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Livros e revistas

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AFFLECK, R., 1950 - Some points in the function, development and evolution of the tail in fishes. Proc. Zool. Soc. London, vol. 120, Part. II, p. 349-368. London.

Servindo-se de modelos semelhantes aos utilizados, em 1936, por Grove e Newell, destinados a demonstrar os empuxos verticais efetivos desenvolvidos pelas nadadeiras caudais de alguns cordados aquáticos, o autor efetuou diversas experiências interessantes que forneceram esclarecimentos sobre algumas particularidades da função, do desenvolvimento e da evolução da cauda, nos peixes.

A primeira parte, trata da função da cauda. Na segunda, cuida o autor do desenvolvimento do mesmo órgão em Carassius auratus, Macropodus opercularis e Betta splendens, em relação à sua gravidade específica. A terceira parte é dedicada à evolução da cauda, nela fazendo o autor uma revisão sumária das idéias nesse particular expendidas por Huxley, Agassiz, Alhlborn e, mais recentemente, por Whitehouse, Grove & Newell.

Em consequência disso, no sumário que apresentou, o autor acredita que, nos peixes, a ação efetiva da cauda, acionada na direção vertical, depende:

a) do tamanho relativo dos lóbulos epicaudais e hipocordais;

b) da flexibilidade das nadadeiras;

c) da direção da parte terminal do axis;

d) das dimensões relativas dos lóbulos dorsal e ventral de uma cauda homocerca.

Pensa, portanto, o autor que:

1 - As caudas das espécies Carassius auratus, Macropodus opercularis e Betta splendens atravessam fases que podem ser consideradas como protocerca e heterocerca, antes que se forme a fase homocerca definitiva.

2 - Dada a precocidade aparente e o funcionamento da vesícula natatória, que determina o fato de a gravidade específica do peixe se tornar idêntica à da água em que o mesmo vive, nenhuma reação vertical se torna necessária para manter a forma larval distante do fundo, quando a mesma se encontra nadando. A cauda, no entretanto, é isobática durante todo o desenvolvimento.

3 - Embora passando pela fase heterocerca, o lóbulo epicordal flexível se acha inibido, a fim de frustar a reação dirigida para cima do lóbulo hiporcordal. Na ontogenia, contudo, a função da fase heterocerca, de uma cauda homocerca, difere da de uma cauda heterocerca característica do peixe adulto.

4 - A despeito do fato de conservar o lóbulo epicordal durante a fase heterocerca, o desenvolvimento da cauda homocerca é, antes de tudo, resumido.

5 - A possível evolução das caudas, partindo de um tipo primitivo, é atentamente examinada, em relação à sua função e à gravidade específica dos peixes.

6 - Sugere-se ter sido a cauda protocerca a forma primitiva da qual evoluiu o tipo heterocerco (associado às nadadeiras peitorais) e o hipococerco (associado à ausência de nadadeiras peitorais). A evolução dessas caudas permitiria aos animais nadar ainda que houvesse aumento da sua gravidade específica.

7 - Partindo dêsses dois tipos, traçam-se cinco linhas evolucionistas, cada uma das quais termina em uma cauda que é idêntica ou, pelo menos, muito próxima da simétrica.

8 - A conformação da simetria externa geralmente significa que a cauda não colabora no trabalho do reerguimento da parte posterior do animal, quando este nada, ou indica ser êle degenerado ou então especializado.

J. P. C.

SERÈNE, R., 1950 - Cas de malformations chez les Stomatopodes. Contr. n.º 4. Institut Océanographic de l'Indochine, p. 341-343, pl. I e II. Nhatrang.

As publicações do Instituto Oceanográfico da Indochina, de Nhatrang, foram interrompidas devido às lamentáveis ocorrências consequentes da II Grande Guerra e da situação anormal que se lhe seguiu. Seus laboratórios tendo interrompido os trabalhos costumeiros impediram o aparecimento de "Notas" e "Memórias".

Logo após o término do conflito que ensanguentou os quatro continentes, os pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Indochina, puseram-se em campo e os primeiros resultados das suas investigações apareceram, recentemente, na 44.ª Nota e nas Contribuições n.º 1, 2, 3 e 4. A direção do estabelecimento promete, para breve, a 7.ª Memória, que, segundo informações recebidas, já se encontra pronta para impressão.

Na Contribuição n.º 4, o sr. R. Serène faz referências a casos anormais constatados em Estomatópodos.

Nos últimos trinta anos, alguns autôres se têm ocupado de anomalias em representantes do grupo. Perisi (1922) em Gonodactylus chiragra Fabricius, Chopra (1934) em Squilla interrupta Wood-Mason, Holthius (1941), em Lysiosquilla maculata (Fabricius).

O autor, examinando um macho de 94 mm. observou deformação do artículo basal do uropodio de Squilla intermedia que se apresentou mais longo, curvado e tri-furcado. Também em uma fêmea de Pseudosquilla ciliata Niers, medindo 58 mm. constatou que a espinha submediana, móvel, do lado direito do telson, em vez de reta na porção distal, era furcada. Por fim, em um macho medindo 93 mm. de Gonodactylus chiragra, notou que o expodito do uropodio direito, em sua face externa, possuia 20 espinhos móveis, enquanto que o esquerdo apresentava-se normal, exibindo apenas 11. Além disso, os espinhos do expodito normal eram bem menores, parecendo que cada um havia sido substituido por dois, sendo tal anomalia devida, provavelmente, a um caso de broto regenerador duplo.

O autor ilustra seu trabalho com duas estampas, cada uma com duas magníficas fotografias.

J. P. C.

DEBOUTEVILLE, C. D. & BOUGIS, 1951 - Recherches sur le trottoir d'algues calcaires effectuées à Banyuls pendant le stage d'été 1950. Vie et Milieu, v. 2, fasc. 2, p. 161-181. Paris. Hermann & Cie.

Êsse trabalho é muito interessante porquanto representa uma tentativa que foi coroada de êxito, em dois sentidos especiais: 1.º, o estudo dos recifes zonados considerados como um conjunto especial, ou melhor, um habitat característico e especializado, e, 2.º, o trabalho em equipe, utilizando para este fim, o auxílio de estudantes estagiando na estação de Banyuls-sur-Mer. O estudo dos recifes de algas foi o mais completo possível, levando em conta a topografia local; a disposição dos recifes; o estudo dos fatores que favorecem o seu desenvolvimento, tais como exposição às vagas, vento, etc.; estrutura e microclima do recife e adjacências; salinidade nas poças de água; determinação sistemática e quantitativa da vegetação da fauna acompanhadora. Os recifes estudados foram de algas, diferentes nas várias regiões, sempre, porém, algas calcáreas.

Um tal estudo ecológico, de grande interesse, pressupõe o conhecimento específico da maioria, se não de todos os organismos que habitam a zona limitante entre o mar e a terra; e a cooperação de numerosos indivíduos capazes de registrar os dados contemporaneamente em vários pontos do trecho em estudo. Se bem que ambos esses requisitos ainda sejam suficientes no nosso meio, sobretudo o primeiro, é possível porém, já iniciar estudos dessa natureza que poderão render resultados deveras interessantes. Não existe somente zonação de algas, mas também, e frequentemente muito bem marcada, uma zonação animal. Por exemplo, na ilha Givurá (ou ilha das Cabras), entre a Praia do Meio e a Praia do Sonho em Itanhaem, existe u'a magnífica cinta zonada do Polychaeta Phragmatopoma sp., que nessa região recobre extensamente as pedras pré-existentes, constituindo camadas de 50 cm. ou talvez mais, pelo acúmulo de tubos, chegando até a formar pontes entre pedras vizinhas e, com o tempo, provavelmente, verdadeiros recifes, do material por eles cimentado. Esse é um dos muitos exemplos que podem ser estudados, com relativa facilidade, no litoral do Estado de São Paulo.

M. V.

CALVEZ, J. le & Y. le CALVEZ, 1951 - Contribution à l'étude des Foraminiféres des euax Saumatres. I Ètangs de Canet et de Salses. Vie et Milieu. Bull. Lab. Arago. v. 2, fasc. 2, p. 237-254. Paris.

Os autores estudaram a fauna de Foraminíferos de regiões lagunares que nem sempre estão em comunicação direta com o mar, e nas quais a temperatura e a salinidade são fortemente variáveis, sendo suas águas também influenciadas por ventos e marés. Se bem que as duas lagoas estudadas, ambas na região de Banyuls-sur-Mer, apresentem condições diferentes pode-se chegar a conclusões paralelas para ambas: 1.º - o que mais influencia a sobrevivência e a conservação das espécies é a natureza de fundo; 2.º - o tamanho médio dos indivíduos diminue regularmente com o decréscimo da salinidade; 3.º - os Miliolidae são raros e limitados às zonas de salinidade mais elevada; 4.º - os Botalidae são os mais abundantes e, ao que parece, os que melhor suportam a queda de salinidade; 5.º - as espécies são em larga escala as mesmas nas duas lagôas, em grande parte já conhecidas de águas salobras de outras partes do mundo; 6.º - são poucas as espécies adaptadas a condições tão especiais; 7.º - Retalia beccarii parece ser a espécie melhor adaptada à vida em águas salobras e foi repetidamente encontrada nesse habitat também por outros pesquisadores. Os autores descrevem uma espécie nova: Elphidium littorale. É de se salientar ainda o interesse geológico de tais pesquisas.

M. V.

HUTCHINSON, G. E., 1950 - Survey of Contemporary Knowledge of Biogeochemistry. 3. The Biogeochemistry of Vertebrate Excretion. Bull. Amer. Mus. Nat. History, vol. 96. XVIII+554 p. 16 pl. New York.

Essa obra é de excepcional interesse, pois reúne de modo lógico, explicativo e completo, uma grande quantidade de fatos que embora "já sabidos teoricamente, nunca tinham sido conhecidos por uma única e mesma pessoa". Nessa tarefa de reunir dados acumulados durante decenios e de coordena-los com a finalidade de melhor compreende-los em sua causalidade e relação mútua, o autor informou-se nas mais variadas fontes atuais, recentes e antigas, apresentando um quadro sinótico da matéria e relacionando criticamente os dados obtidos. A climatologia, a química, a geologia, etc, são utilizadas como ciências informativas tendentes a estabelecer o que se sabe com segurança a respeito da significação que os excreta de vertebrados passam a adquirir quando reunidos em quantidades tais que se revistam de importância geológica, passando assim a desempenhar parte significativa no ciclo de elementos amplamente espalhados, como sejam: o nitrogênio e o fósforo.

Assim sendo, o principal papel é o do guano produzido por aves, tendo o autor estudado depósitos de todos os tipos, antigos e recentes desde os mais importantes até simples sinais de fosfatização nas rochas das ilhas e costas de todos os mares da terra. Mais adiante, o autor analisa os aspetos gerais dos depósitos de guano das aves, estudando o seu significado na economia terrestre do fósforo, a velocidade de subtração desse elemento das águas marinhas, por parte das aves; as quantidades depositadas atualmente e no período Pleistoceno, suas relações com as determinantes oceanográficas; os aspetos biológicos do problema e as conclusões paleoclimáticas às quais esses estudos podem conduzir. Em seguida, o autor estuda o guano encontrado nas cavernas dispersas pela Terra, material esse produzido, sobretudo por morcegos. A última parte do livro é dedicada ao estudo geoquímico comparativo dos minerais do guano, salientando-se a importância dessa substância na concentração do nitrogênio e do fósforo. O livro termina com um capítulo sobre as conclusões gerais que podem ser deduzidas de tão elaborado e rico material de estudo.

Sem falar do seu alto valor analítico e especulativo, o que na realidade torna esse trabalho de grande alcance e até fascinante é o enorme acervo de dados nele contido e a sua grande utilidade como excelente fonte informativa.

M. V.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 1951
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