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História e exercício do julgamento em Montaigne

Resumos

Exemplos, relatos e anedotas históricas são recorrentes nos Ensaios e revelam a maneira original de Montaigne se apropriar da história: como estudo do passado e das ocorrências particulares; como alimento moral; como referência fictícia ou real; através da relação da história com a retórica e a prova argumentativa; como história contemporânea e a crítica da mentalidade cultural; como história de vida. Em todas essas articulações da narrativa histórica, que podemos sintetizar ao modo de uma conversação com os homens do passado e do presente, encontramos o alvo de Montaigne: ir das ações às intenções, do outro para o conhecimento de si, do diverso para o discernimento. A história, sobretudo aquela à maneira plutarquiana, constitui matéria prima indispensável para o exercício do julgamento de Montaigne.

Montaigne; história; julgamento


Examples, reports and historical anecdotes are not hard to find in Les Essais and reveal Montaigne's original way of approaching history: as a study of the past and particular events; as moral nourishment; as fictitious or real reference; by relating history to rhetoric and argumentative proof; as contemporary history and criticism of cultural mentality; as life story. In all these articulations of historical narrative, which we can synthesize as a conversation with men of the past and present time, we find Montaigne's target: to go from actions to intentions, from the other to the knowledge of oneself, from diversity to discernment. History, mainly the one that follows Plutarch's style, composes the raw material indispensable to Montaigne's exercise of judgment.

Montaigne; history; judgment


ARTIGOS

História e exercício do julgamento em Montaigne

Maria Cristina Theobaldo

Professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso, E-mail: mctheobaldo@gmail.com

RESUMO

Exemplos, relatos e anedotas históricas são recorrentes nos Ensaios e revelam a maneira original de Montaigne se apropriar da história: como estudo do passado e das ocorrências particulares; como alimento moral; como referência fictícia ou real; através da relação da história com a retórica e a prova argumentativa; como história contemporânea e a crítica da mentalidade cultural; como história de vida. Em todas essas articulações da narrativa histórica, que podemos sintetizar ao modo de uma conversação com os homens do passado e do presente, encontramos o alvo de Montaigne: ir das ações às intenções, do outro para o conhecimento de si, do diverso para o discernimento. A história, sobretudo aquela à maneira plutarquiana, constitui matéria prima indispensável para o exercício do julgamento de Montaigne.

Palavras-chave: Montaigne; história; julgamento.

ABSTRACT

Examples, reports and historical anecdotes are not hard to find in Les Essais and reveal Montaigne's original way of approaching history: as a study of the past and particular events; as moral nourishment; as fictitious or real reference; by relating history to rhetoric and argumentative proof; as contemporary history and criticism of cultural mentality; as life story. In all these articulations of historical narrative, which we can synthesize as a conversation with men of the past and present time, we find Montaigne's target: to go from actions to intentions, from the other to the knowledge of oneself, from diversity to discernment. History, mainly the one that follows Plutarch's style, composes the raw material indispensable to Montaigne's exercise of judgment.

Keywords: Montaigne; history; judgment.

Em várias passagens dos Ensaios1 1 Neste estudo as citações seguirão a edição brasileira dos Ensaios, Livros I, II e III, da Editora Martins Fontes, traduzida por Rosemary Costhek Abílio conforme à edição francesa Les Essais, da PUF estabelecida por P. Villey, segundo o exemplar de Bordeaux (com os acréscimos da edição póstuma). Nas referências aos Ensaios, o algarismo romano indica o livro e os algarismos arábicos indicam, em sequência, o capítulo, a página na edição francesa e a página na tradução brasileira. As letras A, B e C entre colchetes referem-se às camadas do texto: 'A' para a primeira edição, de 1580; 'B' para os acréscimos da segunda edição, de 1588; e 'C' para os acréscimos da edição póstuma de 1595, segundo o manuscrito de Bordeaux (designação para o exemplar da segunda edição dos Ensaios com novos acréscimos escritos por Montaigne, encontrado após a morte). as conversas entre os homens e a leitura do "livro do mundo", desde que acompanhadas de uma "honesta curiosidade de informar-se sobre todas as coisas [...]" (I, 23, 156/223), são sugeridas como vias para a expansão tanto da percepção do lugar que cada um de nós ocupa no mundo, como também da consciência dos grandes feitos e das ninharias da existência humana. Os exemplos, os acontecimentos, as frequentações, enfim, a conversação expressa em linguagens diversificadas (cartas, autobiografias, narrativas históricas) proporciona a experiência da relativização dos pontos de vista, conduzindo à apreensão de novas dimensões sobre as coisas. O mundo dos homens e das coisas é, pois, um "livro bastante [suficiente, suffisant]" que deve ser frequentado e mantido diante dos olhos para ser observado, incorporado e resignificado.

Trata-se, então, de abrir o "grande livro do mundo"2 2 Ver Spallanzani, M. "'Le grand livre du monde' et 'le magnifique théâtre des vies'. Montaigne, Descartes, La Mothe le Vayer". . Lembremos que as metáforas em torno do livro são amplamente adotadas na Renascença. A ideia da natureza e do mundo como livro escrito por Deus e lido pelos homens tem sua origem na teologia medieval e segue laicizada e difundida pelas ciências e pelas filosofias do Renascimento e da modernidade. A metáfora do livro em teor teológico está presente, por exemplo, na obra de Sebond, Livro das criaturas, do qual Montaigne foi tradutor.

Para o ensaísta, os "livros" sobre as coisas do mundo e dos homens estão abertos para que neles se leiam as experiências alheias, se escrevam as próprias e se converse sobre todas elas. A realidade pessoal e a vida como um todo podem ser neles inscritas, contrastadas e comparadas, permitindo que as opiniões se estendam muito além da perspectiva imediata dos modos de viver particulares, ampliando a matéria indispensável para o pleno exercício do julgamento. Ainda nessa perspectiva, a conversação com o "livro do mundo" se contrapõe criticamente à leitura erudita e pedante, cujo estudo sempre está sujeito à intermediação das autoridades (mestres, eruditos etc.) e dos dogmatismos que travam a liberdade de reflexão e expressão3 3 Sobre o mundo intelectual do humanismo renascentista e as críticas de Montaigne à cultura livresca, ver o artigo de Sergio Cardoso, "Montaigne: uma ética para além do humanismo". . Como veremos, a "maneira" de ler e os "livros" propostos por Montaigne são muito mais instigantes e envolventes. A conversação com os homens também se faz pela história registrada nos livros, nos relatos e exemplos, nas histórias particulares. Sobretudo, as decisões dos "homens ilustres do passado" se prestam ao confronto com as do presente e com as "ocorrências particulares" de cada um de nós. Assim, a conversação com a história é muito mais que compreendê-la como um relicário de feitos dispostos numa linha do tempo. Nos relatos e nos critérios dos historiadores apreendemos "a anatomia da filosofia" (I, 26, 156/234), ou seja, o livro de história, se bem digerido4 4 Sobre a metáfora da digestão, ver Ensaios, Livro I, 26. Trata-se da incorporação ou digestão dos sentidos das coisas, transformando-os em matéria própria. , é um prato nutritivo para a reflexão. É preciso, pois, degustar5 5 Conforme Desan: "Nós sabemos que Juste-Lipse escolhe traduzir " essais" pela palavra latina gustus, e que em diversas ocasiões a ideia de degustação é associada aos ensaios". Desan, P. "La ruse des Essais". p. 247. a história, digeri-la e transformá-la em matéria de análise.

Degustar ou conversar com os livros de história abre um horizonte de possibilidades interpretativas na medida em que estimula o confronto de ideias, a correção das opiniões e o exercício do discernimento. Mas também é uma prática exigente. Como em toda conversação apropriada, aquela que provoca e ativa o pensamento6 6 Sobre a conversação ver Ensaios, III, 8. , condições mínimas precisam ser dispostas e equacionadas.

A conversação com os livros de história

Parte significativa do "comércio dos homens" se realiza nos livros. Fonte de conversação indireta, o livro é essencial para o contato com os humores dos grandes homens do passado e para aprender sobre os costumes e a moral. Montaigne escreve: "Nessa frequentação dos homens, pretendo incluir também, e principalmente, os que vivem apenas na memória dos livros. [...] por meio das histórias, as grandes almas das melhores épocas." (I, 26, 156/233-234)

Montaigne desfruta na companhia dos livros um "divertimento honesto" que, ao contrário da frequentação dos homens, está sempre acessível para prestar-lhe serviço, prazer e companhia7 7 Ver II, 10, 409/116. . No Livro II dos Ensaios, capítulo "Dos livros", comenta seu prazer pela leitura, sobre sua biblioteca e de como e com que intuito se dedica à leitura, passando, em seguida, a discorrer sobre o que o atrai na poesia, na filosofia moral e, especialmente, na história. Entre os livros para diversão estão Boccaccio, Rabelais, Jean Second. Dos antigos, a poesia de Virgílio, Lucrécio, Catulo, Horácio. Contudo, os livros não são só prazer, neles também há estudo, conhecimentos que podem se tornar significativos na medida em que colaboram para o conhecimento de si e ensinam a viver e a morrer bem. Entre as leituras que, além do prazer, trazem "[...] um pouco mais de fruto, onde aprendo a regrar meus humores e minhas disposições [...]" (II, 10, 413/122) estão Plutarco, seu preferido, Sêneca e as obras morais de Cícero. Entre os historiadores antigos: Diógenes Laércio, César e, novamente, Plutarco. Na companhia dos livros Montaigne não está interessado em adquirir conhecimentos para ostentação (o que confessa já tê-lo pretendido), e muito menos aprimorar-se em eloquência ou em gramática ou dialética8 8 Ver II, 10, 414/123 - 124. . Sua intenção é a sagesse, o conhecimento das almas e das opiniões, sem outro intuito a não ser o de desvendar a si mesmo; é o que procura, por exemplo, na leitura das cartas de Cícero. Por outro lado, confessa que a retórica de Cícero e até mesmo os rodeios, os excessos de assuntos e as introduções dos diálogos platônicos lhe cansam e causam enfado.

E que proveito se espera retirar dos livros de história? A resposta desta questão nos remete à economia da noção de história nos Ensaios, ao papel que lhe é conferido e à seleção dos historiadores a serem frequentados.

A presença da história nos Ensaios

1. História como estudo do passado e das ocorrências particulares

Montaigne, como bem coloca Starobinski, compreende a história ou como estudo do passado – a ciência história - ou como referência às histórias dos indivíduos – as "ocorrências particulares" e diversas. Não há nestes empregos a compreensão de uma ordenação que ofereça sentido de conjunto e, muito menos, a ideia de progresso9 9 Starobinski, J. Montaigne em Movimento. p. 255. . Um acontecimento pode ser fruto de um lance da fortuna, de circunstâncias sempre singulares, de um espírito impressionável, "uma imaginação forte produz o acontecimento." (I, 21, 97/144).

2. História como alimento moral do caráter

A presença da história nos Ensaios não objetiva constituir um todo ordenado, apresentando uma visão abrangente de uma época ou de um fato. Ela aparece mais como uma motivação particular, que busca no exterior, através do exemplo, da anedota histórica, do acontecimento, o mote para fazer emergir o interior. A história é antes de tudo um pretexto10 10 Desan, P. "La ruse des Essais". .

Segundo Friedrich11 11 Friedrich, H. Montaigne. , as passagens históricas nos Ensaios são descontínuas do ponto de vista factual, servem mais para mostrar a diversidade e a imprevisibilidade das coisas humanas, e podem ser entendidas como meios de conexão para ativar a reflexão e o autorretrato. Nesse sentido, as histórias não são apresentadas como relatos fidedignos ou lições exemplares a serem copiadas. Em outras palavras, Montaigne não se utiliza, ou só o faz muito tangencialmente, da história como magistra vita, como mestra de onde se recolhe ensinamentos dos acontecimentos passados para guiar o presente ou o futuro:

A história é para ele uma mistura de ações, de gestos, de breves entretenimentos, de situações morais ou sociais, de costumes, de traços de caráter. Tudo presente em belos quadros que golpeiam os sentidos, mas deixando-lhe sua incoerência, sua gratuidade, fora de qualquer perspectiva cronológica. Na figura histórica do homem, não mais que em si mesmo, ele não discerne evolução, nem orientação no escoamento do diverso. Ele não necessita dos fatos históricos para apreender que nossa condição é de mudança perpétua, já o sabe.12 12 Friedrich, H. Montaigne. p. 216.

Podemos ter a dimensão da peculiaridade da proposta montaigniana em relação ao uso da história ao confrontá-la, por exemplo, com a de Vives, que concebe a história como "mestra da vida" no seu sentido mais pleno. Vale a pena acompanhar Vives; o contraste é claro:

Primeiro a história deve reter-se na cronologia ou razão dos tempos; logo, os fatos e os ditos que podem ter exemplaridade, tanto para imitar o bem como para evitar o mal. Não se há de pôr cuidado excessivo em seguir as guerras e batalhas, que somente instruem para o dano e ensinam os procedimentos com que podemos lesionarmo-nos mutuamente. [...] Melhor se fará dando preferência aos temas da paz [...]. Em seguida, virão as sentenças e as respostas agudas dos homens dotados de talento, enriquecidas de experiências, especialmente aquelas que com voz grega se denominam apotegmas. A continuação, os conselhos e determinações [...]; as palavras de quem se destacaram sobre os outros em probidade, sabedoria e conhecimento nas boas letras, como são os filósofos, entre os quais os sobressaem os santos de nossa religião. [...] Na História é importante sobremaneira o conhecimento dos lugares ou, digamos, a topografia, sem a qual é praticamente ininteligível.13 13 Vives, J. L. Las disciplinas, parte II, livro V. p. 650 - 651.

3. A história como contingência fictícia ou real

Por vezes a presença dos acontecimentos históricos nos Ensaios visa imprimir referências baseadas nas experiências, preferidas que são em detrimento das especulações; em outros momentos são tomados como suporte para apresentar a grande "variedade das ocorrências", sua singularidade e imprevisibilidade. Não se trata, na maioria dos registros, da preocupação em historiar o fato real ou apresentar uma narrativa verdadeira (como pretende Bodin), ou mesmo uma experiência exemplar. Não há em Montaigne a intenção de fazer com que a história afiance com base real os seus argumentos. Nas palavras de Montaigne:

E também, no estudo em que trato de nossos costumes e movimentos, os testemunhos fabulosos, contanto que sejam possíveis, servem tanto como os verdadeiros. Tendo acontecido ou não, em Paris ou em Roma, a João ou a Pedro, é sempre um lance da capacidade humana, do qual sou proveitosamente informado por esses relatos. Examino-o e tiro proveito dele tanto em sombra como em corpo (I, 21, 105/156-157).

Menos que alcançar similitudes e regularidades14 14 Sobre as regularidades na natureza e nas coisas do homem, ou, na visão de Montaigne, a ausência delas, ver Scoralick, A. Experiência e moralidade no último dos ensaios de Montaigne. , tarefa atribuída à história como magistra vitae, ou seja, a história como suporte ou guia para o presente, Montaigne destaca a contingência da história; os relatos – reais ou inventados – valem, sobretudo, como matéria e mote para seus comentários e reflexões. A narrativa montaigniana, fantasiosa ou não, é matéria a ser explorada. Assim diz Tournon: "[...] os filósofos pretendem estabelecer o necessário, e a norma; os historiadores pretendem dizer o real; Montaigne recusa as certezas de uns e de outros, e se interroga sobre "ce qui peut advenir [o que pode ocorrer]"15 15 Tournon, A. "Advenu ou non advenu...". p. 38. .

Nessa perspectiva, a história também não é apenas um fundo ilustrativo ou exemplificativo ao discurso, como encontramos na própria crítica de Montaigne aos retóricos ou aos pedantes. O relato de um fato corriqueiro ou de um acontecimento público (real ou fictício), as datas e os lugares, antes de valerem em si mesmos, são matéria e ignição para o comentário; a partir deles uma nova interpretação pode ser acionada: "[A] Que não lhe ensine tanto as histórias quanto a julgar sobre elas. [C] Na minha opinião, essa é, entre todas, a matéria a que nossos espíritos se aplicam em mais diversa medida" (I, 26, 156/234).

4. A história e a gramática

Segundo Montaigne, o estudo da história tem, por vezes, finalidades diversas daquelas que ele próprio procura e recomenda: "[C] Para alguns esse é um puro estudo gramatical [...]"(I, 26, 156/234). Temos aqui uma referência à interface entre a história e as letras, ainda fortemente presente à época de Montaigne e, especialmente, na própria escrita da história. A relação da história com a gramática remonta à tradição que vinculava a narrativa histórica à eloquência do orador, interdependência que aos poucos será dissolvida pela exigência de despir a história dos vícios da ornamentação (o que já era criticado por Cícero e Quintiliano16 16 Ver Quintilien. F. Institution Oratoire. Livro XII, 4 (La connaissance de l'histoire est indispensable à l'orateur), p. 311. ) em favor da criação de um gênero independente, que efetivamente só despontará no século XVII.

No capítulo "Dos livros", a crítica acerca da relação entre a gramática e a história é posta claramente:

[A] Quase sempre são escolhidas para essa tarefa [relatar a história], e principalmente nestes séculos, pessoas do vulgo, pela única consideração de saberem falar bem, como se com elas procurássemos aprender gramática! E, tendo sido engajadas apenas para isso e tendo posto à venda apenas a tagarelice, têm razão de se preocuparem tão prioritariamente apenas com essa parte. Assim, à custa de belas palavras, vão nos guisando uma bela textura dos rumores que recolhem nas esquinas das ruas. (II, 10, 417/129).

São duas as recusas de Montaigne: rejeição ao relato histórico ornado e ao exemplo histórico como prova argumentativa, pois a um exemplo sempre se pode contrapor um exemplo contrário, ou seja, a diversidade das experiências humanas e das circunstâncias impede qualquer tipo de generalização ou de modelo. Sobretudo, a história é o relato das possibilidades e instabilidades humanas17 17 Ver Demonet, Marie L. "Le genre historique dans les Essais: quand ils'agit de parler des choses''. p. 103ss. .

5. A história contemporânea

Segundo Nakam, Montaigne não é historiador, mas seus escritos estão carregados de uma singular forma de penetrar nos acontecimentos de seu tempo18 18 Para Nakam a compreensão da História em Montaigne se faz por comparação com o outro, na percepção do outro (outros tempos, outros acontecimentos, outros homens). Nakam, G. "Le temps en miroir". p. 48. . É o que encontramos, por exemplo, nos capítulos "Da crueldade" (Livro II, 11) e "Dos Coches" (Livro III, 6). Entretanto, Montaigne suspeita dos registros históricos e dos historiadores19 19 Os comentários de Montaigne acerca de César, Bodin e Guichardin podem ser encontrados no Livro II, capítulo 10; sobre Tácito, no Livro III, capítulo 8 e sobre Plutarco, no Livro I, capítulo 26. : "[B] Temo que nosso conhecimento seja fraco em todos os sentidos; não vemos nem muito longe, nem muito para trás; ele abarca pouco e vive pouco, curto tanto em extensão de tempo como em extensão de matéria" (III, 6, 907/183). Não há como certificar a veracidade ou não dos relatos e nem como apreender toda a diversidade e variedade dos acontecimentos; nossa ignorância será sempre infinitamente maior do que aquilo que podemos apurar e reunir:

[B]. Ainda que tudo o que chegou até nós por relatos do passado fosse verdade e fosse conhecido por todos, seria menos que nada em comparação com o que é ignorado. E dessa mesma imagem do mundo que flui enquanto nele estamos, quão pálido e estreito é o conhecimento dos mais curiosos (III, 6, 908/184).

A partir da história contemporânea, ainda segundo Nakam20 20 Nakam, G. Montaigne et son temps. p. 444. , Montaigne compõe extratos para mediar suas reflexões sobre a mentalidade cultural de seu tempo. Porém, mais uma vez, nessa apropriação não há preocupação com a cronologia ou com a ordenação dos assuntos; os relatos são articulados conforme se fazem oportunos para construir um paralelo, para desencadear uma reflexão moral ou uma advertência pedagógica. Variam as histórias, permanece a intenção do comentário.

Por assim fazer, Montaigne descarta a possibilidade de se tornar um historiador, mesmo sob o apelo insistente de seus conhecidos21 21 Ver I, 21, 106/157. . Ele sabe das exigências do trabalho do historiador, conhece as indicações de Bodin22 22 Trata-se do livro Methodus ad facilem historiarum cognitionem, de 1566. Sobre Bodin, Montaigne escreve no capítulo "Defesa de Sêneca e Plutarco": "[A] Jean Bodin é um bom autor de nossa época e dotado de mais discernimento do que a turba de escrevinhadores de seu século, e merece que o julguemos e consideremos" (II, 32, 722/583). – a investigação histórica deve ser ladeada pelo cuidadoso exame dos documentos e das terminologias23 23 Nakam, G. Les essais de Montaigne: miroir et procès de leur temps. p. 239. :

[C] [...] tal busca da verdade não é mesmo tão difícil que sobre um comandante não possamos confiar no conhecimento daquele que o comandou, nem nos soldados sobre o que aconteceu perto deles, se, à maneira de uma investigação judicial, não confrontarmos as testemunhas e não acolhermos as objeções sobre a prova dos pequenos detalhes de cada particularidade. Verdadeiramente, o conhecimento que temos de nosso assunto é bem mais fraco. Mas isso já foi suficientemente tratado por Bodin, e de acordo com minha concepção (II, 10, 418/130-131).

No final do capítulo "Da força da imaginação" (I, 21) encontramos os motivos da recusa do ensaísta em historiar seu tempo. Num primeiro bloco de argumentos destaca sua desconfiança dos depoimentos e das conjecturas apresentadas pelas testemunhas dos acontecimentos; confessa dificuldade em se adaptar ao trabalho sistemático do historiador; manifesta sua precaução em relação ao risco de se expressar livremente, enfim, manifesta escrúpulo e prudência. Em seguida, nas últimas linhas do mesmo capítulo, o motivo nuclear aparece subsidiado pela referência a Plutarco: um suposto Montaigne historiador não iria à caça da verdade esclarecedora. Se ela lhe chegasse, tratar-se-ia mais da obra de outro que dele; sua preocupação é menos com a verdade histórica e mais, como à moda plutarquiana, com a "verdade emprestada", com o comentário que ilumina as ações e os acontecimentos24 24 Ver I, 21, 106/158. .

Montaigne está, na verdade, propondo uma nova maneira de abordar a história, qual seja: a partir da contribuição que ela pode oferecer para o exercício do julgamento. Como vimos, a história não deve ser entendida como um manancial de ensinamentos dos acontecimentos do passado para com eles se garantir acertos no presente (história mestra). Ela também não oferece conhecimentos que permitam escapar da fortuna, e nem é possível, através de seu estudo, gerar um quadro classificatório das atitudes dos homens. Sequer é possível supor que ela ofereça uma narrativa fidedigna dos acontecimentos. Em síntese, a diversidade humana é tamanha e as circunstâncias que envolvem cada acontecimento são tão singulares que não é possível extrair do passado lições exemplares para o presente. Cada acontecimento do passado ou do presente envolve interesses e intenções específicas, e o julgamento sobre eles é sempre de validade circunscrita25 25 Ver I, 1, 9/10-11. .

No capítulo "Por meios diversos chega-se ao mesmo fim" (I, 1), são-nos apresentados vários exemplos históricos cujas consequências presumíveis não se concretizam conforme o esperado, seja pelas teorias de tipificação dos caracteres, seja pelas sentenças morais propagadas pela tradição26 26 Para um detalhado estudo sobre este capítulo e sobre a pertinência dos exemplos nos Ensaios, ver Pedroso, S. P. de T. Ensaios de Montaigne: "jugement" e sua forma. . Montaigne procura mostrar que os exemplos buscados na história, nas sentenças morais ou na tradição não oferecem uma saída segura para o conhecimento sobre os homens e para a previsão de suas ações, pois que uma mesma conduta pode estar presente em variados contextos e por variados motivos gerar reações diferentes. Em se tratando dos homens, são infinitas as combinações que levam às ações, não há exemplos, máximas ou tipologias morais que consigam fundar uma generalidade sobre a diversidade das práticas humanas: "[A] Decididamente o homem é um assunto espantosamente vão, variado e inconstante. Sobre ele é difícil estabelecer um juízo firme e uniforme" (I, 1, 9/10). Em cada situação é sempre necessário recorrer ao exercício do julgamento.

Os frutos a serem colhidos no estudo da história não se vinculam, portanto, nem à prova factual, nem à verdade dos acontecimentos, nem ao aconselhamento. O alvo de Montaigne reside na reflexão moral que a história pode oferecer. Plutarco é um bom exemplo do que aqui está em causa: "Plutarco de bom grado nos diria, sobre o que fez, que é obra de outrem que seus exemplos sejam em tudo e por tudo verdadeiros; que é obra sua que sejam úteis à posteridade e apresentados como um lustre que nos ilumina para a virtude" (I, 21, 106/158).

6. A história de vida (anatomia da filosofia)

Montaigne procura afastar os historiadores que não estão nem entre aqueles considerados excelentes nem entre os considerados simples. O historiador excelente, o verdadeiro historiador, por sua competência em escolher o que efetivamente vale ser conhecido e pelo julgamento que expressa, revela com isso a si próprio. O historiador simples, o cronista, é aquele que registra de boa-fé todos os acontecimentos, deixando a cargo do leitor o trabalho de selecionar os fatos conforme seu entendimento e interesse. Os historiadores que não se encaixam entre os simples ou entre os excelentes são, justamente, aqueles que abusam da eloquência, que omitem ou torcem os acontecimentos, segundo suas opiniões e conveniências.

A história entendida como "[...] a anatomia da filosofia, na qual as mais abstrusas partes de nossa natureza são penetradas" (I, 26, 156/234), indica um enfoque peculiar em relação aos historiadores e à própria história: é através dela que a alma humana se revela em atos, a partir dos quais podemos refletir e julgar os homens. Montaigne não busca nos livros de história o conhecimento dos fatos em si, tanto é que na maioria das vezes são apresentados sem marco temporal. Sobretudo, interessa conhecer os homens que escrevem tais livros, como pensam e como julgam a diversidade dos acontecimentos e dos protagonistas neles envolvidos. É com estes historiadores que o debate frutífero pode se efetivar:

[C] o homem em geral, que procuro conhecer, neles [nos historiadores] aparece mais vivo e mais inteiro do que em qualquer outro lugar, a diversidade e verdade de suas condições internas no todo e nos detalhes, a variedade das formas como se agrupa e das ocorrências que o ameaçam (II, 10, 416/127).

O interesse na história está na sua potencialidade de revelar o caráter dos homens, de mostrar como as intenções afetam o curso dos acontecimentos; a visada consiste em ir da exterioridade das ações para o interior das almas, por isso ela pode nos instruir sobre tais matérias. Na leitura da história, na conversação sobre as vidas ali registradas, as almas são sondadas e a maneira de ajuizar conhecida, trata-se de um arquivo de julgamentos. Pela história, então, conhecemos a diversidade dos homens e de suas intenções e, ainda, o que mais particularmente interessa a Montaigne, o exercício do juízo do próprio historiador. Sobre esse último aspecto, nas últimas linhas do capítulo "Da arte da conversação" há um contundente debate de Montaigne com Tácito27 27 Sobre tal passagem no "Da arte da conversação", ver Querubini, E . Montaigne e a Arte da Conversação: a conversação para a 'maneira'. . O transcurso da argumentação não diz respeito aos relatos que o historiador apresenta, se são fiéis aos acontecimentos ou não. Montaigne está julgando Tácito a partir dos pontos de vista (dos julgamentos) apresentados em tais relatos e da narrativa que ele faz sobre seu próprio envolvimento nos acontecimentos. É sobre a maneira de julgar e de se pôr em causa que recai a avaliação: "Um juízo vigoroso e elevado e que julgue com pertinência e com segurança utiliza de todas as maneiras tanto exemplos pessoais como coisa alheia e testemunha tão francamente sobre si como sobre coisa de terceiros" (III, 8, 942/234).

Entre os bons historiadores encontramos Diógenes Laércio, César, Tácito, Tito Lívio, Salústio, até mesmo Cícero, e, principalmente, Plutarco. Plutarco é o modelo, a ele Montaigne não poupa palavras elogiosas: "[A] Há em Plutarco muitas reflexões extensas, muito dignas de serem conhecidas, pois em minha opinião ele é o mestre de obras de tal atividade [...]" (I, 26, 156/234), ou ainda:

[A] pois em suas comparações (que são a parte mais admirável de suas obras e na qual, em minha opinião, ele se comprazeu particularmente), a fidelidade e a autenticidade de seus julgamentos igualam sua profundidade e peso. É um filósofo que nos ensina a virtude (II, 32, 726/589).

Como deixa claro Castellani28 28 Mathieu-Castellani, G. "Lecture (de l'histoire), écriture (de l'essai): le modèle de la Vie". p. 83-90. , estamos no tipo de história que mais interessa a Montaigne, a história das vidas, das coisas comuns dos homens e das quais se pode extrair um julgamento moral: "[A] Ora, os que escrevem as vidas, na medida em que se ocupam mais das intenções que dos acontecimentos, mais daquilo que provém do íntimo que daquilo que acontece fora, esses me são mais apropriados" (II, 10, 416/127).

Todas as qualidades do historiador excelente estão reunidas em Plutarco. (a) Realiza uma seleção pertinente dos acontecimentos, sabe escolher o que importa ser conhecido e deixa ao leitor margem para as próprias reflexões e julgamentos: "[A] somente aponta com o dedo por onde devemos ir, se nos aprouver, e às vezes se limita a dar uma estocada no ponto mais sensível de um assunto". (b) Dedica-se às ações privadas e singulares em vez de se deter nos grandes fatos. Aquelas, e não estes, é que são reveladoras do caráter dos homens e, portanto, propícias ao exercício do julgamento moral: "[A] O próprio fato de vê-lo escolher uma ação trivial da vida de um homem, ou uma afirmação que parece não ter importância, é matéria para reflexão". (c) Ele também prima pela brevidade, o que é uma boa qualidade, mas que, devido à excelência de Plutarco, acaba por prejudicar seus leitores, que lucrariam mais se fosse mais extenso: "[A] É lamentável que as pessoas inteligentes apreciem tanto a brevidade: sem dúvida sua reputação se beneficia mais, porém nós nos beneficiamos menos. [...] Ele sabia que mesmo nas coisas boas pode-se falar demais [...]". (d) Não se perde em ornamentos e em belas palavras que nada acrescentam ao fundamental: "[C] Os que têm o corpo franzino aumentam-no com enchimentos; os que têm a matéria minguada inflam-na com palavras". (e) E, o que parece ser a qualidade mais significativa, a expressão do julgamento pessoal sobre a matéria que escreve: "[A] Plutarco prefere que o elogiemos por seu julgamento, mais que por seu saber" (I, 26, 156-157 / 234-235).

Plutarco vai direto à matéria que interessa a Montaigne: a vida, os atos morais e o caráter dos homens, com um relato impregnado por seus próprios julgamentos. E, ao revelar a vida dos outros homens, revela a si próprio: "[A] Os escritos de Plutarco, quando bem saboreados, revelam muito dele, e penso conhecê-lo até a alma" (II, 31, 716/574). Não é a história dos acontecimentos que instiga o ensaiar de Montaigne, e, sim, os homens que avaliam e escrevem sobre as ações de outros homens, como faz Plutarco.

A experiência da conversação com o livro de história, principalmente quando ampliada pelo ajuizamento dos historiadores, pelas histórias particulares dos homens de diversas épocas e lugares, colabora para redimensionar os pontos de vista formados a partir do familiar e do habitual e abre espaço para novas perspectivas. Todas essas experiências fornecem um conjunto de balizas indispensáveis para o discernimento. Ao nos livrarmos da estreiteza de nossas opiniões, que nos "trancam" e "amontoam" em nós mesmos, conseguimos compor um "quadro sinótico"29 29 A expressão é de Starobinski: "em suas proposições pedagógicas, Montaigne insiste na necessidade de exibir aos olhos do aluno a imagem do mundo como um vasto quadro sinótico, onde todos os acidentes da história, imobilizados, tornam-se quase contemporâneos e se deixam interpretar em função do serviço atual que nos podem prestar; ora, o primeiro que nos prestam é ensinar-nos a relatividade de nossa situação." Starobinski, J. Montaigne em Movimento. p. 271. das práticas dos homens (das variações dos modos de vida, dos costumes, das leis) e da real dimensão da nossa existência, no qual poderemos perceber as limitações e a fragilidade de nossas avaliações. Montaigne escreve:

[A] sentimentos [humores], facções, julgamentos, opiniões, leis e costumes [que] nos ensinam a julgar com exatidão [sadiamente] os nossos próprios, e ensinam nosso julgamento a reconhecer sua própria imperfeição e sua fraqueza natural [...] (I, 26, 158/236).

Diante de tantas histórias, a percepção da própria pequenez e limitação é inevitável. Tal constatação implica num duplo exercício. De um lado, o contato com o múltiplo e com o diferente representado no outro conduz, por comparação, ao conhecimento de si e das próprias limitações: a "imperfeição" e a "fraqueza natural" dos julgamentos. De outro, também por comparação, se tem a compreensão de que as mazelas do homem e suas pequenas ou grandes glórias, apesar de jamais idênticas, são comuns e extensivas a toda humanidade e todas as épocas. Por comparação percebemos que somos similares em nossos inúmeros defeitos, pequenos feitos e grandes vaidades:

[...] Tantas revoluções de estado e mudanças na fortuna pública instruem-nos a não nos espantarmos demais com a nossa. Tantos nomes, tantas vitórias e conquistas sepultados sob o olvido tornam ridícula a esperança de eternizar nosso nome pela captura de dez soldadinhos e de uma pocilga que é conhecida apenas por causa de sua queda. O orgulho e a altivez de tantas pompas estrangeiras, a majestade tão emproada de tantas cortes e grandezas firma e fortalece nossa vista para sustentar o esplendor das nossas sem fechar os olhos. Tantos milhares e milhares de homens, enterrados antes de nós, encorajam-nos a não termos medo de ir encontrar tão boa companhia em outro mundo. E assim sucessivamente. (I, 26, 158/236).

Para o exercício do julgamento a pluralidade dos acontecimentos, das vidas e das ações apresentadas nos livros de história oferece um alimento diversificado à degustação; a cada um cabe, justamente, o esforço da digestão e da avaliação inédita e singular. Montaigne nos aponta uma maneira de fazê-lo.

Artigo recebido em 30 de maio de 2012 e aprovado em 18 de julho de 2012.

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  • ______. Les Essais Éd. Pierre Villey. Paris: PUF, 1999. v. II.
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  • QUINTILIEN. F. Institution Oratoire Tradução de Henri Bornecque. Paris: Garnier Frères, 1934.
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  • STAROBINSKI, J. Montaigne em Movimento Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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  • VIVES, J. L. Las disciplinas, parte II, livro V. In: Obras Completas, v. II. Tradução de Lorenzo Riber. Madrid: M. Aguilar, 1948.
  • 1
    Neste estudo as citações seguirão a edição brasileira dos
    Ensaios, Livros I, II e III, da Editora Martins Fontes, traduzida por Rosemary Costhek Abílio conforme à edição francesa
    Les Essais, da PUF estabelecida por P. Villey, segundo o exemplar de Bordeaux (com os acréscimos da edição póstuma). Nas referências aos
    Ensaios, o algarismo romano indica o livro e os algarismos arábicos indicam, em sequência, o capítulo, a página na edição francesa e a página na tradução brasileira. As letras A, B e C entre colchetes referem-se às camadas do texto: 'A' para a primeira edição, de 1580; 'B' para os acréscimos da segunda edição, de 1588; e 'C' para os acréscimos da edição póstuma de 1595, segundo o manuscrito de Bordeaux (designação para o exemplar da segunda edição dos
    Ensaios com novos acréscimos escritos por Montaigne, encontrado após a morte).
  • 2
    Ver Spallanzani, M. "'Le grand livre du monde' et 'le magnifique théâtre des vies'. Montaigne, Descartes, La Mothe le Vayer".
  • 3
    Sobre o mundo intelectual do humanismo renascentista e as críticas de Montaigne à cultura livresca, ver o artigo de Sergio Cardoso, "Montaigne: uma ética para além do humanismo".
  • 4
    Sobre a metáfora da digestão, ver
    Ensaios, Livro I, 26. Trata-se da incorporação ou digestão dos sentidos das coisas, transformando-os em matéria própria.
  • 5
    Conforme Desan: "Nós sabemos que Juste-Lipse escolhe traduzir "
    essais" pela palavra latina
    gustus, e que em diversas ocasiões a ideia de degustação é associada aos ensaios". Desan, P. "La ruse des
    Essais". p. 247.
  • 6
    Sobre a conversação ver
    Ensaios, III, 8.
  • 7
    Ver II, 10, 409/116.
  • 8
    Ver II, 10, 414/123 - 124.
  • 9
    Starobinski, J.
    Montaigne em Movimento. p. 255.
  • 10
    Desan, P. "La ruse des
    Essais".
  • 11
    Friedrich, H.
    Montaigne.
  • 12
    Friedrich, H.
    Montaigne. p. 216.
  • 13
    Vives, J. L.
    Las disciplinas, parte II, livro V. p. 650 - 651.
  • 14
    Sobre as regularidades na natureza e nas coisas do homem, ou, na visão de Montaigne, a ausência delas, ver Scoralick, A.
    Experiência e moralidade no último dos ensaios de Montaigne.
  • 15
    Tournon, A. "Advenu ou non advenu...". p. 38.
  • 16
    Ver Quintilien. F.
    Institution Oratoire. Livro XII, 4 (La connaissance de l'histoire est indispensable à l'orateur), p. 311.
  • 17
    Ver Demonet, Marie L. "Le genre historique dans les
    Essais: quand ils'agit de parler des choses''. p. 103ss.
  • 18
    Para Nakam a compreensão da História em Montaigne se faz por comparação com o outro, na percepção do outro (outros tempos, outros acontecimentos, outros homens). Nakam, G. "Le temps en miroir". p. 48.
  • 19
    Os comentários de Montaigne acerca de César, Bodin e Guichardin podem ser encontrados no Livro II, capítulo 10; sobre Tácito, no Livro III, capítulo 8 e sobre Plutarco, no Livro I, capítulo 26.
  • 20
    Nakam, G.
    Montaigne et son temps. p. 444.
  • 21
    Ver I, 21, 106/157.
  • 22
    Trata-se do livro
    Methodus ad facilem historiarum cognitionem, de 1566. Sobre Bodin, Montaigne escreve no capítulo "Defesa de Sêneca e Plutarco": "[A] Jean Bodin é um bom autor de nossa época e dotado de mais discernimento do que a turba de escrevinhadores de seu século, e merece que o julguemos e consideremos" (II, 32, 722/583).
  • 23
    Nakam, G.
    Les essais de Montaigne: miroir et procès de leur temps. p. 239.
  • 24
    Ver I, 21, 106/158.
  • 25
    Ver I, 1, 9/10-11.
  • 26
    Para um detalhado estudo sobre este capítulo e sobre a pertinência dos exemplos nos
    Ensaios, ver Pedroso, S. P. de T.
    Ensaios de Montaigne: "jugement" e sua forma.
  • 27
    Sobre tal passagem no "Da arte da conversação", ver Querubini, E
    . Montaigne e a Arte da Conversação: a conversação para a 'maneira'.
  • 28
    Mathieu-Castellani, G. "Lecture (de l'histoire), écriture (de l'essai): le modèle de la Vie". p. 83-90.
  • 29
    A expressão é de Starobinski: "em suas proposições pedagógicas, Montaigne insiste na necessidade de exibir aos olhos do aluno a imagem do mundo como um vasto
    quadro sinótico, onde todos os acidentes da história, imobilizados, tornam-se quase contemporâneos e se deixam interpretar em função do serviço
    atual que nos podem prestar; ora, o primeiro que nos prestam é ensinar-nos a relatividade de nossa situação." Starobinski, J.
    Montaigne em Movimento. p. 271.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      30 Maio 2012
    • Aceito
      18 Jul 2012
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