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Eduardo J. S. Vichi

Eduardo J. S. Vichi

O Professor Eduardo Joaquim de Souza Vichi foi uma figura de destaque na vida acadêmica do Instituto de Química da Unicamp, não somente como pesquisador, mas também como educador. Ele está entre os pioneiros que, no inicio da década de 70, ajudaram a construir e implantar o sistema de ensino e pesquisa deste Instituto. O pesquisador nasceu na cidade de Serra Negra, município no estado de SP localizado próximo a Águas de Lindóia, em 30 de agosto de 1938.

O Prof. Vichi graduou-se como bacharel e licenciado em Química pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1967. Durante sua graduação trabalhou na Alumínio do Brasil S.A. como técnico auxiliar, começando a adquirir já naquele momento um tipo de experiência incomum no ambiente acadêmico. Em 1967, começou sua carreira como professor, inicialmente no nível médio, no Liceu Eduardo Prado, no Colégio de Aplicação e no Instituto Educacional Oswaldo Quirino, todos na cidade de São Paulo. Em 1972 obteve o título de Doutor em Ciências, no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (na área de Química), sob a orientação do Prof. Pawel Krumholz no campo da cinética e mecanismos de reações de compostos de Fe(II).

Iniciou a sua carreira acadêmica no Instituto de Química da Unicamp como Assistente junto ao Departamento de Físico-Química, em tempo parcial, em março de 1970. No mesmo mês, ele também iniciou como Professor de Ensino Superior na Fundação Educacional de Barretos. Felizmente as viagens entre Campinas e Barretos duraram pouco porque, em 21 de janeiro de 1971, ele passou ao Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa, no IQ-UNICAMP. Na mesma ocasião o Prof. Vichi passou a MS-2. Foi então que se iniciou a implantação da área de cinética de reações de complexos de Fe(II) com ligantes diimínicos no IQ-UNICAMP. Entre 1975 e 1977 realizou o seu estágio de pós-doutoramento na Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde se especializou na área de compostos organometálicos.

Bem mais recentemente, em 1987, o Prof. Vichi iniciou uma nova linha de pesquisa no IQ. Inicialmente com o ex-aluno e colega, Edison Stein, começou a trabalhar com zeólitos e peneiras moleculares. Ele foi o pioneiro em uma área que viria a se consolidar no IQ.

Após os primeiros estudos envolvendo a preparação e determinação dos sítios ativos em zeólitos, o Prof. Vichi partiu para o que era o seu sonho: utilizar as cavidades zeolíticas como reatores e acompanhar a cinética das reações ocorrendo no seu interior! Por que não fazer do balão de reação um outro reagente? Era a questão que ele se propunha a responder.

Essa linha de pesquisas, que se mostrou muito mais ampla do que imaginada, contou com a colaboração dos Profs. Anthony J. Pöe e Geoffrey A. Ozin, ambos do Lash Miller Chemical Laboratories da Universidade de Toronto. O trabalho conjunto durou até os dias de hoje, com visitas constantes de trabalho e intercâmbio de estudantes. Esse trabalho foi objeto de uma reportagem muito interessante na Chemical Engineering News, tal era a originalidade do conceito e do enfoque que o Prof. Vichi propunha.

No Instituto de Química da UNICAMP destacou-se também por sua atuação como Chefe do Departamento de Química Inorgânica (1987-1991), como Membro da Congregação, como Coordenador da Pós-graduação (1996-1998) e como Membro da Câmara Curricular da UNICAMP (1978-1982). Aposentou-se em 3 de outubro de 1998, continuando, porém, suas atividades de ensino e pesquisa como Professor Convidado.

Externamente, teve uma atuação destacada como Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Química, SBQ, por duas gestões sucessivas, além de Editor Associado da Revista Química Nova. Foi durante sua segunda gestão como Secretário Geral da SBQ que ele assinou, junto com o Prof. Alberto Romão Dias, Secretário Geral da Sociedade Portuguêsa de Química, o Protocolo de Colaboração entre as duas Sociedades Científicas. Recentemente recebeu, em reconhecimento à sua enorme contribuição para o desenvolvimento da Química, a medalha Journal of the Brazilian Chemical Society conferida pela SBQ.

As atividades de extensão tiveram ainda um papel importante para o Prof. Vichi. No início da década de 80 foi muito grande a sua contribuição para a implementação do curso de pós-graduação no então Departamento de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Vários dos atuais docentes da Instituição foram nesta época, aproximadamente 1985, incentivados pelo pesquisador na carreira acadêmica desta universidade.

Muitos dos seus ex-alunos estão atuando em diversas universidades do país, como pesquisadores e educadores de destaque: Angela Maria Possati Aud, Annelise E. Gerbase, Edison Stein, Ernesto Bernardi Junior, Heloise O. Pastore, Helvio Henrique Santos, Humberto Osorio Stumpf, Irma Kruger Lauf, José Geraldo M. Lira, José Roberto Bertolino, Matthieu Tubino, Paulo Cezar Bodstein Gomes, Ricardo Forner, Sandra T. F. Furtado e Vânia Nogueira.

Sua atividade científica foi bastante rica, tendo publicado vários trabalhos importantes em revistas reconhecidas da área. O seu engajamento nas atividades de pesquisa e extensão no Instituto de Química e na UNICAMP foi sempre muito intenso, contribuindo bastante para a consolidação da instituição no país como um centro de ensino e pesquisa de excelência.

Suas características pessoais eram, no entanto, o que mais chamava a atenção de quem se aproximava para conversar com o Professor Vichi. Sempre bem disposto, bem humorado, sonhador e segundo o depoimento de alunos que tiveram o privilégio de conviver com ele como orientados "o Prof. Eduardo Vichi era uma pessoa especial, incentivadora, humana e ética. Feliz de nós que pudemos conviver com ele em algum momento de nossas vidas". Outros colegas destacam sua generosidade e imparcialidade nos momentos mais difíceis: "O Prof. Vichi tinha um modo especial de ouvir e de aconselhar, sua grande experiência acadêmica o tornava capaz de compreender diversos problemas dos colegas em início de carreira e direcionar esforços e energia aos alvos corretos".

O "grande Quincas", apelido carinhoso pelo qual era também conhecido, nos deixou, precocemente, no dia 10 de março de 2007, vítima de enfermidade cardíaca. Era casado com Ana Maron Vichi e deixou três filhos e seis netos.

Aécio P. Chagas, Ronaldo A. Pilli e Yoshitaka Gushikem

Instituto de Química, UNICAMP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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