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Professores Athos da Silveira Ramos e Raymundo Moniz de Aragão, dois professores de carreira profícua e brilhante na UFRJ

In Memoriam

PROFESSORES ATHOS DA SILVEIRA RAMOS E RAYMUNDO MONIZ DE ARAGÃO, DOIS PROFESSORES DE CARREIRA PROFÍCUA E BRILHANTE NA UFRJ

Em poucos dias, a comunidade da Química perdeu esses dois grandes Mestres - Athos da Silveira Ramos (25/08/1906 -13/01/2002) e Raymundo Augusto de Castro Moniz de Aragão (27/05/1912 - 08/12/2001) - para seus alunos, o Dr. Athos e o Dr. Aragão - que tanto contribuíram para a formação de gerações de Químicos Industriais, pela Escola Nacional de Química (ENQ), da Universidade do Brasil, depois Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi significativa a influência de ambos, na criação, do INSTITUTO DE QUÍMICA, fundado para incentivar a pesquisa e estruturar a organização pedagógica da pós-graduação em ciências químicas no modelo que, desde longa data, vinha propondo o Prof. Athos da Silveira Ramos, inspirado no modelo americano das Graduate Schools - a pós-graduação Strictu sensu. O IQ funcionou na Escola de Química durante seus dez primeiros anos; dele vieram a resultar, por desmembramento, a COPPE e o NUMA, mais tarde IMA e finalmente Instituto de macromoléculas Profa Eloisa Mano.

O Instituto de Química da Universidade do Brasil nasceu em 1959, quando o Reitor Pedro Calmon, criou o Conselho de Pesquisas da Universidade do Brasil, para "assuntos de pesquisa e pós-graduação", sob a Presidência de Athos da Silveira Ramos; resultou de proposição do Prof. João Christovão Cardoso, então representante da Faculdade de Filosofia da UB no Conselho Universitário, para a criação do Instituto de Química (IQ), definindo suas finalidades em reunir as cadeiras de química, dispersas em diversas faculdades, iniciar cursos regulares de pós-graduação e incentivar a pesquisa. Pela Resolução no 4, de 30 de janeiro de 1959, do Conselho Universitário da Universidade do Brasil (UB), foi, então, criado o Instituto de Química, abrangendo as cadeiras de Química e de Engenharia Química das Escolas de Engenharia, Química, Medicina, Farmácia e Filosofia. Seus primeiros cursos datam de 1962.

Em 1965, o Ministro da Educação e Cultura Raymundo Moniz de Aragão promoveu a regulamentação e definição da pós-graduação, conforme está descrita por Athos da Silveira Ramos, em sua publicação "Pós Graduação: vocação pioneira da UFRJ", nos ANAIS do XXX Congresso Brasileiro de Química, RJ, Assoc. Bras. de Química, 1991. Pelo Decreto no 60.455-A, de 13 de março de 1967, que aprovou o plano de Reestruturação da, já então, designada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Instituto de Química foi mantido, passando a constituir uma unidade do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da UFRJ, no campus da Cidade Universitária da Ilha do Fundão.

A criação do IQ concretizou, assim, na Universidade do Brasil, depois Universidade Federal do Rio de Janeiro, a estruturação da Pós-Graduação Strictu sensu, com títulos de Mestre em Ciências, M.Sc. e Doutor em Ciências, D.Sc., concedidos à base da sistemática de um currículo de créditos de cursos adequados a cada caso, exame de qualificação para tornar o aluno um candidato ao título, Dissertação de Tese e Defesa da Tese, com julgamento/aprovação por banca oficialmente nomeada. Esta sistemática, em substituição ao clássico título de Doutor, Latu sensu, da Universidade do Brasil, veio a proporcionar uma equivalência entre os seus títulos de M.Sc. e de D.Sc. e aqueles obtidos em universidades estrangeiras.

Com a criação, em 1959, do Instituto de Química da Universidade do Brasil, o ensino da Química em nível superior, no país, sofreu uma modificação significativa, do que era o preparo puramente profissional, para o ensino pós-graduado e a pesquisa. O desenvolvimento do país já requeria pessoal assim especializado, o que ajudou a consolidar a pós-graduação neste núcleo da UB, que contava com professores/pesquisadores qualificados.

Desde sua criação em 1959, instalado em duas salas do sexto andar da Escola Nacional de Química, na Praia Vermelha, lá funcionou por cerca de 10 anos. Contou com financiamentos do MEC, OEA, USAID e indústrias.

Seu primeiro Conselho Diretor do Instituto de Química, regularmente empossado pelo Reitor Pedro Calmon, congregava representantes de diversas unidades: - Presidente, Athos da Silveira Ramos; - Diretores das diversas Divisões, os seguintes Professores: - de Físico-Química, João Christovão Cardoso; - de Química Inorgânica, Alcides Caldas; - de Química Tecnológica, Alcides Figueiredo da Silva Jardim; - de Química Orgânica, Athos da Silveira Ramos; - de Bioquímica, Paulo da Silva Lacaz; - de Engenharia Química, Alberto Luiz Coimbra; - da Comissão de Pesquisas, Raymundo Moniz de Aragão; - da Comissão de Ensino, Paulo Emidio de Freitas Barbosa. Em uma recomposição ulterior da Diretoria, passou a Presidência a Raymundo Augusto de Castro Moniz de Aragão, Médico, Professor e Chefe do Departamento de Microbiologia Tecnológica; - a Vice-Presidência a Athos da Silveira Ramos, Químico, Professor e Chefe do Departamento de Química Orgânica; - a Coordenação de Pesquisas a Aïda Espinola, Química Industrial, Professora do Departamento de Química Inorgânica; - de Química Orgânica, a Claudio Costa Neto e de Ensino a Eloisa Biasotto Mano, ambos Químicos Industriais e Professores do Departamento de Química Orgânica da Escola Nacional de Química; - de Química Analítica, a Werner Gustav Krauledat, Químico, Professsor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; os demais foram mantidos.

No período de 22/08/1963-05/01/1965, a Comissão de Pesquisa do IQ teve a composição: - Coordenadora, Profa Aïda Espinola; - Representantes dos Departamentos: Profs. Paulo Emidio de Freitas Barbosa, Affonso Prado Seabra, Arikerne Sucupira, Hebe Martelli, Kurt Politzer. Foram realizadas dez reuniões, registradas em atas; na da 5a reunião, há dois registros interessantes: 1) Profa Eloisa Biasotto Mano, para instalar um Centro de Estudo de Polímeros; 2) a instalação de um Centro de Estudos sobre Fotossíntese de Produtos Naturais. O IMA veio a ser criado em 1972.

Configurado o currículo de pós-graduação em Química, o Prof. Alberto Luiz Coimbra, considerando a diferença entre disciplinas componentes dos cursos de Química e de Engenharia Química, propôs, em março de 1963, o desmembramento da Divisão de Engenharia, para criar, com o título de Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia, a COPPE, que só foi efetivamente criada no final de 1965. Seus primeiros diplomas de M.Sc. foram, assim, concedidos em nome do Instituto de Química: a primeira defesa de tese de M. Sc., na Divisão de Engenharia Química da UB, em 01 de janeiro de 1964, pelo candidato Nelson Trevisan, como Orientador, o Prof. Augusto Araujo Zamith, do Departamento de Físico-Química da Escola Nacional de Química. Em 1964, mais sete teses foram defendidas. Até 1965, o Instituto de Química havia conferido 18 diplomas de M. Sc., sendo 16 pelo Departamento de Engenharia Química, da COPPE, e 2 pelo Departamento de Química Orgânica, do Instituto de Química.

Em 1968, Raymundo Moniz de Aragão, Ministro da Educação, promoveu a reforma administrativa universitária assim designada "Reforma Newton Sucupira", com base no relato do Prof. Newton Sucupira, no Conselho Federal de Educação, Parecer no 977/65, aprovado em 13 de dezembro de1965. Foi esta lei que estabeleceu a nova estrutura da então já designada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A partir desta reforma, o Instituto de Química passou a incorporar o ensino no nível de graduação; desde 1970, concentrou-se a formação de profissionais da química na Escola de Química (EQ) e Instituto de Química (IQ), ambos já locados no campus da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão; ao Instituto de Química, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), coube o ensino das disciplinas básicas da Química e a formação de profissionais Químicos (depois, Químicos com Atribuições Tecnológicas) bem como a pesquisa em Química, em qualquer de suas modalidades, inclusive a bioquímica; à Escola de Química, agora no Centro de Tecnologia (CT), as disciplinas tecnológicas, a formação de Engenheiros Químicos (mais tarde sendo reativada a formação em Química Industrial), a pesquisa em diversas tecnologias químicas e em tecnologia bioquímica. Os cursos de Química e o de Didática e Pedagogia, da Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, foram transferidos para o Instituto de Química (onde tomou a sigla IQ-801- Didática do Ensino Superior, 1 crédito).

Em 30 de novembro de 1984, ao se completarem 25 anos da fundação do Instituto de Química, o Prof. Bruce Kover, seu Diretor, promoveu a celebração, em sessão solene na Academia Brasileira de Ciências, sendo concedida Honra ao Mérito àqueles membros da primeira administração do Instituto de Química, que receberam placas de prata com a gravação do jubileu.

Os dois saudosos professores, com competência e distinção, deixaram uma memória de carreira profissional profícua e brilhante, dentre exercícios profissionais e honrarias recebidas, nacionais e internacionais. Na Universidade do Brasil, foram, ambos, por concurso, Professores Catedráticos da Escola Nacional de Química, Moniz de Aragão orientado para o campo da tecnologia de fermentações e para o magistério na cadeira de Microbiologia Industrial, desde sua atividade na indústria farmacêutica, relacionada à produção de penicilina, durante a II Guerra Mundial; Athos Ramos, sempre voltado para a Química Orgânica. Na Escola Nacional de Química e na Universidade do Brasil, mais tarde na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ocuparam, ambos, praticamente todos os postos de direção, de crescente relevância - Chefes dos respectivos Departamentos, Diretores da Escola Nacional de Química; Aragão, Decano do Centro; - cargos da Reitoria, e de colegiados de Educação e Cultura, que incluíram Membros do Conselho Universitário, Sub-Reitoria e outros. Moniz de Aragão, Reitor em 1968, Diretor de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, chegou a Ministro da Educação e Cultura, nomeado pelo presidente Castelo Branco.

Entre honrarias recebidas no Brasil, foram, ambos, eleitos Membros de Academias: - Athos da Silveira Ramos, da Academia Brasileira de Ciências - Raymundo Moniz Aragão, da Academia Brasileira de Medicina e da Academia Brasileira de Educação. Moniz de Aragão conta títulos de Professor Honoris Causa de dez universidades brasileiras, a Grande Oficial das Ordens de Mérito Aeronáutico e do Mérito Militar, a Grã-Cruz das Ordens de Mérito Médico e do Mérito Educacional.

Ambos ocuparam cargos da Diretoria do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq); Athos da Silveira Ramos, como Presidente do CNPq e Moniz de Aragão, Vice-Presidente do CNPq, adicionalmente, Presidente do Conselho Federal de Educação e criador e Presidente do Conselho Federal de Cultura.

Ocuparam, igualmente, cargos de entidades de pesquisa universitários e governamentais de destaque. Raymundo Moniz de Aragão, na Vice-Presidência da Fundação José Bonifacio, do Conselho Técnico-Científico da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, diretorias da Fundação Getúlio Vargas; como Reitor, Diretor de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura e Ministro da Educação e Cultura. Athos da Silveira Ramos foi Presidente da Câmara de Estudos Brasileiros, do Fórum de Ciência e Cultura, cujo presidente era o Reitor Helio Fraga; presidiu, assim, o Curso de Atualização em Problemas Brasileiros, localizado no Fórum de Ciência e Cultura, que embora com a duração de três meses, tinha a mesma sistemática do curso da Escola Superior de Guerra e diplomou um grande número de destacados Professores que o cursavam por indicação das respectivas Congregações, funcionários de empresas estatais, como a Petrobrás e de órgãos do Governo, como o DASP. O curso de Problemas Brasileiros no Fórum de Ciências e Cultura perdurou por de cerca de 15 anos, do início dos anos 70 até 1985, quando foi extinta a disciplina, que era obrigatória em todas as faculdades, públicas e particulares (no IQ, teve a sigla CMB-777, com 1 crédito). De 1981 a 1984, seus últimos anos, foram realizados, sob a Presidência de Athos Ramos na Comissão Organizacional, quatro Encontros sobre a Metodologia do Ensino de Problemas Brasileiros, freqüentados por professores de todos os estados e territórios do Brasil; deles, resultaram, impressos, das Conclusões e Recomendações, entregues juntamente com os Certificados de Freqüência.

Em 1968 e anos seguintes, Athos da Silveira Ramos foi Adido Científico do Brasil nos Estados Unidos, cargo em que, com o mesmo espírito de interesse pelos estudantes, logo estabeleceu contato com aqueles que se encontravam em estudos avançados nas diversas universidades americanas, para inteirar-se de suas situações, contato que manteve através de Boletins informativos.

O espírito criativo do Membro da Academia Brasileira de Ciências Athos da Silveira Ramos, sua fé e dedicação à ciência e à tecnologia, estão retratados em sua proposição da criação do Ministério da Ciência e Tecnologia. O Instituto de Química perpetuou o nome do Prof. Athos da Silveira Ramos nomeando, em sua homenagem, um museu recentemente criado no local.

Fica, aqui, registrado o preito de agradecimento de todos os ex-alunos desses dois destacados Mestres da Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil - os Profs. Athos e Aragão - exemplos de verdadeira dedicação ao magistério, cuja memória nos é grata.

Aïda Espinola, Alberto Luiz Coimbra, Carlos Augusto G.

Perlingeiro, Hebe Helena L. Martelli, Eloisa Biasotto Mano

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jul 2002
  • Data do Fascículo
    Maio 2002
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