Acessibilidade / Reportar erro

ARSÊNIO E ARROZ: TOXICIDADE, METABOLISMO E SEGURANÇA ALIMENTAR

ARSENIC AND RICE: TOXICITY, METABOLISM, AND FOOD SAFETY

Resumo

Arsenic is considered a semimetal, and its wide distribution in the Earth's crust in different chemical forms, including organic and inorganic species, has a great deal of influence on the mechanisms of toxicity. Exposure to arsenic can be either through occupational practice (use of pesticides) or by the consumption of water and food containing the element. Rice is considered a fundamental constituent of the basic diet of Brazilians and is usually cultivated in flooded conditions. Such a plantation system results in an increased amount of As in the soil and hence a greater accumulation of As in the plant, which is highlighted by the inorganic species' classification as highly toxic. Besides the use of mitigation techniques to reduce the toxicological risk, monitoring the concentration of As and its chemical species in rice and rice products is required through the establishment of legislation in the area. Thus, some world organizations are conducting improved research to determine and establish acceptable concentrations of As and its chemical species in rice, e. g., in 2012, FDA researchers described a chemical speciation methodology for As in rice and rice products. Hence, the application of existing chemical speciation methods and the establishment of parameters for ensuring food security and exposure risk assessment deserve particular consideration.

arsenic; rice; mitigation; chemical speciation; risk assessment


INTRODUÇÃO

Aspectos toxicológicos do arsênio e suas fontes de exposição

O arsênio (As) é elemento químico de massa atômica 75, considerado tóxico e amplamente distribuído na biosfera,1Watanabe, T.; Hirano, S.; Arch. Toxicol. 2013, 87, 969. podendo ser encontrado na atmosfera, na água, em solos, sedimentos e organismos.2Farias, J. S.; Milani, M. R.; Niencheski, L. F. H.; Paiva, M. L.; Quim. Nova 2012, 35, 1401. é considerado um metaloide ou ametal, já que partilha características físico-químicas tanto de metais quanto de ametais.1Watanabe, T.; Hirano, S.; Arch. Toxicol. 2013, 87, 969. O elemento pode se apresentar em formas químicas orgânicas, como o ácido monometilarsônico (MMA), ácido dimetilarsínico (DMA), arsenobetaína (AsB) e arsenocolina (AsC); e inorgânicas - reconhecidamente mais tóxicas - formadas por íons arsenato (As+5) e arsenito (As+3).3Faita, F.; Cori, L.; Bianchi, F.; Andreassi, M. G.; Int. J. Environ. Res. Public Health 2013, 10, 1527. Na Tabela 1 estão descritas as espécies de As mais frequentemente relatadas na literatura, suas respectivas fórmulas e abreviaturas.

Tabela 1
Principais espécies de As relatadas na literatura, suas respectivas abreviaturas e fórmulas estruturais (Adaptado de Barra et al.)4Barra, C. M.; Santelli, R. E.; Abrão, J. J.; Guardia, M. L.; Quim. Nova 2000, 23, 58.

Compostos de As são facilmente absorvidos, tanto por via oral quanto pela inalação, e a extensão da absorção depende da solubilidade de cada composto.4Barra, C. M.; Santelli, R. E.; Abrão, J. J.; Guardia, M. L.; Quim. Nova 2000, 23, 58. Em termos de As inorgânico (As-i), a absorção através do pulmão é estimada em 30-60%,5Holland, R. H.; Mccall, M. S.; Lanz, H. C.; Cancer Res. 1959, 19, 1154.

Pinto, S. S.; Varner, M. O.; Nelson, K. W.; Labbe, A. L.; White, L. D.; J. Occup. Med. 1976, 18, 677.
-7Vahter, M.; Acta Pharmacol. Toxicol. 1986, 59, 31. e cerca de 95% do As trivalente ingerido é absorvido a partir do trato gastrointestinal.8Zheng, Y.; Wu, J.; Ng, J. C.; Wang, G.; Lian, W.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 77.,9Bettley, F. R.; O'Shea, J. A.; Br. J. Dermatol. 1975, 92, 563. Alguns estudos mostram que a absorção de MMA e DMA via trato gastrointestinal corresponde a cerca de 75 a 85%,1010 Buchet, J.P.; Lauwerys, R.; Roels, H.; Int. Arch. Occup. Environ. Health 1981, 48, 71.

11 Marafante, E.; Vahter, M.; Norin, H.; Envall, J.; Sandstrom, M.; Christakopoulos, A.; Ryhage, R.; J. Appl. Toxicol. 1987, 7, 111.

12 Vahter, M.; Marafante, E.; Dencker, L.; Arch. Environ. Contam. Toxicol. 1984, 13, 259.

13 Yamauchi, H.; Yamamura, Y.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 1984, 74, 134.

14 Hughes, M. F.; Devesa, V.; Adair, B. M.; Styblo, M.; Kenyon, E. M.; Thomas, D. J.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 2005, 208, 186.
-1515 Yamauchi, H.; Yamato, N.; Yamamura, Y.; Bull. Environ. Contam. Toxicol. 1988, 40, 280. embora também possa ocorrer absorção de compostos orgânicos por via inalatória.1616 Stevens, J. T.; Hall, L. L.; Farmer, J. D.; DiPasquale, L. C.; Chernoff, N.; Durham, W. F.; Environ. Health Perspect. 1977, 19, 151. Considerando a via dérmica, são raros os estudos mas sabe-se que a absorção pela pele tem sido subestimada.1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...
Recentemente, comprovou-se, por meio de um estudo in vitro com a utilização de pele humana, que a penetração e o acúmulo de As é fortemente dependente de sua espécie. Arseno-açúcares (AsSug) e DMA5+ apresentaram mínimo acúmulo, enquanto que As3+ e As5+ acumularam-se tanto na epiderme quanto na derme.1818 Ouypornkochagorn, S.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. (2010), doi: 10.1021/ES903667Y.
https://doi.org/10.1021/ES903667Y...
No entanto, segundo os autores, mais estudos são necessários a fim de obter-se resultados mais consistentes.

Uma vez na corrente sanguínea, 95 a 99% do As é distribuído aos eritrócitos, ligado principalmente à hemoglobina e em menor escala aos leucócitos e às proteínas do plasma. Decorridas cerca de 24 horas neste compartimento, o As é distribuído para a maioria dos tecidos.1919 Jolliffe, D. M.; Budd, A. J.; Gwilt, D.J.; Anaesthesia 1991, 46, 288.,2020 Schoolmeester, W. L.; White, D. R.; South. Med. J. 1980, 73, 198. Compostos inorgânicos solúveis são distribuídos rapidamente para órgãos ou tecidos ricos em grupamentos sulfidrila como fígado, rins, baço e glândulas adrenais.2121 Quatrehomme, G.; Ricq, O.; Lapalus, P.; Jacomet, Y.; Ollier, A.; J. Forensic Sci. 1992, 37, 1163. Em razão da grande afinidade por ligação aos grupos sulfidrila, compostos de As podem ser detectados em altas concentrações no cabelo, unhas e pele de 2 a 4 semanas da exposição. Após 4 semanas, o As acumula-se nos ossos, coincidindo com a diminuição das concentrações no fígado e rins.1919 Jolliffe, D. M.; Budd, A. J.; Gwilt, D.J.; Anaesthesia 1991, 46, 288.,2020 Schoolmeester, W. L.; White, D. R.; South. Med. J. 1980, 73, 198.,2222 Winship, K. A.; Acute Poisoning Rev. 1984, 3, 129. Fei et al. constataram ocorrência de transferência transplacentária de As após exposição de mulheres por meio da água de beber (0,36 µg L-1 para As total), podendo, portanto, afetar o desenvolvimento do feto.2323 Fei, D. L.; Koestler, D. C.; Li, Z.; Giambelli, C.; Sanchez-Mejias, A.; Gosse, J. A.; Marsit, C. J.; Karagas, M. R.; Robbins, D. J.; Environ. Health (2013), doi: 10.1186/1476-069X-12-58.
https://doi.org/10.1186/1476-069X-12-58...
Ainda, estudos sobre o efeito de valência do As evidenciaram que as concentrações de As nos rins, fígado, bile, cérebro, ossos, pele e sangue são de 2 a 25 vezes maiores para o As+3 do que para o As+5.2424 Environmental Protection Agency. EPA; Research Triangle Park, NC, US. 1984.,2525 Lugo, G.; Cassady, G.; Palmisano, P.; Am. J. Dis. Child. 1969, 117, 328.

No metabolismo, o fígado atua principalmente convertendo o As-i a As orgânico, que é eficientemente excretado na urina.2626 World Health Organization. WHO; "Arsenic". Environmental Health Criteria - number 18, Geneva, 1981. A biometilação é fundamentada pela adição oxidativa de um grupamento metila na espécie trivalente de As.2727 Thompson, D. J.; Chem. Biol. Interactions 1993, 88, 89. Em geral, o As+5 é rapidamente reduzido pela enzima arsenatoredutase a As+3, que é 60 vezes mais tóxico que o As+5.2828 Aposhian, H. V.; Aposhian, M. M.; Chem. Res. Toxicol. 2006, 19, 1. O As+3 é metilado a metil-arsonato (MMA+5) e, sequencialmente, ao ácido dimetil-arsínico (DMA+5) pela enzima As-metil-transferase.2929 Liu, J.; Goyer, R. A.; Waalkes, M. P. Em Toxic effects of metals in Casarett and Doull's Toxicology: The basic science of poisons; Klaassen, C. D., ed; McGraw-Hill: Medical Publishing Division, 2008, cap. 23.

A principal via de excreção do As é a urinária. As proporções relativas de As+3, As+5, MMA e DMA na urina podem variar de acordo com condições da exposição, via de administração, dose, e espécies animais expostas.1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...
Em geral, após a exposição em longo prazo, o DMA é o metabólito em maior proporção (60-80%), seguido de menores concentrações de MMA (10-20%) e As-i (10-20%).2828 Aposhian, H. V.; Aposhian, M. M.; Chem. Res. Toxicol. 2006, 19, 1.,3030 Feldmann, J.; Lai, VW-M.; Cullen, W. R.; Ma, M.; Lu, X.; Le, X. C.; Clin. Chem. 1999, 45, 1988. Os compostos orgânicos AsB e AsC, encontrados em alimentos de origem marinha, não são biotransformados, sendo excretados inalterados na urina.3131 Brown, R. M.; Newton, D.; Pickford, C. J.; Sherlock, J. C.; Hum. Exp. Toxicol. 1990, 9, 41.

32 Kalman, D. A.; Extended Abstracts from the Second Nordic Symposium, Odense, Copenhagen: World Health Organization, 1987.
-3333 Tam, G. K. H.; Lacroix, G.; J. - Assoc. Off. Anal. Chem. 1982, 65, 647.

Em relação à toxicidade, os compostos inorgânicos de As são cerca de 100 vezes mais tóxicos do que as formas parcialmente metiladas (MMA+5 e DMA+5).3434 Chatterjee, A.; Das, D.; Mandal, B. K.; Chowdhury, T. R.; Samanta, G.; Chakabrorti, D.; Analyst 1995, 120, 643. De acordo com Borba et al., a ordem crescente de toxicidade dos compostos de As é: compostos orgânicos de As5+ < compostos orgânicos de As3+< compostos inorgânicos de As5+ < compostos inorgânicos de As3+.3535 Borba, R. P.; Coscione, A. R.; Figueiredo, B. R.; Zambello, F.; Quim. Nova 2009, 32, 970.

A exposição ao As vem sendo associada a muitas desordens cardiovasculares, dentre elas hipertensão e arritmias, disfunção vascular endotelial, indução do estresse oxidativo, indução da arterosclerose e regulação de alguns intermediadores químicos celulares como fator de necrose tumoral alfa, interleucina-1 e fator de crescimento endotelial que induz doenças cardiovasculares.3636 Balakumar, P.; Kaur, J.; Journal of Cardiovascular Toxicology 2009, 9, 169. Comparações entre diferentes graus de exposição ao As (<5 µg L-1 e 20-170 µg L-1) mostraram que certas populações no Irã e Bangladesh apresentaram maiores incidências de hipertensão e diabetes.3737 Mahram, M.; Shahsavari, D.; Oveisi, S.; Jalilolghadr, S.; J. Res. Med. Sci. 2013, 18, 408.,3838 Pan, W. C.; Seow, W. J.; Kile, M. L.; Hoffman, E. B.; Quamruzzaman, Q.; Rahman, M.; Mahiuddin, G.; Mostofa, G.; Lu, Q.; Christiani, D. C.; Am. J. Epidemiol. 2013, 178, 1563. A exposição crônica ao As também pode resultar em conjuntivite, hiperqueratose, hiperpigmentação e gangrena nos membros.4Barra, C. M.; Santelli, R. E.; Abrão, J. J.; Guardia, M. L.; Quim. Nova 2000, 23, 58. Espécies inorgânicas de As são consideradas carcinógenos humanos classe I, pois estão associadas ao desenvolvimento de cânceres de pele, pulmão, bexiga e rim.3939 International Agency for Research on Cancer. IARC; Working Group on the evaluation of carcinogenics risks to humans. Iarc Monogr. Eval. Carcinog. Risks Hum., 2004. No entanto, os dados de toxicidade para as espécies orgânicas de As ainda são escassos, sendo observados mais efeitos na pele e no trato gastrintestinal decorrente de exposição pela via oral.1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...

Os mecanismos de toxicidade e carcinogenicidade são influenciados pela espécie química e pela biotransformação.4040 Hughes, M. F.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 1. Por exemplo, compostos trivalentes de As são considerados tióis reativos e, desta forma, irão interagir com sítios de proteínas e enzimas alterando reações bioquímicas essenciais, estado redox das células. Já o As5+ é um desacoplador da fosforilação oxidativa na mitocôndria devido à semelhança com o fosfato inorgânico e, com isso, o substitui na formação do ATP (adenosina trifosfato).1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...
,4141 National Research Council. NRC; Arsenic in Drinking Water. National Academy of Sciences, Washington, DC, 2001. Além destes mecanismos, inúmeros outros têm sido identificados como dano oxidativo, alteração no estado de metilação do DNA e comprometimento do seu mecanismo de reparo, instabilidade genômica, apoptose, necrose e alteração nos mecanismos de regulação da proliferação celular.1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...
,4141 National Research Council. NRC; Arsenic in Drinking Water. National Academy of Sciences, Washington, DC, 2001.,4242 Rossman, T. G.; Mutat. Res. 2003, 533, 37.

Assim, é de grande relevância conhecer e minimizar as fontes de exposição ao As. Exemplos de fontes de exposição incluem fumaças e poeiras industriais (fundição) e produtos de uso agropecuário (inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros), que estão mais relacionadas à questão ocupacional (fabricação e aplicação).4343 Agency for Toxic Substances and Disease Registry. ATSDR; Atlanta, GA, 2005. Considerando exposição ambiental, as principais fontes são água e alimentos contaminados.2626 World Health Organization. WHO; "Arsenic". Environmental Health Criteria - number 18, Geneva, 1981. Bangladesh é um exemplo muito conhecido da exposição ao As pelo consumo de água contaminada. Na tentativa de se reduzir casos de cólera, muitos poços artesianos foram perfurados no país, sem o conhecimento prévio da composição do solo, mais especificamente, da concentração de As, resultando na exposição de milhões de pessoas.4444 British Geological Survey. BGS; Arsenic contamination of groundwater in Bangladesh, 2001. Em: Saha, G. C.; Ali, M. A.; Sci. Total Environ. 2007, 379, 180.

Os alimentos, por sua vez, podem ser fontes de exposição ao As já durante a produção caso se trate, por exemplo, de solo, água ou fitossanitário aplicado contendo compostos de As. Dentre os alimentos que reconhecidamente possuem As estão os peixes, crustáceos e outros frutos do mar que contêm, em geral, altas concentrações de AsB, AsC e AsSug.4545 Shibata, Y.; Morita, M.; Fuwa, K.; Adv. Biophys. 1992, 28, 31.,4646 Hsueh, Y. M.; Hsu, M. K.; Chiou, H. Y.; Yang, M. H.; Huang, C. C.; Chen, C. J.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 83. Em 1999, um estudo sobre a concentração de As em alimentos da cesta básica nos Estados Unidos chamou a atenção por revelar altas concentrações de As-i no arroz quando comparado a outros alimentos,4747 Schoof, R. A.; Yost, L. J.; Eickhoff, J.; Crecelius, E. A.; Cragin, D. W.; Meacher, D. M.; Menzel, D. B.; Food Chem. Toxicol. 1999, 37, 839. trazendo à luz da ciência inúmeros trabalhos envolvendo As e arroz relacionados a monitoramento, compreensão do metabolismo e mitigação dessa contaminação, uma vez que este cereal é grande importância na alimentação global.4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004.

Relação entre arsênio e arroz

O arroz cultivado e consumido na maior parte do mundo pertence à espécie Oryza sativa L., sendo considerada uma monocotiledônea da família das Poaceae (gramíneas).4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004. A morfologia da planta é de fundamental importância para a compreensão da relação As e arroz.

A planta se caracteriza por colmos ocos, flores reduzidas de cor verde e aquênios especializados (cariopses) como frutos. A morfologia da planta pode ser descrita da seguinte forma (Figura 1): i) raízes: adventícias (produzidas a partir de nós inferiores dos colmos jovens) e fibrosas (possui muitas ramificações e pelos radiculares); ii) folhas: do colmo principal originam-se de 8 a 14 folhas, conforme o ciclo da cultivar onde a última folha em cada colmo, denomina-se folha-bandeira (comprimento, largura, ângulo de inserção, pubescência e cor das folhas variam com o genótipo); iii) caule: é composto por um colmo principal e um número variável de colmos primários e secundários, ou afilhos e; iv) panículo: inflorescência particular desta planta onde se formam os grãos, sendo localizada sobre o último entrenó do caule e precedida pela folha-bandeira.4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004.

Figura 1
Etapas do desenvolvimento do arroz no cultivo irrigado e painel esquemático de variáveis envolvidas na relação arroz / As. A: taipa de cultura de arroz em Rio Grande, RS, Brasil; B: floração do arroz (“embarrigamento”); C: aparecimento da folha bandeira; D: panículo com grãos maduros; 1: solo; 2: lâmina de água (irrigado); 3: raízes; 4: colmo; 5: folhas; 6: panículo; 7: óxido/hidróxido de Fe; 8: microrganismos de solo; 9: placa de Fe; 10: parede celular; 11: citoplasma; 12: ligação fitoquelatina (PC)-As3+/ transporte; 13: vacúolo celular; 14: xilema; 15: diferentes partes do grão e influência na concentração de As. Seta tracejada: biotransformação ou menor intensidade de absorção; AsR: As redutase

Da parte externa para a parte interna, a morfologia dos grãos segue a seguinte ordem: casca, pericarpo, tegumento, nucelo, aleurona, endosperma e embrião (Figura 1). Após a colheita os grãos maduros podem sofrer diferentes tipos de beneficiamento. O arroz integral, ao contrário do arroz polido, é o grão que não sofreu o processo de polimento, ou seja, a retirada da parte que recobre o grão que vai do pericarpo até a aleurona (também chamado farelo). Já o arroz parboilizado (do inglês "partial boiled") é aquele parcialmente cozido com a casca, onde o grão absorve nutrientes da casca como elementos químicos e vitaminas. Assim, por exemplo, o arroz pode ser parboilizado e depois descascado somente, gerando o arroz integral parboilizado; ou parboilizado, descascado e polido, gerando o arroz polido (branco) parboilizado; ou somente descascado, gerando o arroz integral; ou descascado e posteriormente polido, gerando o arroz polido branco comum.4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004.

Este alimento chega à mesa de mais de 50% da população mundial, sendo uma das maiores culturas, após o milho e o trigo.4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004. No Brasil, maior produtor não asiático, o consumo chega a mais de 50 kg de arroz/habitante/ano sendo, portanto, um componente da cesta básica do brasileiro.4949 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE; Aquisição alimentar domiciliar per capita anual, por Grandes Regiões, segundo os produtos, período 2008-2009, 2013. A produção agrícola é de mais de 13 milhões de toneladas de arroz por ano, sendo a região subtropical, principalmente os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, responsável por mais de 80% da produção nacional, que é totalizada considerando a soma do arroz de terras altas (sequeiro, sem solo inundado com lâmina de água) e o arroz irrigado tradicional, com solo inundado (com lâmina de água).4848 Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004.

Na literatura, muitos trabalhos relacionando As e arroz podem ser encontrados, especialmente onde os solos são naturalmente contaminados e/ou onde o consumo deste cereal é alto.5050 Williams, P. N.; Price, A. H.; Raab, A.; Hossain, S. A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 5531.

51 Liang, F.; Li, Y.; Zhang, G.; Tan, M.; Lin, J.; Liu, W.; Li, Y.; Lu, W.; Food Addit. Contam. 2010, 27, 810.

52 Batista, B. L.; De Oliveira Souza, V. C.; Da Silva; F. G.; Barbosa Jr, F.; Food Addit. Contam., Part B 2010, 3, 253.

53 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.
-5454 Batista, B. L.; Nacano, L. R.; Freitas, R.; Oliveira-Souza, V. C.; Barbosa, F.; Food Nutr. Sci. 2012, 3, 129. Já outros estudos focam na compreensão da absorção, metabolismo, distribuição e efeitos do acúmulo de As nas plantas de arroz.5555 Liu, W. J.; Zhu, Y. G.; Hu, Y.; Williams, P. N.; Gault, A. G.; Meharg, A. A.; Charnock, J. M.; Smith, F. A.; Environ. Sci. Technol. 2006, 40, 5730.

56 Meharg, A. A.; Lombi, E.; Williams, P. N.; Scheckel, K. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhu, Y.; Islam, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 1051.

57 Abedin, M. J.; Feldmann, J.;Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2002, 128, 1120.

58 Abedin, M. J.; Cresser, M, S.; Cotter-Howells, J.; Meharg, A. A.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. 2002, 36, 962.

59 Carey, A. M.; Scheckel, K. G.; Lombi, E.; Newville, M.; Choi, Y.; Norton, G. J.; Charnock, J. M.; Feldmann, J.; Prince, A. H.; Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2010, 152, 309.

60 Lombi, E.; Scheckel, K. G.; Pallon, J.; Carey, A. M.; Zhu, Y. G.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2009, 184, 193.

61 Zhang J.; Zhao, Q-Z.; Duan, G-L.; Huang, Y-C.; Environ. Exp. Bot. 2010, 72, 34.

62 Shri, M.; Kumar, S.; Chakrabarty, D.; Trivedi, P. K.; Mallick, S.; Misra, P.; Shukla, D.; Mishra, S.; Srivastava, S.; Tripathi, R. D.; Tuli, R.; Ecotoxicol. Environ. Saf. 2009, 72, 1102.
-6363 Zhao, F. J., Ma, J. F., Meharg, A. A., McGrath, S. P.; New Phytol. 2008, 181, 777.

O arroz, diferente de outros cereais, é cultivado, geralmente, em solos inundados (cultivo irrigado), onde o excesso de água leva a uma maior mobilização do As (especialmente As-i) e, consequentemente, a um aumento no acúmulo pela planta, principalmente nos grãos. O As3+, espécie mais tóxica encontrada em alimentos, tem alta solubilidade em água, o que aumenta sua mobilidade no solo, sendo eficientemente absorvido pelas raízes, chegando aos grãos e, portanto, introduzido na alimentação.6464 Ma, J. F.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Xu, X. Y.; Su, Y. H.; Mcgraph, S. P.; Zhao, F.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2008, 105, 9931.,6565 Xu, X. Y.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Zhao, F.; J. Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5574. Por estes motivos, estudos de especiação química de As em grãos são de suma importância, pois a concentração de As total não é o melhor parâmetro para se avaliar o risco do consumo de arroz, uma vez que os grãos podem conter alta concentração de As total, porém desse total, baixas concentrações das espécies mais tóxicas (As-i).6666 Cullen, W.R.; Reimer, K.J.; Chem. Rev. Am. Chem. Soc. 1989, 89, 713.

Com relação à absorção das diferentes espécies de As pelas raízes do arroz, o DMA e MMA são absorvidos mais lentamente que o As3+ e o As5+, porém são transportados mais eficientemente no xilema e floema da planta.5757 Abedin, M. J.; Feldmann, J.;Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2002, 128, 1120.,5858 Abedin, M. J.; Cresser, M, S.; Cotter-Howells, J.; Meharg, A. A.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. 2002, 36, 962.,6464 Ma, J. F.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Xu, X. Y.; Su, Y. H.; Mcgraph, S. P.; Zhao, F.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2008, 105, 9931.,6767 Ma, J. F.; Tamai, K.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Konish, S.; Katsuhara, M.; Ishiguro, M.; Murata, Y.; Yano, M.; Nature 2006, 440, 688.,6868 Meharg, A. A.; Naylor, J.; Macnair, M. R.; J. Environ. Qual. 1994, 23, 234. Neste sentido, Batista et al. demonstraram, por meio de estudos de especiação de As, o aumento nas concentrações de DMA e MMA em grãos de diferentes cultivares de arroz em oposição ao As-i.7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467. A absorção de ambas as espécies, especialmente MMA, é sensível ao pH do meio, ocorrendo diminuição com o aumento do pH de 4,5 a 6,5.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012. Também sugere-se que as moléculas de MMA e DMA não dissociadas são as principais espécies absorvidas pelas raízes do arroz por meio de transportadores de silicato (canais aquaporinas Lsi1) bastante eficientes. Além deste mecanismo, há uma possibilidade pouco conhecida de absorção de MMA e DMA na forma dissociada.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.

Geralmente nas formas O=As-OH e O=As-(OH)3, As3+ e As5+ são absorvidos por transportadores de silicato e fosfato, respectivamente, devido às similaridades na dimensão da molécula (Figura 1).5757 Abedin, M. J.; Feldmann, J.;Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2002, 128, 1120.,5858 Abedin, M. J.; Cresser, M, S.; Cotter-Howells, J.; Meharg, A. A.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. 2002, 36, 962.,6464 Ma, J. F.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Xu, X. Y.; Su, Y. H.; Mcgraph, S. P.; Zhao, F.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2008, 105, 9931.,6767 Ma, J. F.; Tamai, K.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Konish, S.; Katsuhara, M.; Ishiguro, M.; Murata, Y.; Yano, M.; Nature 2006, 440, 688.,6868 Meharg, A. A.; Naylor, J.; Macnair, M. R.; J. Environ. Qual. 1994, 23, 234. Os canais aquaporinas Lsi1 correspondem aos principais transportadores de influxo de ácido silícico em raízes de arroz e, consequentemente, de As3+.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.

Os transportadores de membrana de fosfato não são capazes de diferenciar entre fosfato e As5+, assim, após entrar nas células da raiz, o As5+é prontamente convertido em As3+ por ação de uma As redutase (AsR). O As3+, então, pode sofrer efluxo para o meio através de canais Lsi1 ou transportados para o xilema por meio dos canais Lsi2. Esse mecanismo é o mais importante no controle do efluxo de silício e As3+ das raízes, sendo essencial para reduzir o acúmulo de As.6363 Zhao, F. J., Ma, J. F., Meharg, A. A., McGrath, S. P.; New Phytol. 2008, 181, 777.,6464 Ma, J. F.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Xu, X. Y.; Su, Y. H.; Mcgraph, S. P.; Zhao, F.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2008, 105, 9931. Além deste efluxo, a planta possui alguns sistemas de detoxificação nas raízes como a conversão As3+→As5+,6969 Xu, X.Y.; McGrath, S. P.; Zhao, F. J.; New Phytol. 2007, 176, 590. a complexação/sequestro de As3+ por grupos de compostos contendo tiol, conhecidos como fitoquelatinas (PCs), e transporte/armazenamento nos vacúolos das células da raiz.7070 Raab, A., Schat, H., Meharg, A. A., Feldmann, J.; New Phytol. 2005, 168, 551.

71 Raab, A., Ferreira, K., Meharg, A. A., Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2007, 58, 1333.

72 Song, W. Y.; Park, J.; Mendoza-Cózatl, D. G.; Suter-Grotemeyer, M.; Shim, D.; Hörtensteiner, S.; Geisler, M.; Weder, B.; Rea, P. A.; Rentsch, D.; Schroeder, J. I.; Lee, Y.; Martinoia, E.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2010, 107, 21187.
-7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467. Esse sequestro ocorre principalmente com As-i (As3+), uma vez que altas concentrações de espécies metiladas foram encontradas em grãos sugerindo que, apesar de serem mais lentamente absorvidas, essas espécies orgânicas não são aprisionadas nas raízes, sendo, portanto, lentamente e constantemente absorvidas, transportadas e acumuladas nos grãos (Figura 1).7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467. A produção das PCs pode ser induzida pela exposição da planta ao arsênio.7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467. Sua molécula é estruturalmente relacionada à glutationa (GSH) e, portanto, sua produção é dependente da disponibilidade de enxofre e de fatores genéticos da planta.136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535.,138138 Duan, G-L.; Hu, Y.; Liu, W-J.; Kneer, R.; Zhao, F-J.; Zhu, Y-G.; Environ. Exp. Bot. 2011, 71, 416.

Em se tratando da biometilação de As na planta, evidências da ocorrência do processo em menores proporções são relatadas, sugerindo-se também a possibilidade de metilação mediada por microrganismos previamente a absorção das espécies pela planta.136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535.

Com relação à toxicodinâmica do As no arroz, este liga-se a grupos sulfidrila na planta, ação que leva ao acúmulo do elemento causando o desacoplamento do fosfato da adenosina tri-fosfato e peroxidação lipídica, com geração de radicais livres. Este processo causa reduções na germinação, crescimento e desenvolvimento de raízes e da parte aérea, e, finalmente, decréscimo na produtividade da cultura.6262 Shri, M.; Kumar, S.; Chakrabarty, D.; Trivedi, P. K.; Mallick, S.; Misra, P.; Shukla, D.; Mishra, S.; Srivastava, S.; Tripathi, R. D.; Tuli, R.; Ecotoxicol. Environ. Saf. 2009, 72, 1102.,7474 Carbonell-Barrachina, A. A.; Burló-Carbonell, F.; Mataix-Beneyto, J.; J. Plant Nutr. 1995, 18, 1237.

75 Carbonell-Barrachina, A. A.; Aarabi, M. A.; DeLaune, R. D.; Gambrell, R. P.; Patrick Jr., W. H.; Plant Soil 1998, 198, 33.

76 Knauer, K.; Behra, R.; Hemond, H.; Aquat. Toxicol. 1999, 46, 221.
-7777 Zhang, F.; Shi, W.; Jin, Z.; Shen, Z.; J. Plant Nutr. 2002, 26, 1779.

Devido à importância do arroz na dieta do brasileiro, esforços vêm sendo realizados no sentido de avaliar as concentrações de As e suas espécies no arroz comercializado no Brasil, além de estudos de toxicocinética e biorremediação relacionados a As e arroz.5252 Batista, B. L.; De Oliveira Souza, V. C.; Da Silva; F. G.; Barbosa Jr, F.; Food Addit. Contam., Part B 2010, 3, 253.

53 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.
-5454 Batista, B. L.; Nacano, L. R.; Freitas, R.; Oliveira-Souza, V. C.; Barbosa, F.; Food Nutr. Sci. 2012, 3, 129.,7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467. Em algumas amostras brasileiras foram encontradas concentrações de As maiores que 300 ng g-1, valor este estabelecido para grãos de arroz pela consulta pública realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Além disso, foram evidentes as diferenças nas concentrações de As de acordo com o tipo de processamento do arroz (branco, branco parboilizado, integral, integral parboilizado, parboilizado orgânico e branco orgânico).5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.,7878 http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1c396c80447ab90d93e1d37d15359461/CP+N%C2%BA+101+GGALI.pdf?MOD=AJPERES, acessada em Fevereiro 2012.
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/conn...

Considerando a concentração média de As total nas amostras de arroz do Brasil e o consumo de arroz por habitante, a ingestão diária de As total por um indivíduo de 70 kg é de 20,85 µg dia-1. Para o As-i essa ingestão chega a 11,2 µg dia-1.5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342. Estima-se que a ingestão de As através do consumo de arroz por um brasileiro, durante 70 anos de sua vida, seja de 556,3 mg de As,5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342. um valor maior que a ingestão de As pelo consumo de água de 10 µg de As L4-1, que corresponde à concentração limite para As preconizada pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde.7979 World Health Organization. WHO; Guidelines for drinking-water quality [electronic resource]: incorporating 1st and 2nd addenda, Vol.1, Recommendations. - 3rd Ed, 2008.

Portanto, assim como evidenciado em outros países, no Brasil o arroz representa uma fonte de exposição significativa ao As principalmente às formas mais tóxicas (As3+ e As5+), que correspondem a cerca de 50% do total de As no arroz.1717 http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxgu...
,8080 Meharg, A, A.; Williams, P. N.; Adomako, E.; Lawgali, Y. Y.; Deacon, C.; Villada, A.; Cambell, R. C. J.; Sun, G.; Zhu, Y. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhao, F. J.; Islam, R.; Hossain, S.; Yanai, J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 1612. Por este motivo, o desenvolvimento de estudos para compreender e minimizar, ou ainda remediar a contaminação do arroz, é altamente relevante.

Monitoramento: estudos de especiação química

De acordo com a International Union of Pure and Applied Chemistry(IUPAC), a análise de especiação é definida como um processo de identificação e/ou quantificação de uma ou mais espécies químicas em uma mesma amostra, e especiação química de um elemento é definido como a distribuição de um elemento entre espécies químicas definidas em um sistema.8181 Templeton, D. M.; Ariese, F.; Cornelis, R.; Danielsson, L-G.; Muntau, H.; Leeuwen, H. P. V.; Lobinski, R.; Pure Appl. Chem. 2000, 72, 1453.

Para o desenvolvimento de um método de especiação química de As é imprescindível manter a estabilidade das espécies químicas, principalmente quando se deseja diferenciar as espécies inorgânicas. A garantia da estabilidade é fundamental, pois procedimentos utilizados para a conservação, tratamento e análises das amostras podem resultar em conversão das espécies como a demetilação.8282 Huang, J-H.; Ilgen, G.; Fecher, P.; J. Anal. At. Spectrom. 2010, 25, 800. Quando procedimentos de extração das espécies químicas são realizados, é importante garantir também que os solventes não interfiram na análise e que haja eficiência de extração. Esta eficiência pode ser avaliada pela comparação entre a concentração de As total determinada na amostra e a soma da concentração de cada espécie química identificada e quantificada.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.

O preparo de amostras sólidas geralmente inclui procedimentos como trituração, liofilização, moagem, tamização e extração com a utilização de inúmeros solventes. Alguns trabalhos descrevem o preparo de amostras de arroz para a determinação da concentração de As total utilizando adição de ácido nítrico (HNO3),8484 Pasias, I.N.; Thomaidis, N. S.; Piperaki, E. A.; Microchem. J. 2013, 108, 1.,8585 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Carey, A. M.; Raab, A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Int. 2009, 35, 473. HNO3 e peróxido de hidrogênio (H2O2)5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.,6565 Xu, X. Y.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Zhao, F.; J. Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5574.,8686 Rintala, E-A.; Ekholm, P.; Koivisto, P.; Peltonen, K.; Venäläinen, E-R.; Food Chem. 2014, 150, 199.

87 Sommella, A.; Deacon, C.; Norton, G.; Pigna, M.; Violante, A.; Meharg, A.A.; Environ. Pollut. 2013, 18, 38.

88 Carbonell-Barrachina, A. A.; Wu, X.; Ramírez-Gandolfo, A. Norton, G. J.; Burló, F.; Deacon, C.; Meharg, A. A.; Environ. Pollut. 2012, 163, 77.
-8989 Williams, P. N.; Villada, A.; Deacon, C.; Raab, A.; Figuerola, A. J.; Green, A. J.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2007, 41, 6854. ou mistura de HNO3, ácido perclórico (HClO4) e ácido fluorídrico (HF),9090 Narukawa, T.; Inagaki, K.; Kuroiwa, T.; Chiba, K.; Talanta 2008, 77, 427. seguidas de aquecimento assistida por micro-ondas. Outros métodos utilizam adição de HNO3 seguida de pré-digestão com repouso overnight da amostra em meio ácido, e posterior aquecimento a 120ºC.5050 Williams, P. N.; Price, A. H.; Raab, A.; Hossain, S. A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 5531.,8080 Meharg, A, A.; Williams, P. N.; Adomako, E.; Lawgali, Y. Y.; Deacon, C.; Villada, A.; Cambell, R. C. J.; Sun, G.; Zhu, Y. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhao, F. J.; Islam, R.; Hossain, S.; Yanai, J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 1612.,9191 Smith, E.; Juhasz, A. L.; Weber, J.; Naidu, R.; Sci. Total Environ. 2008, 392, 277.,9292 Zhu, Y. G.; Sun, G. X.; Lei, M.; Teng, M.; Liu, Y. X.; Chen, N. C.; Wang, L. H.; Carey, A. M.; Deacon, C.; Raab, A.; Meharg, A. A.; Williams, P. N.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5008. Nota-se que, em geral, os métodos aplicados na extração das espécies utilizam ácidos em baixas concentrações e aquecimento brando (~100 ºC).

Como descrito na Tabela 2, várias técnicas analíticas podem ser utilizadas para a determinação da concentração de As total. Entretanto, elas apresentam diferenças em alguns parâmetros que são significativos quando se deseja escolher uma técnica com sensibilidade adequada. Considerando a importância de se trabalhar com melhores limites de detecção, a espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) e a espectroscopia de fluorescência atômica com geração de hidretos (HG-AFS) são as técnicas mais adequadas para a quantificação de As.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.

Tabela 2
Vantagens e desvantagens de diferentes abordagens analíticas para determinação da concentração de As total (Adaptado de Meharg e Zhao)83

Em se tratando de análises de especiação química, técnicas hifenadas envolvendo uma separação de alta eficiência com detectores de alta sensibilidade têm se tornado as técnicas de escolha. Métodos de separação baseados em cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC, do inglês High Performance Liquid Chromatography), cromatografia gasosa, cromatografia por fluido supercrítico e eletroforese capilar acoplados a detectores como ICP-MS, HG-AAS, GF AAS, espectroscopia de absorção atômica por chama ou espectrometria de massas com ionização por eletronebulização (ESI-MS), têm sido aplicados para a especiação de As.9393 Gong, Z.; Lu, X.; Ma, M.; Watt, C.; Le, X. C.; Talanta 2002, 58, 77. A utilização do acoplamento entre HPLC e ICP-MS tem-se mostrado simples e eficiente em vários estudos envolvendo especiação química de As em arroz5050 Williams, P. N.; Price, A. H.; Raab, A.; Hossain, S. A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 5531.,5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.,6565 Xu, X. Y.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Zhao, F.; J. Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5574.,8080 Meharg, A, A.; Williams, P. N.; Adomako, E.; Lawgali, Y. Y.; Deacon, C.; Villada, A.; Cambell, R. C. J.; Sun, G.; Zhu, Y. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhao, F. J.; Islam, R.; Hossain, S.; Yanai, J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 1612.,8585 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Carey, A. M.; Raab, A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Int. 2009, 35, 473.

86 Rintala, E-A.; Ekholm, P.; Koivisto, P.; Peltonen, K.; Venäläinen, E-R.; Food Chem. 2014, 150, 199.
-8787 Sommella, A.; Deacon, C.; Norton, G.; Pigna, M.; Violante, A.; Meharg, A.A.; Environ. Pollut. 2013, 18, 38.,9090 Narukawa, T.; Inagaki, K.; Kuroiwa, T.; Chiba, K.; Talanta 2008, 77, 427.,9191 Smith, E.; Juhasz, A. L.; Weber, J.; Naidu, R.; Sci. Total Environ. 2008, 392, 277.,9494 Sofuoglu, S.C.; Güzelkaya, H.; Akgül, O.; Kavcar, P.; Kurucaovalı, F.; Sofuoglu, A.; Food Chem. Toxicol. 2014, 64, 184.,9595 http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm, Acessada em Fevereiro 2014.
http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResea...
por fornecer vantagens como extrema sensibilidade, capacidade multielementar e amplo intervalo de linearidade.9696 Parsons, P. J.; Barbosa, F.; Spectrochim. Acta, Part B 2007, 62, 992. Outro aspecto relevante é que a cromatografia líquida é a mais fácil técnica de separação cromatográfica para acoplar com ICP-MS, devido às vazões da ordem de 0,1 a 1,0 mL min-1, compatíveis com o sistema de introdução de amostras no ICP-MS, e vários nebulizadores que podem ser usados para corresponder a esse fluxo.9797 Sutton, K. L.; Caruso, J. A.; J. Chromatogr. A 1999, 856, 243. Por outro lado, limitações do acoplamento estão relacionadas à utilização de alguns tipos de solventes orgânicos (redução na potência do plasma) e interferência causada por íons poliatômicos, como 4040 Hughes, M. F.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 1.Ar3535 Borba, R. P.; Coscione, A. R.; Figueiredo, B. R.; Zambello, F.; Quim. Nova 2009, 32, 970.Cl+ (mesma m/z do 7575 Carbonell-Barrachina, A. A.; Aarabi, M. A.; DeLaune, R. D.; Gambrell, R. P.; Patrick Jr., W. H.; Plant Soil 1998, 198, 33.As+).9898 McSheehy, S.; Szpunar, J.; Morabito, R.; Quevauviller, F.; Trends Anal. Chem. 2013, 22, 4.

Os métodos mais comuns de separação aplicados em HPLC são o pareamento iônico e a troca iônica. O pareamento iônico é aplicado para a determinação de espécies neutras e ionizadas utilizando colunas de cromatografia em fase reversa, como C8 e C18. Neste caso a fase móvel contém um par aniônico ou um par catiônico como o hidróxido ou fosfato de tetrabutilamônio, fazendo a ligação entre o analito e a fase estacionária.9393 Gong, Z.; Lu, X.; Ma, M.; Watt, C.; Le, X. C.; Talanta 2002, 58, 77. Dependendo das características iônicas dos compostos de As, a troca iônica é o melhor método de separação, sendo que a troca aniônica é mais comumente utilizada para determinação de As3+, As5+, MMA e DMA9393 Gong, Z.; Lu, X.; Ma, M.; Watt, C.; Le, X. C.; Talanta 2002, 58, 77. e é descrita como técnica de escolha pela Food and Drug Administration dos EUA (FDA) em sua metodologia validada para especiação de As em arroz.9595 http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm, Acessada em Fevereiro 2014.
http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResea...
Já a troca catiônica é mais utilizada para separar as espécies AsB, AsC, óxido de trimetilarsina e tetrametilarsênio.9393 Gong, Z.; Lu, X.; Ma, M.; Watt, C.; Le, X. C.; Talanta 2002, 58, 77.

Além das técnicas de separação e detecção, o preparo de amostras para a análise de especiação química é também etapa crucial no delineamento do estudo. Narukawa et al. avaliaram diferentes misturas de solventes e métodos para a extração anteriormente à análise por HPLC-ICP-MS, sendo que a extração assistida por micro-ondas utilizando água a 80 ºC por 30 minutos mostrou maior eficiência.9090 Narukawa, T.; Inagaki, K.; Kuroiwa, T.; Chiba, K.; Talanta 2008, 77, 427. Utilizando este mesmo tipo de método, porém com a adição de HNO3, espécies de As foram determinadas em arroz.8585 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Carey, A. M.; Raab, A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Int. 2009, 35, 473.,8686 Rintala, E-A.; Ekholm, P.; Koivisto, P.; Peltonen, K.; Venäläinen, E-R.; Food Chem. 2014, 150, 199.,8888 Carbonell-Barrachina, A. A.; Wu, X.; Ramírez-Gandolfo, A. Norton, G. J.; Burló, F.; Deacon, C.; Meharg, A. A.; Environ. Pollut. 2012, 163, 77.,9292 Zhu, Y. G.; Sun, G. X.; Lei, M.; Teng, M.; Liu, Y. X.; Chen, N. C.; Wang, L. H.; Carey, A. M.; Deacon, C.; Raab, A.; Meharg, A. A.; Williams, P. N.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5008. Para a extração, Batista et al., Huang et al. e pesquisadores da FDA descreveram a utilização de HNO3 seguida de aquecimento a 95 ºC por 90 minutos.5353 Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.,8282 Huang, J-H.; Ilgen, G.; Fecher, P.; J. Anal. At. Spectrom. 2010, 25, 800.,9595 http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm, Acessada em Fevereiro 2014.
http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResea...
Já Sofuoglo et al. utilizaram este mesmo ácido, porém com aquecimento a 90 ºC em banho maria.9494 Sofuoglu, S.C.; Güzelkaya, H.; Akgül, O.; Kavcar, P.; Kurucaovalı, F.; Sofuoglu, A.; Food Chem. Toxicol. 2014, 64, 184. A utilização de ácido trifluoroacético e aquecimento a 100 ºC também é descrita.5050 Williams, P. N.; Price, A. H.; Raab, A.; Hossain, S. A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 5531.,6565 Xu, X. Y.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Zhao, F.; J. Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5574.,8080 Meharg, A, A.; Williams, P. N.; Adomako, E.; Lawgali, Y. Y.; Deacon, C.; Villada, A.; Cambell, R. C. J.; Sun, G.; Zhu, Y. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhao, F. J.; Islam, R.; Hossain, S.; Yanai, J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 1612.,9191 Smith, E.; Juhasz, A. L.; Weber, J.; Naidu, R.; Sci. Total Environ. 2008, 392, 277.

Além da extração em fase líquida, a extração em fase sólida é uma técnica de pré-tratamento de amostras com a finalidade de extrair e pré-concentrar diferentes espécies químicas de As, garantindo baixo custo, eficiência de recuperação e de pré-concentração. Adsorventes convencionais, como resinas de troca iônica, nanomateriais funcionais contendo grupamentos específicos de ligação, como nanofibras e nanopartículas magnéticas e materiais biológicos, como membranas de casca de ovo com abundância em grupos funcionais e elevada área superficial, estão sendo utilizados no desenvolvimento desta técnica.9999 Chen, M-L.; Ma, L-Y.; Chen, X. W.; Talanta 2014, 125, 78.Chen & Chen e Rasmussen et al. utilizaram este método de preparo de amostras para especiação química de As-i de amostras de arroz.100100 Chen, G.; Chen, T.; Talanta 2014, 119, 202.,101101 Rasmussen, R. R.; Qian, Y.; Sloth, J. J.; Anal. Bioanal. Chem. 2013, 405, 7851.

Métodos de preparo de amostras utilizando princípio de hidrólise enzimática também são descritos. Como exemplo tem-se o estudo desenvolvido por Sanz et al.102102 Sanz, E.; Muñoz-Olivas, R.; Cámara, C.; J. Chromatogr. 2005,1097, 1. Eles avaliaram a utilização de enzimas hidrolíticas, como a α-amilase, e de uma sonda ultrassônica para acelerar o processo de extração das espécies de As de amostras de arroz (espanhol e indiano), garantindo aumento da eficiência de extração. As espécies extraídas foram quantificadas por HPLC-ICP-MS. A rapidez e simplicidade do método garantiram ampla faixa de aplicação.102102 Sanz, E.; Muñoz-Olivas, R.; Cámara, C.; J. Chromatogr. 2005,1097, 1.Entretanto, Huang et al., consideraram esse tipo de metodologia como difícil de ser executada, de alto custo e passível de contaminação. Ainda destacaram que os vários métodos reportados na literatura não levam em consideração a variedade de tipos de grãos de arroz comercializados e sugerem o uso de HNO3 0,28 mol L-1 a 95 ºC por 90 minutos como um método simples, econômico e que abrange os vários tipos de arroz.8282 Huang, J-H.; Ilgen, G.; Fecher, P.; J. Anal. At. Spectrom. 2010, 25, 800.

Importante destacar que, para toda análise, o uso de material de referência certificada é imprescindível para garantir a precisão e exatidão do método em estudo. Idealmente, a validação de um procedimento analítico é realizada com a utilização de um material de referência certificada, elaborado na mesma matriz de estudo.9898 McSheehy, S.; Szpunar, J.; Morabito, R.; Quevauviller, F.; Trends Anal. Chem. 2013, 22, 4. Para a matriz arroz é descrita a utilização de Rice Flour 1568a da National Institute of Standards and Technology (NIST). Muitos laboratórios utilizam este material como parte da validação do método para determinação de As3+, As5+, MMA e DMA. Apesar deste material ser apenas certificado para valores de As total (290 ± 30 µg kg-1), sugere-se que não há conversão entre as espécies ou perda das mesmas durante condições de armazenamento.

O Institute for Reference Materials and Measurements (IRMM) suplementa materiais de referência certificada que foram produzidos segundo guias específicos da Comissão Europeia para garantia dos mais altos padrões de qualidade e confiabilidade. Alguns destes materiais foram desenvolvidos tanto para a concentração total de um dado elemento químico quanto para a concentração de algumas de suas espécies em determinada matriz. Para o arroz, o material Rice FlourIRMM-804 foi certificado para concentração de As total (0,049±0,004 mg kg-1). Em se tratando de dados referentes à especiação química, o material Rice ERM-BC211 foi desenvolvido para avaliação da concentração de As total (260±13 µg kg-1), DMA (119±13 µg kg-1) e soma das concentrações de As3+e As5+ (124±1 µg kg-1).103103 https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/eur-scientific-and-technical-research-reports/certification-mass-fractions-total-arsenic-dimethylarsinic-acid-and-sum-arsenite-and?search, acessada em Março 2014.
https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/...

Mitigação para redução do risco toxicológico

Seguindo uma ordem cronológica, da cadeia de produção até a mesa do consumidor, o primeiro ponto a ser avaliado em estudos de remediação do impacto tóxico do As é o preparo do solo e o sistema de plantio e de cultivo. Após, tem-se inúmeras práticas culturais que podem interferir no acúmulo pela planta, tais como manejo da irrigação, fertilização, aplicação de praguicidas, entre outras. Seguindo o ciclo cultural, o arroz terá absorvido e acumulado As nos grãos, que serão colhidos e beneficiados até chegarem ao consumidor. O beneficiamento e o processo de preparo do arroz também poderão alterar o conteúdo do mesmo.

Plantas hiperacumuladoras de As são geralmente utilizadas para estudos de extração, estabilização (evitar a dispersão), imobilização (diminuir a mobilidade e solubilidade) e/ou volatilização do As presente no solo.104104 Doyle, M. O.; Otte, M. L.; Environ. Pollut. 1997, 96, 1.

105 Goa, S.; Burau, R. G.; J. Environ. Qual. 1997, 26, 753.

106 Ma, L. Q.; Komar, K. M.; Tu, C.; Zhang, W.; Cai, Y.; Kennelley, E. D.; Nature 2001, 409, 579.

107 Porter, E. K.; Peterson, P. J.; Sci. Total Environ. 1975, 4, 365.
-108108 Rugh, C. L.; Wilde, H. D.; Stack, N. M.; Thompson, D. M.; Summers, A. O.; Meagher, R. B.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 1996, 93, 3182.Porém, na prática, esta medida reduz o espaço para cultivo e consequentemente a produtividade por área. O uso de plantas geneticamente modificadas para volatilização também seria prejudicial uma vez que, além de ser pequena a volatilização, as formas gasosas de As (arsinas) são as mais tóxicas.109109 Fitz, W. J.; Wenzel, W. W.; J. Biotechnol. 2002, 99, 259.

Técnicas de cultivo diferenciadas utilizando a interação com outros elementos (como silício (Si), fósforo (P), ferro (Fe) e enxofre (S)) e práticas agrícolas como irrigação intermitente,110110 Arao, T.; Kawasaki, A.; Baba, K.; Mori, S.; Matsumoto, S.; Environ. Sci. Technol. 2009, 43, 9361.

111 Bogdan, K.; Schenk, M. K.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 7885.

112 Chen, Z.; Zhu, Y. G.; Liu, W. J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2005, 165, 91.

113 Hossain, M. B.; Jahiruddin, M.; Loeppert, R. H.; Panaullah, G. M.; Islam, M. R.; Duxbury, J. M.; Plant Soil 2009, 317, 167.

114 Hu, P.; Li, Z.; Yuan, C.; Ouyang, Y.; Zhou, L.; Huang, J.; Huang, Y.; Luo, Y.; Christie, P.; Wu, L.; J. Soils Sediments 2013, 13, 916.

115 Li, R. Y.; Stroud, J. L.; Ma, J. F.; McGrath, S. P.; Zhao, F. J.; Environ. Sci. Technol. 2009, 43, 3778.

116 Liu, W-J.; Zhu, Y-G.; Smith, F. A.; Smith, S. E.; New Phytol. 2004, 162, 481.

117 Rahaman, S.; Sinha, A. C.; Mukhopadhyay, D.; J. Environ. Sci. 2011, 23, 633.

118 Rahaman, S.; Sinha, A. C.; Paddy and Water Environment 2013, 11, 397.

119 Sarkar, S.; Basu, B.; Kundu, C. K.; Patra, P. K.; Agric., Ecosyst. Environ. 2012, 146, 147.
-120120 Guo, W.; Hou, Y-L.; Wang, S-G.; Zhu, Y-G.; Plant Soil 2005, 272, 173. uso de microrganismos da microbiota natural que adsorvem, acumulem e/ou metabolizem o As presente no solo,121121 Su, S.; Zeng, X.; Bai, L.; Li, L.; Duan, R.; Sci. Total Environ. 2011, 409, 5057.

122 Edvantoro, B. B.; Naidu, R.; Megharaj, M.; Merrington, G.; Singletonc, I.; Applied Soil Ecology 2004, 25, 207.

123 Srivastava, P. K.; Vaish, A.; Dwivedi, S.; Chakrabarty, D.; Singh, N.; Tripathi. R. D.; Sci. Total Environ. 2011, 409, 2430.

124 Gonzalez-Chavez, C.; Harris, P. J.; Dodd, J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2002, 155, 163.

125 Sharples, J. M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, J. W. G.; Plant Physiol. 2000a, 124, 1327.

126 Sharples, M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, G. T. C.; Nature 2000b, 404, 951.

127 Chen, B. D.; Xiao, X. Y.; Zhu, Y. G.; Smith, F. A.; Xie, Z. M.; Smith, S. E.; Sci. Total Environ. 2007, 379, 226.
-128128 Ultra, V. U. Y.; Tanaka, S.; Sakurai, K.; Iwasaki, K.; Soil Sci. Plant Nutr. 2007, 53, 499.controle da expressão genética para metilar, conter o As-i absorvido ou aumentar a resistência da planta,7272 Song, W. Y.; Park, J.; Mendoza-Cózatl, D. G.; Suter-Grotemeyer, M.; Shim, D.; Hörtensteiner, S.; Geisler, M.; Weder, B.; Rea, P. A.; Rentsch, D.; Schroeder, J. I.; Lee, Y.; Martinoia, E.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2010, 107, 21187.,129129 Dasgupta, T.; Hossain, S. A.; Meharg, A. A.; Price, A. H.; New Phytol. 2004, 163, 45.,130130 Meng, X-Y.; Qin, J.; Wang, L-H.; Duan, G-L.; Sun, G-X.; Wu, H-L.; Chu, C. C.; Ling, H-Q.; Rosen, B. P.; Zhu, Y-G.; New Phytol. 2011, 191, 49. polimento do grão,5656 Meharg, A. A.; Lombi, E.; Williams, P. N.; Scheckel, K. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhu, Y.; Islam, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 1051.,6060 Lombi, E.; Scheckel, K. G.; Pallon, J.; Carey, A. M.; Zhu, Y. G.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2009, 184, 193.,131131 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Carey, A-M.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Raab, A.; Feldmann, J.; Islam, R. M.; Meharg, A. A.; @. Sci. Technol. 2008, 42, 7542. e preparo para o consumo132132 Raab, A.; Baskaran, C.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; J. Environ. Monit. 2009, 11, 41.

133 Signes, A.; Mitra, K.; Burlo, F.; Carbonell-Barrachina, A. A.; Food Addit. Contam. 2008, 25, 1345.

134 Sun, G-X.; Wiele, T. V.; Alava, P.; Tack, F.; Laing, G. D.; Environ. Pollut. 2012, 162, 241.
-135135 Torres-Escribano, S.; Leal, M.; Vélez, D.; Montoro, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 3867. parecem ser as estratégias mais viáveis do ponto de vista prático para a redução da concentração de As pelos grãos e transferência deste para o consumidor final.

Como exemplo, em 2009, Li et al. cultivaram duas variedades de arroz (J7089 e J7091) na presença de Si (20 g SiO2 gel / kg de solo) sob condições de inundação. A fertilização com Si reduziu em 78 e 16% a concentração de As total na casca e no grão, respectivamente. Além disso, houve redução na concentração de As-i em 59% e aumento da concentração de As orgânico em 33%. Devido à competição pelos transportadores na raiz, não houve aumento da absorção de As e consequentemente não houve redução na produtividade de grãos (e casca, subproduto vendido a granjas de aves).115115 Li, R. Y.; Stroud, J. L.; Ma, J. F.; McGrath, S. P.; Zhao, F. J.; Environ. Sci. Technol. 2009, 43, 3778. Guo et al. observaram efeitos similares do Si quanto à diminuição da absorção de As, porém, provavelmente pelas diferenças entre cultivares, também foi notada uma redução na concentração de P da variedade Weiyou 77 (raízes e caules), cultivada em hidroponia.120120 Guo, W.; Hou, Y-L.; Wang, S-G.; Zhu, Y-G.; Plant Soil 2005, 272, 173.

O fosfato (HPO42-) e o As5+ são análogos, entram nas células pelo mesmo transportador, sendo que o As5+ interfere no metabolismo do P, gerando efeitos danosos às plantas.136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535. Vários estudos foram realizados no sentido de se utilizar o HPO42- como forma de remediar a absorção de As. Entretanto, estes estudos apenas demonstram uma redução nos efeitos tóxicos do As quando a planta é tratada com HPO42-. Quanto à absorção, os resultados não demonstram eficácia, uma vez que estes elementos, além de competirem pelos mesmos sítios de absorção, competem pela adsorção nas placas de Fe das raízes.5555 Liu, W. J.; Zhu, Y. G.; Hu, Y.; Williams, P. N.; Gault, A. G.; Meharg, A. A.; Charnock, J. M.; Smith, F. A.; Environ. Sci. Technol. 2006, 40, 5730.,113113 Hossain, M. B.; Jahiruddin, M.; Loeppert, R. H.; Panaullah, G. M.; Islam, M. R.; Duxbury, J. M.; Plant Soil 2009, 317, 167.,136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535.

As placas de Fe são formadas a partir da oxidação do Fe2+→Fe3+ no solo e formação de hidróxidos/oxidróxidos de Fe (Fe(OH)3) que se depositam na superfície da raiz.5555 Liu, W. J.; Zhu, Y. G.; Hu, Y.; Williams, P. N.; Gault, A. G.; Meharg, A. A.; Charnock, J. M.; Smith, F. A.; Environ. Sci. Technol. 2006, 40, 5730.,113113 Hossain, M. B.; Jahiruddin, M.; Loeppert, R. H.; Panaullah, G. M.; Islam, M. R.; Duxbury, J. M.; Plant Soil 2009, 317, 167. Essa placa tem alta afinidade por As5+ e HPO42-, funcionando como depósito ou fonte desses compostos, dependendo das condições físico-químicas do solo. Além disso, sua presença nas raízes aumenta a absorção de As3+.112112 Chen, Z.; Zhu, Y. G.; Liu, W. J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2005, 165, 91.,113113 Hossain, M. B.; Jahiruddin, M.; Loeppert, R. H.; Panaullah, G. M.; Islam, M. R.; Duxbury, J. M.; Plant Soil 2009, 317, 167.,136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535. Guo et al. relacionou os 4 elementos: Si, P, Fe (placa) e As5+. Neste estudo, os autores constataram que a presença de Si na solução de hidroponia reduziu a concentração de P e As5+ na planta, mecanismo não relacionado à competição por transportadores.137137 Guo, W.; Zhu, Y-G.; Liu, W-J.; Liang, Y-C.; Geng, C-N.; Wang, S-G.; Environ. Pollut. 2007, 148, 251.

Uma vez absorvido, o As ainda pode ser contido na raiz por peptídeos contendo grupo tiol (-SH), conhecidos como fitoquelatinas. Esses compostos podem sequestrar o As-i (As3+) e acumular nos vacúolos das raízes, impedindo seu transporte até os grãos. Zhang et al. e Duan et al. observaram que a privação de S e a diminuição da produção de glutationa e fitoquelatinas aumentam a translocação do As, das raízes para o caule e do caule para os grãos, respectivamente.6161 Zhang J.; Zhao, Q-Z.; Duan, G-L.; Huang, Y-C.; Environ. Exp. Bot. 2010, 72, 34.,138138 Duan, G-L.; Hu, Y.; Liu, W-J.; Kneer, R.; Zhao, F-J.; Zhu, Y-G.; Environ. Exp. Bot. 2011, 71, 416. Portanto, manter concentrações suficientes de S para a planta é apontado também como uma alternativa para reduzir a concentração de As nos grãos.7373 Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2014, 65, 1467.,136136 Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535.

Ainda com relação a esses processos bioquímicos de armazenamento e transporte, alguns autores descrevem a superexpressão gênica de transportadores vacuolares de complexos fitoquelatina-As nas raízes como solução para redução da concentração de As nas partes comestíveis de plantas.7272 Song, W. Y.; Park, J.; Mendoza-Cózatl, D. G.; Suter-Grotemeyer, M.; Shim, D.; Hörtensteiner, S.; Geisler, M.; Weder, B.; Rea, P. A.; Rentsch, D.; Schroeder, J. I.; Lee, Y.; Martinoia, E.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2010, 107, 21187. Outros exploram genes de tolerância ao As (AsTol) e entrecruzamento de variedades resistentes ao As como forma de entender os mecanismos envolvidos e, por exemplo, aplicar no arroz para maior segurança alimentar.129129 Dasgupta, T.; Hossain, S. A.; Meharg, A. A.; Price, A. H.; New Phytol. 2004, 163, 45.

Finalmente, Meng et al. exploraram a transgênese como ferramenta para a biorremediação da contaminação do arroz com As. Sabe-se que o As-i, através de metil-transferases, pode ser metilado a MMA e DMA, de menor toxicidade. Porém, também é conhecido que estas enzimas não estão presentes em plantas. Os autores então promoveram a expressão do gene arsM da bactéria de solo Rhodopseudomonas palustris na variedade de arroz Nipponbari (Oryza sativa). Eles observaram, após 12 dias, maior concentração de espécies de As metiladas e voláteis nas plantas transgênicas, apontando como uma nova estratégia para fitorremediação.130130 Meng, X-Y.; Qin, J.; Wang, L-H.; Duan, G-L.; Sun, G-X.; Wu, H-L.; Chu, C. C.; Ling, H-Q.; Rosen, B. P.; Zhu, Y-G.; New Phytol. 2011, 191, 49.

Aliado às estratégias acima citadas, estudos têm sido desenvolvidos no sentido de diminuir a absorção de As através do manejo da irrigação. Rahaman e Sinha observaram uma redução em torno de 24% na concentração de As nos grãos sob um sistema de irrigação intermitente. Esse regime consistia em, durante o 15º ao 40º dia após o transplante, irrigar as plantas e, após o nível da água se reduzir, esperar de 2-4 dias para irrigar novamente. Outros métodos foram avaliados como o cultivo aeróbico e sistema de irrigação de saturação do solo, com reduções de 22 e 21% de As total nos grãos, respectivamente. Todos estes métodos foram comparados ao sistema comum de cultivo (inundado com lâmina de água). Apesar da redução das concentrações de As, os autores também identificaram uma redução na concentração de Fe e Zn, fato atribuído a menor concentração de O2 em solos alagados, tornando os íons destes elementos mais disponíveis.118118 Rahaman, S.; Sinha, A. C.; Paddy and Water Environment 2013, 11, 397.

Como no estudo anterior, Sarkar et al. desenvolveram seus experimentos em áreas com água e solos contaminados com As: Rio Bengala na índia. O cultivo nesta área geralmente é realizado de janeiro a abril. Neste período estima-se que de 50-150 mg As/m2 é adicionado ao solo através da irrigação das plantações com água contaminada. O estudo com irrigação intermitente também demonstrou ser promissor, uma vez que as menores concentrações de As em folhas e grãos foram encontradas neste tipo de cultivo. Além disso, este tipo de cultivo apresentou uma produtividade de 4,33 mg ha-1, sem aparente significado estatístico quando comparado aos 4,69 mg ha-1 do sistema de alagadiço, considerado o de maior produtividade.119119 Sarkar, S.; Basu, B.; Kundu, C. K.; Patra, P. K.; Agric., Ecosyst. Environ. 2012, 146, 147.

Outro caminho ainda não muito explorado na questão do arroz especificamente é o uso de microrganismos para (bio)remediação. Os microrganismos de solo mostram um papel ambiental importante na absorção e resistência das plantas ao As. Em uma revisão Zhao et al. divide os efeitos produzidos pelos fungos no metabolismo do As pelas plantas:6363 Zhao, F. J., Ma, J. F., Meharg, A. A., McGrath, S. P.; New Phytol. 2008, 181, 777. i) as colônias da micorriza podem suprimir a alta afinidade do sistema de transporte de P das raízes, levando a uma redução da absorção de As;124124 Gonzalez-Chavez, C.; Harris, P. J.; Dodd, J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2002, 155, 163.ii) os fungos da micorriza podem aumentar a resistência realizando efluxo do As ao meio, ação claramente demonstrada por Sharples et al., na qual o fungo Hymenoscyphus ericae secreta As3+ no meio e absorve As5+, um mecanismo comum em bactérias e fungos;125125 Sharples, J. M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, J. W. G.; Plant Physiol. 2000a, 124, 1327.,126126 Sharples, M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, G. T. C.; Nature 2000b, 404, 951. iii) aumentar a aquisição e nutrição de P da planta hospedeira, aumentando assim o crescimento da planta e a diluição do As nos tecidos;127127 Chen, B. D.; Xiao, X. Y.; Zhu, Y. G.; Smith, F. A.; Xie, Z. M.; Smith, S. E.; Sci. Total Environ. 2007, 379, 226.,139139 Liu, Y.; Zhu, Y. G.; Chen, B. D.; Christie, P.; Li, X. L.; Environ. Int. 2005, 31, 867.,140140 Ahmed, F. R. S.; Killham, K.; Alexander, I.; Plant Soil 2006, 283, 33. iv) restringir a transferência do As das raízes para o caule sendo esse mecanismo ainda não esclarecido.124124 Gonzalez-Chavez, C.; Harris, P. J.; Dodd, J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2002, 155, 163.,127127 Chen, B. D.; Xiao, X. Y.; Zhu, Y. G.; Smith, F. A.; Xie, Z. M.; Smith, S. E.; Sci. Total Environ. 2007, 379, 226.,128128 Ultra, V. U. Y.; Tanaka, S.; Sakurai, K.; Iwasaki, K.; Soil Sci. Plant Nutr. 2007, 53, 499.

A resistência destes microrganismos às altas concentrações de elementos tóxicos como o As deve-se, entre outros mecanismos, à ligação destes elementos a proteínas ou, assim como no arroz, a peptídeos específicos conhecidos como fitoquelatinas.141141 Ecker, D. J.; Bundas, T. R.; Sternberg, E. J.; Neeper, M. P.; Debouck ,C.; Gorman, J.A.; Crooke, S. T.; J. Biol. Chem. 1986, 261, 16895.,142142 Kneer, R.; Kutchan, T. M.; Hochberger, A.; Zenk, M. H.; Arch. Microbiol. 1992, 157, 305. Além da resistência ao As, alguns organismos utilizam o As na respiração143143 Macy, J. M.; Nunan, K.; Hagen, K. D.; Dixon, D. R.; Harbour, P. J.; Cahill, M.; Sly, L. I.; Int. J. Syst. Evol. Microbiol. 1996, 46, 1153.

144 Macy, J. M.; Santini, J. M.; Pauling, B. V.; O'Neill, A. H.; Sly, L.; Arch. Microbiol. 2000, 173, 49.

145 Newman, D. K.; Beveridge, T. J.; Morel, F.; Appl. Environ. Microbiol. 1997a, 63, 2022.

146 Newman, D. K.; Kennedy, E. K.; Coates, J. D.; Ahmann, D.; Ellis, D. J.; Lovley, D. R.; Morel, F. M. M.; Arch. Microbiol. 1997b, 168, 380.

147 Stolz, J. F.; Oremland, R. S.; FEMS Microbiol. Rev. 1999, 23, 615.
-148148 Silver, S.; Phung, L. T.; Appl. Environ. Microbiol. 2005, 71, 599. e/ou como doador de elétrons,148148 Silver, S.; Phung, L. T.; Appl. Environ. Microbiol. 2005, 71, 599.

149 Santini, J. M.; Slyl, L. I.; Schnagl, R. D.; Macy, J. M.; Appl. Environ. Microbiol. 2000, 66, 92.
-150150 Gihring, T. M.; Banfield, J. F.; Microbiol. Lett. 2001, 204, 335. sendo que outros mecanismos como a metilação151151 Qin, J.; Rosen, B. P.; Zhang, Y.; Wang, G.; Franke, S.; Rensing, G.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2006, 103, 2075. e a demetilação6666 Cullen, W.R.; Reimer, K.J.; Chem. Rev. Am. Chem. Soc. 1989, 89, 713.,148148 Silver, S.; Phung, L. T.; Appl. Environ. Microbiol. 2005, 71, 599.,152152 Silver, S.; Misra, T. K.; Basic Life Sci. 1984, 28, 23. também podem ser considerados vias de detoxificação do As e resistência. Aspergillus glaucum, Candida humicola, Scorpularipsis brevicaulis, Gliocladium roseum, Penicillium gladioli e Fusarium são exemplos de fungos capazes de biotransformar o As em trimetilarsina volátil através de uma redução e metilação a partir de As-i e espécies metiladas.6666 Cullen, W.R.; Reimer, K.J.; Chem. Rev. Am. Chem. Soc. 1989, 89, 713.,153153 Lin, Z-Q. Em Volatalization in Ecological processes. Encyclopedia of Ecology; Jorgensen, S. E.; Fath, B. D., eds.; Elsevier: Oxford, 2008.

Li et al. avaliaram a influência de fungos no aumento da produtividade, tolerância e absorção de As pelo arroz. Foram estudados dois cultivares de arroz e dois fungos adquiridos de coleções. Verificou-se que em solos contaminados com As os cultivares Guangyinzhan e Handao 502 inoculados respectivamente com Glomus intraradices e Glomus geosporum apresentaram um aumento na produtividade e na tolerância ao As; já invertendo os fungos com a variedade de arroz observou-se uma menor produtividade e uma maior absorção de As. Os autores concluíram que deve ser avaliada uma combinação de microrganismos para haver uma maior produtividade e uma menor absorção de As.154154 Li, H.; Ye,Z. H.; Chan, W. F.; Chen, X. W.; Wu, F. Y.; Wu, S. C.; Wong, M. H.; Environ. Pollut. 2011a, 159, 2537.

Em outro estudo o mesmo grupo avaliou, em exposição aguda, a absorção das diferentes espécies de As (DMA, MMA, As5+ e As3+) em arroz cultivado sob sistemas de irrigação e sequeiro na presença do fungo Glomus intraradices.155155 Li, H.; Wu, C.;Ye, Z. H.; Wu, S. C.; Wu, F. Y.; Wong, M. H.; J. Hazard. Mater. 2011b, 194, 414. Foi observado que a inoculação do fungo reduziu a absorção de As3+ e MMA pelo caule e pelas raízes das cultivares de arroz Guangyinzhan e Handao 502 em ambos os sistemas de irrigação. Os autores sugerem que esses microrganismos, por meio de sinalização molecular, sub-regulam a expressão do Lsi1, ou atuam como enzima substrato neste canal, impedindo a absorção de As pela planta.155155 Li, H.; Wu, C.;Ye, Z. H.; Wu, S. C.; Wu, F. Y.; Wong, M. H.; J. Hazard. Mater. 2011b, 194, 414.

Ressaltam-se ainda dois outros procedimentos para mitigação: o polimento e o cozimento do arroz. Segundo Sun et al. o farelo do arroz, parte retirada do pericarpo até a aleurona após, polimento, contém de 10 a 20 vezes mais As que o endosperma (maior parte do grão). Conhecidamente um superalimento oferecido a crianças mal nutridas, os autores reforçam a avaliação de risco do consumo do farelo, especialmente para crianças, uma vez que as concentrações encontradas neste produto em amostras dos EUA e Japão foram de 0,61 a 1,9 mg kg-1 de As-i.131131 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Carey, A-M.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Raab, A.; Feldmann, J.; Islam, R. M.; Meharg, A. A.; @. Sci. Technol. 2008, 42, 7542. Portanto, o polimento do arroz parece ser uma interessante ferramenta para a segurança alimentar. Porém, Meharg et al. demonstraram que cobre (Cu), Fe, manganês (Mn) e zinco (Zn) têm a mesma localização do As, consequentemente, polindo-se o arroz perde-se As e estes elementos essenciais.5656 Meharg, A. A.; Lombi, E.; Williams, P. N.; Scheckel, K. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhu, Y.; Islam, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 1051. Lombi et al. observaram uma proporção de 56-75% de As-i no farelo sendo que 50% estava complexado com moléculas contendo grupo tiol.6060 Lombi, E.; Scheckel, K. G.; Pallon, J.; Carey, A. M.; Zhu, Y. G.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2009, 184, 193.

Para o cozimento a literatura dispõe de vários estudos para a redução do risco de consumo do arroz contendo As. Em 2002, Bae et al. investigaram o efeito do cozimento do arroz com água contaminada com cerca de 300 ng g-1de As em Bangladesh na razão água/arroz de cerca de 1,38. Este estudo revelou que o arroz absorveu parte do As da água contaminada implicando no aumento do risco do consumo de arroz contaminado.156156 Bae, M.; Watanabe, C.; Inaoka, T.; Sekiyama, M.; Sudo, N.; Bokul, M. H.; Ohtsuka, R.; Lancet 2002, 360, 1839. Sengupta et al. avaliaram três métodos de cozimento de arroz. O método tradicional indiano utilizando água com concentração baixa de As (< 3 ng ml-1) para lavagem até clareamento, cozimento com razão água:arroz de 6:1 e descarte da água de cozimento reduziu a concentração do As em 57%. Aproximadamente metade desta percentagem foi na 1ª lavagem e outra metade na água desprezada no cozimento. Por outro lado, a pré-lavagem e cozimento com razão água:arroz 1,5-2:1 reduziu em 28% e a não lavagem e cozimento nesta mesma razão água:arroz não modificou as concentrações.157157 Sengupta, M. K.; Hossain, A.; Mukherjee, A.; Ahamed, S.; Das, S.; Nayak, B.; Pal, A.; Chakraborti, D.; Food Chem. Toxicol. 2006, 44, 1823.Raab et al. reportaram que a lavagem do arroz na razão 6:1 reduziu em 35 e 45% as concentrações de As nos tipos grão longo e basmati, respectivamente.132132 Raab, A.; Baskaran, C.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; J. Environ. Monit. 2009, 11, 41.

Legislação e demandas internacionais por controle e mitigação

Diante da gama de efeitos tóxicos relatados decorrentes da exposição ao As e da sua presença nos grãos de arroz, diversos órgãos como a Food and Agriculture Organization (FAO) da Organização Mundial de Saúde (WHO), a United States Food and Drug Administration (FDA), a Food Standards Agency (FSA) e a European Food Safety Authority (EFSA) estão em intensa discussão sobre a concentração de As seguras à saúde humana.

Além da presença de As no arroz, alimentos alternativos, como derivados de arroz, estão sendo amplamente consumidos por indivíduos (incluindo crianças) com doença celíaca e intolerância a lactose. Com relação aos derivados de arroz, vários estudos reportaram concentrações elevadas de As nesses alimentos. Segundo Sun et al., de 75,2 a 90,1% do As presente em produtos contendo arroz (cereais matinais, bolachas e condimentos) era As-i.8585 Sun, G-X.; Williams, P. N.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Carey, A. M.; Raab, A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Int. 2009, 35, 473.Com relação a alimentos para bebês, Carbonell-Barrachina et al.analisaram amostras da China, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos. Eles verificaram concentrações acima de 150 ng g-1 (limite chinês) para 23% das amostras e, em geral, os alimentos para bebês apresentaram 60% de As-i, sendo o restante basicamente DMA.8888 Carbonell-Barrachina, A. A.; Wu, X.; Ramírez-Gandolfo, A. Norton, G. J.; Burló, F.; Deacon, C.; Meharg, A. A.; Environ. Pollut. 2012, 163, 77. Isso implica em dizer que a ingestão diária de As por bebês de 4-12 meses é maior que para um adulto consumindo água no valor máximo permitido para As pela Organização Mundial de Saúde (10 µg L-1).7979 World Health Organization. WHO; Guidelines for drinking-water quality [electronic resource]: incorporating 1st and 2nd addenda, Vol.1, Recommendations. - 3rd Ed, 2008. Nos dois estudos os autores destacam a importância do monitoramento dos alimentos, uma vez que estes produtos refletem as concentrações de As dos grãos.

Dentro desta perspectiva, a EFSA recomenda uma redução na ingestão de alimentos contendo As. Crianças menores de 3 anos de idade são o principal grupo que recebe atenção, uma vez que estão expostas de 2 a 3 vezes mais que um adulto.158158 European Food Safety Authority. EFSA; EFSA J.2009. A FSA, do Reino Unido, também emitiu parecer em que crianças menores do que 4 anos de idade não devem tomar leite de arroz, pois o consumo diário destas bebidas em quantidades semelhantes ao consumo médio de leite de vaca (um copo, aproximadamente 280 mL por uma criança) levaria a uma exposição alimentar significativa.159159 http://www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/fsis0209arsenicinrice.pdf, acessada em Março 2014.
http://www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/f...
Segundo Meharg e Zhao, apesar da concentração de As ser bem menor em produtos líquidos de arroz comparados aos produtos sólidos, as concentrações ultrapassam padrões estabelecidos para água potável.8383 Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.

A EFSA do Painel dos Contaminantes da Cadeia Alimentar avaliou os riscos para a saúde humana relacionado com a presença de As nos alimentos. Suas principais conclusões foram: (i) há uma necessidade urgente para a realização de estudos de especiação, (ii) as concentrações de As3+ e As5+ na dieta devem ser reduzidas, (iii) crianças com menos de três anos de idade são as mais expostas a As3+ e As5+ (iv) e que a exposição dietética para As3+ e As5+ em lactentes está diretamente relacionada com a ingestão de produtos à base de arroz.158158 European Food Safety Authority. EFSA; EFSA J.2009.

Além disso, a EFSA concluiu que ingestão semanal tolerável provisória (PTWI, do inglês Provisional tolerable weekly intake) de 15 µg kg-1 de peso corporal estabelecido pelo Comitê de Especialistas Joint FAO / WHO sobre Aditivos Alimentares160160 Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAa; Evaluation of certain contaminants in food: thirty third report of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, World Health Organization: Geneva, 1988. não era mais apropriada segundo dados de que o As-i provoca câncer de pulmão, de bexiga urinária, de pele, e outros efeitos adversos.158158 European Food Safety Authority. EFSA; EFSA J.2009. Assim, concluiu-se que os valores para limite de confiança inferior a dose de referência (BMDL0,1) de 0,3 a 8 µg kg-1 de peso corporal por dia deve ser utilizado para avaliação e caracterização dos riscos relacionados a exposição.158158 European Food Safety Authority. EFSA; EFSA J.2009.

O Comitê Codex sobre Contaminantes em Alimentos161161 Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAc; Discussion paper on possibility to develop a code of practice for the prevention and reduction of arsenic contamination in rice: seventh session, Moscow, Russian Federation, 2013., em sua 7ª sessão, discutiu a possibilidade de desenvolver um código de práticas para a prevenção e redução da contaminação de As em arroz considerando: fonte direta e acompanhamento da eficácia de medidas, práticas agrícolas (utilização de materiais agrícolas, controle da água de irrigação e seleção de cultivares), processamento e cozimento. Além destas medidas, devem-se levar em consideração os fatos científicos e as estratégias gerais para reduzir a exposição humana ao As em alimentos tais como: redução da absorção de As em culturas alimentares, aumento da proporção de formas orgânicas e redução da concentração de As em alimentos por métodos de processamento, preparo ou cozimento.162162 Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAb; Evaluation of certain contaminants in food: seventy-second report of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, World Health Organization: Rome, 2010.

Desde 1991, dentro do programa Total Diet Studies (TDS), a FDA vem fazendo monitoramento da concentração de elementos tóxicos, inclusive o As, em uma variedade de alimentos, incluindo arroz e sucos.163163 http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/Metals/ucm280202.htm, acessada em Março 2014.
http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllness...
Em 2012 a FDA divulgou nota informando que avaliou mais de 1300 alimentos e que as concentrações de As encontradas nas amostras não são altas o suficiente para causar um dano imediato à saúde. Os resultados não informam, porém, qual o efeito na saúde em exposições crônicas, nem o que pode ser feito para reduzir essa concentração. Ainda assim, a coleta e análise de dados é o primeiro passo de um grande esforço para assegurar o consumo de arroz e derivados.164164 http://www.fda.gov/food/foodborneillnesscontaminants/metals/ucm319870.htm, acessada em Março 2014.
http://www.fda.gov/food/foodborneillness...

Também em 2012, pesquisadores da FDA descreveram um método de análise de especiação química de As em arroz e produtos de arroz com a finalidade de obtenção de informações quanto à concentração e o tipo de espécie química para avaliação do risco de consumo pela população exposta.9595 http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm, Acessada em Fevereiro 2014.
http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResea...
Adicionalmente, a FDA está avaliando os efeitos da exposição prolongada a elevadas concentrações de As.

Recentemente, em 17 de julho de 2014, em Geneva, o comitê Codex Alimentarius, juntamente com a FAO/WHO, adotaram novas normas para proteger a saúde do consumidor em todo o mundo, dentre elas, o estabelecimento da concentração máxima aceitável de 0,2 mg kg-1 para As-i em arroz. Esta comissão tem a função de estabelecer padrões internacionais de segurança e qualidade dos alimentos para os consumidores em âmbito mundial, os quais são bastante utilizados como base para a legislação nacional.165165 http://www.fao.org/news/story/en/item/238802/icode/, acessada em Julho 2014.
http://www.fao.org/news/story/en/item/23...

Todos estes investimentos em pesquisa nos Estados Unidos, destinados à garantia da segurança alimentar, especialmente envolvendo As, suas espécies químicas e o consumo de arroz e derivados, contribuem como forma de alerta ao governo e às instituições de pesquisas no Brasil quanto à necessidade de estudos aprofundados e consistentes e de legislações neste âmbito.

CONCLUSÃO

O As é conhecido pelos seus efeitos tóxicos e por suas diversas formas químicas com diferentes toxicidades. O arroz, alimento de quase metade da população mundial, tem certa predileção pelo As naturalmente presente no solo. Em razão do risco de exposição ao As pela alimentação, com destaque para o arroz e derivados, o estabelecimento de legislações para garantia da segurança alimentar é primordial. Assim, deve-se associar e divulgar a utilização de técnicas de remediação durante o plantio com mínimo da produção. O desenvolvimento e aplicação de metodologias analíticas para determinação total e especiação química de As devem ser incentivadas para controle de qualidade do alimento e a avaliação do risco toxicológico nutricional, assim como pesquisas nas áreas de mitigação e fisiologia vegetal a fim de se entender e controlar essa contaminação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio às pesquisas que levaram à redação da presente revisão.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Watanabe, T.; Hirano, S.; Arch. Toxicol. 2013, 87, 969.
  • 2
    Farias, J. S.; Milani, M. R.; Niencheski, L. F. H.; Paiva, M. L.; Quim. Nova 2012, 35, 1401.
  • 3
    Faita, F.; Cori, L.; Bianchi, F.; Andreassi, M. G.; Int. J. Environ. Res. Public Health 2013, 10, 1527.
  • 4
    Barra, C. M.; Santelli, R. E.; Abrão, J. J.; Guardia, M. L.; Quim. Nova 2000, 23, 58.
  • 5
    Holland, R. H.; Mccall, M. S.; Lanz, H. C.; Cancer Res. 1959, 19, 1154.
  • 6
    Pinto, S. S.; Varner, M. O.; Nelson, K. W.; Labbe, A. L.; White, L. D.; J. Occup. Med. 1976, 18, 677.
  • 7
    Vahter, M.; Acta Pharmacol. Toxicol 1986, 59, 31.
  • 8
    Zheng, Y.; Wu, J.; Ng, J. C.; Wang, G.; Lian, W.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 77.
  • 9
    Bettley, F. R.; O'Shea, J. A.; Br. J. Dermatol 1975, 92, 563.
  • 10
    Buchet, J.P.; Lauwerys, R.; Roels, H.; Int. Arch. Occup. Environ. Health 1981, 48, 71.
  • 11
    Marafante, E.; Vahter, M.; Norin, H.; Envall, J.; Sandstrom, M.; Christakopoulos, A.; Ryhage, R.; J. Appl. Toxicol. 1987, 7, 111.
  • 12
    Vahter, M.; Marafante, E.; Dencker, L.; Arch. Environ. Contam. Toxicol. 1984, 13, 259.
  • 13
    Yamauchi, H.; Yamamura, Y.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 1984, 74, 134.
  • 14
    Hughes, M. F.; Devesa, V.; Adair, B. M.; Styblo, M.; Kenyon, E. M.; Thomas, D. J.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 2005, 208, 186.
  • 15
    Yamauchi, H.; Yamato, N.; Yamamura, Y.; Bull. Environ. Contam. Toxicol. 1988, 40, 280.
  • 16
    Stevens, J. T.; Hall, L. L.; Farmer, J. D.; DiPasquale, L. C.; Chernoff, N.; Durham, W. F.; Environ. Health Perspect. 1977, 19, 151.
  • 17
    http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf, acessada em Fevereiro 2014.
    » http://www.atsdr.cdc.gov/toxguides/toxguide-2.pdf
  • 18
    Ouypornkochagorn, S.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. (2010), doi: 10.1021/ES903667Y.
    » https://doi.org/10.1021/ES903667Y
  • 19
    Jolliffe, D. M.; Budd, A. J.; Gwilt, D.J.; Anaesthesia 1991, 46, 288.
  • 20
    Schoolmeester, W. L.; White, D. R.; South. Med. J. 1980, 73, 198.
  • 21
    Quatrehomme, G.; Ricq, O.; Lapalus, P.; Jacomet, Y.; Ollier, A.; J. Forensic Sci. 1992, 37, 1163.
  • 22
    Winship, K. A.; Acute Poisoning Rev. 1984, 3, 129.
  • 23
    Fei, D. L.; Koestler, D. C.; Li, Z.; Giambelli, C.; Sanchez-Mejias, A.; Gosse, J. A.; Marsit, C. J.; Karagas, M. R.; Robbins, D. J.; Environ. Health (2013), doi: 10.1186/1476-069X-12-58.
    » https://doi.org/10.1186/1476-069X-12-58
  • 24
    Environmental Protection Agency. EPA; Research Triangle Park, NC, US. 1984.
  • 25
    Lugo, G.; Cassady, G.; Palmisano, P.; Am. J. Dis. Child. 1969, 117, 328.
  • 26
    World Health Organization. WHO; "Arsenic". Environmental Health Criteria - number 18, Geneva, 1981.
  • 27
    Thompson, D. J.; Chem. Biol. Interactions 1993, 88, 89.
  • 28
    Aposhian, H. V.; Aposhian, M. M.; Chem. Res. Toxicol. 2006, 19, 1.
  • 29
    Liu, J.; Goyer, R. A.; Waalkes, M. P. Em Toxic effects of metals in Casarett and Doull's Toxicology: The basic science of poisons; Klaassen, C. D., ed; McGraw-Hill: Medical Publishing Division, 2008, cap. 23.
  • 30
    Feldmann, J.; Lai, VW-M.; Cullen, W. R.; Ma, M.; Lu, X.; Le, X. C.; Clin. Chem. 1999, 45, 1988.
  • 31
    Brown, R. M.; Newton, D.; Pickford, C. J.; Sherlock, J. C.; Hum. Exp. Toxicol. 1990, 9, 41.
  • 32
    Kalman, D. A.; Extended Abstracts from the Second Nordic Symposium, Odense, Copenhagen: World Health Organization, 1987.
  • 33
    Tam, G. K. H.; Lacroix, G.; J. - Assoc. Off. Anal. Chem. 1982, 65, 647.
  • 34
    Chatterjee, A.; Das, D.; Mandal, B. K.; Chowdhury, T. R.; Samanta, G.; Chakabrorti, D.; Analyst 1995, 120, 643.
  • 35
    Borba, R. P.; Coscione, A. R.; Figueiredo, B. R.; Zambello, F.; Quim. Nova 2009, 32, 970.
  • 36
    Balakumar, P.; Kaur, J.; Journal of Cardiovascular Toxicology 2009, 9, 169.
  • 37
    Mahram, M.; Shahsavari, D.; Oveisi, S.; Jalilolghadr, S.; J. Res. Med. Sci. 2013, 18, 408.
  • 38
    Pan, W. C.; Seow, W. J.; Kile, M. L.; Hoffman, E. B.; Quamruzzaman, Q.; Rahman, M.; Mahiuddin, G.; Mostofa, G.; Lu, Q.; Christiani, D. C.; Am. J. Epidemiol. 2013, 178, 1563.
  • 39
    International Agency for Research on Cancer. IARC; Working Group on the evaluation of carcinogenics risks to humans. Iarc Monogr. Eval. Carcinog. Risks Hum., 2004.
  • 40
    Hughes, M. F.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 1.
  • 41
    National Research Council. NRC; Arsenic in Drinking Water National Academy of Sciences, Washington, DC, 2001.
  • 42
    Rossman, T. G.; Mutat. Res 2003, 533, 37.
  • 43
    Agency for Toxic Substances and Disease Registry. ATSDR; Atlanta, GA, 2005.
  • 44
    British Geological Survey. BGS; Arsenic contamination of groundwater in Bangladesh, 2001. Em: Saha, G. C.; Ali, M. A.; Sci. Total Environ. 2007, 379, 180.
  • 45
    Shibata, Y.; Morita, M.; Fuwa, K.; Adv. Biophys. 1992, 28, 31.
  • 46
    Hsueh, Y. M.; Hsu, M. K.; Chiou, H. Y.; Yang, M. H.; Huang, C. C.; Chen, C. J.; Toxicol. Lett. 2002, 133, 83.
  • 47
    Schoof, R. A.; Yost, L. J.; Eickhoff, J.; Crecelius, E. A.; Cragin, D. W.; Meacher, D. M.; Menzel, D. B.; Food Chem. Toxicol. 1999, 37, 839.
  • 48
    Gomes, A. S.; Magalhães Júnior, A. M.; Arroz Irrigado no Sul do Brasil, 1º Ed., EMBRAPA Informação Tecnológica: Brasília, 2004.
  • 49
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE; Aquisição alimentar domiciliar per capita anual, por Grandes Regiões, segundo os produtos, período 2008-2009, 2013.
  • 50
    Williams, P. N.; Price, A. H.; Raab, A.; Hossain, S. A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 5531.
  • 51
    Liang, F.; Li, Y.; Zhang, G.; Tan, M.; Lin, J.; Liu, W.; Li, Y.; Lu, W.; Food Addit. Contam. 2010, 27, 810.
  • 52
    Batista, B. L.; De Oliveira Souza, V. C.; Da Silva; F. G.; Barbosa Jr, F.; Food Addit. Contam., Part B 2010, 3, 253.
  • 53
    Batista, B. L.; Souza, J. M. O.; De Souza, S. S.; Barbosa Jr, F.; J. Hazard. Mater. 2011, 191, 342.
  • 54
    Batista, B. L.; Nacano, L. R.; Freitas, R.; Oliveira-Souza, V. C.; Barbosa, F.; Food Nutr. Sci. 2012, 3, 129.
  • 55
    Liu, W. J.; Zhu, Y. G.; Hu, Y.; Williams, P. N.; Gault, A. G.; Meharg, A. A.; Charnock, J. M.; Smith, F. A.; Environ. Sci. Technol. 2006, 40, 5730.
  • 56
    Meharg, A. A.; Lombi, E.; Williams, P. N.; Scheckel, K. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhu, Y.; Islam, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 1051.
  • 57
    Abedin, M. J.; Feldmann, J.;Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2002, 128, 1120.
  • 58
    Abedin, M. J.; Cresser, M, S.; Cotter-Howells, J.; Meharg, A. A.; Feldmann, J.; Environ. Sci. Technol. 2002, 36, 962.
  • 59
    Carey, A. M.; Scheckel, K. G.; Lombi, E.; Newville, M.; Choi, Y.; Norton, G. J.; Charnock, J. M.; Feldmann, J.; Prince, A. H.; Meharg, A. A.; Plant Physiol. 2010, 152, 309.
  • 60
    Lombi, E.; Scheckel, K. G.; Pallon, J.; Carey, A. M.; Zhu, Y. G.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2009, 184, 193.
  • 61
    Zhang J.; Zhao, Q-Z.; Duan, G-L.; Huang, Y-C.; Environ. Exp. Bot. 2010, 72, 34.
  • 62
    Shri, M.; Kumar, S.; Chakrabarty, D.; Trivedi, P. K.; Mallick, S.; Misra, P.; Shukla, D.; Mishra, S.; Srivastava, S.; Tripathi, R. D.; Tuli, R.; Ecotoxicol. Environ. Saf. 2009, 72, 1102.
  • 63
    Zhao, F. J., Ma, J. F., Meharg, A. A., McGrath, S. P.; New Phytol. 2008, 181, 777.
  • 64
    Ma, J. F.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Xu, X. Y.; Su, Y. H.; Mcgraph, S. P.; Zhao, F.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2008, 105, 9931.
  • 65
    Xu, X. Y.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Zhao, F.; J. Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5574.
  • 66
    Cullen, W.R.; Reimer, K.J.; Chem. Rev. Am. Chem. Soc. 1989, 89, 713.
  • 67
    Ma, J. F.; Tamai, K.; Yamaji, N.; Mitani, N.; Konish, S.; Katsuhara, M.; Ishiguro, M.; Murata, Y.; Yano, M.; Nature 2006, 440, 688.
  • 68
    Meharg, A. A.; Naylor, J.; Macnair, M. R.; J. Environ. Qual. 1994, 23, 234.
  • 69
    Xu, X.Y.; McGrath, S. P.; Zhao, F. J.; New Phytol. 2007, 176, 590.
  • 70
    Raab, A., Schat, H., Meharg, A. A., Feldmann, J.; New Phytol. 2005, 168, 551.
  • 71
    Raab, A., Ferreira, K., Meharg, A. A., Feldmann, J.; J. Exp. Bot. 2007, 58, 1333.
  • 72
    Song, W. Y.; Park, J.; Mendoza-Cózatl, D. G.; Suter-Grotemeyer, M.; Shim, D.; Hörtensteiner, S.; Geisler, M.; Weder, B.; Rea, P. A.; Rentsch, D.; Schroeder, J. I.; Lee, Y.; Martinoia, E.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2010, 107, 21187.
  • 73
    Batista, B. L.; Nigar, M.; Mestrot, A.; Rocha, B. A.; Barbosa Júnior, F.; Price, A. H.; Raab, A.; Feldmann, J.; J. Exp. Bot 2014, 65, 1467.
  • 74
    Carbonell-Barrachina, A. A.; Burló-Carbonell, F.; Mataix-Beneyto, J.; J. Plant Nutr. 1995, 18, 1237.
  • 75
    Carbonell-Barrachina, A. A.; Aarabi, M. A.; DeLaune, R. D.; Gambrell, R. P.; Patrick Jr., W. H.; Plant Soil 1998, 198, 33.
  • 76
    Knauer, K.; Behra, R.; Hemond, H.; Aquat. Toxicol. 1999, 46, 221.
  • 77
    Zhang, F.; Shi, W.; Jin, Z.; Shen, Z.; J. Plant Nutr. 2002, 26, 1779.
  • 78
    http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1c396c80447ab90d93e1d37d15359461/CP+N%C2%BA+101+GGALI.pdf?MOD=AJPERES, acessada em Fevereiro 2012.
    » http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1c396c80447ab90d93e1d37d15359461/CP+N%C2%BA+101+GGALI.pdf?MOD=AJPERES
  • 79
    World Health Organization. WHO; Guidelines for drinking-water quality [electronic resource]: incorporating 1st and 2nd addenda, Vol.1, Recommendations. - 3rd Ed, 2008.
  • 80
    Meharg, A, A.; Williams, P. N.; Adomako, E.; Lawgali, Y. Y.; Deacon, C.; Villada, A.; Cambell, R. C. J.; Sun, G.; Zhu, Y. G.; Feldmann, J.; Raab, A.; Zhao, F. J.; Islam, R.; Hossain, S.; Yanai, J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 1612.
  • 81
    Templeton, D. M.; Ariese, F.; Cornelis, R.; Danielsson, L-G.; Muntau, H.; Leeuwen, H. P. V.; Lobinski, R.; Pure Appl. Chem. 2000, 72, 1453.
  • 82
    Huang, J-H.; Ilgen, G.; Fecher, P.; J. Anal. At. Spectrom 2010, 25, 800.
  • 83
    Meharg, A. A.; Zhao, F. J.; Arsenic & Rice, Springer: Berlin, 2012.
  • 84
    Pasias, I.N.; Thomaidis, N. S.; Piperaki, E. A.; Microchem. J. 2013, 108, 1.
  • 85
    Sun, G-X.; Williams, P. N.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Carey, A. M.; Raab, A.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Int. 2009, 35, 473.
  • 86
    Rintala, E-A.; Ekholm, P.; Koivisto, P.; Peltonen, K.; Venäläinen, E-R.; Food Chem. 2014, 150, 199.
  • 87
    Sommella, A.; Deacon, C.; Norton, G.; Pigna, M.; Violante, A.; Meharg, A.A.; Environ. Pollut. 2013, 18, 38.
  • 88
    Carbonell-Barrachina, A. A.; Wu, X.; Ramírez-Gandolfo, A. Norton, G. J.; Burló, F.; Deacon, C.; Meharg, A. A.; Environ. Pollut. 2012, 163, 77.
  • 89
    Williams, P. N.; Villada, A.; Deacon, C.; Raab, A.; Figuerola, A. J.; Green, A. J.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; Environ. Sci. Technol. 2007, 41, 6854.
  • 90
    Narukawa, T.; Inagaki, K.; Kuroiwa, T.; Chiba, K.; Talanta 2008, 77, 427.
  • 91
    Smith, E.; Juhasz, A. L.; Weber, J.; Naidu, R.; Sci. Total Environ. 2008, 392, 277.
  • 92
    Zhu, Y. G.; Sun, G. X.; Lei, M.; Teng, M.; Liu, Y. X.; Chen, N. C.; Wang, L. H.; Carey, A. M.; Deacon, C.; Raab, A.; Meharg, A. A.; Williams, P. N.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 5008.
  • 93
    Gong, Z.; Lu, X.; Ma, M.; Watt, C.; Le, X. C.; Talanta 2002, 58, 77.
  • 94
    Sofuoglu, S.C.; Güzelkaya, H.; Akgül, O.; Kavcar, P.; Kurucaovalı, F.; Sofuoglu, A.; Food Chem. Toxicol. 2014, 64, 184.
  • 95
    http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm, Acessada em Fevereiro 2014.
    » http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm328363.htm,
  • 96
    Parsons, P. J.; Barbosa, F.; Spectrochim. Acta, Part B 2007, 62, 992.
  • 97
    Sutton, K. L.; Caruso, J. A.; J. Chromatogr. A 1999, 856, 243.
  • 98
    McSheehy, S.; Szpunar, J.; Morabito, R.; Quevauviller, F.; Trends Anal. Chem. 2013, 22, 4.
  • 99
    Chen, M-L.; Ma, L-Y.; Chen, X. W.; Talanta 2014, 125, 78.
  • 100
    Chen, G.; Chen, T.; Talanta 2014, 119, 202.
  • 101
    Rasmussen, R. R.; Qian, Y.; Sloth, J. J.; Anal. Bioanal. Chem. 2013, 405, 7851.
  • 102
    Sanz, E.; Muñoz-Olivas, R.; Cámara, C.; J. Chromatogr. 2005,1097, 1.
  • 103
    https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/eur-scientific-and-technical-research-reports/certification-mass-fractions-total-arsenic-dimethylarsinic-acid-and-sum-arsenite-and?search, acessada em Março 2014.
    » https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/eur-scientific-and-technical-research-reports/certification-mass-fractions-total-arsenic-dimethylarsinic-acid-and-sum-arsenite-and?search
  • 104
    Doyle, M. O.; Otte, M. L.; Environ. Pollut. 1997, 96, 1.
  • 105
    Goa, S.; Burau, R. G.; J. Environ. Qual 1997, 26, 753.
  • 106
    Ma, L. Q.; Komar, K. M.; Tu, C.; Zhang, W.; Cai, Y.; Kennelley, E. D.; Nature 2001, 409, 579.
  • 107
    Porter, E. K.; Peterson, P. J.; Sci. Total Environ. 1975, 4, 365.
  • 108
    Rugh, C. L.; Wilde, H. D.; Stack, N. M.; Thompson, D. M.; Summers, A. O.; Meagher, R. B.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 1996, 93, 3182.
  • 109
    Fitz, W. J.; Wenzel, W. W.; J. Biotechnol. 2002, 99, 259.
  • 110
    Arao, T.; Kawasaki, A.; Baba, K.; Mori, S.; Matsumoto, S.; Environ. Sci. Technol. 2009, 43, 9361.
  • 111
    Bogdan, K.; Schenk, M. K.; Environ. Sci. Technol 2008, 42, 7885.
  • 112
    Chen, Z.; Zhu, Y. G.; Liu, W. J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2005, 165, 91.
  • 113
    Hossain, M. B.; Jahiruddin, M.; Loeppert, R. H.; Panaullah, G. M.; Islam, M. R.; Duxbury, J. M.; Plant Soil 2009, 317, 167.
  • 114
    Hu, P.; Li, Z.; Yuan, C.; Ouyang, Y.; Zhou, L.; Huang, J.; Huang, Y.; Luo, Y.; Christie, P.; Wu, L.; J. Soils Sediments 2013, 13, 916.
  • 115
    Li, R. Y.; Stroud, J. L.; Ma, J. F.; McGrath, S. P.; Zhao, F. J.; Environ. Sci. Technol 2009, 43, 3778.
  • 116
    Liu, W-J.; Zhu, Y-G.; Smith, F. A.; Smith, S. E.; New Phytol 2004, 162, 481.
  • 117
    Rahaman, S.; Sinha, A. C.; Mukhopadhyay, D.; J. Environ. Sci 2011, 23, 633.
  • 118
    Rahaman, S.; Sinha, A. C.; Paddy and Water Environment 2013, 11, 397.
  • 119
    Sarkar, S.; Basu, B.; Kundu, C. K.; Patra, P. K.; Agric., Ecosyst. Environ. 2012, 146, 147.
  • 120
    Guo, W.; Hou, Y-L.; Wang, S-G.; Zhu, Y-G.; Plant Soil 2005, 272, 173.
  • 121
    Su, S.; Zeng, X.; Bai, L.; Li, L.; Duan, R.; Sci. Total Environ. 2011, 409, 5057.
  • 122
    Edvantoro, B. B.; Naidu, R.; Megharaj, M.; Merrington, G.; Singletonc, I.; Applied Soil Ecology 2004, 25, 207.
  • 123
    Srivastava, P. K.; Vaish, A.; Dwivedi, S.; Chakrabarty, D.; Singh, N.; Tripathi. R. D.; Sci. Total Environ 2011, 409, 2430.
  • 124
    Gonzalez-Chavez, C.; Harris, P. J.; Dodd, J.; Meharg, A. A.; New Phytol. 2002, 155, 163.
  • 125
    Sharples, J. M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, J. W. G.; Plant Physiol 2000a, 124, 1327.
  • 126
    Sharples, M.; Meharg, A. A.; Chambers, S. M.; Cairney, G. T. C.; Nature 2000b, 404, 951.
  • 127
    Chen, B. D.; Xiao, X. Y.; Zhu, Y. G.; Smith, F. A.; Xie, Z. M.; Smith, S. E.; Sci. Total Environ 2007, 379, 226.
  • 128
    Ultra, V. U. Y.; Tanaka, S.; Sakurai, K.; Iwasaki, K.; Soil Sci. Plant Nutr. 2007, 53, 499.
  • 129
    Dasgupta, T.; Hossain, S. A.; Meharg, A. A.; Price, A. H.; New Phytol 2004, 163, 45.
  • 130
    Meng, X-Y.; Qin, J.; Wang, L-H.; Duan, G-L.; Sun, G-X.; Wu, H-L.; Chu, C. C.; Ling, H-Q.; Rosen, B. P.; Zhu, Y-G.; New Phytol 2011, 191, 49.
  • 131
    Sun, G-X.; Williams, P. N.; Carey, A-M.; Zhu, Y-G.; Deacon, C.; Raab, A.; Feldmann, J.; Islam, R. M.; Meharg, A. A.; @. Sci. Technol 2008, 42, 7542.
  • 132
    Raab, A.; Baskaran, C.; Feldmann, J.; Meharg, A. A.; J. Environ. Monit. 2009, 11, 41.
  • 133
    Signes, A.; Mitra, K.; Burlo, F.; Carbonell-Barrachina, A. A.; Food Addit. Contam. 2008, 25, 1345.
  • 134
    Sun, G-X.; Wiele, T. V.; Alava, P.; Tack, F.; Laing, G. D.; Environ. Pollut. 2012, 162, 241.
  • 135
    Torres-Escribano, S.; Leal, M.; Vélez, D.; Montoro, R.; Environ. Sci. Technol. 2008, 42, 3867.
  • 136
    Zhao, F-J.; McGrath, S. P.; Meharg, A. A.; Annu. Rev. Plant Biol. 2010, 61, 535.
  • 137
    Guo, W.; Zhu, Y-G.; Liu, W-J.; Liang, Y-C.; Geng, C-N.; Wang, S-G.; Environ. Pollut. 2007, 148, 251.
  • 138
    Duan, G-L.; Hu, Y.; Liu, W-J.; Kneer, R.; Zhao, F-J.; Zhu, Y-G.; Environ. Exp. Bot. 2011, 71, 416.
  • 139
    Liu, Y.; Zhu, Y. G.; Chen, B. D.; Christie, P.; Li, X. L.; Environ. Int. 2005, 31, 867.
  • 140
    Ahmed, F. R. S.; Killham, K.; Alexander, I.; Plant Soil 2006, 283, 33.
  • 141
    Ecker, D. J.; Bundas, T. R.; Sternberg, E. J.; Neeper, M. P.; Debouck ,C.; Gorman, J.A.; Crooke, S. T.; J. Biol. Chem. 1986, 261, 16895.
  • 142
    Kneer, R.; Kutchan, T. M.; Hochberger, A.; Zenk, M. H.; Arch. Microbiol. 1992, 157, 305.
  • 143
    Macy, J. M.; Nunan, K.; Hagen, K. D.; Dixon, D. R.; Harbour, P. J.; Cahill, M.; Sly, L. I.; Int. J. Syst. Evol. Microbiol. 1996, 46, 1153.
  • 144
    Macy, J. M.; Santini, J. M.; Pauling, B. V.; O'Neill, A. H.; Sly, L.; Arch. Microbiol. 2000, 173, 49.
  • 145
    Newman, D. K.; Beveridge, T. J.; Morel, F.; Appl. Environ. Microbiol. 1997a, 63, 2022.
  • 146
    Newman, D. K.; Kennedy, E. K.; Coates, J. D.; Ahmann, D.; Ellis, D. J.; Lovley, D. R.; Morel, F. M. M.; Arch. Microbiol. 1997b, 168, 380.
  • 147
    Stolz, J. F.; Oremland, R. S.; FEMS Microbiol. Rev. 1999, 23, 615.
  • 148
    Silver, S.; Phung, L. T.; Appl. Environ. Microbiol. 2005, 71, 599.
  • 149
    Santini, J. M.; Slyl, L. I.; Schnagl, R. D.; Macy, J. M.; Appl. Environ. Microbiol. 2000, 66, 92.
  • 150
    Gihring, T. M.; Banfield, J. F.; Microbiol. Lett. 2001, 204, 335.
  • 151
    Qin, J.; Rosen, B. P.; Zhang, Y.; Wang, G.; Franke, S.; Rensing, G.; Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 2006, 103, 2075.
  • 152
    Silver, S.; Misra, T. K.; Basic Life Sci. 1984, 28, 23.
  • 153
    Lin, Z-Q. Em Volatalization in Ecological processes. Encyclopedia of Ecology; Jorgensen, S. E.; Fath, B. D., eds.; Elsevier: Oxford, 2008.
  • 154
    Li, H.; Ye,Z. H.; Chan, W. F.; Chen, X. W.; Wu, F. Y.; Wu, S. C.; Wong, M. H.; Environ. Pollut. 2011a, 159, 2537.
  • 155
    Li, H.; Wu, C.;Ye, Z. H.; Wu, S. C.; Wu, F. Y.; Wong, M. H.; J. Hazard. Mater. 2011b, 194, 414.
  • 156
    Bae, M.; Watanabe, C.; Inaoka, T.; Sekiyama, M.; Sudo, N.; Bokul, M. H.; Ohtsuka, R.; Lancet 2002, 360, 1839.
  • 157
    Sengupta, M. K.; Hossain, A.; Mukherjee, A.; Ahamed, S.; Das, S.; Nayak, B.; Pal, A.; Chakraborti, D.; Food Chem. Toxicol. 2006, 44, 1823.
  • 158
    European Food Safety Authority. EFSA; EFSA J.2009.
  • 159
    http://www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/fsis0209arsenicinrice.pdf, acessada em Março 2014.
    » http://www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/fsis0209arsenicinrice.pdf
  • 160
    Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAa; Evaluation of certain contaminants in food: thirty third report of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, World Health Organization: Geneva, 1988.
  • 161
    Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAc; Discussion paper on possibility to develop a code of practice for the prevention and reduction of arsenic contamination in rice: seventh session, Moscow, Russian Federation, 2013.
  • 162
    Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. JECFAb; Evaluation of certain contaminants in food: seventy-second report of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, World Health Organization: Rome, 2010.
  • 163
    http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/Metals/ucm280202.htm, acessada em Março 2014.
    » http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/Metals/ucm280202.htm
  • 164
    http://www.fda.gov/food/foodborneillnesscontaminants/metals/ucm319870.htm, acessada em Março 2014.
    » http://www.fda.gov/food/foodborneillnesscontaminants/metals/ucm319870.htm
  • 165
    http://www.fao.org/news/story/en/item/238802/icode/, acessada em Julho 2014.
    » http://www.fao.org/news/story/en/item/238802/icode/

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan 2015

Histórico

  • Recebido
    03 Jun 2014
  • Aceito
    19 Ago 2014
Sociedade Brasileira de Química Secretaria Executiva, Av. Prof. Lineu Prestes, 748 - bloco 3 - Superior, 05508-000 São Paulo SP - Brazil, C.P. 26.037 - 05599-970, Tel.: +55 11 3032.2299, Fax: +55 11 3814.3602 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: quimicanova@sbq.org.br