Acessibilidade / Reportar erro

MICROEMULSÕES: COMPONENTES, CARACTERÍSTICAS, POTENCIALIDADES EM QUÍMICA DE ALIMENTOS E OUTRAS APLICAÇÕES

MICROEMULSIONS: COMPONENTS, CHARACTERISTICS, POTENTIALITIES IN FOOD CHEMISTRY AND OTHER APPLICATIONS

Resumo

Microemulsions (MEs) are thermodynamically stable systems consisting of nanosized droplets dispersed in a solvent continuous medium (known as pseudo-phase), which is immiscible with the dispersed phase. These systems consist of water, a hydrophobic solvent called "oil," an amphiphile and often, a co-surfactant that is normally a medium chain alcohol. A large number of publications describe the importance of MEs in many branches of chemistry, and there is an intensive search for new applications. In addition, MEs have been applied in many areas, including oil extraction, removal of environmental pollutants from soils and effluents, dissolution of additives in lubricants and cutting oils, cleaning processes, dyeing and textile finishing, as nanoreactors to obtain nanoparticles of metals, semiconductors, superconductors, magnetic and photographic materials, and latex. However, only some studies indicate the potential applications of MEs in food and even fewer evaluate their chemical behavior. Potential applications of MEs in food comprise dissolution of lipophilic additives, stabilization of nutrients and biologically active compounds, using as an antimicrobial agent and to maximize the efficiency of food preservatives. This work consists of a literature review focusing on composition and physical and chemical characteristics of microemulsions. Despite the small number of studies on the subject reported in the literature, we demonstrate some potential applications of MEs in food chemistry.


INTRODUÇÃO

Microemulsões (MEs) são sistemas termodinamicamente estáveis, opticamente transparentes, isotrópicos e de baixa viscosidade, constituídos por gotículas de tamanho nanométrico dispersas em uma fase contínua de um solvente imiscível com a fase dispersa. Elas são formadas por água, um solvente hidrofóbico que é chamado de "óleo", um tensoativo e, frequentemente, também um co-tensoativo, normalmente um álcool de cadeia média.11 Solans, C.; Pons, R.; Kunieda, H.; Industrial Applications of Microemulsions, Dekker: New York, 1997.,22 Fanun, M.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2012, 17, 306. Estudos recentes descrevem o preparo de microemulsões denominadas livres de surfactante, em que a fase óleo, formada por moléculas com propriedades tensoativas, faz, provavelmente, esse duplo papel.33 Xu, J.; Yin, A.; Zhao, J.; Li, D.; Hou, W.; J. Phys. Chem. B2013, 117, 450. As microemulsões têm sido alvo de numerosos estudos durante as últimas décadas, principalmente devido ao seu elevado poder de solubilização.44 Gullón, J. S.; Montiel, V. R.; Clavilier, A.; J. Electroanal. Chem.2003, 554-555, 273. Em razão da baixa tensão interfacial entre as fases contínua e dispersa, normalmente menor do que 0,001 dina cm-11 Solans, C.; Pons, R.; Kunieda, H.; Industrial Applications of Microemulsions, Dekker: New York, 1997., há uma efetiva mistura das microfases água ou óleo com a fase dominante, tornando possível a dissolução de espécies apolares, polares e iônicas, desde que sua composição seja adequadamente ajustada.55 Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev. 1995, 95, 849.

6 Klier, J.; Tucker, C. J.; Kalantar, T. H.; Green, D. P.; Adv. Mater2000, 12, 1751.
-77 Gradzielski, M.; Hoffmann, H.; J. Phys. Chem.1994, 98, 2613. Esta propriedade é similar à de soluções micelares, porém, a capacidade de solubilização simultânea de substâncias hidrofóbicas e hidrofílicas das microemulsões é muito maior do que a das micelas.88 Romero, J. S. E.; Afonso, E. F. S.; Alvarez-Coque, M. G. G.; Ramos, G. R.; Anal. Chim. Acta1990, 235, 317.

Em razão de suas propriedades especiais, aliadas à preocupação em preservar o meio ambiente, como alternativas para o uso de solventes orgânicos,55 Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev. 1995, 95, 849.,88 Romero, J. S. E.; Afonso, E. F. S.; Alvarez-Coque, M. G. G.; Ramos, G. R.; Anal. Chim. Acta1990, 235, 317.,99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11. o número de publicações abordando o tema tem crescido continuamente, assim com seu campo de aplicação, tanto na pesquisa como na indústria. Ainda, em razão do aumento da condutividade elétrica do sistema, principalmente em consequência da presença de água, as microemulsões são capazes de viabilizar procedimentos eletroanalíticos em amostras de óleos vegetais.1010 Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.

11 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.
-1212 Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579. Estudos revelam potencialidades de aplicações tecnológicas de microemulsões na área de alimentos, destacando-se: promoção da mistura de compostos imiscíveis,1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.

14 Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2012, 26, 268.
-1515 Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209. aumento da estabilidade de nutrientes1616 Chiu, Y. C.; Yang, W. L.; Colloids Surf.1992, 63, 311.

17 Drach, M.; Narkiewicz-Michałek, J.; Sienkiewicz, A.; Szymula, M.; Bravo-Diaz, C.; Colloids Surf., A2011, 379, 79.
-1818 Feng, J. -L.; Wang, Z. -W.; Zhang, J.; Wang, Z. -N.; Liu, F.; Colloids Surf., A2009, 339, 1. e de compostos biologicamente ativos,1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654.

20 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chen, H.-C.; Yu, M.-W.; Lee, M.-H.; Food Chem.2009, 116, 923.
-2121 Loveday, S. M.; Singh, H.; Trends Food Sci. Technol.2008, 19, 657. aumento da eficiência de conservantes2222 Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171.

23 Gaysinsky, S.; Davidson, P. M.; Food Biophysics2008, 3, 54.
-2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. e otimização de métodos analíticos.99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11.,1010 Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.,1111 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.,2525 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2003, 4, 628.

Este trabalho consiste de uma revisão bibliográfica sobre microemulsões, enfocando suas características, descrição de seus componentes, aplicações e potencialidades na química de alimentos.

BREVE HISTÓRICO

A mistura de um líquido orgânico e de um composto tensoativo com água forma, geralmente, uma emulsão leitosa-turva que, após algum tempo, separa-se em duas fases. Em 1943, Hoar e Schulman2626 Hoar, T. P.; Schulman, J. H.; Nature1943, 152, 102. observaram que essa emulsão turva e instável podia ser convertida em um líquido opticamente transparente e termodinamicamente estável por adição de um álcool. No entanto, somente em 1959 o termo microemulsão foi empregado pela primeira vez para designar este sistema.2727 Langevin, D.; Acc. Chem. Res.1988, 21, 255.,2828 Schulman, J. H.; Stoeckenius, W.; Prince, L. M.; J. Phys. Chem.1959, 63, 1677.

A ação detergente dos tensoativos é conhecida há séculos, mas o uso doméstico de uma mistura de água, óleo de eucalipto, flocos de sabão e aguarrás (mistura de orgânicos voláteis) data dos primórdios do século 20; já a primeira microemulsão comercial foi a cera líquida,2727 Langevin, D.; Acc. Chem. Res.1988, 21, 255. que data de 1928. No entanto, o mecanismo pelo qual ocorre a remoção de resíduos por esses sistemas só foi esclarecido quando o processo de auto-organização dos surfactantes foi progressivamente elucidado.

O primeiro registro de um agregado de surfactante em solução aquosa remonta ao trabalho de McBain,2929 McBain J. W.; Trans. Faraday Soc. 1913, 9, 99. que, em 1913, sugeriu a existência de íons em meio coloidal de palmitato de sódio. Já o modelo esférico de auto-organização micelar dos surfactantes foi proposto em 1936 por Hartley,3030 Hartley G. S.; Aqueous solutions of paraffin-chain salts: a study in micelle formation, Hermann & Cie: Paris, 1936. que considerou uma micela como um objeto esférico caracterizado por uma interface carregada constituída pela dupla camada elétrica. Por outro lado, desenvolvimentos importantes sobre as forças intermoleculares, que constituem a base para o conceito do efeito hidrofóbico e da auto-organização dos surfactantes, foram primeiramente publicados em 1923 por Debye e Hückel3131 Debye P., Huckel E.; Phys. Z.1923, 24, 185. e os primeiros trabalhos sobre a estabilidade de coloides,3232 Derjaguin, B. V.; Kolloid-Z.1934, 69, 155.

33 London, F.; Trans. Faraday Soc.1937, 33, 8b.

34 Levine, S; Dube, G. P; Trans. Faraday Soc.1939, 35, 1125.
-3535 Verwey, E. J. W.; Overbeek, J. T. G.; Theory of the stability of lyophobic colloids, Elsevier Publishing Co: New York, 1948. entre 1934 e 1948. Estas obras foram a base do livro de Tanford3636 Tanford, C.; The hydrophobic effect: formation of micelles and biological membranes, 2th ed., John Wiley: New York, 1980. "O efeito hidrofóbico: Formação de micelas e membranas biológicas" publicado em 1973 e re-editado em 1980, o qual, segundo Clarke3737 Clarke, S.; J. Chem. Educ. 1981, 58, A246. "... introduz a ideia inicial para a curvatura espontânea da interface polar-apolar e, consequentemente, a forma e o tamanho do agregado supramolecular".

Outras descobertas, como a existência de uma organização de longo alcance nos cristais líquidos formados por surfactantes,3838 Rosevear, F. B.; J. Am. Oil Chem. Soc.1954, 31, 628. avanços na técnica de difração de raios-X a baixo ângulo3939 Mandell, L.; Fontell, K.; Ekwall, P. In Ordered Fluids and Liquid Crystals; Porter, R. S.; Johnson, J. F., eds.; American Chemical Society: Washington, 1967, p. 89-124. e os estudos de Ekwall e Mandell4040 Ekwall, P.; Mandell, L.; Kolloid Z. Z. Polym.1969, 233, 938.,4141 Ekwall, P.; Mandell, L.; Fontell, K.; Liquid crystals, Gordon and Breach: London, 1969. sobre sistemas ternários, constituídos por água, surfactante e solvente apolar, deram origem à Escola Escandinava de ciência dos colóides e dos surfactantes, de fundamental importância na área. Modernamente, a auto-organização do surfactante, como proposta por Tanford, baseia-se nos estudos de Israelachvili et al.4242 Israelachvili, J. N.; Mitchell, D. J.; Ninham, B. W.; J. Chem. Soc. Faraday Trans.1976, 72, 1525. e Mitchell et al.,4343 Mitchell, D. J.; Ninham, B. W.; J. Chem. Soc. Faraday Trans.1981, 77, 601. que estabeleceram as restrições termodinâmicas, tanto de equilíbrios de energia livre como de forças intermoleculares (reciprocidade entre interações de forças eletrostáticas e de Van der Waals), para a curvatura interfacial dos surfactantes que precede o conceito de auto-organização.

DEFINIÇÃO, CONSTITUINTES E TEORIA DE FORMAÇÃO DAS MES

Definição

O termo "microemulsão" foi empregado pela primeira vez na literatura em 1959.2828 Schulman, J. H.; Stoeckenius, W.; Prince, L. M.; J. Phys. Chem.1959, 63, 1677. A definição mais amplamente aceita considera que esses sistemas representam soluções termodinamicamente estáveis, opticamente transparentes e isotrópicas, constituídas de água, óleo e um surfactante.4444 Danielsson, I.; Lindman, B.; Colloids Surf.1981, 3, 391. Segundo Danielsson e Lindman,4444 Danielsson, I.; Lindman, B.; Colloids Surf.1981, 3, 391. o termo designa a) solução aquosa de um surfactante na qual é solubilizado um lipídeo (microemulsão óleo/água, O/A); b) solução não aquosa de um surfactante na qual é solubilizada água (microemulsão água/óleo, A/O); c) sistemas que apresentam uma transição contínua entre solução aquosa e solução não aquosa do surfactante (microemulsão bicontínua) e d) sistemas característicos de surfactantes não iônicos os quais, dependendo da temperatura, podem apresentar uma continuidade tanto com a fase aquosa como com a fase não aquosa.

Nas microemulsões, a fase dispersa pode adotar diferentes formatos, em função das proporções dos seus componentes e de fatores físico-químicos,22 Fanun, M.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2012, 17, 306.,4545 Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978. conforme mostra a Figura 1.

Figura 1
Representação esquemática das três microestruturas de microemulsões mais comumente encontradas: (a) ME óleo em água (O/A) e (b) ME água em óleo (A/O), empregando surfactante aniônico e álcool de cadeia média, e (c) ME bicontínua

No entanto, apesar do progresso contínuo nos campos da ciência e tecnologia das microemulsões, há equívocos na literatura relacionados ao uso do termo, em razão, principalmente, do prefixo "micro" utilizado para denotar esses sistemas e ao crescente uso do prefixo "nano" para este mesmo fim.4646 McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719. Outra razão é o fato de haver algumas semelhanças entre as microemulsões e as nanoemulsões. Na realidade, as dimensões que caracterizam as microemulsões encontram-se não em escala micrométrica, mas sim em escala nanométrica.4747 Solans, C.; Aramaki, K.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2008, 13, 195. Ainda, apesar de ambas apresentarem componentes (uma fase aquosa, uma fase oleosa, um agente surfactante e um co-surfactante) e estruturas semelhantes, as microemulsões diferem das nanoemulsões por apresentarem maior estabilidade termodinâmica, enquanto as nanoemulsões são cineticamente estáveis. Além disso, as proporções dos constituintes utilizados são diferentes (a proporção de surfactante nas microemulsões é maior) e podem ou não apresentar a fase dispersa em formato esférico.4646 McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719.,4848 Bruxel, F.; Laux, M.; Wild, L. B.; Fraga, M.; Koester, L. S.; Teixeira, H. F.; Quim. Nova,2012, 35, 1827. Adicionalmente, microemulsões são sistemas translúcidos e apresentam partículas com dimensões menores do que as formadas nas nanoemulsões.4545 Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978.

Diferenças marcantes entre microemulsões e nanoemulsões estão relacionadas às suas propriedades físicas e físico-químicas, sendo um aspecto relevante a diferença de comportamento dos dois sistemas em relação à diluição e/ou às variações de temperatura. Estes fatores afetam mais expressivamente as microemulsões do que as nanoemulsões, sendo relevante considerá-los segundo a aplicação desejada. Por exemplo, no caso de administração parenteral de medicamentos, em que ocorre diluição pela corrente sanguínea, apenas nanoemulsões são adequadas para uso, uma vez que as gotículas permanecem estáveis frente às mudanças ambientais sofridas.4545 Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978. Por outro lado, com a manutenção da composição, as microemulsões apresentam vantagem pela maior estabilidade temporal.4545 Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978. Outro ponto fundamental, muitas vezes negligenciado para determinar se um sistema constitui uma nanoemulsão ou uma microemulsão, é a influência da ordem com que os diferentes componentes são misturados durante a formulação. Nas nanomulsões inicialmente o surfactante é misturado com o óleo, pois a razão óleo/surfactante controla o tamanho da nanoestrutura.4545 Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978. Por outro lado, uma microemulsão será idêntica, após o tempo de equilíbrio, qualquer que seja a ordem com que os componentes são misturados. Por fim, observa-se na literatura que o termo "microemulsão" vem sendo utilizado, principalmente, face à consagração do termo desde sua introdução,4646 McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719.,4747 Solans, C.; Aramaki, K.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2008, 13, 195. ainda que em contradição com as dimensões nanométricas do sistema disperso.

Nesta revisão o termo microemulsão designa sistemas termodinamicamente estáveis.

Constituintes das microemulsões

Comumente, as microemulsões são constituídas de água, óleo, surfactante e, frequentemente, de um co-surfactante. Além de água, soluções salinas diversas também podem ser empregadas em seu preparo, como fase aquosa. Dependendo da aplicação, esta fase pode conter diversos aditivos, como tampões, bactericidas e agentes isotônicos.4949 Vandamme, T. F.; Prog. Retinal Eye Res.2002, 21, 15. Nas microemulsões denominadas livres de surfactante, a fase óleo é formada por compostos com natureza anfifílica que desempenham, portanto, dupla função, dispensando a adição suplementar de surfactante.33 Xu, J.; Yin, A.; Zhao, J.; Li, D.; Hou, W.; J. Phys. Chem. B2013, 117, 450. A seguir, são abordadas as características dos componentes das microemulsões.

Água

A água é um solvente anfiprótico neutro estruturado, caracterizado por apresentar auto associação entre as moléculas via ligação hidrogênio, mantendo a estrutura cristalina do estado sólido a distâncias da ordem de grandeza molecular.5050 Popovych, O.; Tomkins, R.; Nonaqueous Solution Chemistry, John Wiley: New York, 1981. No estado líquido, as moléculas de água estão ordenadas na forma de "gaiolas", cavidades em cujo interior solutos podem ser retidos sem que haja quebra de ligações de hidrogênio. O volume da cavidade é, aparentemente, variável e ajusta-se ao tamanho da molécula do soluto. Assim, em uma solução diluída de um composto hidrofóbico, como por exemplo, n-pentanol, a estrutura do agregado das moléculas de água é realçada e acompanhada de uma diminuição da entropia. Com o aumento da concentração de solutos aparecem novas estruturas na solução aquosa, influenciadas pela natureza daqueles. Embora essas modificações de estrutura não estejam completamente esclarecidas, elas são evidenciadas pela alteração de propriedades volumétricas como a densidade e a viscosidade.5151 Chodzinska, A.; Zdziennicka, A.; Janczuk, B.; J. Solution Chem.2012, 41, 2226.

Segundo Tanford,3636 Tanford, C.; The hydrophobic effect: formation of micelles and biological membranes, 2th ed., John Wiley: New York, 1980. no estado líquido, as estruturas das moléculas de água em torno de moléculas não polares devem apresentar distorções aleatórias que se sobrepõem às ligações hidrogênio e levam à formação de redes poliédricas de moléculas de água. No entanto, ainda que a cadeia apolar de um anfifílico (composto cujas estruturas moleculares apresentam duas regiões, uma polar e hidrofílica e outra apolar e hidrofóbica)5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,5353 Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473 não dê origem a uma cavidade completamente fechada no solvente, suas propriedades termodinâmicas devem ser semelhantes às de um hidrocarboneto. Assim, a estrutura da água nas cavidades será perturbada por variações de qualquer ordem que ocorram no seu entorno, como por exemplo, a presença de um anfifílico competindo pelas ligações hidrogênio entre as moléculas de água.

A piscina de água no núcleo de micelas reversas de bis (2-etil) sulfossucinato (AOT) foi investigada por Bharat Baruah et al.5454 Baruah, B.; Roden, J. M.; Sedgwick, M.; Correa, N. M.; Crans, D. C.; Levinger, N. E.; J. Am. Chem. Soc.2006, 128, 12758. A formação de micelas reversas e a solubilização da água no solvente foram evidenciadas em um sistema água/AOT/iso-octano, mostrando estruturas de água cercada por grupos polares do surfactante. Variando a quantidade de água ([H2O] / [AOT]) varia também o tamanho da piscina de água no interior das micelas. Para micelas pequenas, as características físicas da água intramicelar diferem substancialmente das da água pura. No entanto, quando o tamanho da piscina de água aumenta, as propriedades da água intramicelar se aproximam das propriedades da água pura.

Estes exemplos evidenciam que as propriedades físicas e químicas da água contribuem, juntamente com as dos tensoativos, co-tensoativos e óleos para definir as características das microemulsões.

Óleos

O tamanho da cadeia alquílica do óleo influencia fortemente a distribuição do co-surfactante nas fases óleo e água, bem como a composição e as propriedade físico-químicas das microemulsões.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,5555 Watarai, H.; J. Chromatogr. A1997, 780, 93. Relatos da literatura mostram que, em presença de surfactantes não iônicos e catiônicos, a partição do álcool (co-surfactante) na interface das gotículas é favorecida pelo emprego de óleos com cadeias carbônicas longas.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,5555 Watarai, H.; J. Chromatogr. A1997, 780, 93.

As substâncias mais empregadas como fase oleosa são: n-alcanos, em geral com cadeias contendo de 6 a 12 átomos de carbono; compostos aromáticos, como benzeno e tolueno;5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,5656 Lopez-Quintela, M. A.; Tojo, C.; Blanco, M. C.; Garcıa-Rio, L.; Leis, J. R.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2004, 9, 264. álcoois de cadeia média, como octanol e decanol;5656 Lopez-Quintela, M. A.; Tojo, C.; Blanco, M. C.; Garcıa-Rio, L.; Leis, J. R.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2004, 9, 264. ainda, substâncias como ácidos graxos e triacilgliceróis também são exemplos de fase oleosa em microemulsões.5757 Nitschke, M.; Pastore, G. M.; Quim. Nova2002, 25, 772.

No preparo de microemulsões biocompatíveis os óleos totalmente apolares, como triacilgliceróis de cadeia média ou longa são preferidos ao invés de óleos com certa polaridade, pois solubilizam melhor os princípios ativos. Os óleos vegetais, como o de soja e rícino, também são bastante usados.1010 Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.,1111 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.,1212 Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579.,2525 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2003, 4, 628.,5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.

Para aplicações em alimentos, álcoois e ácidos graxos, acilglicerois e óleos vegetais representam bons exemplos de componentes possíveis de serem utilizados.

Surfactantes

Surfactantes ou tensoativos são compostos anfifílicos, orgânicos ou organometálicos, ou seja, substâncias caracterizadas pela presença em suas estruturas moleculares de duas regiões, uma polar e hidrofílica e outra apolar e hidrofóbica,5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,5353 Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473 que possibilitam a interação entre meios que apresentam polaridades diferentes como, por exemplo, água e óleo. Os representantes mais importantes desse tipo de sistema são as moléculas de surfactantes e alguns polímeros.5858 Solomons, T. W. G.; Fryhle, C. B.; Química Orgânica, Vol. 1, 7a ed., LTC Editora: Rio de Janeiro, 2001.,5959 Atkins, P. W.; Físico-Química, Vol. 1, LTC, Editora: Rio de Janeiro, 1999. No entanto, nem todo anfifílico é surfactante. Para isso, é necessário haver certo equilíbrio entre a hidrofobicidade e a hifrofilicidade da molécula.6060 Salager, J. L. In Emulsions and emulsion stability; Johan Sjoblom, ed.; CRC Press: Boca Raton, 2006, cap. 4.

A estrutura dos surfactantes iônicos, de uma forma geral, pode ser expressa como R-X, na qual R é uma cadeia de hidrocarboneto variando de 8-18 átomos (normalmente linear) e X é o grupo cabeça (polar ou iônico). Dependendo da natureza de X, os tensoativos podem ser classificados como não iônicos, catiônicos, aniônicos ou anfóteros.5353 Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473,6161 West, C. C.; Harwell, J. H.; Environ. Sci. Technol. 1992, 26, 2324.

Um surfactante catiônico apresenta, em geral, a fórmula RnXm+Ym-, na qual R representa uma ou mais cadeias hidrofóbicas, X é um elemento ou um grupo de elementos capaz de formar uma estrutura catiônica e Y é um contra íon. Em princípio, X pode ser N, P, S, As, Te, Sb, Bi ou um halogênio.6262 Maniasso, N.; Quim. Nova2001, 24, 87. Os sais de amônio quaternário formam uma das classes mais conhecidas de surfactantes catiônicos, como por exemplo: brometo de cetiltrimetil amônio (CTAB), brometo de dodeciltrimetil amônio (DTAB), cloreto de cetilpiridínio (CICP) e cloreto de benzalcônio (BKC).6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.,6464 Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101.

Entre os surfactantes aniônicos mais frequentemente utilizados estão os sais de ácidos carboxílicos (graxos), monopróticos ou polipróticos, com metais alcalinos ou alcalino-terrosos e ácidos como sulfúrico, sulfônico ou fosfórico, contendo um substituinte de hidrocarboneto saturado ou insaturado. Exemplo destes surfactantes são: dodecil sulfato de sódio (SDS), dodecil benzeno sulfonato de sódio (DDBS), bis (2-etil hexil) sulfosuccinato sódico (Aerossol OT) e di-hexadecil fosfato (DHF)6464 Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101. e os sais biliares como colato de sódio (CS) e deoxicolato de sódio (SDC).6565 Herrero-Martínez, J. M.; Simó-Alfonso, E. F.; Mongay-Fernández, C.; Ramis-Ramos, G.; J. Chromatogr. A2000, 895, 227.

Os surfactantes anfóteros apresentam ambos os grupos, aniônico e catiônico e, dependendo do pH da solução e da estrutura química, pode prevalecer tanto a espécie aniônica como a catiônica ou a neutra. Os tensoativos anfóteros mais comuns incluem N-alquil e C-alquil betaína e sultaína, como também álcool amino fosfatidil. Exemplos desta categoria são: 3-(dodecildimetil amônio) propano-1-sulfato (SB-12), 4-(dodecildimetil amônio) butirato (DAB), bem como diversas lecitinas.6464 Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101.,6666 Fattal, E.; Couvreur, P.; Puisieux, F. Em Méthodes de préparation des liposomes; Delattre, J.; Couvreur, P.; Puisieux, F.; Phillipot, J. R.; Schuber, F., eds; Les liposomes, Les Editions INSERM: Paris, 1993, Cap. 2.

Os tensoativos não iônicos são derivados do polioxietileno e polioxipropileno (de compostos com alquil fenol e álcool, ésteres de ácidos graxos, alquilaminas, amidas e mercaptanas) ou polialcoois, ésteres de carbohidratos, amidas de álcoois graxos e óxidos de amidas graxas. Exemplos destes compostos são: polioxietileno (9-10) p-tercotil fenol (Triton® X-100), polioxietileno (23) dodecanol (Brij® 35), polioxietileno-10-dodecil éter (C12E10), polioxidoetileno-10-oleil éter (C18:1E10 ou Brij® 97), N,N-dimetildodecilamina-N-óxido (DDAO) e N,N-dimetiloctilamina-N-óxido (DOAO), polissorbatos, como polioxietileno (20) mono-oleato de sorbitano (Tween® 80) e polioxietileno (20) monoestearato de sorbitano (Tween® 60).6464 Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101.,6767 Warisnoicharoen, W.; Lansley, A. B.; Lawrence, M. J.; Int. J. Pharm.2000, 198, 7.

Já entre os surfactantes usados no preparo de microemulsões biocompatíveis citam-se os fosfolipídios (lecitinas), que podem ser administrados a pacientes por via parenteral, cutânea, oral ou ocular. Triton® X-100, Span® 20, Tween® 80 e Tween® 60 também são outros exemplos de surfactantes fisiologicamente aceitáveis.6868 Radomska, A.; Dobrucki, R.; Int. J. Pharm.2000, 196, 131.,6969 Kalaitzaki, A.; Poulopoulou, M.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Colloid. Surf. A2014, 442, 80.

Cabe considerar que os surfactantes anfóteros, como as lecitinas e os não iônicos, como alguns polissorbatos, os ésteres de ácidos graxos e de carbohidratos, bem como os monoglicerídeos, mostram boas potencialidades para aplicações em microemulsões alimentares. Mais detalhes sobre estas aplicações e características estruturais destes compostos serão abordadas no item "aplicações de microemulsões em alimentos".

As principais características do uso de surfactantes estão relacionadas à formação de ambientes organizados.6262 Maniasso, N.; Quim. Nova2001, 24, 87. Em função da presença dos grupos hidrofílico e hidrofóbico na mesma molécula, os surfactantes tendem a se distribuir nas interfaces entre fases fluidas com diferentes graus de polaridade (óleo/água e água/óleo). A formação de um filme molecular ordenado nas interfaces reduz a tensão interfacial e superficial, que é a responsável pelas propriedades únicas dos surfactantes.5353 Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473 Desta maneira, é possível formar microemulsões do tipo água em óleo (A/O) ou óleo em água (O/A), as quais são definidas principalmente pelo equilíbrio entre as partes polar e apolar da molécula do surfactante, denominado tecnicamente de balanço hidrofílico-lipofílico (BHL).7070 Capek, I.; Adv. Colloid Interface Sci. 2004, 110, 49.,7171 Li, X.; Kunieda, H.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2003, 8, 327. O BHL é numericamente representado em uma escala de valores, introduzida para caracterizar os tensoativos não iônicos, em função do tamanho da cadeia polar do surfactante; valores inferiores a dez indicam a predominância da parte apolar, tornando-os adequados para o preparo de microemulsões do tipo A/O: por outro lado, valores superiores a dez apontam a prevalência da região polar, indicando o emprego dessas substâncias na obtenção de microemulsões O/A.6262 Maniasso, N.; Quim. Nova2001, 24, 87.,6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.

Surfactantes iônicos como dodecil sulfato de sódio, que apresentam BHL maior do que 20, frequentemente requerem a presença de um co-surfactante para reduzir o BHL efetivo, o que possibilita o enquadramento dentro da faixa requerida para a formação de microemulsões.6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.

Apesar do recurso do balanço hidrofílico-lipofílico, é muito difícil prever com exatidão quais combinações de surfactante/co-surfactante e óleo serão capazes de produzir microemulsões. Além disto, o método do BHL não considera os efeitos da temperatura, da presença de eletrólitos no meio e da contribuição dos outros constituintes, além de falhar ao predizer a quantidade de surfactante necessária e apresentar limitações para os tensoativos iônicos.6262 Maniasso, N.; Quim. Nova2001, 24, 87.,6868 Radomska, A.; Dobrucki, R.; Int. J. Pharm.2000, 196, 131.,7272 Davis, H.T.; Colloids Surf. A1994, 91, 9.

Co-surfactantes

Os co-surfactantes são responsáveis pela redução adicional da tensão interfacial, necessária para a formação e estabilidade termodinâmica das microemulsões, além de promoverem a fluidificação do filme interfacial formado pelo surfactante, que impede a elevação significativa da viscosidade do sistema.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448. Adicionalmente, a presença de um álcool pode influenciar a solubilidade das fases aquosa e oleosa, devido à sua partição entre ambas.1212 Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579.,6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.

Por outro lado, a repulsão das cargas dos grupos polares nos surfactantes iônicos impede a existência de um empacotamento eficiente, já que a tensão superficial não está suficientemente reduzida. A adição de um co-surfactante reduz a tensão superficial do sistema a quase zero, levando à formação de uma camada interfacial mais estável e, consequentemente, aumenta a estabilidade das microemulsões.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,7373 Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol. 2002, 7, 11.

Os principais co-surfactantes utilizados no preparo de microemulsões são álcoois e glicois, de massa molecular pequena ou média, que apresentam uma cadeia contendo entre dois e dez carbonos.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,7373 Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol. 2002, 7, 11.,7474 Singh, H. N.; Prasad, Ch. D.; Kumar, S.; J. Am. Oil Chem. Soc.1993, 70, 69. Os álcoois mais usados são: 1-butanol, 2-butanol, 2-metil-1-butanol, 1-pentanol e 1-hexanol.1212 Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579.,6565 Herrero-Martínez, J. M.; Simó-Alfonso, E. F.; Mongay-Fernández, C.; Ramis-Ramos, G.; J. Chromatogr. A2000, 895, 227. Entretanto, destaca-se que para emprego em sistemas alimentares, o etanol e alguns glicois são os que apresentam menores restrições.

Há três teorias que explicam a formação de uma microemulsão: a teoria da solubilização, a teoria da tensão interfacial e a teoria termodinâmica. Esta última descreve mais claramente o comportamento das microemulsões. Sendo assim, a formação e estabilidade desses sistemas têm sido suficientemente explicadas com base na termodinâmica.6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.

A transformação de um sistema em uma microemulsão (assim como qualquer processo) é acompanhada pela variação da energia livre de Gibbs, ΔG. Numericamente, essa função prediz a tendência da sua espontaneidade. Um processo espontâneo ocorrerá na direção da diminuição da energia livre do sistema, ou seja, o processo será espontâneo quando ΔG < 0.7575 Atkins, P.; Jones, L.; Chemical Principles: The Quest for Insight, Freeman: New York, 1999. A energia livre de formação de uma microemulsão (ΔGf) pode ser representada como ΔGf= γ ΔA − T ΔS. Nessa equação, ΔGf depende da capacidade do surfactante de reduzir a tensão superficial na interface água-óleo (γ), da variação da entropia (ΔS) do sistema (neste caso, entropia de dispersão) e da variação da área superficial da gotícula (ΔA), à temperatura (T) constante. A formação de uma microemulsão é acompanhada por um grande aumento da entropia (S) do sistema e (pela formação de um grande número de gotículas, ao mesmo tempo, da ΔA (em função do aumento da área superficial das gotículas). A tensão superficial será, portanto, o principal parâmetro que definirá a formação da microemulsão, devendo, assim, apresentar um valor baixo (no caso de gotículas maiores, pela otimização do balanço hidrofílico-lipofílico). Na maioria dos casos faz-se necessário o uso de surfactantes e co-surfactantes para minimizar a tensão superficial da gotícula. Neste caso, observadas as concentrações suficientes desses agentes, o processo será termodinamicamente espontâneo e estável.6363 Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89. Deve-se recordar que ΔG é um parâmetro físico-químico que prevê apenas se o processo ocorrerá espontaneamente, mas não com que rapidez ele ocorre. De fato, o processo de formação de microemulsões é tão lento, devido à ocorrência de barreiras cinéticas e/ou transporte de massa que, na prática, ele não é consolidado. A fim de se superar tais barreiras, aplica-se energia ao sistema, tal como, energia mecânica ou térmica.4646 McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719.

Diagrama de fases

Formulações de microemulsões são geralmente desenvolvidas utilizando diagramas de fase pseudoternários.7676 Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610. Por meio deles, é possível identificar os componentes mais adequados e suas proporções relativas para a obtenção de sistemas ​​fisicamente estáveis.7676 Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610.

Diagramas de fases pseudoternários apresentam a forma de um triângulo equilátero, sendo representados nos vértices cada um dos componentes, e em cada um dos lados as variações nas concentrações dos componentes (de 0 a 100%). Sua análise possibilita encontrar as regiões de transição entre emulsões, fases separadas e microemulsões O/A e A/O e, consequentemente, determinar as concentrações mínimas de cada componente para obter uma microemulsão.7777 Singla, M.; Patanjali, P. K.; Ind. Crops Prod.2013, 44, 421.

A formulação ideal de uma microemulsão corresponde àquela necessária para que o sistema resultante tenha as propriedades físico-químicas desejadas, tais como viscosidade, estabilidade, pH e área específica da fase dispersa, com aplicação eficiente do ponto de vista tecnológico7676 Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610.,7777 Singla, M.; Patanjali, P. K.; Ind. Crops Prod.2013, 44, 421. e, evidentemente, que demande custos mínimos.7878 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chi, M.-H.; Shen, C.-M.; Chen, H.-W.; Yang, W.-J.; Lee, M.-H.; Food Chem. 2014, 154, 282.

A Figura 2 apresenta um diagrama de fases típico de uma mistura pseudoternária composta por água, óleo, surfactante e co-surfactante. Por meio destes diagramas os autores avaliaram a influência da concentração de etanol (co-surfactante) sobre a eficiência do surfactante, na formação de microemulsões de triacilgliceróis formados por ácidos graxos de cadeia média em água (O/A), e verificaram que, quanto maior a concentração de etanol no sistema, menor a quantidade do surfactante necessária, e que a microemulsão se formava somente na presença do co-surfactante.7979 Santana, R. C.; Fasolin, L. H.; Cunha, R. L.; Colloids Surf., A2012, 398, 54.

Figura 2
Diagramas de fases de diferentes sistemas pseudoternários (A, B e C), demonstrando a influência da concentração de um co-surfactante (etanol, neste caso) sobre as regiões de formação de microemulsões óleo em água (O/A ME) e água em óleo (A/O ME). TCM: triglicerídeos de cadeia media7979 Santana, R. C.; Fasolin, L. H.; Cunha, R. L.; Colloids Surf., A2012, 398, 54.

A construção desses gráficos requer o delineamento de um amplo número de amostras, resultando numa tarefa demorada, o que torna necessária a busca de métodos alternativos que contornem tais problemas e que, ao mesmo tempo, sejam tão eficientes quanto o método tradicional. Sugeriu-se, então, o método do "Desenvolvimento Experimental de Misturas", em que formulações com diferentes balanços de massa são submetidas à análise de superfície de resposta.7676 Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610. A resposta, ou seja, a intensidade do parâmetro que se busca no sistema, é uma função das proporções dos diferentes componentes na mistura. O resultado é expresso em um mapa de superfície de resposta e, a partir de sua análise, é possível identificar as proporções de cada componente e as condições que resultem em um sistema com as características tecnológicas mais adequadas.8080 Furlanetto, S.; Orlandini, S.; Marras, A. M.; Mura, P.; Pinzaut, S.; Electrophoresis2006, 27, 805. Essa metodologia, como instrumento para se determinar regiões estáveis de microemulsões foi aplicada pela primeira vez em 2011, demonstrando eficácia, semelhantemente à metodologia de diagrama de fases. Neste caso, a principal vantagem observada foi a rapidez na definição das melhores proporções dos componentes para obter um sistema estável, além de economia no delineamento experimental, já que o número necessário de amostras é significativamente menor.7676 Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610.

APLICAÇÕES DE MICROEMULSÕES EM ALIMENTOS

Determinadas etapas de fabricação de alimentos requerem comumente a solubilização de ingredientes lipofílicos, dada a sua importância nutricional e funcional (do ponto de vista fisiológico e tecnológico), tais como vitaminas lipossolúveis, ácidos graxos essenciais e carotenoides, aditivos de baixa polaridade, representados por aromas, corantes, conservantes e antioxidantes.1515 Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209.,1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654.,4646 McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719.,8181 Zheng, M.-Y.; Liu, F.; Wang, Z.-W.; Baoyindugurong, J.-H.; Colloid J.2011, 73, 319.

Sabe-se, entretanto, da dificuldade enfrentada pela indústria em incorporar esses ingredientes em formulações de caráter preponderantemente hidrofílico. Outros problemas enfrentados pela indústria são a baixa estabilidade química desses compostos, já que muitos deles são importantes substratos às reações oxidativas,8282 Fennema, O. R.; Química de alimentos, 4ª ed., Artmed: Porto Alegre, 2010. e a necessidade de métodos químicos de análise altamente sensíveis, de baixo custo, rápidos e ambientalmente corretos.99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11. Esses entraves revelam-se como razões para se aplicar a tecnologia de microemulsões à área de alimentos.1414 Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2012, 26, 268.,8383 Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2011, 25, 1413.

O interesse em aplicar microemulsões à indústria de alimentos é recente, quando comparado a outros campos, tal como a indústria farmacêutica. Data do início da década de 1990, quando se discutiam "As microemulsões de grau alimentício e emulsões".1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654. Ao longo desses anos, as pesquisas se concentraram na busca de melhorar a solubilização e a estabilidade de ingredientes, problemas diariamente enfrentados por essa indústria. O que chama atenção, porém, é que, apesar de mais de duas décadas de estudos, há um número limitado de trabalhos em que se avalia o comportamento dessas microemulsões em sistemas alimentares propriamente ditos. Ao invés disso, utilizam-se sistemas com uma composição controlada e com propriedades físico-químicas que, em muitos casos, não se aproximam daquelas que caracterizam muitos alimentos.1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.,1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654.,8484 Liu, F.; Wang, Z. W.; Chin. Chem. Lett.2010, 21, 105.,8585 Szymula, M.; J. Dispersion Sci. Technol.2004, 25, 129. No entanto, não se pode contestar o mérito desses trabalhos, muitos deles inéditos, e que têm servido e servirão como fundamentos para o estudo sobre o comportamento de microemulsões em alimentos. A seguir serão apresentadas as potencialidades apontadas até o momento.

Solubilização e estabilidade de nutrientes e compostos bioativos

Microemulsões do tipo O/A têm demonstrado ser um eficiente veículo para a incorporação de nutrientes lipofílicos em sistemas aquosos, devido ao aumento de solubilidade que proporcionam.1717 Drach, M.; Narkiewicz-Michałek, J.; Sienkiewicz, A.; Szymula, M.; Bravo-Diaz, C.; Colloids Surf., A2011, 379, 79. Estudos têm relatado a adição de vitamina E,1212 Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579.,1414 Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2012, 26, 268. retinol,4343 Mitchell, D. J.; Ninham, B. W.; J. Chem. Soc. Faraday Trans.1981, 77, 601. óleo de peixe e ômega 3,1515 Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209.,5858 Solomons, T. W. G.; Fryhle, C. B.; Química Orgânica, Vol. 1, 7a ed., LTC Editora: Rio de Janeiro, 2001. beta-caroteno8686 Amar, I.; Aserin, A.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2003, 51, 4775. e outros carotenoides nestes sistemas.8686 Amar, I.; Aserin, A.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2003, 51, 4775.,8787 Spernath, A.; Yaghmur, A.; Aserin, A.; Hoffman, R. E.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2002, 50, 6917.

A solubilidade e estabilidade de compostos bioativos e de vitaminas em microemulsões têm sido estudadas. Licopeno pode ser solubilizado em concentração até 10 vezes maior em microemulsão, comparativamente a sua dissolução em sistema estritamente lipofílico.6464 Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101. Foi também demonstrado que a estabilidade do composto foi aumentada: quando microemulsionado apresentou percentual de degradação entre 34,5 a 52%, após 72 dias de armazenamento, enquanto que, no mesmo período, o controle (licopeno não microemulsionado) apresentou 100% de degradação.8888 Garti, N.; Yaghmur, A.; Aserin, A.; Spernath, .; Elfakess, R.; Ezrahi, S.; Colloids Surf., A2004, 230, 183. Em água, a solubilidade da luteína nas formas não esterificada ou esterificada é menor que 10 ppm; em contrapartida, a capacidade de solubilização desse carotenoide em uma microemulsão chegou a 1520 ppm (forma esterificada) e 390 ppm (forma não esterificada) em um sistema com 64% de fase hidrofílica composta por água e glicerol.8787 Spernath, A.; Yaghmur, A.; Aserin, A.; Hoffman, R. E.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2002, 50, 6917. A adição de curcumina, pigmento amarelo natural, oriundo do açafrão da Índia (Curcuma longa L.), foi possível em uma microemulsão do tipo O/A contendo água, oleato de etila (fase oleosa) e Tween® 80 + lecitina (ambos surfactantes), até a concentração de 4,1 mg mL-1.2020 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chen, H.-C.; Yu, M.-W.; Lee, M.-H.; Food Chem.2009, 116, 923. Uma microemulsão de vitamina E, do tipo O/A, contendo água, butirato de etila (fase oleosa), polioxil 35 (surfactante) e etanol (co-surfactante), apresentou estabilidade física e resistência a variações da temperatura, sendo indicada como um potencial veículo de liberação desta vitamina em alimentos.1818 Feng, J. -L.; Wang, Z. -W.; Zhang, J.; Wang, Z. -N.; Liu, F.; Colloids Surf., A2009, 339, 1. Demonstrou-se também que a estabilidade oxidativa da vitamina E é ampliada quando esta é preparada na forma de microemulsão (O/A), obtida com o uso de surfactantes não iônicos (polioxietileno mono-n-alquil éter - ClOEX e CllEX), comparativamente a emulsões obtidas com surfactante aniônico (dodecil sulfato de sódio - SDS); no preparo destes sistemas adicionou-se a vitamina E em soluções aquosas dos surfactantes, alternando-se a concentração do tensoativo, o tipo e o tempo de agitação, sendo o acompanhamento da estabilidade da vitamina E realizado por espectroscopia de absorção molecular no UV, entre 200 e 400 nm.1616 Chiu, Y. C.; Yang, W. L.; Colloids Surf.1992, 63, 311.

Recentemente, relatou-se a solubilização de até 25% de óleo de peixe em microemulsão com liberação controlada do tipo O/A, contendo água, oleato de etila como fase oleosa e Tween® 80 como surfactante. O sistema proporcionaria um possível aumento da estabilidade à oxidação e da biodisponibilidade, bem como o mascaramento do off-flavor, efeito sensorial típico de óleo de peixe.8181 Zheng, M.-Y.; Liu, F.; Wang, Z.-W.; Baoyindugurong, J.-H.; Colloid J.2011, 73, 319. Microemulsões do tipo A/O compostas de ômega 3 de óleo de peixe (na forma de etil ésteres e triglicerídeos), propilenoglicol e Tween®80 apresentaram elevada solubilidade em água, reforçando o potencial das microemulsões como um sistema de liberação dessas substâncias bioativas em alimentos.1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654. Apesar dessas vantagens, são extremamente escassos os estudos sobre microemulsões aplicadas a ácidos graxos insaturados, tais como ácidos graxos essenciais8585 Szymula, M.; J. Dispersion Sci. Technol.2004, 25, 129. e óleo de peixe.8181 Zheng, M.-Y.; Liu, F.; Wang, Z.-W.; Baoyindugurong, J.-H.; Colloid J.2011, 73, 319.

Liberação de compostos flavorizantes e conservantes

A tecnologia de microemulsões têm sido aplicada à solubilização de aditivos alimentares lipofílicos.1515 Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209. Além da solubilização, outras vantagens foram relatadas, tais como racionamento e substituição de solventes em preparações de aromas,1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821. estabilidade química de flavorizantes8989 Zhong, F.; Yu, M.; Luo, C.; Shoemaker, C. F.; Li, Y.; Xia, S.; Ma, J.; Food Chem.2009, 115, 539. e aumento da eficiência de antimicrobianos.2222 Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171.

23 Gaysinsky, S.; Davidson, P. M.; Food Biophysics2008, 3, 54.
-2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495.

Estudos sobre microemulsões aplicadas a compostos flavorizantes têm se concentrado na solubilização de óleos cítricos, importantes flavorizantes utilizados na indústria de bebidas.1515 Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209. Outros compostos flavorizantes, tais como óleo de menta9090 Ferreira, J. P.; Alves, D.; Neves, O.; Silva, J.; Gibbs, P. A.; Teixeira, P. C.; Food Control2010, 21, 227. e aroma de banana1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821. foram estudados. Apesar de escassos, esses estudos sugerem que essas aplicações resultam no aumento da estabilidade química, diminuição de perdas por volatilização desses compostos9090 Ferreira, J. P.; Alves, D.; Neves, O.; Silva, J.; Gibbs, P. A.; Teixeira, P. C.; Food Control2010, 21, 227. e redução do uso de solventes, necessários à sua solubilização.1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.

Quanto ao aumento da atividade antimicrobiana de conservantes em microemulsões, a literatura reporta testes realizados com monolaurato de glicerol2222 Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171.,2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. e lactato de sódio,2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. importantes aditivos utilizados em alimentos. Esses aditivos apresentaram maior atividade antimicrobiana quando incorporados em microemulsões do que na sua forma livre.2222 Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171.,2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. Tal efeito pode estar relacionado à sua maior solubilização e difusão e, consequentemente, maior contato com os micro-organismos.2323 Gaysinsky, S.; Davidson, P. M.; Food Biophysics2008, 3, 54.,2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. Sugeriu-se, também, que esse incremento é resultante da indução de alterações na permeabilidade da membrana plasmática do micro-organismo pelo surfactante, melhorando a adsorção do antimicrobiano na superfície celular.2222 Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171. Além do surfactante, álcoois utilizados como co-surfactante na formulação dessas microemulsões contribuem para induzir modificações estruturais e funcionais na membrana. Entretanto, sugerem-se estudos mais aprofundados quanto à contribuição de surfactantes e co-surfactantes sobre a atividade antimicrobiana de microemulsões.9090 Ferreira, J. P.; Alves, D.; Neves, O.; Silva, J.; Gibbs, P. A.; Teixeira, P. C.; Food Control2010, 21, 227.

Microemulsões como sistemas antimicrobianos

A atividade antimicrobiana de microemulsões foi relatada na década de 1980, apesar de, nesse período, existirem poucas evidências que apoiassem tal teoria. Sugeriu-se, então, o desenvolvimento de pesquisas que fundamentassem esse fenômeno, sendo os sistemas farmacêuticos inicialmente utilizados como modelo9191 Al-Adham, I. S. I.; Khalil, E.; Al-Hmoud, N. D.; Kierans, M.; Collier, P. J.; J. Appl. Microbiol.2000, 89, 32. e, mais recentemente, sistemas alimentícios. Apesar de um pequeno número de estudos,9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15.,9393 Zhang, H.; Cui, Y.; Zhu, S.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Pharm.2010, 395, 154. tem-se comprovado a eficácia das microemulsões contra uma gama de micro-organismos de interesse da saúde pública, incluindo bactérias, bolores e leveduras.9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15.

93 Zhang, H.; Cui, Y.; Zhu, S.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Pharm.2010, 395, 154.

94 Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97.

95 Al-Adham, I. S. I.; Ashour, H.; Al-Kaissi, E.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Int. J. Pharm.2013, 454, 226.
-9696 Zhang, H.; Shen, Y.; Weng, P.; Zhao, G.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Food Microbiol.2009, 135, 211.

A atividade antimicrobiana de microemulsões O/A à base de água, oleato de etila, Tween® 80 e álcoois de baixo peso molecular (pentanol ou ciclo-hexanol) foi testada contra uma cultura de Pseudomonas aeru ginosa e de Staphylococcus aureus, tendo-se verificado que o sistema foi altamente eficaz contra ambas as culturas, resultando numa redução de 90% da população por um tempo de 15 s. Esses resultados sugerem que as microemulsões são agentes antimicrobianos altamente eficazes que atuam sobre a integridade estrutural da membrana plasmática causando sua desestruturação.9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15. Os autores estenderam os estudos desse efeito à formação de biofilmes de Pseudomonas aeruginosa, observando a diminuição dessa capacidade,9595 Al-Adham, I. S. I.; Ashour, H.; Al-Kaissi, E.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Int. J. Pharm.2013, 454, 226. sendo o foco desses estudos direcionados inicialmente para preparações farmacêuticas e cosméticas.9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15.,9595 Al-Adham, I. S. I.; Ashour, H.; Al-Kaissi, E.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Int. J. Pharm.2013, 454, 226. Mais tarde, a partir de 2007, esses estudos passaram a ser voltados para a indústria de alimentos. O mesmo sistema de microemulsão9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15. foi também testado contra micro-organismos comumente encontrados em alimentos e em equipamentos de processamento de alimentos, tais como Salmonellaspp., Escherichia coli0157:H7, Staphylococcus au reuseListeria monocytogenes, e para impedir a formação de biofilmes de Salmonella typhimurium, Escherichia coli, Pseudomonas aerugino sa, Staphylococcus aureuseListeria monocytogenes. Imediatamente após a exposição desses patógenos aos sistemas, houve uma redução de 99% da viabilidade, confirmando a alta atividade antimicrobiana. Em relação ao potencial de diminuir a formação de biofilmes, verificou-se que as microemulsões reduziram aqueles formados por Salmonella typhimurium, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus, enquanto que o biofilme formado por Listeria monocytogenes apresentou resistência.9393 Zhang, H.; Cui, Y.; Zhu, S.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Pharm.2010, 395, 154. A avaliação antimicrobiana de microemulsões demonstrou que esses sistemas apresentaram eficiência semelhante à de agentes antimicrobianos convencionalmente utilizados na indústria de alimentos.9494 Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97.

Como citado anteriormente, a ação antimicrobiana das microemulsões parece ocorrer em nível da membrana plasmática das bactérias.9292 Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15.,9494 Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97.,9797 Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465. Provavelmente, a interação entre a microemulsão e a referida membrana resulta na desestruturação da sua bicamada fosfolipídica, afetando, assim, sua fluidez, o que levaria à morte celular.9797 Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465. A exposição de micro-organismos a esses sistemas causa aumento da permeabilidade da membrana plasmática e da sua hidrofilicidade, conduzindo à perda de soluto para o meio extracelular9494 Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97.,9797 Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465. e à consequente perda de viabilidade bacteriana.9797 Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465. O surfactante e o co-surfactante, componentes das microemulsões, parecem ser os responsáveis pelo aumento da permeabilidade da membrana,2424 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495.,9191 Al-Adham, I. S. I.; Khalil, E.; Al-Hmoud, N. D.; Kierans, M.; Collier, P. J.; J. Appl. Microbiol.2000, 89, 32. apesar de ainda haver poucas evidências nesse sentido.9191 Al-Adham, I. S. I.; Khalil, E.; Al-Hmoud, N. D.; Kierans, M.; Collier, P. J.; J. Appl. Microbiol.2000, 89, 32.

Quanto ao mecanismo de ação contra fungos, tem-se observado resultado semelhante ao que ocorre em bactérias. No entanto, estudos evidenciam que o efeito antimicrobiano contra fungos é menor. A ruptura e disfunção das membranas biológicas e paredes celulares foi observada em estudos com fungos, resultando em perda de conteúdo celular (C. albicans, A. niger e P. expansum), semelhantemente ao que foi observado para bactérias.9494 Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97. Um recente estudo propôs como mecanismo de ação a perturbação e disfunção da estrutura da membrana citoplasmática, seguindo-se modificações da parede celular, coagulação do citoplasma, interrupção do metabolismo intracelular e morte celular.9696 Zhang, H.; Shen, Y.; Weng, P.; Zhao, G.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Food Microbiol.2009, 135, 211.

Aplicações de microemulsões na análise química de alimentos

Dados na literatura revelam que uma das razões pelas quais as microemulsões têm sido aplicadas em análise de alimentos é devido ao aumento da sensibilidade de métodos analíticos, tais como métodos espectrométricos99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11.,9797 Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465.,9898 Nunes, L. S.; Barbosa, J. T. P.; Fernandes, A. P.; Lemos, V. A.; Santos, W. N. L.; Korn, M. G. A.; Teixeira, L. S. G.; Food Chem.2011, 127, 780. e cromatográficos.9999 Huang, H.-Y.; Chuang, C.-L.; Chiu, C.-W.; Yeh, J.-M.; Food Chem.2005, 89, 315.

100 Noguera-Ortí, J. F.; Villanueva-Camañas, R. M.; Ramis-Ramos, G.; Anal. Chim. Acta1999, 387, 127.
-101101 Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136. Esse fato está relacionado à capacidade com que microemulsões conseguem extrair o analito da amostra, de modo mais eficientemente do que solventes convencionalmente usados para esse fim e/ou sem o uso de qualquer procedimento em condições drásticas (tais como altas temperaturas ou meio ácido) ou demorados,99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11. que resultam em menores perdas do analito por evaporação ou destruição térmica (no caso de compostos termolábeis).102102 Liotta, E.; Gottardo, R.; Seri, C.; Rimondo, C.; Miksik, I.; Serpelloni, G.; Tagliaro, F.; Forensic Sci. Int.2012, 220, 279

O uso de microemulsões como método de separação do analito dispensa quaisquer outros procedimentos anteriores de pré-tratamento da amostra, implicando em menores fontes de erro.1010 Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.,1111 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.,101101 Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136. A análise, assim, torna-se simples e rápida, além de dispensar o consumo de solventes orgânicos como diluentes.99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11. Ao contrário destes, os componentes que constituem as microemulsões representam menor impacto ambiental, já que, geralmente, são de baixo custo, biodegradáveis, atóxicos e menos inflamáveis.99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11.,101101 Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136.

O preparo de amostras na forma de microemulsão tem possibilitado o aumento da sensibilidade, otimização e reprodutibilidade de análises de traços de metais e aditivos em óleos vegetais,99 Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11.,1010 Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.,1111 Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.,101101 Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136. metais em chocolates101101 Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136. e contaminantes, aditivos e compostos bioativos em bebidas.100100 Noguera-Ortí, J. F.; Villanueva-Camañas, R. M.; Ramis-Ramos, G.; Anal. Chim. Acta1999, 387, 127.,102102 Liotta, E.; Gottardo, R.; Seri, C.; Rimondo, C.; Miksik, I.; Serpelloni, G.; Tagliaro, F.; Forensic Sci. Int.2012, 220, 279

Cabe considerar que muitas das limitações do emprego de microemulsões na área de alimentos, especialmente para fins tecnológicos, são dadas pelas restrições impostas aos ingredientes e suas quantidades, que devem ser adequados ao consumo humano. Neste contexto, verifica-se um aumento recente nas pesquisas aplicando compostos que cumpram estes requisitos. Como exemplo citam-se o emprego de fosfolipídios,2020 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chen, H.-C.; Yu, M.-W.; Lee, M.-H.; Food Chem.2009, 116, 923.,7878 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chi, M.-H.; Shen, C.-M.; Chen, H.-W.; Yang, W.-J.; Lee, M.-H.; Food Chem. 2014, 154, 282.,103103 Ting, Y.; Jiang, Y.; Ho, C. -T.; Huang, Q.; J. Funct. Foods2014, 7, 112. ésteres de sacarose,1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.,8383 Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2011, 25, 1413.,104104 Fisher, S.; Wachtel, E. J.; Aserin, A.; Garti, N.; Colloids Surf., B2013, 107, 35. ésteres de ácidos graxos,105105 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. monoglicerídeos,105105 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. polissorbatos,7878 Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chi, M.-H.; Shen, C.-M.; Chen, H.-W.; Yang, W.-J.; Lee, M.-H.; Food Chem. 2014, 154, 282.,7979 Santana, R. C.; Fasolin, L. H.; Cunha, R. L.; Colloids Surf., A2012, 398, 54.,105105 Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495. compostos derivados de óleos naturais e saponinas,5353 Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473 que atuam eficientemente como surfactantes, além de propilenoglicol, ácidos graxos de cadeia média, citronelol e limoneno, que podem atuar com êxito como co-surfactantes.103103 Ting, Y.; Jiang, Y.; Ho, C. -T.; Huang, Q.; J. Funct. Foods2014, 7, 112.,106106 Klossek, M. L.; Marcus, J.; Touraud, D.; Kunz, W.; Colloids Surf., A2014, 442, 105.

Os fosfolipídeos ou lecitinas, polissorbatos, alguns ésteres de ácidos graxos, acilgliceróis e ésteres de sacarose (Tabela 1), são aprovados como aditivos ou ingredientes por órgãos regulamentadores de referência mundial como Food and Drug Administration (FDA) e Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA), bem como pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Pela legislação brasileira, com exceção dos polissorbatos e dos ésteres de sacarose, os demais surfactantes citados, em grande parte dos produtos alimentícios, podem ser utilizados em quantidade necessária para se alcançar o efeito desejado (qsp).107107 Brasil. Resolução RDC nº 45, de 03 de novembro de 2010. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/11707300474597459fc3df3fbc4c6735/Resolu%C3%A7%C3%A3o+da+Diretoria+Colegiada++RDC+n++45+de+03+de+novembro+de+2010.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/conn...

108 Brasil. Resolução RDC nº 33, de 09 de março de 2001. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ee559000474595999d72dd3fbc4c6735/RDC_33_2001.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/conn...
-109109 Brasil. Resolução RDC nº 8, de 06 de março de 2013. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1cac3e004edacb17a9e8ab8a610f4177/RDC+N+08++2013+Aditivos+frutas+e+vegetais.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/conn...

Tabela 1
Principais categorias de surfactantes aprovados para uso alimentar e exemplos de estruturas químicas

Entretanto, a quantidade de surfactante requerida para estabilizar microemulsões em sistemas alimentícios, propriamente ditos, tem sido raramente discutida nas pesquisas levantadas. Portanto, essas informações práticas merecem ser mais exploradas. Salienta-se que os estudos têm reportado o comportamento de microemulsões em sistemas com uma composição controlada e com propriedades físico-químicas que, em muitos casos, não se aproximam daquelas que caracterizam muitos alimentos.1313 Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.,1919 Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654.,8484 Liu, F.; Wang, Z. W.; Chin. Chem. Lett.2010, 21, 105.,8585 Szymula, M.; J. Dispersion Sci. Technol.2004, 25, 129.

OUTRAS APLICAÇÕES DAS MICROEMULSÕES

As microemulsões preparadas com componentes biocompatíveis têm sua principal aplicação nas indústrias farmacêutica e de cosméticos. A utilização das microemulsões na tecnologia farmacêutica é relativamente recente e tem despertado grande interesse como sistema de liberação de drogas no organismo.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.,6868 Radomska, A.; Dobrucki, R.; Int. J. Pharm.2000, 196, 131.,7373 Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol. 2002, 7, 11.,110110 Silva, J. A.; Santana, D. P.; Bedor, D. G. C.; Borba, V. F. C.; Lira, A. A. M.; Egito, E. S. T.; Quim. Nova2009, 32, 1389.,111111 Oliveira, A. G.; Scarpa, M. V.; Correa, M. A.; Cera, L. F. R.; Formariz, T. P.; Quim. Nova2004, 27, 131. Este interesse justifica-se, entre outras razões, pelas facilidade de sua preparação e por apresentarem elevadas taxas de difusão e penetração na pele além da maximização da estabilidade dos fármacos e cosméticos na estocagem.55 Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev. 1995, 95, 849.

A principal desvantagem das microemulsões em relação às emulsões é a utilização de concentrações elevadas de surfactantes e co-surfactantes, possibilitando a ocorrência de irritação local.5252 Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448. Entretanto, esta limitação varia dependendo do uso pretendido para a preparação em questão, havendo maior disponibilidade de substâncias para produtos que visam a administração cutânea, sendo mais restritivas as aplicações parenterais e oftálmicas.7373 Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol. 2002, 7, 11.

Entre as demais aplicações importantes das microemulsões, citam-se as análises de combustíveis, biocombustíveis e lubrificantes, evidenciadas pela estabilização da amostra na determinação de, por exemplo: metais em gasolina;112112 Santos, D. S. S.; Korn, M. G. A.; Guida, M. A. B.; Santos, G. L.; Lemos, V. A.; Teixeira, L. S. G.; J. Braz. Chem. Soc.2011, 22, 552. análise direta de Cd, Pb e Tl em biodiesel;113113 Silva, J. S. A.; Chaves, E. S.; Santos, É. J.; Saint'Pierre, T. D.; Frescura, V. L. A.; Curtius, A. J.; J. Braz. Chem. Soc.2010, 21, 620. estudos eletroanalíticos para monitoramento da estabilidade de biocombustíveis114114 Silva, Y. P.; Dalmoro, V.; Ruiz, Y. P. M.; Capeletti, L. B.; Mendonça, C. R. B.; Santos, J. H. Z.; Piatnicki, C. M. S.; Anal. Methods2014, 6, 9212. e na extração de petróleo, baseada na baixa tensão interfacial e boa propriedade emoliente das microemulsões, que aumenta consideravelmente a mobilização das gotículas de óleo aprisionadas nos poros dos reservatórios.115115 Bera, A.; Kumar, T.; Ojha, K.; Mandal, A.; Fuel2014, 121, 198. Destaca-se também: a extração líquido-líquido e extração em duas fases de metais nobres de minérios com baixo teor, com extratores orgânicos dissolvidos na microemulsão;55 Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev. 1995, 95, 849.,116116 Zhu, T.; Hydrometallurgy1991, 27, 231. pesquisa de poluentes ambientais em amostras de solo e efluentes, por extração com microemulsões;117117 Dantas Neto, A. A.; Dantas, T. N. de C.; Moura, M. C. A.; J. Hazard. Mater.2004, 114, 115. emprego como aditivos em lubrificantes e óleos de corte. Neste caso, dois efeitos benéficos são potencializados, a inibição na corrosão, em função da presença do surfactante, e a elevação da capacidade térmica sem alterar a estabilidade termodinâmica do meio, devido ao incremento do conteúdo de água proporcionado pelas microemulsões. O primeiro sistema utilizado para esta finalidade foi patenteado em 1930,55 Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev. 1995, 95, 849. sendo empregado em processos de limpeza de tecidos ou superfícies sólidas, em razão da baixa tensão interfacial favorecer a remoção de contaminantes5757 Nitschke, M.; Pastore, G. M.; Quim. Nova2002, 25, 772.,7171 Li, X.; Kunieda, H.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2003, 8, 327.,7373 Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol. 2002, 7, 11. com ótimos resultados, bem como a melhoria na qualidade dos processos de tingimento e acabamento têxtil, devido a fatores como economia de corante, maior fixação e uniformidade do tingimento.118118 Paul, R.; Solans, C.; Erra, P.; Colloids Surf., A2005, 253, 175.

Já nas áreas de produção de nanopartículas de materiais como metais, supercondutores, materiais magnéticos e fotográficos, látex, entre outros, utilizando microemulsões como nanoreatores,119119 Gutiérrez-Becerra, A.; Martínez-Martínez, F.; Bárcena-Soto, M; Casillas, N.; Ceja, I.; Prévost, S.; Gradzielski, M.; Escalant, J. I.; Colloids Surf., A2014, 444, 63.

120 Pillai, V.; Kumar, P.; Hou, M. J.; Ayyub, P.; Shah, D. O.; Adv. Colloid Interface Sci.1995, 55, 241.

121 Pulišová, P.; Kováč, J.; Voigt, A.; Raschman, P.; J. Magn. Magn. Mater.2013, 341, 93.

122 Husein, M. M.; Rodil, E.; Vera, J. H.; J. Colloid Interface Sci. 2005, 288, 457.
-123123 Fernandes; M. T. C.; Kawachi, E. Y.; Quim. Nova2010, 33, 1242. estudos vêm sendo desenvolvidos desde a década de 80.

Por outro lado, devido à estrutura polifásica, microemulsões quando usadas como fase móvel representam uma ferramenta poderosa para a cromatografia líquida. O uso de microemulsão como eluente fornece um sistema de partição adicional, representado pelas gotículas de microemulsão e o meio contínuo e, portanto, oferece maior capacidade de separação dos componentes da mistura. Por exemplo, no caso de microemulsão óleo em água, as substâncias insolúveis em água irão se distribuir e solubilizar nas gotículas de óleo, enquanto as substâncias hidrofílicas permanecerão na fase aquosa contínua. Vemić e colaboradores estudaram os aspectos físico-químicos que regulam a partição de Pramipexol e sua impurezas por cromatografia líquida, utilizando microemulsão como fase móvel, e observaram que a retenção de impurezas foi influenciada pela composição da fase móvel.124124 Vemić, A. M.; Malenović, A. M.; Rakić, T. M; Kostić, N. M.; Jančić-Stojanović, B. S.; Ivanović, D. P.; Medenica, M. B.; J. Braz. Chem. Soc.2012, 23, 2084.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As numerosas aplicações, bem como o aumento do número de grupos de pesquisa engajados no estudo de microemulsões, demonstram sua importância em muitos ramos da química, com uma expectativa de intensificação de seu uso em um futuro próximo.

A aplicação de microemulsões na ciência e tecnologia de alimentos é temática bastante sugerida pela literatura, porém a maior parte dos trabalhos testando essas aplicações reporta dados incompletos, ou mesmo parciais, evidenciando a necessidade de novos estudos. A influência de parâmetros físico-químicos, tais como temperatura, composição química, concentração, salinidade, condutividade elétrica, pressão osmótica e pH sobre a estabilidade de microemulsões tem sido relatada na literatura, entretanto, em condições diferentes das encontradas nos alimentos. Neste caso, uma vez fazendo parte das formulações, as microemulsões devem resistir às diferentes variações físicas e químicas que um produto pode experimentar ao longo das etapas de processamento, tais como flutuações de pressão e temperatura, forças mecânicas de agitação, fluxo e vibrações, variações no pH, força iônica, interações entre ingredientes, exposição ao oxigênio e a micro-organismos. Há, portanto, a necessidade de se verificar a influência de diferentes operações unitárias sobre a estabilidade e comportamento de microemulsões quando essas se encontram dissolvidas em alimentos.

Do ponto de vista de segurança alimentar, a aplicação de microemulsões em alimentos requer o uso de ingredientes de grau alimentício. Esse fato é bastante desafiador, visto que raros são os surfactantes e co-surfactantes biocompatíveis disponíveis no mercado. Buscando-se contornar esse problema, houve, ao longo dos últimos anos, um crescente número de pesquisas sobre a aplicação de novos ingredientes com essas funções. Adicionalmente, merecem atenção estudos que esclareçam melhor o mecanismo de ação de microemulsões e de conservantes microemulsionados como agentes antimicrobianos, que elucidem o sinergismo entre microemulsões e conservantes alimentares, e que demonstrem a estabilidade de nutrientes e aditivos alimentares microemulsionados frente a diferentes variáreis. A solução desses questionamentos é fundamental à otimização da aplicação de microemulsões no desenvolvimento e processamento de produtos alimentícios.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e à FAPERGS.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Solans, C.; Pons, R.; Kunieda, H.; Industrial Applications of Microemulsions, Dekker: New York, 1997.
  • 2
    Fanun, M.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2012, 17, 306.
  • 3
    Xu, J.; Yin, A.; Zhao, J.; Li, D.; Hou, W.; J. Phys. Chem. B2013, 117, 450.
  • 4
    Gullón, J. S.; Montiel, V. R.; Clavilier, A.; J. Electroanal. Chem.2003, 554-555, 273.
  • 5
    Schwuger, M. J.; Schomäcker, R.; Chem. Rev 1995, 95, 849.
  • 6
    Klier, J.; Tucker, C. J.; Kalantar, T. H.; Green, D. P.; Adv. Mater2000, 12, 1751.
  • 7
    Gradzielski, M.; Hoffmann, H.; J. Phys. Chem.1994, 98, 2613.
  • 8
    Romero, J. S. E.; Afonso, E. F. S.; Alvarez-Coque, M. G. G.; Ramos, G. R.; Anal. Chim. Acta1990, 235, 317.
  • 9
    Burguera, J. L.; Burguera, M.; Talanta2012, 96, 11.
  • 10
    Mendonça, C.R.B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Electrophoresis2005, 26, 858.
  • 11
    Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2008, 19, 775.
  • 12
    Mendonça, C. R.B.; Silva, Y. P.; Böckel, W. J.; Simó-Alfonso, E. F.; Ramis-Ramos, G.; Piatnicki, C. M. S.; Bica, C. I. D.; J. Colloid Interface Sci.2009, 337, 579.
  • 13
    Edris, A. E.; Malone, C. R.; Procedia Food Sci.2011, 1, 1821.
  • 14
    Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2012, 26, 268.
  • 15
    Ziani, K.; Fang, Y.; McClements, D. J.; Food Res. Int.2012, 46, 209.
  • 16
    Chiu, Y. C.; Yang, W. L.; Colloids Surf.1992, 63, 311.
  • 17
    Drach, M.; Narkiewicz-Michałek, J.; Sienkiewicz, A.; Szymula, M.; Bravo-Diaz, C.; Colloids Surf., A2011, 379, 79.
  • 18
    Feng, J. -L.; Wang, Z. -W.; Zhang, J.; Wang, Z. -N.; Liu, F.; Colloids Surf., A2009, 339, 1.
  • 19
    Deutch-Kolevzon, R.; Aserin, A.; Garti, N.; Chem. Phys. Lipids2011, 164, 654.
  • 20
    Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chen, H.-C.; Yu, M.-W.; Lee, M.-H.; Food Chem.2009, 116, 923.
  • 21
    Loveday, S. M.; Singh, H.; Trends Food Sci. Technol.2008, 19, 657.
  • 22
    Fu, X.; Feng, F.; Huang, B.; Int. J. Pharm.2006, 321, 171.
  • 23
    Gaysinsky, S.; Davidson, P. M.; Food Biophysics2008, 3, 54.
  • 24
    Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495.
  • 25
    Mendonça, C. R. B.; Bica, C. I. D.; Piatnicki, C. M. S.; J. Braz. Chem. Soc.2003, 4, 628.
  • 26
    Hoar, T. P.; Schulman, J. H.; Nature1943, 152, 102.
  • 27
    Langevin, D.; Acc. Chem. Res.1988, 21, 255.
  • 28
    Schulman, J. H.; Stoeckenius, W.; Prince, L. M.; J. Phys. Chem.1959, 63, 1677.
  • 29
    McBain J. W.; Trans. Faraday Soc 1913, 9, 99.
  • 30
    Hartley G. S.; Aqueous solutions of paraffin-chain salts: a study in micelle formation, Hermann & Cie: Paris, 1936.
  • 31
    Debye P., Huckel E.; Phys. Z.1923, 24, 185.
  • 32
    Derjaguin, B. V.; Kolloid-Z.1934, 69, 155.
  • 33
    London, F.; Trans. Faraday Soc.1937, 33, 8b.
  • 34
    Levine, S; Dube, G. P; Trans. Faraday Soc.1939, 35, 1125.
  • 35
    Verwey, E. J. W.; Overbeek, J. T. G.; Theory of the stability of lyophobic colloids, Elsevier Publishing Co: New York, 1948.
  • 36
    Tanford, C.; The hydrophobic effect: formation of micelles and biological membranes, 2th ed., John Wiley: New York, 1980.
  • 37
    Clarke, S.; J. Chem. Educ 1981, 58, A246.
  • 38
    Rosevear, F. B.; J. Am. Oil Chem. Soc.1954, 31, 628.
  • 39
    Mandell, L.; Fontell, K.; Ekwall, P. In Ordered Fluids and Liquid Crystals; Porter, R. S.; Johnson, J. F., eds.; American Chemical Society: Washington, 1967, p. 89-124.
  • 40
    Ekwall, P.; Mandell, L.; Kolloid Z. Z. Polym.1969, 233, 938.
  • 41
    Ekwall, P.; Mandell, L.; Fontell, K.; Liquid crystals, Gordon and Breach: London, 1969.
  • 42
    Israelachvili, J. N.; Mitchell, D. J.; Ninham, B. W.; J. Chem. Soc. Faraday Trans.1976, 72, 1525.
  • 43
    Mitchell, D. J.; Ninham, B. W.; J. Chem. Soc. Faraday Trans.1981, 77, 601.
  • 44
    Danielsson, I.; Lindman, B.; Colloids Surf.1981, 3, 391.
  • 45
    Anton, N.; Vandamme, T. F.; Pharm. Res.2011, 28, 978.
  • 46
    McClements, D. J.; Soft Matter2012, 8, 1719.
  • 47
    Solans, C.; Aramaki, K.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2008, 13, 195.
  • 48
    Bruxel, F.; Laux, M.; Wild, L. B.; Fraga, M.; Koester, L. S.; Teixeira, H. F.; Quim. Nova,2012, 35, 1827.
  • 49
    Vandamme, T. F.; Prog. Retinal Eye Res.2002, 21, 15.
  • 50
    Popovych, O.; Tomkins, R.; Nonaqueous Solution Chemistry, John Wiley: New York, 1981.
  • 51
    Chodzinska, A.; Zdziennicka, A.; Janczuk, B.; J. Solution Chem.2012, 41, 2226.
  • 52
    Kalaitzaki, A.; Emo, M.; Stébé, M. J.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Food Res. Int.2013, 54, 1448.
  • 53
    Yang, Y.; McClements, D. J.; Food Chem.2013, 141, 473
  • 54
    Baruah, B.; Roden, J. M.; Sedgwick, M.; Correa, N. M.; Crans, D. C.; Levinger, N. E.; J. Am. Chem. Soc.2006, 128, 12758.
  • 55
    Watarai, H.; J. Chromatogr. A1997, 780, 93.
  • 56
    Lopez-Quintela, M. A.; Tojo, C.; Blanco, M. C.; Garcıa-Rio, L.; Leis, J. R.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2004, 9, 264.
  • 57
    Nitschke, M.; Pastore, G. M.; Quim. Nova2002, 25, 772.
  • 58
    Solomons, T. W. G.; Fryhle, C. B.; Química Orgânica, Vol. 1, 7a ed., LTC Editora: Rio de Janeiro, 2001.
  • 59
    Atkins, P. W.; Físico-Química, Vol. 1, LTC, Editora: Rio de Janeiro, 1999.
  • 60
    Salager, J. L. In Emulsions and emulsion stability; Johan Sjoblom, ed.; CRC Press: Boca Raton, 2006, cap. 4.
  • 61
    West, C. C.; Harwell, J. H.; Environ. Sci. Technol 1992, 26, 2324.
  • 62
    Maniasso, N.; Quim. Nova2001, 24, 87.
  • 63
    Lawrence, M. J.; Rees, G. D.; Adv. Drug Deliv. Rev.2000, 45, 89.
  • 64
    Moulik, S. P.; Digout, L. G.; Alylward, W. M.; Palepu, R.; Langmuir2000, 16, 3101.
  • 65
    Herrero-Martínez, J. M.; Simó-Alfonso, E. F.; Mongay-Fernández, C.; Ramis-Ramos, G.; J. Chromatogr. A2000, 895, 227.
  • 66
    Fattal, E.; Couvreur, P.; Puisieux, F. Em Méthodes de préparation des liposomes; Delattre, J.; Couvreur, P.; Puisieux, F.; Phillipot, J. R.; Schuber, F., eds; Les liposomes, Les Editions INSERM: Paris, 1993, Cap. 2.
  • 67
    Warisnoicharoen, W.; Lansley, A. B.; Lawrence, M. J.; Int. J. Pharm.2000, 198, 7.
  • 68
    Radomska, A.; Dobrucki, R.; Int. J. Pharm.2000, 196, 131.
  • 69
    Kalaitzaki, A.; Poulopoulou, M.; Xenakis, A.; Papadimitriou, V.; Colloid. Surf. A2014, 442, 80.
  • 70
    Capek, I.; Adv. Colloid Interface Sci 2004, 110, 49.
  • 71
    Li, X.; Kunieda, H.; Curr. Opin. Colloid Interface Sci.2003, 8, 327.
  • 72
    Davis, H.T.; Colloids Surf. A1994, 91, 9.
  • 73
    Altria, K. D.; J. Capillary Electrophor. Microchip Technol 2002, 7, 11.
  • 74
    Singh, H. N.; Prasad, Ch. D.; Kumar, S.; J. Am. Oil Chem. Soc.1993, 70, 69.
  • 75
    Atkins, P.; Jones, L.; Chemical Principles: The Quest for Insight, Freeman: New York, 1999.
  • 76
    Furlanetto, S.; Cirri, M.; Piepel, G.; Mennini, N.; Mura, P.; J. Pharm. Biomed. Anal.2011, 55, 610.
  • 77
    Singla, M.; Patanjali, P. K.; Ind. Crops Prod.2013, 44, 421.
  • 78
    Lin, C.-C.; Lin, H.-Y.; Chi, M.-H.; Shen, C.-M.; Chen, H.-W.; Yang, W.-J.; Lee, M.-H.; Food Chem 2014, 154, 282.
  • 79
    Santana, R. C.; Fasolin, L. H.; Cunha, R. L.; Colloids Surf., A2012, 398, 54.
  • 80
    Furlanetto, S.; Orlandini, S.; Marras, A. M.; Mura, P.; Pinzaut, S.; Electrophoresis2006, 27, 805.
  • 81
    Zheng, M.-Y.; Liu, F.; Wang, Z.-W.; Baoyindugurong, J.-H.; Colloid J.2011, 73, 319.
  • 82
    Fennema, O. R.; Química de alimentos, 4ª ed., Artmed: Porto Alegre, 2010.
  • 83
    Rao, J.; McClements, D. J.; Food Hydrocolloids2011, 25, 1413.
  • 84
    Liu, F.; Wang, Z. W.; Chin. Chem. Lett.2010, 21, 105.
  • 85
    Szymula, M.; J. Dispersion Sci. Technol.2004, 25, 129.
  • 86
    Amar, I.; Aserin, A.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2003, 51, 4775.
  • 87
    Spernath, A.; Yaghmur, A.; Aserin, A.; Hoffman, R. E.; Garti, N.; J. Agric. Food Chem.2002, 50, 6917.
  • 88
    Garti, N.; Yaghmur, A.; Aserin, A.; Spernath, .; Elfakess, R.; Ezrahi, S.; Colloids Surf., A2004, 230, 183.
  • 89
    Zhong, F.; Yu, M.; Luo, C.; Shoemaker, C. F.; Li, Y.; Xia, S.; Ma, J.; Food Chem.2009, 115, 539.
  • 90
    Ferreira, J. P.; Alves, D.; Neves, O.; Silva, J.; Gibbs, P. A.; Teixeira, P. C.; Food Control2010, 21, 227.
  • 91
    Al-Adham, I. S. I.; Khalil, E.; Al-Hmoud, N. D.; Kierans, M.; Collier, P. J.; J. Appl. Microbiol.2000, 89, 32.
  • 92
    Teixeira, P. C.; Leite, G. M.; Domingues, R. J.; Silva, J.; Gibbs, P.; Ferreira, J. P.; Int. J. Food Microbiol.2007, 118, 15.
  • 93
    Zhang, H.; Cui, Y.; Zhu, S.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Pharm.2010, 395, 154.
  • 94
    Al-Adham, I. S. I.; Al-Hmoud, N. D.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Lett. Appl. Microbiol.2003, 36, 97.
  • 95
    Al-Adham, I. S. I.; Ashour, H.; Al-Kaissi, E.; Khalil, E.; Kierans, M.; Collier, P. J.; Int. J. Pharm.2013, 454, 226.
  • 96
    Zhang, H.; Shen, Y.; Weng, P.; Zhao, G.; Feng, F.; Zheng, X.; Int. J. Food Microbiol.2009, 135, 211.
  • 97
    Ieggli, C. V. S.; Bohrer, D.; Nascimento, P. C.; Carvalho, L. M.; Gobo, L. A.; J. Food Compos. Anal.2011, 24, 465.
  • 98
    Nunes, L. S.; Barbosa, J. T. P.; Fernandes, A. P.; Lemos, V. A.; Santos, W. N. L.; Korn, M. G. A.; Teixeira, L. S. G.; Food Chem.2011, 127, 780.
  • 99
    Huang, H.-Y.; Chuang, C.-L.; Chiu, C.-W.; Yeh, J.-M.; Food Chem.2005, 89, 315.
  • 100
    Noguera-Ortí, J. F.; Villanueva-Camañas, R. M.; Ramis-Ramos, G.; Anal. Chim. Acta1999, 387, 127.
  • 101
    Romero, L.; Keunchkarian, S.; Reta, M.; Anal. Chim. Acta2006, 565, 136.
  • 102
    Liotta, E.; Gottardo, R.; Seri, C.; Rimondo, C.; Miksik, I.; Serpelloni, G.; Tagliaro, F.; Forensic Sci. Int.2012, 220, 279
  • 103
    Ting, Y.; Jiang, Y.; Ho, C. -T.; Huang, Q.; J. Funct. Foods2014, 7, 112.
  • 104
    Fisher, S.; Wachtel, E. J.; Aserin, A.; Garti, N.; Colloids Surf., B2013, 107, 35.
  • 105
    Zhang, H.; Shen, Y.; Bao, Y.; He, Y.; Feng, F.; Zheng, X.; Food Res. Int.2008, 41, 495.
  • 106
    Klossek, M. L.; Marcus, J.; Touraud, D.; Kunz, W.; Colloids Surf., A2014, 442, 105.
  • 107
    Brasil. Resolução RDC nº 45, de 03 de novembro de 2010. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/11707300474597459fc3df3fbc4c6735/Resolu%C3%A7%C3%A3o+da+Diretoria+Colegiada++RDC+n++45+de+03+de+novembro+de+2010.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
    » http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/11707300474597459fc3df3fbc4c6735/Resolu%C3%A7%C3%A3o+da+Diretoria+Colegiada++RDC+n++45+de+03+de+novembro+de+2010.pdf?MOD=AJPERES
  • 108
    Brasil. Resolução RDC nº 33, de 09 de março de 2001. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ee559000474595999d72dd3fbc4c6735/RDC_33_2001.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
    » http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ee559000474595999d72dd3fbc4c6735/RDC_33_2001.pdf?MOD=AJPERES
  • 109
    Brasil. Resolução RDC nº 8, de 06 de março de 2013. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1cac3e004edacb17a9e8ab8a610f4177/RDC+N+08++2013+Aditivos+frutas+e+vegetais.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 29 de julho de 2015.
    » http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1cac3e004edacb17a9e8ab8a610f4177/RDC+N+08++2013+Aditivos+frutas+e+vegetais.pdf?MOD=AJPERES
  • 110
    Silva, J. A.; Santana, D. P.; Bedor, D. G. C.; Borba, V. F. C.; Lira, A. A. M.; Egito, E. S. T.; Quim. Nova2009, 32, 1389.
  • 111
    Oliveira, A. G.; Scarpa, M. V.; Correa, M. A.; Cera, L. F. R.; Formariz, T. P.; Quim. Nova2004, 27, 131.
  • 112
    Santos, D. S. S.; Korn, M. G. A.; Guida, M. A. B.; Santos, G. L.; Lemos, V. A.; Teixeira, L. S. G.; J. Braz. Chem. Soc.2011, 22, 552.
  • 113
    Silva, J. S. A.; Chaves, E. S.; Santos, É. J.; Saint'Pierre, T. D.; Frescura, V. L. A.; Curtius, A. J.; J. Braz. Chem. Soc.2010, 21, 620.
  • 114
    Silva, Y. P.; Dalmoro, V.; Ruiz, Y. P. M.; Capeletti, L. B.; Mendonça, C. R. B.; Santos, J. H. Z.; Piatnicki, C. M. S.; Anal. Methods2014, 6, 9212.
  • 115
    Bera, A.; Kumar, T.; Ojha, K.; Mandal, A.; Fuel2014, 121, 198.
  • 116
    Zhu, T.; Hydrometallurgy1991, 27, 231.
  • 117
    Dantas Neto, A. A.; Dantas, T. N. de C.; Moura, M. C. A.; J. Hazard. Mater.2004, 114, 115.
  • 118
    Paul, R.; Solans, C.; Erra, P.; Colloids Surf., A2005, 253, 175.
  • 119
    Gutiérrez-Becerra, A.; Martínez-Martínez, F.; Bárcena-Soto, M; Casillas, N.; Ceja, I.; Prévost, S.; Gradzielski, M.; Escalant, J. I.; Colloids Surf., A2014, 444, 63.
  • 120
    Pillai, V.; Kumar, P.; Hou, M. J.; Ayyub, P.; Shah, D. O.; Adv. Colloid Interface Sci.1995, 55, 241.
  • 121
    Pulišová, P.; Kováč, J.; Voigt, A.; Raschman, P.; J. Magn. Magn. Mater.2013, 341, 93.
  • 122
    Husein, M. M.; Rodil, E.; Vera, J. H.; J. Colloid Interface Sci 2005, 288, 457.
  • 123
    Fernandes; M. T. C.; Kawachi, E. Y.; Quim. Nova2010, 33, 1242.
  • 124
    Vemić, A. M.; Malenović, A. M.; Rakić, T. M; Kostić, N. M.; Jančić-Stojanović, B. S.; Ivanović, D. P.; Medenica, M. B.; J. Braz. Chem. Soc.2012, 23, 2084.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov 2015

Histórico

  • Recebido
    16 Jan 2015
  • Aceito
    18 Jun 2015
Sociedade Brasileira de Química Secretaria Executiva, Av. Prof. Lineu Prestes, 748 - bloco 3 - Superior, 05508-000 São Paulo SP - Brazil, C.P. 26.037 - 05599-970, Tel.: +55 11 3032.2299, Fax: +55 11 3814.3602 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: quimicanova@sbq.org.br