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Estudo comparativo entre alguns benzalpiruvatos - fenil substituído de lantanídeos e ítrio no estado sólido

Comparative Study between some lanthanides and yttrium compounds involving different ligand phenyl-substituted derivatives of benzylidenepyruvate in the solid state

Resumos

No presente trabalho avaliou-se as etapas de decomposição térmica de alguns compostos de lantanídeos (III) e ítrio (III), envolvendo diferentes ligantes fenil substituído derivados do benzalpiruvato, utilizando-se a termogravimetria (TG). Uma correlação foi realizada a partir dos teores dos íons metálicos, comparando-se os resultados obtidos por termogravimetria e titulação complexométrica com EDTA.

Termogravimetria (TG); benzalpiruvatos; lantanídeos; ítrio


In the present work the thermal decomposition step of some lanthanides and yttrium compounds involving different ligand phenyl-substituted derivatives of benzylidenepyruvate was appraised by thermogravimetry (TG). A correlation about the metal ions content was made by comparision of the results obtained by TG and EDTA complexometry.

Termogravimetry (TG); benzylidenepyruvate; lanthanides; yttrium


Estudo comparativo entre alguns benzalpiruvatos-fenil substituído de lantanídeos e ítrio no estado sólido.

Nedja Suely FERNANDES* * Doutorada do departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.

Marco Aurélio da Silva Carvalho FILHO** * Doutorada do departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.

Maria Inês Gonçalves LELES** * Doutorada do departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.

Massao IONASHIRO** * Doutorada do departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.

RESUMO: No presente trabalho avaliaram-se as etapas de decomposição térmica de alguns compostos de lantanídeos (III) e ítrio (III), envolvendo diferentes ligantes fenil substituído, derivados do benzalpiruvato, utilizando-se a termogravimetria (TG). Uma correlação foi realizada a partir dos teores dos íons metálicos, comparando-se os resultados obtidos por termogravimetria e titulação complexométrica com EDTA.

PALAVRAS–CHAVE: Termogravimetria (TG); benzalpiruvatos; lantanídeos; ítrio.

Introdução

A síntese de compostos envolvendo lantanídeos e ítrio com ligante fenil substituído, derivado do benzalpiruvato, vem sendo realizado no Laboratório de Análise Térmica Ivo Giolito (LATIG) no Instituto de Química de Araraquara. Esses compostos são estudados utilizando-se basicamente a Termogravimetria (TG), a Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e a Complexometria com EDTA. A partir de trabalhos já realizados, envolvendo alguns desses compostos, procurou-se fazer comparações com os dados obtidos pela Termogravimetria (TG) com relação a etapa de desidratação, etapas referentes a decomposição térmica do composto, os teores dos íons metálicos e os percentuais obtidos por Titulação complexométrica de modo a possibilitar algum tipo de correlação.

A Figura 1 apresenta as estruturas dos ligantes utilizados na síntese dos compostos.


Métodos de caracterização

Termogravimetria (TG)

As curvas TG e DTG dos compostos de lantanídeos e de ítrio, envolvendo os ligantes 4-Cl-BP, 4-MeOBP, CP e DMCP foram obtidas com o emprego de um termoanalisador TA4000 System, da Mettler, dotado de uma microbalança M3 com capacidade máxima para 150 mg e sensibilidade de 1 mg; forno TG50 capaz de operar até 1.000 oC, controlado por um microprocessador TC-11, com uma impressora Epson FX-800 acoplada. Utilizaram-se razão de aquecimento de 5 a 20 oC min-1, atmosfera dinâmica de ar sintético de 150 mL min-1 e cadinho de a-alumina.

Para os 4-dimetilaminobenzalpiruvatos de lantanídeos e ítrio utilizou-se uma termobalança TGS-2 da Perkin-Elmer Corporation, capaz de operar até a temperatura de 1.000oC. Utilizou-se razão de aquecimento de 20oC min- 1, atmosfera dinâmica de ar sintético de 5 mL min-1 e cadinho de platina.

Para todos os compostos analisados, utilizou-se massa de aproximadamente 7 mg.

Complexometria com EDTA

Os teores dos íons metálicos Ln (III) e Y (III) dos compostos foram também determinados por meio de Titulação Complexométrica com EDTA, segundo método descrito por Ionashiro et al.1

Para o preparo das soluções contendo os íons a serem determinados, pesaram-se de cada um dos compostos, utilizando-se uma balança analítica com precisão de 0,1 mg. Após as pesagens, os cadinhos contendo os compostos, foram calcinados até temperatura de 900oC com isoterma de 20 minutos, em uma mufla EDGCON 3P programada para o aquecimento a uma razão de 20oC min-1, em presença de atmosfera estática de ar, sendo então os compostos convertidos em seus respectivos resíduos finais (óxidos ou oxicloretos).

Para a dissolução de cada resíduo, utilizou-se ácido clorídrico concentrado. Esta foi realizada sob aquecimento utilizando-se um béquer de forma alta com capacidade para 500 mL coberto com vidro de relógio. Após evaporação do ácido, adicionou-se pequena quantidade de água e esperou-se evaporar o excesso de ácido, mas evitando crepitações. Este procedimento foi repetido até eliminação do ácido em excesso.

Resultado e discussão

Termogravimetria

A Figura 02 apresenta o gráfico comparativo mostrando a etapa de desidratação para os diferentes compostos de lantanídeos e ítrio. Observou-se que os 4-clorobenzalpiruvatos de lantanídeos apresentaram temperaturas de perda de água de hidratação inferiores aos demais com valores variando de 112 a 138oC correspondendo de 1,5 a 2,5 mols de água. Para os compostos das terras céricas, a temperatura máxima de perda de água foi 138oC. A medida que a série dos lantanídeos foi percorrida, ocorreu de um modo geral diminuição nesta temperatura, não possibilitando nenhuma correlação uma vez que a variação não foi constante.


Para os 4-dimetilaminobenzalpiruvatos de lantanídeos e ítrio a perda de água ocorreu até 170oC correspondendo a maior temperatura para a etapa de desidratação entre esses compostos, e envolveu a saída de 2 mols de água. Nos compostos com o ligante 4-metoxibenzalpiruvato as temperaturas de desidratação ocorreu de 110 a 165oC com a liberação da água variando de 1 a 2 mols.

Os cinamalpiruvatos e os 4-dimetilaminocinamalpiruvatos de lantanídeos apresentaram temperaturas de liberação de água variando de 130 a 158oC (1,5 a 2,4 mols) e 146 a 174oC (3,0 a 4,5 mols), respectivamente.

As Figuras 03 a 07 são representações gráficas indicativas das diferentes etapas de decomposição térmica obtidas pelas curvas TG e DTG dos compostos sintetizados.





Os 4-dimetilaminobenzalpiruvatos de Eu, Gd, Ho, Er e Y apresentaram até seis etapas de perdas de massa com formação de resíduo em temperaturas acima de 600oC . Os compostos de Ce, Pr e Tb apresentaram apenas 4 etapas com formação de resíduo final em 460, 580 e 580oC, respectivamente. Para estes compostos não ocorreu a formação de dioxicarbonatos. Este fato está relacionado com a oxidação desses íons na formação dos respectivos óxidos, CeO2, Pr6O11 e Tb4O7, cujo calor liberado, provocou a queima total do ligante, não permitindo a formação de compostos intermediários3.

Para os 4-clorobenzalpiruvatos de lantanídeos e ítrio a segunda etapa de perda de massa ocorreu até 400oC, com exceção do composto de cério (350oC). Esse fato evidencia o processo de oxidação do Ce 3+ a Ce4+, tornando essa 2a etapa de decomposição térmica mais rápida.

A temperatura de obtenção do resíduo final das terras céricas apresentaram valores pouco variáveis, indicando praticamente a mesma estabilidade dos compostos finais.

Nos compostos de La, Ce, Pr, Nd, Sm e Eu a temperatura de formação do resíduo final ocorreu em torno de 550oC, enquanto que para os demais compostos uma terceira etapa de perda de massa foi observada antes da obtenção do resíduo final. Os resíduos finais foram obtidos em temperaturas entre 728 a 896oC.

Para os 4-metoxibenzalpiruvatos de lantanídeos e ítrio, após a etapa de desidratação, verificou-se a decomposição térmica dos compostos anidros em dois ou três eventos consecutivos com perdas parciais características de cada composto. Na última etapa de decomposição térmica com exceção do Ce(4MeOBP)3, ocorreu a decomposição do dioxicarbonato. Os resíduos foram formados entre as temperaturas de 410 e 895oC.4

Nos cinamalpiruvatos de lantanídeos e de ítrio a decomposição térmica dos compostos ocorreu basicamente em quatro etapas. Os resíduos finais foram obtidos em temperaturas variando de 807 a 893oC. No composto de cério a formação do CeO2 ocorreu em 394oC em correspôndência ao observado em outros compostos devido ao processo de oxidação do Ce3+ para Ce4+.5

Os 4-dimetilaminocinamalpiruvatos de lantanídeos e ítrio apresentaram basicamente de duas a quatro etapas de decomposição térmica. Para os compostos de La, Nd, Sm, Eu e Gd ocorreu evidência de formação quantitativa de dioxicarbonato . Os demais decompõem-se aos respectivos óxidos, sem a formação desse intermediário2.

Complexometria

A complexometria com EDTA é uma das técnicas clássicas mais utilizadas na determinação dos íons metálicos devido principalmente a seletividade desse agente complexante a grupos de metais em razão do pH do meio.

As figuras 08 a 12 são representações gráficas dos teores obtidos através das curvas TGs e da complexometria com EDTA para os íons lantanídeos e ítrio nos diferentes compostos estudados.





Para os 4-dimetilaminobenzalpiruvato de lantanídeos e ítrio, observa-se discrepâncias nos teores obtidos através das curvas TGs e da complexometria com EDTA. Os resultados obtidos por termogravimetria apresentaram valores inferiores e não compatíveis em relação a titulação complexométrica. Essas discrepâncias, parecem ser devido aos resultados obtidos pelas curvas termogravimétricas utilizando-se do registrador X-Y do equipamento TGS-2.

A Figura 09 apresenta os teores para os íons metálicos nos 4-clorobenzalpiruvatos de lantanídeos e ítrio. Nas Terras Céricas não observou-se diferença significativa nos resultados obtidos a partir das curvas TG e Complexometria, provavelmente devido a maior estabilidade apresentada pelos resíduos finais desses compostos.

Os valores comparativos entre os resultados mostraram uma diferença significativa nos compostos de Eu, Gd, Tb e Dy. Estes foram maiores quando obtidos por complexometria. Isso está relacionado provavelmente a formação de diferentes resíduos finais. Considerando-se por exemplo a formação de TbOCl e Tb4O7, em que o percentual para o térbio é de 75,54 e 81,00 %, respectivamente. O resíduo obtido na termogravimetria foi caracterizado como oxicloretos para os compostos de La, Pr, Nd, Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho e Tm. Para os compostos de Ce, Er, Yb, Lu e Y ocorreu a formação de óxido. A metodologia utilizada para a realização da complexometria provavelmente interfere na obtenção do resíduo final quando comparado com os obtidos pela termogravimetria.

Tomando-se como base o composto de térbio, foi observado que a coloração do resíduo obtido para o composto na termogravimetria e complexometria foi marrom-claro e marrom-escuro, respectivamente. Essa última coloração é característica do Tb4O7. Esse fato sugere que a diferença nos valores obtidos é ocasionado pela diferença dos resíduos finais provenientes das diferentes metodologias utilizadas.

Para os compostos de 4–metoxibenzalpiruvato, cinamalpiruvato e 4-dimetilaminocinalmapiruvato de lantanídeos e de ítrio verificou-se uma excelente concordância entre os valores obtidos por Termogravimetria e Titulação complexométrica com EDTA confirmando a confiabilidade dos resultados obtidos pelas curvas TGs.

Conclusão

As temperaturas observadas na etapa de desidratação para os diferentes compostos variaram de 110 a 174oC, indicando perdas de 1,0 a 4,5 mols de água . Esse fato evidencia um caráter aleatório para a liberação da água entre os compostos avaliados.

Pelos gráficos apresentados, pode-se verificar os diferentes comportamentos térmicos dos compostos. Para todos os compostos de cério observou-se uma menor temperatura de formação do seu respectivo óxido (350 a 460oC) em relação aos demais, evidenciando a liberação de energia provocado pela oxidação do Ce 3+ a Ce 4+.

Em virtude das diferentes condições (razão de aquecimento, fluxo de ar e geometria do forno) utilizadas na obtenção das curvas TGs para os compostos avaliados e considerando-se que os intervalos de temperatura em que ocorrem os processos de decomposição térmica são influenciados por tais condições não foi possível estabeler uma correlação da estabilidade térmica dos compostos.

A partir dos dados dos teores do íons metálicos obtidos por termogravimetria e titulação complexométrica observou-se a alta confiabilidade dos resultados obtidos por TG, caracterizando-a como uma técnica rápida, precisa e eficiente.

Agradecimento

Os autores agradecem pelo auxílio financeiro recebido da Fapesp (Processo no 97/01538-0).

FERNANDES, N. S. et al. Comparative Study between some lanthanides and yttrium compounds involving different ligand phenyl-substituted derivatives of benzylidenepyruvate in the solid state. Ecl. Quím. (São Paulo), v.24, p.91-102, 1999.

ABSTRACT: In the present work the thermal decomposition step of some lanthanides and yttrium compounds involving different ligand phenyl-substituted derivatives of benzylidenepyruvate was appraised by thermogravimetry (TG). A correlation about the metal ions content was made by comparision of the results obtained by TG and EDTA complexometry.

KEYWORDS: Termogravimetry (TG); benzylidenepyruvate; lanthanides; yttrium.

Referências Bibliográficas

1 IONASHIRO, M., GRANER, C.A.F., ZUANON NETTO J. Titulação complexométrica de lantanídeos e ítrio. Eclet. Quim. (São Paulo), v.8, p.29–32, 1983.

2 LELES, M.I.G., Preparação, Caracterização e Estudo do Comportamento Térmico dos 4-dimetilaminocinamalpiruvatos de Lantanídeos e de Ítrio no Estado Sólido, Araraquara, 1995, 82p. Tese (Doutorado em Química Analítica), Instituto de Química. Universidade Estadual Paulista.

3 MIYANO, M.H. Preparação, Caracterização e Estudo do comportamento térmico de 4-dimetilaminobenzalpiruvatos de Lantanídeos (III) e Ítrio (III) no Estado Sólido, Araraquara, 1990. 93p. Dissertação (Mestrado) Instituto de Química. Universidade Estadual Paulista.

4 OLIVEIRA, L.C.S., MELIOS, C.B., SPIRANDELI CRESPI, M., RIBEIRO, C.A., IONASHIRO,M. Thermochimica Acta (Amsterdam), v.219, p.215–24, 1993.

5 OLIVEIRA, J.D.S, Preparação, caracterização e estudo do comportamento térmico dos cinamalpiruvatos de lantanídeos (exceto Pm) e de ítrio, no estado sólido. Araraquara, 1996. Tese (Doutorado), Instituto de Química. Universidade Estadual Paulista.

Recebido em 2.2.1999.

Aceito em 4.3.1999.

** Departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.

  • *
    Doutorada do departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNESP - 14801-970 - Araraquara - SP - Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Abr 2000
    • Data do Fascículo
      1999

    Histórico

    • Aceito
      04 Mar 1999
    • Recebido
      02 Fev 1999
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