lineu Prestes, 748 - bloco 3 - Superior, 05508-000 São Paulo SP - Brazil, C.P. 26.037 - 05599-970, Tel.: +55 11 3032.2299, Fax: +55 11 3814.3602 - São Paulo - SP - Brazil
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