EDITORIAL
A amostragem utilizada pelos autores pode refletir o perfil da área acadêmica da Química no país, mesmo considerando-se que ela ainda carece deste tipo de bolsas, pois há pressão de novos bons pesquisadores desejando entrar no sistema.
Não nos surpreende que a Química tenha sido escolhida a subárea para a realização deste estudo. Ao longo dos anos o seu comitê tem tentado encontrar caminhos mais justos e estabelecer padrões mais confiáveis de avaliação para estas bolsas e, também, para outras bolsas e projetos. Os resultados destas reuniões têm sido regularmente publicados no Boletim Eletrônico da Sociedade Brasileira de Química, para que a comunidade tome consciência não só da suas decisões mas, também, dos métodos que serão utilizados nas avaliações futuras.
Considerando que as bolsas de produtividade, de certa forma, refletem o grau de desenvolvimento da Química numa região, os números apresentados por Santos e colaboradores1 mostram como ela está desigualmente distribuída no país. Mesmo considerando que os atuais índices numéricos utilizados pelo Comitê Assessor de Química (índice H, somatório do JCR e índice de orientação nos últimos 5 anos) sejam questionados por muitos pesquisadores, qualquer outra fórmula puramente numérica chegará a resultado semelhante. É preocupante notar-se ausência de bolsistas, sem considerar o nível, em diversos estados e uma concentração destes na região sudeste (63,74%).
Os autores foram bastante detalhistas e analisaram os bolsistas por gênero e encontraram que 32,8% das mulheres são bolsistas, com maior concentração na categoria 2. Porém, há apenas 4,8% de participação feminina no nível 1A, valor bem inferior ao geral de bolsas do CNPq (23,6%).
Em março foram comemorados os 100 anos do "Dia Internacional da Mulher". Este dia tem muitas conotações positivas, mas sua importância real é com a luta das mulheres por igualdade social. Apesar deste dia ter sido criado em 1910 associado a um fato muito triste e lamentável ocorrido em 1857, quando mulheres que eram exploradas por condições de trabalho próximas da escravidão foram assassinadas apenas por reivindicarem redução na carga de trabalho, é notório que atualmente as mulheres vêm alcançando funções de alto nível no mundo.
Muitos fatos históricos poderiam ser ressaltados indicando quando começou efetivamente a participação das mulheres. No Brasil, um marco histórico a ser destacado ocorreu em 24 de fevereiro de 1932, quando elas conquistaram direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo. A Química Nova, fundada em 1978, teve suas duas primeiras editoras já em abril de 1989 (vol. 12, Nº 2). Nesta oportunidade instituiu-se um corpo de três editores, a saber: Profas. Helena M. C. Ferraz e Vera L. Pardini que compuseram junto com o Prof. João V. Comasseto a Editoria da QN. Outro fato marcante para Química no Brasil foi a eleição em 2008 da primeira presidente da SBQ, Profa. Vanderlan Bolzani, mostrando que os membros da nossa Sociedade sabem reconhecer os cientistas pelos seus valores independente do sexo. É interessante ressaltar o resultado da premiação do Nobel de 2009, que bateu o recorde em termos de mulheres ganhadoras do prêmio; a Profa. Ada Yonath recebeu o Nobel de Química, sendo a quarta mulher a recebê-lo, após 45 anos desde a última concessão a uma mulher.
Apesar de não haver correlação com o trabalho do CNPq, é interessante observar também que apenas 4,4% das mulheres foram agraciadas em todas as edições do Prêmio Nobel, o que não representa a contribuição científica das mulheres na Química e na Ciência.2
Destes eventos mencionados acima podem ser tiradas muitas conclusões, mas o que é importante são as ações a serem tomadas. Se for desejo que a Química seja forte e desenvolvida no Brasil, é preciso ter uma Química ampla e forte em todos os estados, pois a desigualdade só aumenta prejuízos, diminui as oportunidades e competitividades. As mulheres têm conquistado igualdade de condições em muitas atividades em relação aos homens e isso também tem de acontecer em relação a sua participação na Química e na Ciência. Não existe nenhuma fórmula mágica instantânea para isso, porém é preciso muito equilíbrio na discussão com a comunidade e transparência total nos processos de avaliação.
Susana I. Córdoba de Torresi
Vera L. Pardini
Vitor F. Ferreira
Editores de QN
- 1. Santos, N. C. F.; Cândido, L. F. O.; Kuppens, C. L.; Quim. Nova 2010, 33, 489.
- 2. de Torresi, S. I. C.; Pardini, V. L.; Ferreira, V. F.; Quim. Nova 2009, 32, 1987.
A desigualdade só aumenta prejuízos e diminui as oportunidades
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Abr 2010 -
Data do Fascículo
2010