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Avaliação do transporte do ácido 2,4-diclorofenoxiacético através de um lisímetro

Assessment of transport of 2,4-dichlorophenoxyacetic acid using a lysimeter

Resumo

The objective of this study was to evaluate the transport of one of the most toxic and best-selling herbicides in Brazil. The active ingredient 2,4-dichlorophenoxyacetic acid (2,4-D) was applied onto the surface of a tank-type lysimeter, filled with undisturbed soil, in Curitiba, Parana State. Samples of infiltration and runoff water were obtained during rain simulations. The concentrations of the active ingredient 2,4-D showed a rapid decrease in the environment, with mass losses of 29.12% by infiltration and 0.87% by runoff.

lysimeter; transport; 2,4-dichlorophenoxiacetic acid


lysimeter; transport; 2,4-dichlorophenoxiacetic acid

ARTIGO

Avaliação do transporte do ácido 2,4-diclorofenoxiacético através de um lisímetro

Assessment of transport of 2,4-dichlorophenoxyacetic acid using a lysimeter

Daniel Macedo Neto; Sandro Froehner* * e-mail: froehner@ufpr.br ; Karina Scurupa Machado

Departamento de Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Paraná, Centro Politécnico, 81531-980 Curitiba - PR, Brasil

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the transport of one of the most toxic and best-selling herbicides in Brazil. The active ingredient 2,4-dichlorophenoxyacetic acid (2,4-D) was applied onto the surface of a tank-type lysimeter, filled with undisturbed soil, in Curitiba, Parana State. Samples of infiltration and runoff water were obtained during rain simulations. The concentrations of the active ingredient 2,4-D showed a rapid decrease in the environment, with mass losses of 29.12% by infiltration and 0.87% by runoff.

Keywords: lysimeter; transport; 2,4-dichlorophenoxiacetic acid.

INTRODUÇÃO

Os altos índices de produção agrícola atingidos no Brasil demandam o uso intenso de agrotóxicos de variadas composições químicas. Com constante abertura de novas fronteiras, a agricultura intensiva praticada no país vem batendo recordes de produção que, paralelamente, refletem num crescente volume de agrotóxicos comercializados em território brasileiro.1 Segundo estatísticas, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo e o grupo dos herbicidas é o mais comercializado mundialmente.1,2 No Brasil, 127 mil toneladas desse grupo foram comercializadas em 2009, sendo os ingredientes ativos glifosato e ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) os mais comercializados oficialmente.3

Primeiro herbicida seletivo desenvolvido ainda nos anos 1940, o 2,4-D (C8H6Cl2O3) é largamente utilizado para aplicação na pré- ou pós-emergência de plantas infestantes em cultivos de trigo, soja, milho, arroz, cana-de-açúcar e pastagens.3 As formulações na forma de sal são absorvidas pelo sistema radicular das plantas e aquelas na forma de éster são absorvidas pelas folhas. Em ambos os casos, o 2,4-D flui pelo xilema e floema das plantas.4

Atribui-se ao 2,4-D a classificação toxicológica máxima (Classe I) que, em animais, se refere à DL50 (dose letal que elimina 50% de uma população) por via oral entre 0-50 mg kg-1; por via dérmica entre 0-200 mg kg-1; CL50 (concentração letal que elimina 50% de uma população) por via respiratória entre 0-0,2 mg L-1 e irritação para pele e olhos classificada como severa.5,6 Em mamíferos o 2,4-D pode atacar o fígado, o sistema nervoso central e o coração; no ser humano, uma inalação prolongada pode gerar efeitos agudos como tonturas, tosse, fraqueza e até perda temporária de coordenação muscular,4,6,7 já que os efeitos principais e mais recorrentes decorrem da manipulação inadequada do produto, que pode gerar irritação na pele e nos olhos.6

Quanto ao potencial de periculosidade ambiental (PPA), parâmetro que leva em consideração bioacumulação, persistência, transporte, toxicidade e os potenciais mutagênico, teratogênico e carcinogênico, o 2,4-D é considerado perigoso3 (Classe III), numa classificação que vai de I (máximo PPA) a IV (mínimo PPA). Apresenta tempo de meia-vida de 4,6 a 17,2 dias no solo e de 4,5 a 7 dias na água,8 solubilidade em água de 23,18 g L-19 e pKa = 2,6.7,10 É avaliado como altamente transportável e muito tóxico para organismos aquáticos. É pouco tóxico para organismos do solo, aves e abelhas.3,7

Processos de transporte como a infiltração e o escoamento superficial, principalmente se induzidos por chuvas que ocorrem logo após a aplicação de agrotóxicos, podem acarretar em riscos de contaminação de águas superficiais e subterrâneas.11 Devido às dificuldades de avaliação do transporte de pesticidas, os lisímetros podem ser uma alternativa para entendimento desse transporte no ambiente.12 Lisímetros do tipo tanque são estruturas que isolam um volume de solo entre a superfície e certa profundidade, permitindo o seu uso em estudos hidrológicos, geoquímicos e ecológicos.12 O comportamento de alguns ingredientes ativos usados como agrotóxicos já foi investigado utilizando lisímetros em diversos tipos de solos e regiões brasileiras.2,13-15 No entanto, o comportamento ambiental é muito dependente do tipo de solo em que o agrotóxico foi aplicado, sendo isso fator determinante para avaliação do transporte e destino.11 Este trabalho teve como objetivo avaliar o transporte do ingrediente ativo 2,4-D por infiltração e escoamento superficial induzidos pela simulação de chuvas sobre lisímetro gravimétrico.

PARTE EXPERIMENTAL

Experimento em lisímetro

O lisímetro utilizado está localizado na cidade de Curitiba, no campus Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, no ponto de coordenadas 25º26'53" de latitude Sul e 49º13'52" de longitude Oeste (UTM 677.848 L 7.184.231 S). Foi construído em julho de 2009 e encontra-se instalado na altitude aproximada de 925 m em solo estruturado (não deformado), classificado como Latossolo Vermelho Amarelo, de textura argilosa a média.16 Segundo a classificação de Köppen, o clima é o Cfb, subtropical úmido, mesotérmico, com verões frescos, geadas frequentes no inverno, sem estação seca, com temperatura média do mês mais quente inferior a 22 ºC e do mês mais frio inferior a 18 ºC. A precipitação média no local é de 1.400 a 1.600 mm ano-1.17

A composição granulométrica do solo do lisímetro foi determinada pelo método da pipeta,18 resultando em 38% para silte e 31% para argila, o que configura uma textura média ao longo do perfil. O teor de carbono orgânico, obtido pelo método de Walkley Black,19,20 foi de 1,15%. A capacidade de troca catiônica (CTC) de 23,27 cmol L-1 e o pH = 4,0 foram obtidos segundo metodologia da Embrapa.18

O lisímetro gravimétrico utilizado possui área de 1 m2, paredes em acrílico com 10 mm de espessura, volume de solo indeformado de 1 m³. A superfície encontra-se na horizontal e possui delimitação nas laterais por uma pequena mureta, que impede o escoamento superficial do entorno para dentro do tanque e do tanque para fora. O fechamento lateral do tanque impede também ganhos ou perdas por escoamento subterrâneo horizontal.12 Sobre o lisímetro foi instalado um simulador de chuva composto por reservatórios de água, gerador, bomba e dispersor com aspecto de chuveiro de movimento pendular.

Quando da execução do experimento, a superfície do lisímetro encontrava-se coberta por gramíneas com sistema radicular de pequena penetração, que cobrem grande parte do campus. Não havia registros de aplicações prévias de herbicidas na área. O solo superficial foi parcialmente revolvido durante as simulações, para representar o manejo do solo para cultivo.

Sobre a área superficial do lisímetro foi aplicado o herbicida DMA 806 BR®, fabricado pela Dow Agrosciences Industrial, adaptado à concentração de 4,03 g L-1 (ou 200 L ha-1). A aplicação do volume de 250 mL do herbicida foi cuidadosamente realizada no dia 08/07/10, em fim de tarde com solo úmido.

Na manhã seguinte, 15 h após a aplicação do herbicida, uma precipitação com intensidade de 45 mm h-1 foi simulada por 90 min sobre a superfície do lisímetro, gerando vazões de infiltração que foram amostradas a cada 10 min. Foram coletadas 10 amostras com volume de 1 L cada, não havendo geração de escoamento superficial. Após 38 h da aplicação do herbicida à base de 2,4-D, uma nova precipitação com intensidade de 45 mm h-1 foi simulada por 60 min sobre a superfície do lisímetro. O mesmo procedimento amostral foi repetido, obtendo-se 7 amostras de água de infiltração; novamente não houve geração de escoamento superficial. Na 3ª simulação, realizada 46 h após a aplicação do herbicida, o sistema de bombeamento da precipitação foi ajustado para gerar uma intensidade pluviométrica de 115 mm h-1, durante 75 min. Essa mudança na configuração do experimento permitiu a obtenção de amostras tanto de infiltração como de escoamento superficial.

O tempo de enchimento das garrafas (com amostras) bem como o volume coletado (1 L por amostra) foram registrados visando aferir as vazões de escoamento superficial e de infiltração. As vazões foram calculadas pela razão entre o volume coletado e o tempo de enchimento de cada amostra. No período entre coletas, a água de infiltração e escoamento superficial era descartada.

Determinação quantitativa do 2,4-D

Seguiu-se o procedimento descrito na literatura para extração e quantificação do 2,4-D.21 Resumidamente, o procedimento de análise consistiu na filtração em papel filtro quantitativo, seguido de filtração em membrana de nitrato de celulose 0,45 µm. Em seguida, passou-se à extração do ingrediente ativo em colunas de extração em fase sólida do tipo SPE C18, da marca Agilent, sendo utilizado 1 L de amostra. O composto ativo adsorvido na coluna foi eluído com metanol (10 mL); o solvente foi evaporado até à secura e o resíduo foi redissolvido em acetonitrila.

Para a análise cromatográfica foi utilizada a técnica de cromatografia em fase líquida de alta eficiência, sendo empregado um equipamento da marca Shimadzu®, modelo Prominence LC20A, equipado com coluna C-18, 5 µm, de 25 cm, da marca Thermo Scientific®. O comprimento de onda de máxima absorção foi 230 nm, utilizando-se como solventes acetonitrila e água ultrapura acidificada com ácido fosfórico a pH 3,0, compondo uma fase móvel de 65 e 35%, respectivamente. A vazão de leitura empregada foi de 1,4 mL min-1 e para as condições utilizadas o tempo de retenção foi de cerca de 3,0 min.

A curva analítica foi obtida através de soluções padrão com concentrações de 2,0; 3,0; 4,0; 5,0 e 10,0 mg L-1, gerando coeficiente de correlação r = 0,9809. Testes de recuperação foram conduzidos gerando rendimentos de extração entre 80 e 110%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aferição de vazões

O experimento realizado revelou, primeiramente, dificuldade em gerar escoamento superficial a partir de precipitações da ordem de 45 mm h-1, mesmo com 90 min ininterruptos de precipitação. Somente na 3ª simulação, quando o equipamento permitiu simular uma chuva de 115 mm h-1 durante 75 min, é que o escoamento superficial foi gerado. A configuração do lisímetro com coletores distintos para água de infiltração e de escoamento superficial permitiu aferir as vazões a partir do registro do volume e do tempo de coleta de algumas amostras (Figura 1).


Na 3ª simulação, com uma precipitação de intensidade maior, foi possível ultrapassar a capacidade de infiltração do solo gerando escoamento superficial e podendo, assim, compará-lo às vazões de infiltração.

Considerando que o intervalo entre coletas de amostras foi de 10 min, pode-se considerar o eixo x como representante do tempo. Dessa forma pôde-se verificar comportamento crescente em termos de vazões até atingir um pico; a partir daí a curva apresenta comportamento decrescente. Isso pôde ser observado na 1ª e 3ª simulações, onde o número de amostras foi suficiente para registrar esse comportamento.

Outras constatações notórias foram a diminuição da magnitude dos picos da 1ª para a 2ª simulação, devido à condição de início do experimento em solo mais seco (1ª simulação) e continuidade em solo mais úmido (2ª simulação) e, a diferença entre as vazões de escoamento superficial e infiltração quando ambas foram geradas. Observou-se que a magnitude das vazões de escoamento superficial é bem menor que a de infiltração, e que, temporalmente, a infiltração precedeu o escoamento superficial em 54 min quando da realização da 3ª simulação de precipitação, conforme demonstra resumidamente a Tabela 1.

As informações da Tabela 1 evidenciam que o residual de água retido nos interstícios do solo aumentou o tempo para início da infiltração. Isto é evidente entre a 1ª e 2ª simulações, onde o intervalo de tempo entre elas não foi suficiente para secar o volume de solo contido no lisímetro; ou seja, com maior conteúdo inicial de água no solo, o tempo para coleta da 1ª amostra de infiltração após o início da simulação aumentou de 16 para 29 min, demonstrando que o solo mais úmido apresenta menor capacidade inicial de infiltração, devido à diminuição dos efeitos de capilaridade.22

Com relação ao escoamento superficial, foi necessário 1 h e 2 min para se superar a capacidade de infiltração do solo o que, sob uma intensidade pluviométrica constante de 115 mm h-1 sobre a área de 1 m2 do lisímetro, correspondeu ao volume de 118,83 L de precipitação.

Concentrações de 2,4-D

A variação das concentrações do herbicida 2,4-D durante a realização do experimento é apresentada na Tabela 2. De modo geral, pôde-se observar a dissipação (decaimento) do herbicida durante as três precipitações simuladas, com notório decréscimo das concentrações da 1ª para a 3ª simulação. Os valores medidos nas amostras apresentaram ordem de grandeza muito menor em relação à concentração inicial aplicada de 4,03 g L-1 (concentração da calda).

Em termos das médias, para amostras obtidas de água infiltrada, os valores de concentração de 2,4-D encontrados foram de 3,34; 2,30 e 0,19 mg L-1 para a 1ª, 2ª e 3ª simulações, respectivamente; ou seja, 0,082; 0,057 e 0,004%, respectivamente, em relação à concentração inicial aplicada. Para o conjunto de amostras de escoamento superficial, obtidas somente na 3ª simulação, a concentração média foi de 0,12 mg L-1 - 0,003% em relação à concentração inicial.

Balanço de massa do 2,4-D

A Figura 2 mostra as cargas de 2,4-D medidas durante a realização do experimento, obtidas pelo produto entre a concentração na amostra, a vazão e o tempo de amostragem, sendo expressas em unidade de massa. Para a composição do balanço de massa (entradas x saídas) o lisímetro foi considerado o volume de controle; a entrada foi a aplicação inicial e única de 2,4-D realizada no dia 08/07/10 e as saídas foram as cargas de infiltração e escoamento superficial decorrentes das precipitações simuladas. Através das cargas acumuladas de infiltração e escoamento superficial foi possível fechar o balanço de massa.2


É possível notar um comportamento oscilatório para as cargas transportadas por infiltração nas três simulações, com picos mais notórios na 1ª e 2ª simulações, onde as cargas máximas foram de 68,48 e 38,48 mg, respectivamente. A oscilação com menor magnitude também foi percebida no transporte por escoamento superficial, onde a carga máxima foi de 2,09 mg no intervalo de 10 min. A carga acumulada permite verificar o quanto foi transportado em relação à massa inicial de 1.007,5 mg do herbicida aplicado (Figura 3).


A Figura 3 mostra que ao final do experimento, 293,47 mg foram transportadas por infiltração e 8,77 mg foram transportadas por escoamento superficial. Em termos percentuais, 29,12 e 0,87% do total de 2,4-D aplicado foram dissipados para o ambiente por infiltração e escoamento superficial, respectivamente, totalizando 29,99% transferidos para o ambiente. Conforme ilustra a Figura 4, 70% da massa do pesticida não foram encontradas nos processos de infiltração e escoamento superficial. Especula-se que esse percentual majoritário pode ter participado de processos de transformação ou retenção.7,23


A hipótese de transformação biótica (biodegradação) deve ser considerada mesmo frente ao curto intervalo de tempo analisado por este experimento. A biodegradação do 2,4-D é considerada rápida e metade da dose aplicada pode ser degradada por microrganismos em até 10 dias.24 A retenção na fração orgânica do solo também deve ser considerada, mesmo frente aos baixos valores de constante de adsorção à matéria orgânica que o 2,4-D apresenta. 7,8,25,26 Sabe-se que esse herbicida adsorve preferencialmente na fração orgânica do solo e que a adsorção, ainda que baixa se comparada a outros pesticidas, é maior em solos com maior teor de carbono orgânico e menor pH.7,25A literatura cita como fraca a adsorção do 2,4-D na fase mineral do solo, especialmente nas argilas.7 Isso ocorre porque as cargas negativas dos coloides do solo repelem as moléculas do herbicida, também negativas quando este se encontra em solução aquosa.27

Analisando somente o transporte por infiltração, pôde-se notar que 21,07% da massa do 2,4-D já foi transportado logo na 1ª precipitação, 7,45% foi transportado na 2ª e apenas 0,60% na última chuva simulada. Isso sugere ação do transporte preferencial e o forte efeito dissipador de chuvas que ocorrem logo após a aplicação do 2,4-D.

Num experimento semelhante, utilizando glifosato,2 resultados da mesma ordem de grandeza foram encontrados após a simulação de três chuvas. Em relação às cargas totais, o transporte por infiltração e escoamento superficial obtido para o 2,4-D foi de 29,12 e 0,87%, respectivamente, enquanto que o experimento com glifosato encontrou 15,4 e 1,7% para infiltração e escoamento superficial, respectivamente.2 Destaca-se que os experimentos apesar de apresentarem metodologias experimentais semelhantes e resultados de mesma ordem de grandeza, não são perfeitamente comparáveis, pois foram conduzidos em tipos de solo diferentes, com ingredientes ativos diferentes e metodologias analíticas também diferentes.

Em experimento com chuvas reais (não simuladas) sobre lisímetros, foram encontradas perdas máximas por lixiviação de 6% para o inseticida Carbofuran, valor bem menor que o encontrado com chuvas simuladas.15 Contudo, chuvas de variadas intensidades após a aplicação de agrotóxicos podem ocorrer e tais ocorrências implicam em riscos ao ambiente, além de prejuízos financeiros ao produtor rural.

A extrapolação dos resultados obtidos em lisímetros para áreas de bacias hidrográficas certamente forneceria estimativas superestimadas para o transporte dos ingredientes ativos estudados. A literatura apresenta estimativas de perdas por escoamento superficial em áreas agrícolas com valores na ordem de 0,001 a 1,0% do total aplicado, além de perdas por infiltração da ordem de 5%.28

Em relação aos experimentos com agrotóxicos em lisímetros, cabe ainda destacar que embora as perdas em relação à carga aplicada tenham sido maiores no transporte por infiltração, o experimento realizado com glifosato,2 ao gerar três eventos de escoamento superficial e três de infiltração, mostrou que as concentrações maiores foram encontradas no transporte por escoamento superficial. Resultado semelhante foi obtido em pesquisa na Bacia do Rio Itajaí, revelando o importante papel atenuador do solo ao realizar uma filtragem para a manutenção da qualidade das águas subterrâneas.9

Outro fator relevante é a contribuição da vazão no arraste das moléculas dos herbicidas. Como as cargas foram calculadas pelo produto entre concentração, vazão e tempo de amostragem, é de se esperar que as vazões contribuam significativamente na quantidade de massa transportada. Isso ocorreu no experimento com o 2,4-D, ou seja, cargas maiores foram transportadas para águas subterrâneas porque as vazões de infiltração foram maiores que as de escoamento superficial.

CONCLUSÕES

A simulação de três chuvas sobre lisímetro gravimétrico após a aplicação de herbicida à base de 2,4-D permitiu a dissipação para o ambiente de 29,99% da massa inicial aplicada. Por meio das cargas transportadas, mostrou-se que, sob a ação do transporte preferencial, grande parte da massa do 2,4-D foi dissipada já na 1ª chuva simulada.

Do total de massa aplicado, 29,12% foram dissipados por infiltração e 0,87% por escoamento superficial. Um percentual majoritário da massa do herbicida pode ter participado de processos de retenção ou transformação, tendo o solo como reservatório final. As hipóteses de transformação biótica (biodegradação) e de retenção na fração orgânica do solo devem ser consideradas, mesmo frente ao curto intervalo de tempo analisado neste experimento e aos baixos valores de constante de adsorção pela matéria orgânica que o 2,4-D apresenta se comparado a outros pesticidas.

Mostrou-se que, nas condições do experimento realizado, o transporte preferencial gerado por precipitações agiu no carreamento do herbicida 2,4-D, tanto por infiltração como por escoamento superficial.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. A. Pinheiro e ao colega V. Kaufmann pela parceria na realização do experimento em lisímetro. Ao Prof. C. Fernandes pela ajuda na discussão dos resultados.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Out 2012
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      21 Mar 2012
    • Aceito
      12 Jun 2012
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