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APLICAÇÕES E IMPLICAÇÕES DO OZÔNIO NA INDÚSTRIA, AMBIENTE E SAÚDE

Resumo

OZONE APPLICATIONS AND IMPLICATIONS FOR INDUSTRY, ENVIRONMENT, AND HEALTH. Stratospheric ozone is an efficient filter for ultraviolet radiation, which damages organisms’ lives exposed to sunlight. In the troposphere, ozone is essential to oxidate volatile organic compounds, but its effects are harmful to animals and plants, particularly humans. The high reactivity of ozone with some organic compounds makes it a promising agent for several applications, such as microbiological control and the medical field. However, their contact with surfaces containing unsaturated substances and other compounds can result in the formation of products that are harmful to human health or distort the organoleptic and structural properties of food. The results available in the literature are often divergent as to their safety and economic viability. Despite this, there are many cases of dermatological applications, and as sanitizing agents in several environments. Antiviral and bactericide properties were that guided the expansion of ozone application in the current coronavirus pandemic (COVID-19). However, more studies should be carried out to comprove its effectiveness, considering possible damages resulting from these applications.

Keywords:
public health; sanitizing agent; ozone therapy; photochemical pollution


INTRODUÇÃO

A troposfera (camada da atmosfera com cerca de 10 a 15 km acima do nível do mar) é constituída por uma variedade de gases e partículas, os quais podem ser emitidos diretamente (primários) ou formados como produto de reações químicas na atmosfera (secundários). Eles são denominados poluentes atmosféricos quando se apresentam em níveis de concentração que os tornem nocivos à saúde humana e danosos aos materiais, animais e vegetais.11 Seinfeld, J. H.; Contaminacion atmosferica: fundamentos físicos e químicos; Instituto de Estudos de Administracion Local: Madri, 1978. Os poluentes primários e secundários podem ocasionar efeitos deletérios aos organismos vivos; esse é o caso do ozônio (O3), que embora seja potencialmente danoso sozinho, sua ação aumenta na presença de compostos orgânicos voláteis (COVs) e dióxido de nitrogênio (NO2), moléculas precursoras que favoreceram sua formação na troposfera.22 Seinfeld, J. H.; Atmospheric chemistry and physics of air pollution; John Willey & Sons: New York, 1986.

3 Ichinose, T.; Sagai, M.; Toxicology 1989, 59, 259.

4 Gelzleichter, T. R.; Witschi, H.; Last, J. A.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 1992, 112, 73.
-55 Gelzleichter, T. R.; Witschi, H.; Last, J. A.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 1992, 116, 1.

O ozônio, em altas concentrações, é um gás de coloração levemente azulada. No estado líquido, fase em que assume caráter explosivo, é azul, enquanto no estado sólido, apresenta a cor violeta-escuro. Seus pontos de fusão e ebulição são respectivamente -192 °C e -112 °C. Possivelmente, o odor pungente do ozônio ajudou na sua descoberta. Em experimentos envolvendo eletricidade e faíscas elétricas, conduzidos pelo químico Martinus van Marum em 1785, foi relatado um odor peculiar, que em 1839 Christian Friedrich Schönbein chamou de “ozônio”, palavra de origem grega que significa cheirar.66 Rubin, M. B.; Bull. Hist. Chem. 2001, 26, 40. Seu odor bastante forte, possibilita sua detecção por olfato até mesmo em concentrações inferiores a 0,5 ppm em volume de ar.77 De Novais, V. L. D.; Ozônio: aliado e inimigo, 1st ed., Ed. Scipione: São Paulo, 1998. O ozônio é um gás altamente oxidante (E0 = 2,1 V) e possui a capacidade de clivar ligações duplas entre carbonos (>C=C<). Essas características o tornam excelente no tratamento de efluentes e como agente desinfetante para obtenção de água potável. O ozônio e o cloro estão entre os agentes mais usados em processos para obtenção de água potável no mundo. Os principais métodos utilizados para produção de ozônio são baseados em descarga elétrica, irradiação ultravioleta (UV) ou por efeito corona; este último tem sido o mais usado.88 Kunz, A.; Freire, R. S.; Rohwedder, J. J. R.; Duran, N.; Mansilla, H.; Rodriguez, J.; Quim. Nova 1999, 22, 425. No ambiente, o ozônio está presente em maior quantidade na estratosfera, onde é responsável pela absorção de grande parte dos raios ultravioleta do sol, que são danosos aos animais e vegetais. Preservar o ozônio na estratosfera é essencial para a vida na Terra. Entretanto, sua presença na troposfera em concentrações elevadas, pode ter efeitos nocivos aos organismos vivos e ocasionar problemas ao ambiente.99 Wayne, R. P.; Chemistry of atmospheres, 3rd ed., Oxford: New York, 2000.

10 Mudway, I. S.; Kelly, F. J.; Mol. Aspects Med. 2000, 21, 1.
-1111 Ruidavets, J. B.; Cournot, M.; Cassadou, S.; Giroux, M.; Meybeck, M.; Ferrières, J.; Circulation 2005, 111, 563. Estudos demonstraram que o O3 é responsável por grande parte da poluição fotoquímica, ocasionando danos mesmo em concentrações abaixo dos atuais limites preconizados pelas agências ambientais.1010 Mudway, I. S.; Kelly, F. J.; Mol. Aspects Med. 2000, 21, 1.,1212 Aulakh, G. K.; Brocos Duda, J. A.; Guerrero Soler, C. M.; Snead, E.; Singh, J.; Physiol. Rep. 2020, 8, e14463. Além disso, há evidências de que os efeitos da exposição ao O3 podem ser intensificados na presença de outros componentes atmosféricos. Existem também relatos baseados na comparação entre os prejuízos causados pelo O3 ou por atmosferas contendo misturas de aerossóis e NO2, sugerindo um efeito sinérgico na presença de outros poluentes, mesmo em níveis conhecidamente não prejudiciais para a substância isolada.1313 World Health Organization. Health aspects of air pollution with particulate matter, ozone and nitrogen dioxide, disponível em: http://www.euro.who.int/document/e79097.pdf, acessada em abril 2021.
http://www.euro.who.int/document/e79097....
,1414 Liu, F.; Environ. Sci. Technol. 1998, 32, 32A.

Para pessoas sem morbidades, a variabilidade na concentração de ozônio pode ser imperceptível; no entanto, para grupos susceptíveis, como asmáticos, idosos, cardíacos,1515 Ruidavets, J.-B.; Cournot, M.; Cassadou, S.; Giroux, M.; Meybeck, M.; Ferrières, J.; Circulation 2005, 111, 563. entre outros, pode acarretar em graves efeitos colaterais.1616 Mortimer, K. M.; Tager, I. B.; Dockery, D. W.; Neas, L. M.; Redline, S.; Am. J. Respir. Crit. Care Med. 2000, 162, 1838. Estudos detalhados feitos por cerca de 14 anos, em 95 comunidades urbanas dos Estados Unidos da América (EUA), mostraram os dados de mortalidade relacionados com a concentração de ozônio troposférico.1717 Bell, M. L.; Mcdermott, A.; Zeger, S. L.; Samet, J. M.; Forestry 2004, 292, 2372. Os autores afirmaram que um aumento de 10 ppb em uma exposição a curto prazo ao ozônio, pode contribuir com 0,52% na mortalidade. Outros autores avaliaram dados de cidades europeias e verificaram que uma exposição a 25,5 ppb estava relacionada com um aumento na mortalidade de até 2,9%.1818 Touloumi, G.; Katsouyanni, K.; Zmirou, D.; Schwartz, J.; Spix, C.; Ponce De Leon, A.; Tobias, A.; Quennel, P.; Rabczenko, D.; Bacharova, L.; Bisanti, L.; Vonk, J. M.; Ponka, A.; Am. J. Epidemiol. 1997, 146, 177.

A importância da qualidade do ar tem resultado em preocupação junto aos órgãos legisladores pelo mundo. Na União Europeia (UE), o valor alvo para a concentração máxima média móvel de ozônio em 8 horas é de 120 μg m-3, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece 100 μg m-3.1919 https://www.who.int/airpollution/publications/aqg2005/en/, acessada em abril 2021.
https://www.who.int/airpollution/publica...
,2020 https://www.eea.europa.eu/themes/air/air-quality-concentrations/air-quality-standards, acessada em abril 2021.
https://www.eea.europa.eu/themes/air/air...
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, United States Environmental Protection Agency) estabelece um valor máximo de 0,070 ppm (ca. 137 μg m-3).2121 https://www.epa.gov/criteria-air-pollutants/naaqs-table#3, acessada em abril 2021.
https://www.epa.gov/criteria-air-polluta...
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelece 140 μg m-3 como máxima concentração média móvel de ozônio durante 8 horas, com perspectiva de reduzir esse valor para 100 μg m-3.2222 Resolução N. 491, de 19 de Novembro de 2018, http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=740, acessada em abril 2021.
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legia...

Apesar da alta letalidade do ozônio, quando inalado mesmo em baixas concentrações, seu uso tem sido sugerido para solucionar diversos problemas do mundo moderno. Isso decorre, possivelmente, das suas qualidades como agente germicida, bactericida e de limpeza química, além do baixo custo, portabilidade e facilidade de operação dos ozonizadores. Equipamentos residenciais para purificação de água e desodorizantes de ambientes são comumente encontrados no comércio. Porém, sua aplicação que mais tem crescido é em tratamentos médicos e odontológicos. Em 2016, a “Food and Drug Administration” proibiu o uso medicinal de ozônio, afirmando tratar-se de um gás tóxico, sem aplicação médica conhecida, mesmo como terapia auxiliar, e também desaconselha seu uso como germicida.2323 U.S. Food and Drug Administration, Maximum acceptable level of ozone, https://www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/cfdocs/cfcfr/CFRsearch.cfm?fr=801.415#:~:text=(1) In such a manner,C (77 deg, acessada em abril 2021.
https://www.accessdata.fda.gov/scripts/c...
No Brasil, o Ministério da Saúde inclui a ozonioterapia dentre as práticas integrativas e complementares que são custeadas pelo Sistema Único de Saúde. A Portaria N° 702, 21 de março de 2018 do Ministério da Saúde, descreve essa prática como “de baixo custo, segurança comprovada e reconhecida, que utiliza a aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas vias de administração (...). A molécula de ozônio é molécula biológica, presente na natureza e produzida pelo organismo sendo que o ozônio medicinal, nos seus diversos mecanismos de ação, representa um estímulo que contribui para a melhora de diversas doenças, uma vez que pode ajudar a recuperar de forma natural a capacidade funcional do organismo humano e animal”. Observação: os destaques foram dados pelos autores deste artigo.

Durante o ano de 2020, impulsionado pela necessidade de respostas rápidas e eficientes para desinfectar ambientes de possíveis contaminações com o novo coronavírus (COVID-19), têm-se buscado alternativas diversas para os procedimentos de descontaminação de materiais e ambientes. A produção de câmaras ou túneis para pulverização de ozônio em humanos e/ou equipamentos de proteção, a higienização de automóveis e de ambientes fechados, ou até mesmo um traje para descontaminação têm sido desenvolvidos. No entanto, pouca atenção tem sido dada a toxicidade do ozônio, formação de subprodutos, nível de concentração segura e precauções necessárias. A literatura é bastante extensa e controversa em relação a estes pontos. Nesse sentido, a presente revisão visa ampliar a discussão sobre a real necessidade do emprego indiscriminado do ozônio, especialmente a que coloca a população em contato direto com essa substância ou seus subprodutos. Outro aspecto a ser considerado é o risco/ganho efetivo, ao empregar este poderoso oxidante em diversos processos.

OZÔNIO Na TROPOSFERA

Diversos oxidantes podem ser encontrados no ar ambiente, sendo os principais: O3, H2O2, HO, HO2, NO3 e nitrato de peroxiacetil (PAN). O O3 está envolvido diretamente ou indiretamente em diversas cadeias de oxidação primárias que ocorrem na atmosfera para formação desses oxidantes.99 Wayne, R. P.; Chemistry of atmospheres, 3rd ed., Oxford: New York, 2000. A geração do ozônio na troposfera ocorre através da interação de NO2 com a radiação eletromagnética (entre 295 e 430 nm), formando óxido nítrico (NO) e oxigênio atômico (O), que ao reagir com oxigênio molecular (O2) produz O3, conforme equações (1) e (2), em que M é uma molécula que absorve o excesso de energia (geralmente N2 ou O2).2424 Finlayson-Pitts, B. J.; Pitts, Jr, J. N.; Atmospheric chemistry: fundamentals and experimental techniques; 1st ed.; Wiley: New York, 1986.,2525 Baird, C.; Cann, M.; Química Ambiental; 4th ed.; Bookman: Porto Alegre, 2011.

(1)NO2+hv(λ<430 nm)NO+O
(2)O+O2+MO3+M

Em atmosferas limpas, o NO2 é formado por meio da reação de oxidação do NO pelo O3, de modo que sua fotodecomposição (equação 1), a formação do O3 (equação 2) e seu posterior consumo, através da reação com NO (equação 3), resultam em um estado estacionário.2626 Moore, J. W.; Moore, E. A.; Environmental chemistry; Academic Press: New York, 1976.,2727 Parrish, D.D.; Ryerson, T.B.; Holloway, J.S.; Trainer, M.; Fehsenfeld, F. C.; Atmos. Environ. 1999, 33, 5147.

(3)NO+O3NO2+O2

O aumento na concentração de O3 na troposfera deve-se à presença de quantidades significativas de NOx e COVs, os quais são emitidos a partir de fontes antrópicas diversas e também são liberados de forma natural pela vegetação. Esses compostos competem com o ozônio na oxidação do NO para formação do NO2.2828 Chan, L. Y.; Liu, H. Y.; Lam, K. S.; Wang, T.; Oltmans, S. J.; Harris, J. M.; Atmos. Environ. 1998, 32, 159. Como resultado, o equilíbrio fotoestacionário é quebrado e a concentração do ozônio aumenta, principalmente quando a relação entre COVs/NOx tende a excessos de COVs.2929 Geraldino, C. G. P.; Arbilla, G.; da Silva, C. M.; Corrêa, S. M.; Martins, E. M.; Environ. Monit. Assess. 2020, 192.

O O3 formado promove diversas cadeias de reações atmosféricas. A principal reação é iniciada pela fotólise do ozônio em presença de vapor d’água, gerando radicais hidroxil (equação 5).2424 Finlayson-Pitts, B. J.; Pitts, Jr, J. N.; Atmospheric chemistry: fundamentals and experimental techniques; 1st ed.; Wiley: New York, 1986.,2828 Chan, L. Y.; Liu, H. Y.; Lam, K. S.; Wang, T.; Oltmans, S. J.; Harris, J. M.; Atmos. Environ. 1998, 32, 159.

(4)O3+hv(λ320 nm)O+O2
(5)O+H2O2HO

A contribuição dos radicais HO na oxidação dos COVs, que resulta na conversão do NO a NO2 e, consequentemente, no incremento na concentração de O3, pode ser descrita em um modelo simplificado na sequência de reações radicalares (equação 6).

(6)RH+HOH2O+RR+O2RO2RO2+NONO2+RORO+O2HO2+RCHO ou RCOR HO2+NONO2+HO}

Os COVs (RH) entram na cadeia de oxidação pela reação com os radicais HO, iniciadores das reações que, posteriormente, resultam na formação do O3. Os radicais orgânicos formados (R) geram radicais peróxi (RO2 e HO2), os quais são responsáveis pela oxidação do NO a NO2. Concentrações altas de COVs resultam na maior produção de O3 na troposfera, pois os radicais peróxi formados atuam como oxidantes de NO, aumentando, desta forma, a concentração da molécula precursora de O3 na troposfera (NO2) e minimizando a principal via de eliminação do ozônio formado (equação 3), que envolve a conversão do NO a NO2.99 Wayne, R. P.; Chemistry of atmospheres, 3rd ed., Oxford: New York, 2000. O aumento do ozônio na troposfera é consequência dessas reações e produto da emissão indiscriminada de COVs e NO por atividades antrópicas. Estudos sobre o ozônio troposférico relatam que aos fins de semana, devido ao menor fluxo de veículos movidos a diesel (reconhecido emissor de NOx), ocorre um aumento nas concentrações de O3, o que mostra o papel importante do NO no consumo de ozônio e formação do NO2.2929 Geraldino, C. G. P.; Arbilla, G.; da Silva, C. M.; Corrêa, S. M.; Martins, E. M.; Environ. Monit. Assess. 2020, 192.

30 Teixeira, E. C.; de Santana, E. R.; Wiegand, F.; Fachel, J.; Atmos. Environ. 2009, 43, 2213.
-3131 Arbilla, G.; Martins, E. M.; Moreira, A.; Moreira, L. F. R.; J. Braz. Chem. Soc. 2002, 13, 308. Intrusões estratosféricas de ozônio na troposfera também são bem documentadas na literatura, podendo atingir o solo, elevando substancialmente a sua concentração no ambiente.3232 Wang, Y.; Wang, H.; Wang, W.; Atmosphere (Basel) 2020, 11.,3333 Langford, A. O.; Brioude, J.; Cooper, O. R.; Senff, C. J.; Alvarez, R. J.; Hardesty, R. M.; Johnson, B. J.; Oltmans, S. J.; J. Geophys. Res. Atmos. 2012, 117, 1. O resultado é que os padrões de qualidade do ar podem ser ultrapassados em um curto intervalo de tempo. Esses fenômenos não são difíceis de acontecer e são mais frequentes em locais de altitude elevada.3333 Langford, A. O.; Brioude, J.; Cooper, O. R.; Senff, C. J.; Alvarez, R. J.; Hardesty, R. M.; Johnson, B. J.; Oltmans, S. J.; J. Geophys. Res. Atmos. 2012, 117, 1.

O PODER OXIDANTE DO OZôNIO EM MEIO AQUOSO

O ozônio é moderadamente solúvel em água (12 mg dm-3; 25 ºC), além de formar uma solução pouco estável na sua forma dissolvida. Parte dele é perdido por evaporação e outra parte por reações em cadeia com moléculas de água. Inicialmente, o ozônio reage com os íons OH- da água para formar os radicais HO2 e O2-• (equação 7), que subsequentemente participam de uma série de reações radicalares em cadeia. O radical hidroxila (HO) e as moléculas de ozônio dissolvidas são as principais espécies envolvidas em diferentes reações de oxidação da matéria orgânica presente no meio aquoso.3434 Silva, L. M. da; Jardim, W. F.; Quim. Nova 2006, 29, 310.

(7)O3+OH-HO2+O2-[pKa=4,8]O2-+H+

Além da geração de um poderoso oxidante (HO), o ozônio solúvel na água reage com compostos aromáticos e alifáticos insaturados, polissacarídeos, álcoois, ácidos graxos insaturados, nucleobases e também pode reagir com H2O2, Fe3+, HO- e/ou radiação UV, dando início aos processos de oxidação avançados (POA), que são amplamente empregados na degradação da matéria orgânica.3535 Khadre, M. A.; Yousef, A. E.; Kim, J.-G.; J. Food Sci. 2001, 66, 1242. Inúmeros trabalhos descrevem os processos que ocorrem na solubilização do ozônio na água e suas reações diretas e indiretas. Portanto, a qualidade da água, bem como a presença de íons metálicos, substâncias orgânicas e o pH devem ser rigorosamente controlados; caso contrário, uma grande quantidade de produtos indesejáveis pode estar presente no meio.

MÉTODOS DE ANÁLISE DO OZÔNIO

O ozônio é um gás que pela sua alta reatividade não pode ser coletado e guardado. Para que seja possível sua análise via reações químicas, é necessário usar um composto para reagir previamente com o ozônio de forma quantitativa. Posteriormente, o produto formado na reação deve ser passível de determinação por alguma técnica analítica. O método clássico de reação do ozônio com iodeto de potássio envolve a formação do íon triiodeto (I3-), que pode ser determinado através de medidas de absorbância na região do ultravioleta. Esse método é aplicável à análise de oxidantes totais, representados como ozônio, e o limite de detecção (LD) está na faixa de 0,01 a 10 ppm.3636 Stern, A. C.; Air pollution: measuring, monitoring, and surveillance of air pollution, 3rd ed., Academic Press: San Diego, 1976.

Reações de ozonólise são também usadas na determinação de ozônio. Compostos orgânicos contendo dupla ligação, ao reagirem com ozônio liberam compostos carbonílicos, que podem ser determinados por espectrofotometria UV-vis. Estudos envolvendo diferentes alcenos mostraram que quando o composto olefínico usado é o 4-alil-2-metoxifenol (eugenol), o produto gerado é o formaldeído, que pode ser convenientemente determinado com um reagente seletivo.3737 Sachdev, S. L.; Lodge, J. P.; West, P. W.; Anal. Chim. Acta 1972, 58, 141.

O método clássico para a determinação de ozônio dissolvido em água utiliza o corante índigo trissulfonado (ITS). A molécula do corante tem uma dupla ligação, que é responsável pela sua cor azul; o ozônio degrada a molécula do índigo, resultando em compostos incolores.3838 Bader, H.; Hoigné, J.; Water Res. 1981, 15, 449.

Para o ozônio na forma de gás, a reação com o índigo foi adaptada tanto para amostragens ativas, usando uma bomba de aspiração de ar, como para amostragens passivas. Felix e colaboradores utilizaram filtros de celulose impregnados com ITS para coleta ativa de ozônio. A posterior determinação espectrofotométrica resultou em um LD de até 6 ppbv.3939 Felix, E. P.; De Souza, K. A. D.; Dias, C. M.; Cardoso, A. A.; J. AOAC Int. 2006, 89, 480. Estudos mostraram que o ITS reage com ozônio produzindo uma espécie fluorescente, o que possibilitou sua quantificação por espectrometria de fluorescência molecular (LD de 7 ppbv).4040 Felix, E. P.; Filho, J. P.; Garcia, G.; Cardoso, A. A.; Microchem. J. 2011, 99, 530. Um sensor colorimétrico, acoplado a uma gota formada com solução de ITS, apresentou resposta rápida para determinação de ozônio, com tempo total de análise de 5 min, e LD de 7,3 ppbv.4141 Felix, E. P.; Cardoso, A. A.; J. Braz. Chem. Soc. 2006, 17, 296. Garcia e colaboradores4242 Garcia, G.; Allen, A. G.; Cardoso, A. A.; J. Environ. Monit. 2010, 12, 1325. desenvolveram um amostrador passivo para coleta de O3, usando filtros de celulose tratados com solução de ITS. Coletas simultâneas, realizadas com o método proposto e o método oficial, mostraram um coeficiente de correlação de 0,957 e um desvio padrão relativo médio de 8,6% (n = 3). Esse método foi otimizado para detecção por imagens,4343 Garcia, G.; Allen, A. G.; Cardoso, A. A.; Water, Air, Soil Pollut. 2014, 225, 1836. com concentrações de índigo determinadas diretamente nos filtros por comparação com um padrão de cores. De forma similar, o ITS pode ser utilizado para a determinação de ozônio por meio de imagens digitais registradas com a câmera de um smartphone4444 Cerrato-Alvarez, M.; Frutos-Puerto, S.; Miró-Rodríguez, C.; Pinilla-Gil, E.; Microchem. J. 2020, 154, 104535. ou pela voltametria de onda quadrada usando um potenciostato portátil.4545 Cerrato-Alvarez, M.; Miró-Rodríguez, C.; Pinilla-Gil, E.; Sens. Actuators, B: Chem. 2018, 273, 735. Esses procedimentos apresentaram boas figuras de mérito, baixo custo e praticidade nas análises, tornando-os adequados para utilização em amostras in situ.

Outro método desenvolvido para a determinação de ozônio envolve a oxidação de íons nitrito a nitrato, e posterior quantificação por cromatografia iônica ou eletroforese capilar. Essa última técnica foi proposta em substituição à cromatografia por melhorar a velocidade da análise e usar um volume reduzido de amostra.4646 Komhyr, W. D.; Ann. Geophys. 1969, 25, 203. Estudos realizados na região da Europa Central, envolvendo a coleta do ozônio usando filtros impregnados com solução de NO2-, mostraram uma grande variação na concentração de O3 entre os diferentes locais e em relação a altitude.4747 Hůnová, I.; Stoklasová, P.; Schovánková, J.; Kulasová, A.; Environ. Sci. Pollut. Res. 2016, 23, 377. O mesmo método foi aplicado em duas cidades da Suécia e os autores concluíram que as concentrações de ozônio sofreram maiores variações em função do período de coleta do que do local de amostragem.4848 Hagenbjörk, A.; Malmqvist, E.; Mattisson, K.; Sommar, N. J.; Modig, L.; Environ. Monit. Assess. 2017, 189, 161. Cabe ressaltar que embora esse método apresente alta sensibilidade e emprego de reagentes de uso comum, a determinação de nitrato por cromatografia iônica requer equipamento de alto custo de aquisição e manutenção. Recentemente, fitas sensíveis a presença de ozônio estão comercialmente disponíveis e podem fornecer resposta qualitativa em um curto intervalo de tempo (ca. 10 min), com limite de quantificação (LQ) de aproximadamente 45 ppb.4949 https://www.skcltd.com/products2/passive-samplers/ozone-test-strips.html, acessada em abril 2021.
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Para medições semi-quantitativas, tubos semelhantes a pipetas graduadas, com reagentes sólidos empacotados e alta afinidade por ozônio, também estão disponíveis. Esses tubos podem ser facilmente adaptados a bombas de ar em uma etapa de amostragem (<10 min), em seguida a leitura visual pode ser realizada diretamente na escala contida na parede do tubo (LD 10 ppb), pela nítida mudança na coloração do sólido interno.5050 https://www.skcltd.com/products2/gas-detection-tubes/gastec-colour-detector-tubes/gastec-colour-detector-tubes-o.html, acessada em abril 2021.
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Assim, a colorimetria como técnica de quantificação, empregando equipamentos de baixo custo, como por exemplo scanners e câmeras de smartphones, tem se mostrado mais viável quando comparada a técnicas convencionais, o que possibilita a ampliação das análises em diferentes ambientes.

CONSEQUÊNCIAS DA REATIVIDADE DO OZÔNIO

O ozônio apresenta elevada atividade oxidante, reagindo vigorosamente com compostos orgânicos contendo duplas ligações, para formar compostos denominados ozonídeos, que, por serem bastante instáveis, são rapidamente convertidos a compostos carbonílicos (aldeídos e cetonas). Essas características conferem ao ozônio intensa reatividade com diversos materiais e, inclusive, com sistemas biológicos.5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451.,5252 Ballinger, C. A.; Cueto, R.; Squadrito, G.; Coffin, J. F.; Velsor, L. W.; Pryor, W. A.; Postlethwait, E. M.; Free Radicals Biol. Med. 2005, 38, 515. Em solução aquosa, o ozônio forma os radicais HO2 e O2-•, que reagem com a matéria orgânica, promovendo sua degradação. A presença de íon metálicos, radiação UV, meio alcalino e outras variáveis podem acelerar os processos de oxidação da matéria orgânica.5353 Mahmoud, A.; Freire, R. S.; Quim. Nova 2007, 30, 198.

Saúde humana

No ser humano, a principal via de entrada dos poluentes atmosféricos é através do trato respiratório. O mecanismo de atuação desses poluentes depende das características químicas e físicas das espécies e da sua interação com os componentes biológicos. No caso do O3, os principais efeitos ocorrem pelo contato com as vias aéreas e mucosas. Seus alvos são as estruturas insaturadas, como moléculas de ácidos graxos e de proteínas, que são constituintes das membranas biológicas. Desse modo, a exposição ao O3 pode causar danos a todas as células do trato respiratório;5454 Kley, D.; Kleinmann, M.; Sanderman, H.; Krupa, S.; Environ. Pollut. 1999, 100, 19. porém, isso depende da concentração do gás e do tempo de exposição. Os efeitos podem assumir caráter agudo ou crônico, ambos constatados em estudos epidemiológicos.11 Seinfeld, J. H.; Contaminacion atmosferica: fundamentos físicos e químicos; Instituto de Estudos de Administracion Local: Madri, 1978.,1717 Bell, M. L.; Mcdermott, A.; Zeger, S. L.; Samet, J. M.; Forestry 2004, 292, 2372. Os efeitos da exposição aguda mais importantes são: lesões celulares (principalmente na região alveolar), morte das células pulmonares e aumento das taxas de replicação (hiperplasia), decréscimo na atividade pulmonar, inflamação das vias respiratórias e aparecimento de sintomas como tosse, dor no peito, dificuldade em realizar movimentos inspiratórios profundos e, por vezes, acompanhado de cefaleia e náuseas.5555 Campbell, I. M.; Energy and the atmosphere: a physical-chemical approach; 2nd ed.; John Wiley: New York, 1986. Dentre os efeitos crônicos, os mais estudados são a incidência de asma e o câncer de pulmão.5656 Beck, J. P.; Krzyzanowski, M.; Koffi, B.; Tropospheric ozone in the European Union: the consolidated report, disponível em http://reports.eea.eu.int/TOP08-98/en/page001.html, acessada em abril 2021.
http://reports.eea.eu.int/TOP08-98/en/pa...

Relatos da literatura mostram que a exposição prolongada ao O3, via inalação, danifica o sistema respiratório e órgãos extrapulmonares.5757 Peden, D. B.; Setzer, R. W.; Devlin, R. B.; Am. J. Respir. Crit. Care Med. 1995, 151, 1336. Lesões epiteliais induzidas por O3 são também amplamente discutidas e os principais resultados apontam para danos e alterações morfológicas nas células epiteliais pulmonares.5858 Guth, D. J.; Warren, D. L.; Last, J. A.; Toxicology 1986, 40, 131. Além disso, a permeabilidade alveolar (danificação da superfície epitelial) foi confirmada pelo aparecimento de células de Clara na corrente sanguínea, visto que essas células estão originalmente presentes na superfície do pulmão.1010 Mudway, I. S.; Kelly, F. J.; Mol. Aspects Med. 2000, 21, 1.,5959 Broeckaert, F.; Arsalane, K.; Hermans, C.; Bergamaschi, E.; Brustolin, A.; Mutti, A.; Bernard, A.; Lancet 1999, 353, 900. Esses dados são preocupantes, uma vez que indicam a permeação do ozônio através do epitélio, mostrando que a atividade antioxidante pode não ser suficientemente efetiva em sua neutralização. Resultados recentes indicam que até mesmo concentrações 40 vezes menores que as consideradas seguras pelas agências ambientais, em um intervalo de tempo de 2h (i.e., 0,05 e 0,005 ppm), influenciam negativamente o sistema respiratório, desencadeando uma série de anomalias e resposta inflamatória em camundongos.1212 Aulakh, G. K.; Brocos Duda, J. A.; Guerrero Soler, C. M.; Snead, E.; Singh, J.; Physiol. Rep. 2020, 8, e14463.

O efeito do ozônio em contato com a pele também já foi avaliado por diversos autores e os estudos confirmaram a perda dos antioxidantes presentes na pele, através de um intenso estresse oxidativo.6060 Valacchi, G.; Fortino, V.; Bocci, V.; Br. J. Dermatol. 2005, 153, 1096. Esses efeitos podem ser intensificados em pessoas que vivem em países tropicais com alta incidência de raios solares, onde a radiação UV e a presença de O3 são significativas. O contato do O3 com os fluidos epiteliais promove a ozonólise (via mecanismo de Criegee),5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451.,5353 Mahmoud, A.; Freire, R. S.; Quim. Nova 2007, 30, 198. ao reagir com os ácidos graxos insaturados e colesterol, podendo gerar espécies reativas de oxigênio.5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451.,5252 Ballinger, C. A.; Cueto, R.; Squadrito, G.; Coffin, J. F.; Velsor, L. W.; Pryor, W. A.; Postlethwait, E. M.; Free Radicals Biol. Med. 2005, 38, 515. Essas espécies promovem a formação de aldeídos e radicais livres por meio da peroxidação lipídica (hidroxi-5-oxo-5,6-secocolestan-6-al (colesterol secoaldeído), produto majoritário), que está relacionada aos diagnósticos da doença de Alzheimer, aterosclerose e também a toxicidade pulmonar (Figura 1).6161 Sathishkumar, K.; Haque, M.; Perumal, T. E.; Francis, J.; Uppu, R. M.; FEBS Lett. 2005, 579, 6444.,6262 Sathishkumar, K.; Gao, X.; Raghavamenon, A. C.; Parinandi, N.; Pryor, W. A.; Uppu, R. M.; Free Radicals Biol. Med. 2009, 47, 548. Prior W. A.5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451. relata que provavelmente os danos causados pelo O3 correspondam a no máximo 50 % dos efeitos totais (toxicidade direta), e que as espécies geradas durante a oxidação (i.e., aldeídos, peróxido de hidrogênio e outras) são responsáveis pela outra parte.

Figura 1
Esquema da interação do ozônio com fluidos epiteliais e principais efeitos. Informações baseadas nas referências.5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451.,5252 Ballinger, C. A.; Cueto, R.; Squadrito, G.; Coffin, J. F.; Velsor, L. W.; Pryor, W. A.; Postlethwait, E. M.; Free Radicals Biol. Med. 2005, 38, 515.,6161 Sathishkumar, K.; Haque, M.; Perumal, T. E.; Francis, J.; Uppu, R. M.; FEBS Lett. 2005, 579, 6444.

62 Sathishkumar, K.; Gao, X.; Raghavamenon, A. C.; Parinandi, N.; Pryor, W. A.; Uppu, R. M.; Free Radicals Biol. Med. 2009, 47, 548.
-6363 Smith, L. L.; Lipids 1996, 31, 453.

Deve ser destacado que grupos de pessoas sensíveis (por exemplo, idosos e indivíduos com problemas cardiovasculares, asmáticos ou com doenças que comprometam o sistema respiratório) são afetados diretamente pela variabilidade da qualidade do ar e estão mais susceptíveis aos efeitos devastadores da presença do O3, seja por exposição pontual ou crônica.5757 Peden, D. B.; Setzer, R. W.; Devlin, R. B.; Am. J. Respir. Crit. Care Med. 1995, 151, 1336. Esses fatores aumentam os níveis de internação, além de estarem relacionados aos óbitos, devido ao agravamento de quadros clínicos mais críticos. Nesse sentido, estudos relacionam a presença de O3 no ambiente com o indevido crescimento dos pulmões e o decréscimo da função pulmonar. Efeitos adversos são relatados até para prematuros, que possuem maior risco de problemas respiratórios e parecem ser substancialmente mais vulneráveis aos efeitos da poluição.1616 Mortimer, K. M.; Tager, I. B.; Dockery, D. W.; Neas, L. M.; Redline, S.; Am. J. Respir. Crit. Care Med. 2000, 162, 1838.

Ambiente

O ozônio está entre os poluentes atmosféricos com maior potencial fitotóxico, ao lado do SO2, NO2, fluoretos e PAN.6464 Siciliano, B.; Dantas, G.; da Silva, C. M.; Arbilla, G.; J. Braz. Chem. Soc. 2020, 31, 523. Diversos fatores podem aumentar ou diminuir a ação do ozônio, como espécie, idade e balanço nutricional do vegetal.6565 Boubel, R. W.; Fox, D. L.; Turner, D. B.; Stern, A. C.; Fundamentals of air pollution; 3rd ed.; Academic Press: California, 1994. A região mais afetada são os estômatos presentes nas folhas, pois são responsáveis pelas trocas gasosas no vegetal e possivelmente atuam como sumidouro para o ozônio troposférico.6666 Fuhrer, J.; Environ. Pollut. 2000, 109, 359. Por esse motivo, os efeitos desse poluente concentram-se nas folhas, ocorrendo perda de cor em vários níveis e, até mesmo, necrose dos tecidos.6767 Guerra, J. C.; Rodriguez, S.; Arencibia, M. T.; Garcia, M. D.; Chemosphere 2004, 56, 1157.

68 Ashmore, M.; Emberson, L.; Karlsson, P. E.; Pleijel, H.; Atmos. Environ. 2004, 38, 2213.
-6969 Gravano, E.; Bussotti, F.; Strasser, R. J.; Schaub, M.; Novak, K.; Skelly, J.; Tani, C.; Physiol. Plant. 2004, 121, 620. Folhas de coníferas expostas a 30 ppb de ozônio, durante 4 horas, apresentaram manchas esbranquiçadas (descoramento), pigmentação e necrose da sua porção mais pontiaguda. Em espécies comerciais, como alface, tabaco e orquídeas, a ação do ozônio implica diretamente em prejuízos econômicos. Em culturas de uva, batata e milho, pode resultar em lesões aparentes nas folhas, mas não no produto final.6565 Boubel, R. W.; Fox, D. L.; Turner, D. B.; Stern, A. C.; Fundamentals of air pollution; 3rd ed.; Academic Press: California, 1994.

O ozônio provoca danos a diversos materiais, especialmente aqueles constituídos por compostos contendo ligações insaturadas, como borrachas e corantes. O ozônio promove o ataque oxidativo às ligações duplas (>C=C<), resultando em uma borracha quebradiça ou descorando tintas.5555 Campbell, I. M.; Energy and the atmosphere: a physical-chemical approach; 2nd ed.; John Wiley: New York, 1986. O problema é particularmente crítico para obras de arte, que causam grandes prejuízos econômicos.7070 Grosjean, D.; Whitmore, P. M.; Cass, G. R.; Environ. Sci. Technol. 1988, 22, 292.

71 Salmon, L. G.; Cass, G. R.; Bruckman, K.; Haber, J.; Atmos. Environ. 2000, 34, 3823.
-7272 Grontoft, T.; Henriksen, J. F.; Seip, H. M.; Atmos. Environ. 2004, 38, 59.

USOS DO OZÔNIO

O ozônio, devido ao seu comprovado efeito oxidante, é capaz de eliminar fungos, bactérias e outros microrganismos que afetam o homem. Possui uma ampla aplicação como desinfetante, conservante, agente de branqueamento, em indústrias têxteis, alimentícias etc.7373 Varga, L.; Szigeti, J.; Int. J. Dairy Technol. 2016, 69, 157.,7474 Kim, J.-G.; Yousef, A. E.; Khadre, M. A.; Adv. Food Nutr. Res. 2003, 45, 167. Os primeiros usos do ozônio em processos de desinfecção eram quase que exclusivamente destinados ao tratamento de águas e esgotos.5353 Mahmoud, A.; Freire, R. S.; Quim. Nova 2007, 30, 198. A sua desvantagem como agente desinfetante para produção de água potável está relacionada com a sua alta reatividade e, consequentemente, com seu curto tempo de vida pós-tratamento. Apesar disso, alguns países optaram por utilizar ozônio em estações de tratamento. As vantagens da cloração, usada em países como o Brasil, são o menor custo e o poder residual do cloro pós-tratamento, que pode chegar até a torneira do usuário. Possivelmente, a aplicação de ozônio em ambientes controlados e seguros de empresas de tratamento de águas ajudou na propaganda de ozonizadores para uso doméstico. Esses equipamentos não possuem qualquer especificação sobre a quantidade mínima de água que deve ser “ozonizada”, fato que pode resultar em grande perda de ozônio para o ambiente. Logo outras aplicações foram incorporadas para ampliar o uso dos ozonizadores, como descrito em informações do produto “perfeito para remover odores e mau cheiro de geladeira, cozinha, quartos, guarda roupas, banheiros para eliminar mofo etc.”

Ozonioterapia

No início do século XX surgiu a ozonioterapia, que consiste em explorar possíveis efeitos farmacológicos e clínicos benéficos associados ao ozônio. As aplicações iniciais eram voltadas para tratamentos de feridas e infecções cutâneas provocadas por bactérias anaeróbicas, sendo uma alternativa aos métodos tradicionais que não apresentavam os efeitos desejáveis. No início da Primeira Guerra Mundial, um hospital militar em Londres testou o ozônio como desinfetante para feridas. O gás foi aplicado diretamente nas feridas por até 15 minutos. O efeito positivo, que resultou na eliminação de bactérias, ficou comprometido pelos danos negativos ao tecido humano.7575 Stoker, G.; Lancet 1916, 188, 712. Apesar das evidências contrárias aos usos do ozônio relatadas na literatura,5151 Pryor, W. A.; Free Radicals Biol. Med. 1994, 17, 451.,5252 Ballinger, C. A.; Cueto, R.; Squadrito, G.; Coffin, J. F.; Velsor, L. W.; Pryor, W. A.; Postlethwait, E. M.; Free Radicals Biol. Med. 2005, 38, 515.,6161 Sathishkumar, K.; Haque, M.; Perumal, T. E.; Francis, J.; Uppu, R. M.; FEBS Lett. 2005, 579, 6444.,6262 Sathishkumar, K.; Gao, X.; Raghavamenon, A. C.; Parinandi, N.; Pryor, W. A.; Uppu, R. M.; Free Radicals Biol. Med. 2009, 47, 548. o “pai” da terapia com ozônio, Velio Bocci, comenta que a ozonioterapia não é aplicada em larga escala e acompanhada de estudos científicos devido ao baixo interesse econômico da indústria, o que torna o emprego de ozônio não rentável para esse setor.7676 Bocci, V.; Zanardia, I.; Valacchi, G.; Borrelli, E.; Travagli, V.; Cardiovasc. Hematol. Disord. Targets 2015, 15, 127.

77 Bocci, V.; OZONE A New Medical Drug; Springer: Amsterdam, 2005.
-7878 Bocci, V.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 2006, 216, 493. A hipótese dos adeptos a esta prática é de que o estresse oxidativo induzido tenha uma vida útil curta, o que não resultaria em danos. Isto é bastante controverso, já que não é só o tempo o principal fator de uma transformação, mas a reatividade intrínseca do material; porém, cabe ressaltar a necessidade da realização de estudos para confirmação dessas suposições. No que diz respeito aos efeitos do ozônio em aplicações sobre a pele, vários estudos foram publicados ao longo dos anos. Bocci e colaboradores7979 Bocci, V.; Borrelli, E.; Valacchi, G.; Luzzi, E.; Eur. J. Appl. Physiol. Occup. Physiol. 1999, 80, 549. descreveram que a exposição do corpo humano ao ozônio, exceto o pescoço e a cabeça, durante 20 min em uma câmara com cerca de 0,90 µg mL-1 do gás, não apresentou efeitos agudos ou crônicos. Nesse experimento, foi notado um aumento da pressão sistólica, aumento sistemático de produtos de peroxidação lipídica (normalizados após 24h) e dificuldade em tolerar maiores tempos de exposição, de acordo com metade dos indivíduos que receberam o tratamento.7979 Bocci, V.; Borrelli, E.; Valacchi, G.; Luzzi, E.; Eur. J. Appl. Physiol. Occup. Physiol. 1999, 80, 549. Por outro lado, existem relatos de ações benéficas para pacientes com isquemia crônica dos membros, quando eles são submetidos ao contato com ozônio em baixas concentrações e curto intervalo de tempo.6060 Valacchi, G.; Fortino, V.; Bocci, V.; Br. J. Dermatol. 2005, 153, 1096.,7777 Bocci, V.; OZONE A New Medical Drug; Springer: Amsterdam, 2005.

Os pesquisadores exploraram uma série de estratégias para aplicação do ozônio sobre áreas com difícil cicatrização ou até mesmo infestadas por patógenos. Água ultrapura e óleos recém ozonizados são os mais usados para atuarem como veículos do gás.8080 Ugazio, E.; Tullio, V.; Binello, A.; Tagliapietra, S.; Dosio, F.; Molecules 2020, 25, 1. No caso dos óleos, os autores relatam que a reação do ozônio com substratos insaturados leva à formação de derivados ozonizados terapeuticamente ativos. A administração destes líquidos é, geralmente, realizada pela exposição cutânea. O uso de óleo e/ou água ozonizada são relatados para tratamento de feridas em pé diabético,8181 Wainstein, J.; Feldbrin, Z.; Boaz, M.; Harman-Boehm, I.; Diabetes Technol. Ther. 2011, 13, 1255.,8282 Kushmakov, R.; Gandhi, J.; Seyam, O.; Jiang, W.; Joshi, G.; Smith, N. L.; Khan, S. A.; Med. Gas Res. 2018, 8, 111. antifúngico, antimicrobiano,8383 Borges, G. Á.; Elias, S. T.; da Silva, S. M. M.; Magalhães, P. O.; Macedo, S. B.; Ribeiro, A. P. D.; Guerra, E. N. S.; Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery 2017, 45, 364. cicatrizante8484 Kim, H. S.; Noh, S. U.; Han, Y. W.; Kim, K. M.; Kang, H.; Kim, H. O.; Park, Y. M.; J. Korean Med. Sci. 2009, 24, 368. e outros.8080 Ugazio, E.; Tullio, V.; Binello, A.; Tagliapietra, S.; Dosio, F.; Molecules 2020, 25, 1. São poucos os casos reportados na literatura de efeitos colaterais decorrentes do uso de óleos ozonizados; entretanto, há relato de dermatite perioral, provavelmente induzida pelo uso desse tipo de óleo.8585 Aerts, O.; Leysen, J.; Horst, N.; Lambert, J.; Goossens, A.; Contact Dermatitis 2016, 75, 123.

Aplicações da ozonioterapia na área odontológica, para auxiliar na desinfecção e na cicatrização de feridas, além de outras finalidades, têm sido reportadas com sucesso.8686 Tiwari, S.; Avinash, A.; Katiyar, S.; Aarthi Iyer, A.; Jain, S.; Saudi J. Dent. Res. 2017, 8, 105.,8787 Nagayoshi, M.; Fukuizumi, T.; Kitamura, C.; Yano, J.; Terashita, M.; Nishihara, T.; Oral Microbiol. Immunol. 2004, 19, 240. O efeito dos óleos ozonizados como bactericidas foram comprovados em experimentos in vitro; no entanto, quando testados, esses óleos não apresentaram sequer traços de ozônio. Por outro lado, testes mostraram grandes quantidades de formaldeído, reconhecido bactericida, porém de uso proibido por ser carcinogênico.8888 IARC Classifies Formaldehyde as Carcinogenic: Oncol. Times 2004, 26, 72 (DOI: 10.1097/01.cot.0000292246.11180.99).
https://doi.org/10.1097/01.cot.000029224...
O formaldeído é formado pela reação das cadeias insaturadas do óleo com o ozônio durante o processo de produção.8989 Guinesi, A. S.; Andolfatto, C.; Idomeo, B. F.; Arnaldo, A. C.; Juliano, P. F.; Roberta, V. F.; Braz. Dent. J. 2011, 22, 37. Há relatos também do tratamento de patologias da mucosa vaginal,9090 Tara, F.; Zand-kargar, Z.; Rajabi, O.; Berenji, F.; Akhlaghi, F.; Shakeri, M. T.; Azizi, H.; Alternative Therapies, Health and Medicine 2016, 22. possivelmente resultado da atuação do formaldeído. Outra aplicação bastante difundida da ozonioterapia é a auto-hemoterapia. Esse procedimento consiste em retirar uma quantidade de sangue, misturar com o ozônio e, em seguida, reinjetar o sangue ozonizado no paciente.7878 Bocci, V.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 2006, 216, 493. Os autores relatam que, no passado, acidentes ocorreram pela administração errônea de ozônio gasoso diretamente na corrente sanguínea, provocando embolia pulmonar. No entanto, eles caracterizam o processo de auto-hemoterapia como seguro e sem efeitos colaterais, pois segundo os adeptos desse tratamento, ocorre exposição a uma dose precisamente controlada e segura.7676 Bocci, V.; Zanardia, I.; Valacchi, G.; Borrelli, E.; Travagli, V.; Cardiovasc. Hematol. Disord. Targets 2015, 15, 127. Os autores desses trabalhos apontam diversos benefícios do emprego dessa técnica para tratamento de doenças inflamatórias crônicas, patologias cardiovasculares e outras enfermidades.7676 Bocci, V.; Zanardia, I.; Valacchi, G.; Borrelli, E.; Travagli, V.; Cardiovasc. Hematol. Disord. Targets 2015, 15, 127.

77 Bocci, V.; OZONE A New Medical Drug; Springer: Amsterdam, 2005.
-7878 Bocci, V.; Toxicol. Appl. Pharmacol. 2006, 216, 493.,9191 Di Paolo, N.; Bocci, V.; Salvo, D. P.; Palasciano, F.; Biagioli, M.; Meini, S.; Galli, F.; Ciari, I.; Maccari, F.; Cappelletti, F.; Di Paolo, M.; Gaggiotti, E.; Int. J. Artif. Organs 2005, 28, 1039.

Indústria alimentícia

A indústria alimentícia tem procurado no ozônio qualidades como agente desinfetante e conservante, explorando sua característica oxidante forte e rápida degradação, sem deixar resíduos.9292 Özoğul, Y. In Innovative Technologies in Seafood Processing; McClements, D. J.,; Kosker, A. R., Durmus, M., Ucar, Y., eds.; CRC Press: Boca Raton, 2019. A dissolução do ozônio em água, gelo, ou até mesmo em câmaras gasosas tem sido relatada como agente bactericida, melhorando qualidades sensoriais e/ou conservante (aumento da vida útil) em espécies marinhas frescas,9393 Sopher, C. D.; Battles, G. T.; Knueve, E. A.; Ozone Sci. Eng. 2007, 29, 221.,9494 Crapo, C.; Himelbloom, B.; Vitt, S.; Pedersen, L.; J. Aquat. Food Prod. Technol. 2008, 8850, 125. frutas e vegetais,9595 Pandiselvam, R.; Sunoj, S.; Manikantan, M. R.; Kothakota, A.; Hebbar, K. B.; Ozone Sci. Eng. 2017, 39, 115. produtos lácteos,7373 Varga, L.; Szigeti, J.; Int. J. Dairy Technol. 2016, 69, 157.,9696 Eglezos, S.; Dykes, G. A.; J. Food Prot. 2018, 81, 795. entre outros.9797 Gonçalves, A. A.; J. Aquat. Food Prod. Technol. 2016, 25, 210. Relatos da literatura sugerem que concentrações adequadas de ozônio poderiam ser usadas não só para remover odores característicos de frutos do mar, mas também para mascarar alimentos impróprios para consumo. Diferentes concentrações de ozônio foram relatadas para o processamento de espécies marinhas, com faixa de 0,05 a 12,0 mg L-1, em diferentes tempos de contato e temperaturas.9797 Gonçalves, A. A.; J. Aquat. Food Prod. Technol. 2016, 25, 210. Apesar dos resultados promissores, a alta reatividade do ozônio precisa ser considerada na conservação dos produtos do mar. Ele reage com fosfolipídios, ácidos graxos poliinsaturados e proteínas, formando compostos variados como aldeídos, álcoois, corpos cetônicos, peróxidos e outros.9898 Violleau, F.; Pernot, A. G.; Surel, O.; J. Cereal Sci. 2012, 55, 392.

99 Chan, H. T.; Leh, C. P.; Bhat, R.; Senan, C.; Williams, P. A.; Karim, A. A.; Food Chem. 2011, 126, 1019.
-100100 Matheson, K. J.; Boyer, A. J.; Warren, D. H.; J. Dairy Sci. 1927, 10, 53. Além disso, são bem conhecidos os riscos da oxidação de brometo (Br-), espécie comum em organismos marinhos, a bromato (BrO3-). Esse íon com o Br (nox +5) possui restrições quanto a sua ingestão, devido ao potencial carcinogênico dessa espécie.9292 Özoğul, Y. In Innovative Technologies in Seafood Processing; McClements, D. J.,; Kosker, A. R., Durmus, M., Ucar, Y., eds.; CRC Press: Boca Raton, 2019.,101101 Cotruvo, J. K. F.; WHO Guidelines for drinking-water quality 2005, 3, 13. É evidente que produtos alimentícios tratados com ozônio requerem um acompanhamento de análises químicas até o consumo. No entanto, os vendedores e fabricantes de ozonizadores, além de blogs correlacionados, não mencionam esse fato por falta de conhecimento ou por falta de legislação sobre isso.

O ozônio gasoso tem sido usado também para combater a presença de micotoxinas em silos que armazenam grãos como milho, amendoim, cevada e outros.102102 Tiwari, B. K.; Brennan, C. S.; Curran, T.; Gallagher, E.; Cullen, P. J.; O’ Donnell, C. P.; J. Cereal Sci. 2010, 51, 248.

103 Kells, S. A.; Mason, L. J.; Maier, D. E.; Woloshuk, C. P.; J. Stored Prod. Res.2001, 37, 371.
-104104 Diao, E.; Hou, H.; Chen, B.; Shan, C.; Dong, H.; Food Chem. Toxicol. 2013, 55, 519. Nesse tipo de aplicação, concentrações letais em humanos são relatadas (i.e., 50 ppm).103103 Kells, S. A.; Mason, L. J.; Maier, D. E.; Woloshuk, C. P.; J. Stored Prod. Res.2001, 37, 371.,105105 Mendez, F.; Maier, D. E.; Mason, L. J.; Woloshuk, C. P.; J. Stored Prod. Res. 2002, 39, 33. Essa estratégia pode ser aparentemente eficiente eliminando os fungos dos grãos, além de ser descrita como segura para o operador que fica distante do local. De forma similar a outros alimentos, os efeitos como oxidação de proteínas, despolimerização de amilopectinas, aumento na concentração de grupos carboxílicos9898 Violleau, F.; Pernot, A. G.; Surel, O.; J. Cereal Sci. 2012, 55, 392.,106106 Sandhu, H. P. S.; Manthey, F. A.; Simsek, S.; Carbohydr. Polym. 2012, 87, 1261.,107107 Wang, Y.; King, J. M.; Xu, Z.; Losso, J.; Prudente, A.; J. Agric. Food Chem. 2008, 56, 7942. e alterações nas características reológicas e térmicas são aspectos importantes que devem ser considerados em trabalhos que fomentam o uso de ozônio.9999 Chan, H. T.; Leh, C. P.; Bhat, R.; Senan, C.; Williams, P. A.; Karim, A. A.; Food Chem. 2011, 126, 1019.

A aplicação de ozônio em produtos lácteos também tem sido relatada9696 Eglezos, S.; Dykes, G. A.; J. Food Prot. 2018, 81, 795.,108108 Smith, N.; Wilson, A.; Gandhi, J.; Vatsia, S.; Khan, S.; Med. Gas Res. 2017, 7, 212. e, apesar dos resultados promissores, algumas amostras de queijo desenvolveram um sabor desagradável quando expostas ao ozônio, o que inviabilizou sua comercialização.100100 Matheson, K. J.; Boyer, A. J.; Warren, D. H.; J. Dairy Sci. 1927, 10, 53. Na maioria das aplicações industriais, principalmente as que utilizam o ozônio na fase gasosa, um controle rigoroso dos processos deve ser estabelecido. O uso de sistemas que detectam a presença do ozônio em concentrações maiores que 0,1 mg L-1 é aconselhável.7373 Varga, L.; Szigeti, J.; Int. J. Dairy Technol. 2016, 69, 157. Trabalhos de revisão recentes trazem várias aplicações, além das citadas aqui.7474 Kim, J.-G.; Yousef, A. E.; Khadre, M. A.; Adv. Food Nutr. Res. 2003, 45, 167.,109109 Karaca, H.; Velioglu, Y. S.; Nas, S.; Toxin Rev. 2010, 29, 51.

A complexa química envolvida nas reações do ozônio em contato com compostos orgânicos naturais resulta em uma variedade de produtos, tornado difícil a compreensão dos efeitos. O contato direto do gás com superfícies contendo gorduras, polímeros, espécies orgânicas ou inorgânicas, pode gerar subprodutos bastante instáveis e/ou tóxicos, ou até mesmo danos nas propriedades do alimento. Em geral, observa-se que os trabalhos que relatam a ozonização como estratégia para higienizar ou conservar os alimentos não tem cuidado de relatar a importância do monitoramento das espécies provenientes desse tratamento. Constata-se apenas uma preocupação em aferir a manutenção das características reológicas e térmicas, além dos aspectos organolépticos, que são fundamentais na valorização do produto. Já quando o uso do ozônio é para aplicação em seres humanos, essas reações sequer são mencionadas como uma possibilidade.

Ozônio e pandemia do coronavírus

A pandemia do coronavírus (COVID-19) se apresentou como uma enfermidade global, pouco conhecida e sem um tratamento eficaz para eliminação do vírus. Como ocorre nestes casos, “especialistas” sugerem curas sem comprovação científica. Como esperado, o ozônio entra neste rol de substâncias para cura ou higienização. Aparentemente, aplicações de ozônio em pacientes infectados não ultrapassaram a fase de sugestão. Mas o uso de ozônio em câmaras em formato de túneis para higienização de humanos foi amplamente difundido e usado pelo país. O fato obrigou a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), em 7 de maio de 2020, a publicar uma nota técnica Nº 38/2020/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA, para tratar da grande disseminação de publicidade em relação à utilização de estruturas (câmaras, cabines ou túneis) para desinfecção de pessoas, em diversas regiões do país.110110 ANVISA, Nota Técnica No 38/2020, https://coronavirus.rs.gov.br/upload/arquivos/202006/12142016-nota-tecnica-28-anvisa-2020-desinfeccao-de-pessoas.pdf, acessada em abril 2021.
https://coronavirus.rs.gov.br/upload/arq...
As conclusões do documento são: i) até o momento, não foram encontradas evidências científicas de que o uso dessas estruturas para desinfecção sejam eficazes no combate ao SARS CoV-2, ii) a Anvisa somente recomenda a utilização de saneantes sobre superfícies inanimadas, de modo que a borrifação sobre seres humanos dá uso diverso àquele que foi originalmente aprovado; e iii) a borrifação de saneantes sobre seres humanos tem potencial para causar lesões dérmicas, respiratórias, oculares e alérgicas, podendo o responsável da ação responder penal, civil e administrativamente.

Mesmo contrariando os princípios da norma técnica, fabricantes com experiência na produção de câmaras juntaram-se a fornecedores de geradores de ozônio e montaram os primeiros protótipos, buscando atender possíveis demandas por soluções imediatistas. Os equipamentos produzidos, normalmente, funcionam pela aspiração de água contida em um tanque que recebeu uma carga de ozônio. A água é convertida em uma névoa no interior de uma câmara ou cabine por onde a população deve atravessar (Figura 2). As cabines apresentam laudos comprovando a eficácia do ozônio como desinfetante de vírus e bactérias, mas sem qualquer menção sobre possíveis efeitos a saúde de pessoas debilitadas. A recomendação técnica do fabricante sugere tempo de exposição máximo entre 10 e 30 segundos e a concentração, na saída do gerador, com cerca de 35 ppm de ozônio. Porém, não existem estudos que indiquem qual a concentração média do ozônio na fase gasosa no interior dessas câmaras ou qual a concentração do ozônio dissolvido nas gotículas da névoa formada.

Figura 2
Representação do sistema em formato de túnel para desinfecção de humanos usando névoa contendo desinfetantes como o ozônio. (Created with BioRender.com)

A desinfecção de seres humanos por câmaras apresenta diversas falhas de segurança, pois não são consideradas as diferenças nas faixas etárias da população, assim como pessoas com saúde debilitada. De acordo com alguns trabalhos publicados na literatura, uma mistura de O3 e O2 apresenta potencial para ser usada para minimizar as complicações causadas pela COVID-19.111111 Franzini, M.; Valdenassi, L.; Ricevuti, G.; Chirumbolo, S.; Depfenhart, M.; Bertossi, D.; Tirelli, U.; Int. Immunopharmacol. 2020, 88, 106879.

112 Izadi, M.; Cegolon, L.; Javanbakht, M.; Sarafzadeh, A.; Abolghasemi, H.; Alishiri, G.; Zhao, S.; Einollahi, B.; Kashaki, M.; Jonaidi-Jafari, N.; Asadi, M.; Jafari, R.; Fathi, S.; Nikoueinejad, H.; Ebrahimi, M.; Imanizadeh, S.; Ghazale, A. H.; Int. Immunopharmacol. 2021, 92.

113 Tascini, C.; Sermann, G.; Pagotto, A.; Sozio, E.; De Carlo, C.; Giacinta, A.; Sbrana, F.; Ripoli, A.; Castaldo, N.; Merelli, M.; Cadeo, B.; Macor, C.; De Monte, A.; Intern. Emerg. Med. 2020, 1, 1.
-114114 Wu, J.; Tan, C. S.; Yu, H.; Wang, Y.; Tian, Y.; Shao, W.; Zhang, Y.; Zhang, K.; Shao, H.; Ni, G.; Shen, J.; Galoforo, A. C.; Wu, Q.; Ming., D.; The Innovation 2020, 1, 100060. Os estudos apontam uma dimuição no estresse oxidativo, que é prejudicial aos tecidos pulmonares, levando a um reestabelecimeto das atividades antioxidantes. Entretanto, cabe aletar que embora pareça promissor, mais estudos são necessários, antes da aprovação e implementação ampla de tais procedimentos. O monitoramento das espécies formadas, durante e após a exposição ao ozônio, também deverá ser realizado, assim como os efeitos, considerando curto, médio e longo prazos. Somente assim, será possível comprovar que os benefícios em utilizar o O3 são maiores que os danos que ele é capaz de ocasionar, conforme reportado na literatura.

CONCLUSÕES

O ozônio é um gás com um grande potencial de uso para melhorar a segurança biológica, porque é capaz de aniquilar um amplo espectro de patógenos que podem colocar em risco os seres humanos. Ele reage com uma variedade de compostos orgânicos naturais e pode ser um aliado do homem na destruição de compostos indesejáveis que afligem a sociedade moderna na forma de poluentes. Essas propriedades sugerem que o ozônio possui um grande potencial para aplicações diversas. Porém, também são o maior indicativo que a manipulação do ozônio requer cuidados especiais para evitar o contato do gás com seres humanos, animais e plantas. A manipulação do ozônio deve ser feita por pessoas bem treinadas e mantidas todas as condições de segurança. Urge a necessidade de uma regulamentação para o uso do ozônio, baseadas não só no objetivo do uso, mas também na segurança individual e coletiva do usuário e da população, assim como ocorreu com elementos radioativos e antibióticos, que embora sejam amplamente utilizados, seus riscos foram minimizados por regulamentações específicas.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Os autores agradecem o apoio financeiro das agências de fomento FAPESP e CNPq.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2020
  • Aceito
    29 Mar 2021
  • Publicado
    28 Abr 2021
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