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Efeito da freqüência de rega e da umidade do solo sobre a germinação carpogênica de sclerotinia sclerotiorum

Effect of watering frequency and soil moisture status on carpogenic germination of Sclerotina sclerotiorum

Resumos

Os efeitos da freqüência de rega e da umidade do solo na germinação carpogênica de Sclerotinia sclerotiorum foram estudados em condições ambientais controladas. Solo e escleródios foram acondicionados em caixas tipo gerbox e umedecidos uma, duas, três e cinco vezes por semana até os níveis de 75 e 100% da saturação. O solo regado uma vez por semana até 75% da saturação não permitiu a germinação dos escleródios, enquanto o solo molhado até 100% da saturação permitiu a germinação de até 70% dos escleródios, assim como um grande número de apotécios. Regas mais freqüentes, nos dois níveis de umidade do solo, aumentaram a germinação de escleródios e a produção de apotécios. Tão importante quanto a umidade do solo foi o intervalo entre regas, pois regas mais freqüentes, mesmo com volumes menores de água, favoreceram a maior germinação carpogênica do patógeno.

mofo-branco; inóculo; Phaseolus vulgaris; irrigação


The effects of watering frequency and soil moisture status on the carpogenic germination of Sclerotinia sclerotiorum were studied under controlled environmental conditions. Soil and sclerotia were placed in gerbox and periodically watered up to 75 and 100% of saturation, one, two, three and five times a week. There was no sclerotium germination when the soil was watered up to 75% of saturation once a week. On the other hand, soils saturated frequently allowed higher percentage of sclerotia germination, until 70%, as well as higher numbers of apothecia. Independently of the soil water content, germination of sclerotia and production of apothecia increased with watering frequency. Important factors on the carpogenic germination of S. sclerotiorum were the soil moisture and the watering frequency. Frequent watering, even with low water volumes applied, also increased the carpogenic germination.

white mold; innoculum; Phaseolus vulgaris; irrigation


NOTAS CIENTÍFICAS

Efeito da freqüência de rega e da umidade do solo sobre a germinação carpogênica de sclerotinia sclerotiorum* * Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Universidade de Brasília. 2001.

Effect of watering frequency and soil moisture status on carpogenic germination of Sclerotina sclerotiorum

Reginaldo NapoleãoI; Adalberto Correa Café FilhoII; Carlos Alberto LopesIII; Luiz Carlos Bhering NasserIV; Waldir Aparecido MarouelliIII

IFaculdades Federais Integradas de Diamantina, Rua da Glória, 187, CEP 39100-000, Diamantina, MG, e-mail: napoleao@fafeid.edu.br

IIDepartamento de Fitopatologia, Universidade de Brasília, CEP 70910-900, Brasília, DF

IIIEmbrapa Hortaliças, C.P. 218, CEP 79359-970, Brasília, DF

IVMAPA, Departamento de Fitopatologia, UnB

RESUMO

Os efeitos da freqüência de rega e da umidade do solo na germinação carpogênica de Sclerotinia sclerotiorum foram estudados em condições ambientais controladas. Solo e escleródios foram acondicionados em caixas tipo gerbox e umedecidos uma, duas, três e cinco vezes por semana até os níveis de 75 e 100% da saturação. O solo regado uma vez por semana até 75% da saturação não permitiu a germinação dos escleródios, enquanto o solo molhado até 100% da saturação permitiu a germinação de até 70% dos escleródios, assim como um grande número de apotécios. Regas mais freqüentes, nos dois níveis de umidade do solo, aumentaram a germinação de escleródios e a produção de apotécios. Tão importante quanto a umidade do solo foi o intervalo entre regas, pois regas mais freqüentes, mesmo com volumes menores de água, favoreceram a maior germinação carpogênica do patógeno.

Palavras-chave adicionais: mofo-branco; inóculo; Phaseolus vulgaris; irrigação.

ABSTRACT

The effects of watering frequency and soil moisture status on the carpogenic germination of Sclerotinia sclerotiorum were studied under controlled environmental conditions. Soil and sclerotia were placed in gerbox and periodically watered up to 75 and 100% of saturation, one, two, three and five times a week. There was no sclerotium germination when the soil was watered up to 75% of saturation once a week. On the other hand, soils saturated frequently allowed higher percentage of sclerotia germination, until 70%, as well as higher numbers of apothecia. Independently of the soil water content, germination of sclerotia and production of apothecia increased with watering frequency. Important factors on the carpogenic germination of S. sclerotiorum were the soil moisture and the watering frequency. Frequent watering, even with low water volumes applied, also increased the carpogenic germination.

Aditional keywords: white mold; innoculum; Phaseolus vulgaris; irrigation.

Ascósporos são a principal fonte de inóculo de Sclerotinia sclerotiorum (1, 7). São produzidos no apotécio, resultante da germinação de escleródios, em um processo denominado de germinação carpogênica.

A germinação carpogênica de escleródios é altamente dependente da disponibilidade de água no solo. Pesquisas mostraram que a germinação pode ocorrer desde condições de solo saturado até relativamente seco, com tensão de água variando de zero a 750 kPa (1, 3, 4, 5). Não só a umidade do solo é importante, mas também o tempo que o solo se mantém na umidade adequada à germinação carpogênica (5).

O ensaio foi conduzido com escleródios e solo oriundos de uma mesma área experimental da Embrapa Hortaliças (Gama-DF) onde o mofo-branco foi detectado na cultura do tomateiro e do feijoeiro. O experimento foi montado em caixas tipo gerbox (11 x 11 x 3,5 cm) com solo retirado da camada de 0-6 cm de profundidade, livre de escleródios, com as seguintes características: latossolo vermelho-escuro, argilo-siltoso, com 47,3% de argila, 44,9% de silte e 7,8% de areia. O solo foi peneirado em malha de 4,0 mm, homogeneizado e acondicionado nas caixas.

Dois níveis de umidade do solo foram avaliados: 75 e 100% da saturação. A condição de saturação foi obtida regando-se o suficiente até que um filme de água fosse visível na superfície do solo. O segundo nível, que correspondeu à aplicação de 75% da massa de água necessária para a completa saturação do solo, foi utilizado para representar, em termos aproximados, a umidade do solo correspondente à capacidade de campo para o solo em questão. O valor de 75% foi determinado em laboratório pelo método do extrator de Richards para uma tensão de 10 kPa (2), utilizando solo peneirado.

Os níveis de 75 e 100% da saturação corresponderam a 41 e 55% de umidade volumétrica do solo. Assim, foram necessários 150 g de água por parcela para elevar o solo, inicialmente seco, até a condição de 75% da saturação (10 kPa) e 200 g para 100% da saturação (0 kPa).

Cada parcela experimental foi constituída de 25 escleródios em uma caixa, enterrados a 5,0 mm de profundidade. O conjunto caixa-solo-escleródios foi mantido em uma incubadora do tipo B.O.D. à temperatura de 19° C ± 1° C e fotoperíodo de 12 horas.

Foram utilizadas quatro freqüências de rega: uma, duas, três e cinco vezes por semana. A quantidade de água aplicada por rega, determinada pelo método das pesagens, foi suficiente para que o conjunto caixa-solo-escleródios atingisse a massa pré-determinada para as condições de 75 e 100% da saturação.

Os conjuntos foram observados diariamente até o aparecimento dos primeiros apotécios. A partir de então foram feitas dez avaliações: 22, 28, 29, 34, 38, 41, 48, 55, 62 e 69 dias após o início da incubação. A cada avaliação foram levantados o número de escleródios germinados, o número total de apotécios produzidos e o número de apotécios vivos, ou seja, aqueles com capacidade de produzir ascósporos.

O ensaio foi delineado em um modelo fatorial 2 x 4 em blocos casualizados, com quatro repetições. Os dados das variáveis avaliadas foram submetidos à análise de variância e aquelas afetadas pelo fator freqüência de rega foram analisadas por regressão linear.

Pela análise de variância, constatou-se existir interação significativa (p< 0,01) entre os fatores freqüência de rega e umidade do solo para todas as variáveis analisadas. Assim, a análise de regressão foi realizada fazendo-se o desdobramento dos fatores. As curvas de resposta ajustadas, obtidas para verificação da germinação dos escleródios, do número total de escleródios e do número de escleródios vivos mostraram que o solo saturado permitiu maior e mais rápida germinação de escleródios e maior produção de apotécios (Figura 1). O número de apotécios vivos no solo saturado atingiu o seu valor máximo entre o 47º e 54º dia, exceto na menor freqüência de rega (Figura 1). Este período coincide com o estádio de floração média da maioria das cultivares de feijoeiro (cerca de 50 dias), época de maior suscetibilidade da cultura. Na condição de umedecimento do solo até 75% da saturação e regas semanais, não houve produção de apotécios durante todo o ensaio, mostrando que a umidade do solo onde estavam os escleródios não foi mantida pelo tempo necessário para a germinação dos escleródios, corroborando com o que foi observado por Boland e Hall (1), que relataram ter sido necessários 16 dias com tensão de água igual ou inferior a 500 kPa, por Morrall (4), onde foram necessários 10 dias com tensão de 750 kPa e por Tokeshi et al. (8) que concluíram ser a umidade da superfície um dos principais fatores no controle da produção de apotécios. Entretanto, para o nível de 75% da saturação (10 kPa), quando as regas foram realizadas com freqüência de cinco vezes por semana, 49% dos escleródios haviam germinado (Figura 1). No tratamento onde o solo foi regado até 100% da saturação (0 kPa) e a freqüência de rega semanal, 20% dos escleródios germinaram, contra 70% quando se regou cinco vezes por semana (Figura 1). A mesma tendência foi observada em relação ao número total de apotécios e número de apotécios vivos (Figura 1).


Os dados mostraram que, embora o volume de água aplicado tenha sido importante, regas pouco freqüentes foram altamente limitantes para a germinação dos escleródios, confirmando a correlação positiva existente entre freqüência de rega e germinação carpogênica de escleródios de S. sclerotiorum, conforme observado por Schuwartz e Steadman et al. (6) e Tu (9). Esta limitação à germinação carpogênica foi imposta pela baixa umidade da superfície do solo, como já fora observado em solo do Estado de São Paulo por Tokeshi et al. (8). Em solos onde o patógeno esteja presente, durante o cultivo do feijoeiro ou de outras hospedeiras, dever-se-ia optar para que o intervalo entre irrigações fosse o mais espaçado possível e que o volume de água aplicado em cada irrigação fosse até o limite da capacidade de campo, com isto, haveria condições necessárias para diminuição ou até impedimento da germinação carpogênica de escleródios, o que conseqüentemente, implicaria na redução da quantidade de inóculo na forma de ascósporos.

Data de chegada: 05/08/2005.

Aceito para publicação em: 04/05/2006.

  • 1.Boland, G.J., Hall, R. Epidemiology of white mold of bean in Ontario. Canadian Journal of Plant Pathology, Ottawa, v.9, n.2, p.218-224, 1987.
  • 2.Cassel, D.K., Nielsen, D.R. Field capacity and avaiable water capacity. In: Kelte, A. (Ed.). Methods of soil analysis: Part 1 Physical and mineralogical methods. 2 ed. Madison: American Society of Agronomy: Soil Science Society of America, 1986, p.901-926.
  • 3.Ferraz, L.C.L., Café-Filho, A.C., Nasser, L.C.B., Azevedo, J. Effects of soil moisture, organic matter and grass mulching on the carpogenic germination of sclerotia and infection of bean by Sclerotinia sclerotiorum Plant Pathology, St. Paul, v.48, n.1, p.77 82, 1999.
  • 4.Morrall, R.A.A. A preliminary study of the influence of water potential on sclerotium germination in Sclerotinia sclerotiorum Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.55, n.1, p.8-11, 1977.
  • 5.Phillips, A.J.L. Carpogenic germination of sclerotia of Sclerotinia sclerotiorum: a review. Phytophylactica, Pretoria, v.19, n.2 , p.279-283, 1987.
  • 6.Schuwartz, H.F., Steadman, J.R. Factors affecting sclerotium populations of, and apothecium production by, Sclerotinia sclerotiorum Phytopathology, St. Paul, v.68, n.3 , p.383-388, 1978.
  • 7.Steadman, J.R. White mold a serious yield-limiting disease of bean. Plant Disease, St. Paul, v.67, n.3, p.346-350, 1983.
  • 8.Tokeshi, H., Alves, M.C., Sanches, A.B. & Harada, D.Y. In: International Coference on Kyusei Nature Farming, Fourth, 1995, Paris. Effective Microorganisms for Controlling the Phytoipathogenic Fungus Sclerotinia sclerotiorum in Lettuce Washington: 1995. p.131-139.
  • 9.Tu, J.C. Management of white mold of white beans in Ontario. Plant Disease, St Paul, v.73, n.3, p.281-285, 1989.
  • *
    Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Universidade de Brasília. 2001.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Mar 2007
    • Data do Fascículo
      Mar 2007

    Histórico

    • Aceito
      04 Maio 2006
    • Recebido
      05 Ago 2005
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