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Identificação sorológica de espécies de vírus que infetam cucurbitáceas em áreas produtoras do Maranhão

Serological identification of virus species infecting cucurbits in producing areas of the State of Maranhão, Brazil

Resumos

Os vírus representam sérios obstáculos para o sucesso da olericultura no mundo inteiro, constituindo a identificação daqueles de maior incidência numa região, papel fundamental para o estabelecimento de estratégias de controle. Visitas de campo foram realizadas a plantios de espécies de cucurbitáceas em áreas produtoras do Maranhão e amostras foliares foram coletadas de 118 plantas com sintomas ou suspeita de sintomas de vírus, sendo 46 de abóbora (Cucurbita moschata), 30 de melancia (Citrullus lanatus), 23 de maxixe (Cucumis anguria), 13 de pepino (C. sativus) e seis de melão (C. melo). Todas as amostras foram testadas contra anti-soros específicos para os principais vírus das famílias Bromoviridae, Comoviridae e Potyviridae que infetam cucurbitáceas no Nordeste, mediante "enzyme-linked immunosorbent assay" (ELISA) indireto e dupla difusão em agar. Os resultados revelaram a identificação sorológica de Papaya ringspot vírus (PRSV) em 64,4% das amostras analisadas, seguido de Watermelon mosaic virus-2 (WMV-2) em 15,2%, Cucumber mosaic virus (CMV) em 6,8%, Squash mosaic virus (SqMV) em 3,4% e Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV) em 3,4%. Este levantamento confirma a predominância do PRSV em espécies de cucurbitáceas cultivadas no estado do Maranhão.

Bromoviridae; Comoviridae; Potyviridae; incidência de vírus


Viruses represent serious obstacles for the success of producing vegetables, consisting the correct identification of those that infect cucurbits in a region, a fundamental point for establishing strategies for their control. Surveys were carried out at cucurbit fields in producing areas of the State of Maranhão. Leaf samples were collected from 118 plants showing virus like symptoms, 46 from squash (Cucurbita moschata); 30 from watermelon (Citrullus lanatus); 23 from Cucumis anguria; 13 from cucumber (C. sativus) and six from melon (C. melo). All samples were tested against antisera specific to the main virus species from the families Bromoviridae, Comoviridae and Potyviridae that infect cucurbits in Northeastern Brazil by enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) and double immunodiffusion technique. The results revealed that Papaya ringspot virus was serologically detected in 64.4% of samples analyzed, followed by Watermelon mosaic virus-2 in 15.2%, Cucumber mosaic virus in 6.8%, Squash mosaic virus in 3.4% and Zucchini yellow mosaic virus in 3.4%. This survey confirmed the prevalence of PRSV in cucurbit species grown in the State of Maranhão.


IDENTIFICAÇÃO SOROLÓGICA DE ESPÉCIES DE VÍRUS QUE INFETAM CUCURBITÁCEAS EM ÁREAS PRODUTORAS DO MARANHÃO*

MARIA C. C. L. MOURA1, J. ALBERSIO A. LIMA2, VANÚZIA B. OLIVEIRA2 & M. FÁTIMA B. GONÇALVES2

1Universidade Estadual do Maranhão, Cx. Postal 3004, São Luis, MA; 2Laboratório de Virologia Vegetal, Universidade Federal do Ceará, Cx. Postal 12.168, Fortaleza, CE-60350.00, e-mail: albersio@ufc.br

(Aceito para publicação em 02/01/2001)

Autor para correspondência: J. Albersio A. Lima

RESUMO

Os vírus representam sérios obstáculos para o sucesso da olericultura no mundo inteiro, constituindo a identificação daqueles de maior incidência numa região, papel fundamental para o estabelecimento de estratégias de controle. Visitas de campo foram realizadas a plantios de espécies de cucurbitáceas em áreas produtoras do Maranhão e amostras foliares foram coletadas de 118 plantas com sintomas ou suspeita de sintomas de vírus, sendo 46 de abóbora (Cucurbita moschata), 30 de melancia (Citrullus lanatus), 23 de maxixe (Cucumis anguria), 13 de pepino (C. sativus) e seis de melão (C. melo). Todas as amostras foram testadas contra anti-soros específicos para os principais vírus das famílias Bromoviridae, Comoviridae e Potyviridae que infetam cucurbitáceas no Nordeste, mediante "enzyme-linked immunosorbent assay" (ELISA) indireto e dupla difusão em agar. Os resultados revelaram a identificação sorológica de Papaya ringspot vírus (PRSV) em 64,4% das amostras analisadas, seguido de Watermelon mosaic virus-2 (WMV-2) em 15,2%, Cucumber mosaic virus (CMV) em 6,8%, Squash mosaic virus (SqMV) em 3,4% e Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV) em 3,4%. Este levantamento confirma a predominância do PRSV em espécies de cucurbitáceas cultivadas no estado do Maranhão.

Palavras-chave: Bromoviridae, Comoviridae, Potyviridae, incidência de vírus.

ABSTRACT

Serological identification of virus species infecting cucurbits in producing areas of the State of Maranhão, Brazil

Viruses represent serious obstacles for the success of producing vegetables, consisting the correct identification of those that infect cucurbits in a region, a fundamental point for establishing strategies for their control. Surveys were carried out at cucurbit fields in producing areas of the State of Maranhão. Leaf samples were collected from 118 plants showing virus like symptoms, 46 from squash (Cucurbita moschata); 30 from watermelon (Citrullus lanatus); 23 from Cucumis anguria; 13 from cucumber (C. sativus) and six from melon (C. melo). All samples were tested against antisera specific to the main virus species from the families Bromoviridae, Comoviridae and Potyviridae that infect cucurbits in Northeastern Brazil by enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) and double immunodiffusion technique. The results revealed that Papaya ringspot virus was serologically detected in 64.4% of samples analyzed, followed by Watermelon mosaic virus-2 in 15.2%, Cucumber mosaic virus in 6.8%, Squash mosaic virus in 3.4% and Zucchini yellow mosaic virus in 3.4%. This survey confirmed the prevalence of PRSV in cucurbit species grown in the State of Maranhão.

As cucurbitáceas possuem grande importância na dieta alimentar e na economia agrícola dos nordestinos, sendo várias espécies freqüentemente comercializadas na Central de Abastecimento do Maranhão. As doenças infecciosas, especialmente as viroses têm sido um grande obstáculo para o sucesso da olericultura maranhense.

Os graus de dispersão e de severidade dos vírus são bastante diferenciados, em função da espécie de vírus e suas estirpes, espécie e variedade vegetal cultivada, proximidade da fonte de inóculo e população dos vetores correspondentes. Mais de dez vírus já foram constatados infetando naturalmente diferentes espécies de cucurbitáceas no Brasil, sendo os mais predominantes pertencentes às seguintes famílias e gêneros: família Comoviridae, gênero Comovirus: vírus do mosaico da abóbora (Squash mosaic virus, SqMV) (Lima & Amaral, 1985); família Bromoviridae, gênero Cucumovirus: vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus, CMV) (Cupertino et al., 1988); família Potyviridae, gênero Potyvirus: vírus da mancha anelar do mamoeiro (Papaya ringspot virus, PRSV) (Lima et al., 1996), vírus-2 do mosaico da melancia (Watermelon mosaic virus-2, WMV-2) (Sá & Kitajima, 1991); vírus do mosaico amarelo da abobrinha-de-moita (Zucchini yellow mosaic virus, ZYMV) (Lima et al., 1996).

O presente trabalho teve por objetivo efetuar a identificação sorológica dos vírus predominantes em espécies de cucurbitáceas cultivadas no estado do Maranhão, mediante testes de "enzyme-linked immunosorbent assay" (ELISA) indireto e de dupla difusão em agar, com anti-soros específicos para os principais vírus das famílias Bromoviridae, Comoviridae e Potyviridae que infetam cucurbitáceas no Nordeste.

Campos cultivados com espécies de cucurbitáceas em áreas de produção do Maranhão foram inspecionados no período de Julho a Novembro de 1997 visando-se avaliar a presença de plantas com infecção viral. Amostras foliares foram coletadas de diferentes espécies vegetais da família Cucurbitácea que apresentavam sintomas típicos de infecção viral. Folhas jovens com sintomas mais expressivos foram obtidas por seleção, acondicionadas em sacos plásticos, etiquetadas e colocadas em caixas de isopor contendo gelo.

As amostras foliares foram coletadas de 118 plantas com sintomas ou suspeita de infecção por vírus, sendo 46 de abóbora (Cucurbita moschata L.), 30 de melancia [Citrullus lanatus (Thumb.) Matsumi & Nakai]; 23 de maxixe (Cucumis anguria L.); 13 de pepino, (Cucumis sativus L.) e seis de melão (Cucumis melo L.). Todas as amostras foram enviadas ao Laboratório de Virologia Vegetal da Universidade Federal do Ceará (UFC) e testadas contra anti-soros específicos para CMV, PRSV, WMV-2 e ZYMV, mediante ELISA indireto e dupla difusão em agar para o caso do anti-soro para SqMV.

Nos testes de ELISA indireto, os extratos de plantas infetadas e de plantas sadias (testemunhas) foram preparados em tampão de carbonato, pH 9,6 e diluídos na proporção de 1:10 e os anti-soros específicos para os respectivos vírus, previamente absorvidos com extrato de tecido sadio, foram diluídos na proporção de 1:1.000. A presença da reação vírus-antígeno foi detectada através do uso de IgG de cabra anti-IgG de coelho, conjugada à fosfatase alcalina, diluída na proporção 1:2.000 e do substrato p-fosfato de nitrofenil na concentração 0,5 mg/ml. As leituras das placas foram realizadas no aparelho Labsystems Multiskan MS, utilizando-se o comprimento de onda 405 nm. Obedecendo o critério adotado para as análises no Laboratório de Virologia Vegetal da UFC, foram consideradas positivas as reações superiores ao dobro dos valores médios das absorbâncias registradas para os extratos de plantas sadias, usados como testemunhas.

Os testes de dupla difusão em agar com o anti-soro para o SqMV foram realizados em meio constituído por 0.8% de agar noble, 0,85% de NaCl e 0,05% NaN3 preparado em água destilada.

Os resultados sorológicos indicaram a prevalência do PRSV em todas as espécies de cucurbitáceas inspecionadas, onde foi detectado em mais de 60% das amostras (Tabela 1). Embora em menores percentuais, o WMV-2 foi identificado nas espécies de abóbora, melancia, maxixe e pepino, sendo que o SqMV foi identificado somente em duas plantas de abóbora e duas de maxixe (Tabela 1). Mesmo em expansão no Brasil (Lima et al., 1996), o ZYMV foi detectado somente em duas amostras de abóbora, uma de melão e uma de pepino, e o CMV, vírus de fácil transmissibilidade por pulgão e de ampla gama de hospedeiros, foi detectado somente em abóbora (duas amostras), maxixe (quatro amostras) e pepino (duas amostras) (Tabela 1). O maxixe foi a única espécie onde foram constatados os vírus das três famílias, isoladamente ou em combinações, sendo que a infecção tripla de CMV, PRSV e WMV-2 foi constatada numa única amostra. Casos de infecção dupla foram também detectados em pepino. Avaliações sorológicas de amostras foliares de melão e de melancia de campos de produção dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte demonstraram, também, a larga dispersão dos vírus da família Potyviridae em cultivos de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro (Oliveira et al., 2000). Infecções mistas com vírus de famílias diferentes já foram, também, registradas em outros estados brasileiros (Lima & Vieira, 1992; Yuki et al., 2000). Lima & Vieira (1992) constataram sintomas de mosaico severo e necrose sistêmica em plantas de melancia resultantes de infecção simultânea de SqMV e PRSV, em campos irrigados no estado do Piauí. Infecções duplas, triplas e quadruplas foram constatadas em cucurbitáceas no estado de São Paulo, envolvendo CMV, PRSV, WMV-2 e ZYMV (Yuki et al., 2000).

Os resultados aqui constatados (Tabela 1) e aqueles de estudos semelhantes em outras regiões do Brasil (Pavan et al., 1989; Cruz et al., 1999; Oliveira et al., 2000; Yuki et al., 2000) e de outras partes do mundo (Ullman et al., 1991; Luis-Arteaga et al., 1998) demonstram que a incidência de vírus em espécies de cucurbitáceas cultivadas é bastante dinâmica, variando em função do vírus e suas estirpes, condições climáticas, população e migração de vetores, espécie e variedade vegetal cultivada e reservatórios naturais de vírus predominantes. Estudando a ocorrência e a distribuição de vírus em cucurbitáceas no estado de São Paulo, Yuki et al. (2000) constataram que PRSV e ZYMV eram os vírus mais predominantes nas amostras avaliadas por ELISA. Cruz et al. (1999) constataram maior incidência de WMV-2 em cultivos de melancia e melão no Submédio São Francisco. Estudos de levantamento sorológico de vírus em curbitáceas, desenvolvidos por Ullman et al. (1991) em ilhas do Havaí, demonstraram a ausência de WMV-2 e baixa incidência de CMV nas regiões amostradas. De outra parte, levantamentos dos graus de incidência de vírus em campos de produção de melão na Espanha, revelaram maior predominância de WMV-2 e de CMV (Luis-Arteaga et al., 1998).

Embora todas as amostras tenham sido coletadas de plantas com sintomas em condições de campo, algumas deixaram de apresentar resultados positivos com os anti-soros usados (Tabela 1), possivelmente, em razão da demora entre a coleta e a realização dos testes, o que pode ter proporcionado a degradação enzimática da capa próteica dos vírus, especialmente do CMV, vírus altamente lábil ( Kaper & Waterworte, 1981; Murphy et al.,1995) interferindo na reação antígeno - anticorpo. De outra parte, as amostras com resultados negativos poderiam estar infetadas com um vírus para o qual não foi usado anti-soro ou as plantas estavam apresentando anomalias de natureza diversas das infecções por vírus (Yuki et al., 1999).

Suporte financeiro: CNPq e EMBRAPA/CPATSA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2001
  • Data do Fascículo
    Mar 2001

Histórico

  • Recebido
    02 Jan 2001
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