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Editorial

EDITORIAL

Jailson B. de Andrade

IQ-UFBA

Em continuidade às ações sugeridas no documento Eixos Mobilizadores em Química1, as discussões sobre "A Formação do Químico", o primeiro dos Eixos apontados, foram aprofundadas em 2003. Para tal foi realizado um "workshop" na 26ª Reunião Anual da SBQ e em seguida elaborado um documento preliminar, que teve ampla divulgação. Adicionalmente, foram realizadas várias reuniões que culminaram no documento final, que será brevemente divulgado em Química Nova, cujo objetivo principal é contribuir para a ampliação da discussão sobre a formação dos profissionais de Química em nível de graduação e pós-graduação e suas repercussões no ensino (inclusive o médio) e a inserção desses profissionais no setor industrial.

É de conhecimento geral que a "Química Acadêmica Brasileira" lidera a América Latina na produção de artigos científicos em periódicos indexados, na formação de mestres e doutores e na editoração de periódicos científicos2, como também que a Indústria Química brasileira lidera o setor. O faturamento líquido da Indústria Química brasileira teve um crescimento de 21,6% em 2003, com relação ao de 2002, representando atualmente cerca de 42,2 bilhões de dólares. O segmento de produtos químicos de uso industrial continua majoritário, representando cerca de 22,5 bilhões de dólares (53%)3.

A aproximação pró-ativa destes setores (acadêmico e industrial) é fundamental para ambos, pois permitirá a ampliação significativa da pesquisa básica, tecnológica e de inovação, bem como contribuirá para modificar o perfil do setor industrial, com a ampliação do segmento de produtos químicos especiais. Com isso é possível agregar valor aos produtos e aos postos de trabalho, bem como diminuir o impacto ambiental quanto ao consumo de matéria prima e no descarte de efluentes. Um dos elos mais importantes desta aproximação envolve a Formação do Químico e a sua absorção pelo setor industrial.

Alguns gargalos atuais na Formação do Químico e na aproximação dos setores acadêmico e industrial resultam dos seguintes fatos: i) a maior parte dos Químicos envolvidos em pesquisa encontra-se no setor acadêmico, o que resulta em interlocução deficiente com o setor industrial; ii) a estrutura departamental das IES configura-se em uma barreira à interdisciplinaridade e em uma fonte de duplicação de esforços; iii) na legislação obsoleta (a profissão de Químico é regulamentada pela Lei Nº 2.800 de 18 de junho de 1956 e as atribuições profissionais estabelecidas na RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 36) pois verticaliza as atribuições profissionais (penalizando os graduados em Química) e não reconhece a pós-graduação como qualificação profissional e iv) na estrutura curricular dos cursos de graduação que, no seu conjunto, carecem de atualização e de iniciativas inovadoras.

As diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Química4 foram aprovadas pelo Ministério de Educação em 2001, através do parecer CNE/CES 1.303/2001, no qual merece destaque o seguinte trecho: ...Mas para que esses novos currículos, montados sobre este novo paradigma educacional, sejam eficazes, há que haver, igualmente, uma mudança de postura institucional e um novo envolvimento do corpo docente e dos estudantes. Já não se pode aceitar o ensino seccionado, departamentalizado, no qual disciplinas e professores se desconhecem entre si...

Desenhar e implementar mudanças curriculares significativas é um processo lento! Especialmente que sendo a Química a ciência central, o seu universo de atuação é amplo e incerto, principalmente na fronteira de áreas conexas. Também, não pode ser ignorado que além de conhecer os seus estudantes, os professores precisam de infra-estrutura adequada para desenvolver os seus trabalhos. A situação atual da infra-estrutura física e de capital intelectual de grande parte das IES está em processo de deterioração. Desde o encerramento dos Editais do PADCT que não há investimento específico e continuado na infra-estrutura dos cursos de graduação em Química, especialmente nas bibliotecas.

Neste cenário, ao elaborar estratégias visando "A Formação do Químico", com o olhar no futuro, torna-se necessário planejamento em três níveis: i) pontual, com foco nas disciplinas e atividades curriculares; ii) linear, visando a harmonia, o seqüenciamento e as inter-relações das diferentes disciplinas e atividades, sem desconsiderar o contexto regional e a infra-estrutura disponível, ou seja, a consiliência curricular! e iii) areolar, com o objetivo de situar o curso no contexto atual da ciência química, das áreas correlatas e do arcabouço legal, garantindo que a química será utilizada para melhorar a qualidade de vida do ser humano e do ambiente. Ou seja, será sempre utilizada a serviço da vida e da humanidade5. Estas estratégias e ações conseqüentes requerem um redesenho conceitual, institucional e legal. Estará a comunidade de Química preparada e motivada para realizar o redesenho? Certamente que a resposta é sim quanto à preparação! Com relação à motivação só no futuro saberemos...

REFERÊNCIAS

1. De Andrade, J. B.; Cadore, S.; Vieira, P. C.; Zucco, C.; Pinto, A. C.; Quim. Nova 2003, 26, 445.

2. Pardini, V. L.; Pinto, A. C.; de Andrade, J. B., Editorial, Quim. Nova 2003, 26, 631.

3. www.abiquim.org.br, acessada em Janeiro 2004.

4. Zucco, C; Pessine, F. B. T.; de Andrade, J. B.; Quim. Nova 1999, 22, 454.

5. Silva, L. A.; de Andrade, J. B.; Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola 2003, nº 5, 3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Mar 2004
  • Data do Fascículo
    Fev 2004
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