Acessibilidade / Reportar erro

Reação de cultivares de soja à mela (Thanatephorus cucumeris) em campo em dois estádios de desenvolvimento das plantas

Field reaction of soybean cultivars to rhizoctonia aerial blight (Thanatephorus cucumeris) at two growth stages

Resumos

A mela, causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris, é uma das principais doenças da cultura da soja no estado de Roraima. O objetivo deste trabalho foi avaliar a reação de 15 cultivares de soja à mela em condições de cerrado em Roraima. Os parâmetros avaliados foram a porcentagem de área foliar infectada (AFI) no estádio R.5.5 e a porcentagem de vagens com sintoma de mela (VM) no estádio R.6. Houve diferença significativa entre as cultivares testadas segundo o teste de Fisher LSD a 1% de probabilidade nas duas avaliações. A AFI variou de 1,5% (cv. Padre) a 62% (cv.BR-36) e a VM de 8% (cv.UFV-9 e cv. Juçara) a 55% (cv. BR-36). A correlação entre as duas avaliações foi significativa e positiva.

Glycine max; Rhizoctonia solani; Amazônia


Rhizoctonia aerial blight (RAB), caused by the fungus Thanatephorus cucumeris is one of the most damaging diseases of soybean at Roraima, Brazil. The objective of this study was to evaluate the reaction of 15 soybean cultivars to RAB in a cerrado (savannah) ecosystem in the state of Roraima. The percentage of foliar area infected (FAI) and the percentage of pods with disease symptoms (WP) were evaluated on soybean plants at R.5.5 and R.6 growth stages, respectively. There were significative differences among cultivars tested based on Fisher LSD test in both evaluations. The FAI ranged from 1.5% (cv. Padre) to 62% (cv. BR-36) and WP from 8% (cv. UFV-9 and cv. Juçara) to 55 % (cv. BR-36). Significative and positive correlation was observed between the evaluations.

Glycine max; Rhizoctonia solani; Amazon


NOTAS CIENTÍFICAS

Reação de cultivares de soja à mela (Thanatephorus cucumeris) em campo em dois estádios de desenvolvimento das plantas

Field reaction of soybean cultivars to rhizoctonia aerial blight (Thanatephorus cucumeris) at two growth stages

Kátia de Lima NechetI; Bernardo de Almeida Halfeld-VieiraI; Vicente GianluppiI; Maurício Conrado MeyerII

IEmbrapa Roraima, CP 133, 69301-970, Boa Vista, RR. E-mail: katia@cpafrr.embrapa.br

IIEmbrapa Soja, CP 131, 65800-000, Balsas, MA

RESUMO

A mela, causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris, é uma das principais doenças da cultura da soja no estado de Roraima. O objetivo deste trabalho foi avaliar a reação de 15 cultivares de soja à mela em condições de cerrado em Roraima. Os parâmetros avaliados foram a porcentagem de área foliar infectada (AFI) no estádio R.5.5 e a porcentagem de vagens com sintoma de mela (VM) no estádio R.6. Houve diferença significativa entre as cultivares testadas segundo o teste de Fisher LSD a 1% de probabilidade nas duas avaliações. A AFI variou de 1,5% (cv. Padre) a 62% (cv.BR-36) e a VM de 8% (cv.UFV-9 e cv. Juçara) a 55% (cv. BR-36). A correlação entre as duas avaliações foi significativa e positiva.

Palavras-chave adicionais:Glycine max; Rhizoctonia solani; Amazônia

ABSTRACT

Rhizoctonia aerial blight (RAB), caused by the fungus Thanatephorus cucumeris is one of the most damaging diseases of soybean at Roraima, Brazil. The objective of this study was to evaluate the reaction of 15 soybean cultivars to RAB in a cerrado (savannah) ecosystem in the state of Roraima. The percentage of foliar area infected (FAI) and the percentage of pods with disease symptoms (WP) were evaluated on soybean plants at R.5.5 and R.6 growth stages, respectively. There were significative differences among cultivars tested based on Fisher LSD test in both evaluations. The FAI ranged from 1.5% (cv. Padre) to 62% (cv. BR-36) and WP from 8% (cv. UFV-9 and cv. Juçara) to 55 % (cv. BR-36). Significative and positive correlation was observed between the evaluations.

Additional keywords:Glycine max; Rhizoctonia solani; Amazon

A cultura da soja [Glycine max (L.) Merrill] vem sendo implantada no estado de Roraima nas áreas de cerrado e mata de transição. A safra ocorre de maio a setembro, coincidindo com o período chuvoso da região. No momento, Roraima permanece como o único estado brasileiro produtor de soja sem a ocorrência da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrizi Syd. & Syd) (4). Por outro lado, nas condições locais, uma das principais doenças da cultura no estado é a mela causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk (anamorfo Rhizoctonia solani Kuhn). Esta doença é considerada limitante ao cultivo da soja na região amazônica (5, 6).

Em função dessa importância e da ausência de informações sobre a reação dos genótipos de soja à mela nas condições de Roraima, este trabalho teve como objetivo avaliar as cultivares de soja BRS Tracajá, BRS Pati, UFV-9, Embrapa 63 (Mirador), Jataí, FT-16, BRS Juçara, BRS Sambaíba, BRSMA Seridó RCH, Padre, Leflore, BRS 219 (Boa Vista), BR-36, IAC 8-2 e IAC-8 em relação à mela nas condições do cerrado de Roraima.

O ensaio foi conduzido de maio a agosto de 2003, no campo experimental Monte Cristo, da Embrapa Roraima, localizado em ecossistema de cerrado (Latossolo amarelo, textura arenosa), com média de precipitação pluviométrica mensal de 135 mm. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com quatro repetições, sendo cada repetição constituída por uma parcela contendo quatro linhas de 10 m. Ao redor da área e entre as parcelas foi plantado feijão (Phaseolus vulgaris L. cv. Carioca) para aumentar a densidade de inóculo natural de R. solani na área experimental. Duas avaliações foram feitas na área útil de cada parcela (10 plantas centrais). A primeira no estádio R.5.5 (maioria das vagens entre 75 e 100% de granação) onde avaliou-se a porcentagem da área foliar infectada (A.F.I.) das plantas na parcela. A segunda foi no estádio R.6 (vagens com granação de 100% e folhas verdes), registrando-se o número total de vagens e o número de vagens com sintoma de mela para o cálculo da porcentagem de vagens com sintoma da doença (V.M.). Os dados foram submetidos à análise de variância no programa SAS versão 9 utilizando-se o proc GLM e o teste de Fisher LSD a 1% de probabilidade para a comparação de médias e o proc REG para cálculo do coeficiente de correlação de Pearson entra as variáveis A.F.I e V.M.

Todos as cultivares testadas apresentaram incidência da mela nas folhas e nas vagens (Tabela 1).

Nas duas variáveis detectou-se a reação diferenciada das cultivares em relação à mela (Tabela 1). As cultivares com menor severidade da doença no estádio R.5.5 foram Padre (1,5%), BRS Sambaíba (1,5%), BRS Seridó (1,6%) e BRS Tracajá (1,6%) e com menor incidência de mela nas vagens no estádio R.6 UFV-9 (8,1 %), BRS Juçara (8,2 %), BRS Tracajá (11,9%) e BRS Pati (11,9%). As cultivares BR-36, FT-16 e Leflore apresentaram maior A.F.I. e incidência de mela nas vagens.

A correlação entre as duas variáveis de avaliação da doença foi significativa e positiva baseado no coeficiente de correlação de Pearson (p<0,0001), ou seja, quanto maior a A.F.I. maior o número de vagens com sintoma da doença (Gráfico 1).


Dentre as cultivares testadas apenas BRS Sambaíba, BRS Pati, BRS Tracajá e BRS 219 (Boa Vista) são recomendados para plantio no estado de Roraima. A cultivar BRS Tracajá apresenta ciclo médio e as demais são precoces (2). Apesar da diferença significativa de incidência e severidade da mela entre os materiais, nas condições testadas, todas as cultivares recomendadas para Roraima apresentaram incidência baixa da doença em vagens (máximo de 16% para Boa Vista) e menor severidade (máximo de 5,2% A.F.I. para BRS Pati). Nos parâmetros avaliados, destacou-se a cultivar BRS Tracajá, que é plantada em 90% das lavouras do estado.

A variabilidade de genótipos de soja para resistência à mela foi observada anteriormente por Meyer (6). Dentre 337 genótipos avaliados, 68,5% foram considerados suscetíveis e apenas 3,9% moderadamente resistentes. Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração é a variabilidade genética de R. solani que é composta de pelo menos 12 grupos de anastomose (GAs) (7). O conceito de GAs de R. solani é uma ferramenta importante para os programas de melhoramento visando resistência. Neste trabalho não foi determinado o grupamento de anastomose prevalente no ensaio, porém estudos mostraram que a mela da soja é causada por R. solani AG1-IA nas regiões Central, Norte e Nordeste do Brasil, com exceção de Roraima, onde provavelmente é causada pelo AG1-IB (1, 3, 6).

Os resultados obtidos neste ensaio indicaram que há reação diferenciada entre as cultivares quanto à mela e há genótipos promissores que podem ser trabalhados em programas de melhoramento genético visando resistência à doença. A correlação positiva entre A.F.I. e V.M. indica que ambos os parâmetros podem ser utilizados para diferenciar a reação de genótipos de soja à mela. Resultados similares foram observados por Stetina et al. (8). Portanto, nos trabalhos de melhoramento, onde se utiliza um número elevado de acessos, a avaliação da A.F.I. permite obter resultados em menos tempo e conduzir ensaios em condições de casa-de-vegetação.

Além disso, os resultados deste trabalho complementam as informações sobre a reação das cultivares recomendadas para Roraima quanto a doenças em ensaios conduzidos em outros estados. A reação de cultivares de soja à mela e o desenvolvimento de genótipos com características de tolerância e/ou de resistência à doença é essencial para a manutenção do sistema produtivo da cultura no estado de Roraima.

Data de chegada: 21/11/2006

Aceito para publicação em: 02/04/2008

Autor para correspondência: Kátia de Lima Nechet. katia@cpafrr.embrapa.br

  • 1. Campos, A.P.S.; Ceresini, P.C. Incompatibilidade somática em Rhizoctonia solani AG-1 IA da soja. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.32, n.3, p.247-254, 2006.
  • 2. Cultivares de soja 2005: Regiões Norte e Nordeste. Documentos Embrapa Soja, Londrina, n.254, 2005. 28p.
  • 3. Fenille, R.C.; Souza, N.L.; Kuramae, E.E. Characterization of Rhizoctonia solani associated with soybean in Brazil. European Journal of Plant Pathology, Wageningen, v.108, p.783-792, 2002.
  • 4. Mattioni, J.A.M.; Souza, G.R.; Nechet, K.L.; Halfeld-Vieira, B.A. Monitoramento de doenças da soja na safra 2006. Fitopatologia Brasileira, Lavras, v.32, supl., p.115-115, 2007. (Resumo).
  • 5. Meyer, M.C.; Souza, N.L. Mela sob controle. Cultivar, Pelotas, n.58, p.26-29, 2004.
  • 6. Meyer, M.C. Caracterização de Rhizoctonia solani Kühn, agente causal da mela da soja [Glycine max (L.) Merrill], seleção de genótipos e controle químico2001. 125 f. Tese (Doutorado em Proteção de Plantas) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
  • 7. Sneh, B.; Burpee, L.; Ogoshi, A. Identification of Rhizoctonia species St. Paul: APS Press, 1991. 133p.
  • 8. Stetina, K.C.; Stetina, S.R.; Russin, J.S. Comparison of severity assessment methods for predicting yield loss to rhizoctonia foliar blight in soybean. Plant Disease, St. Paul, v.90, p. 39-43, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Nov 2008
  • Data do Fascículo
    Set 2008

Histórico

  • Aceito
    02 Abr 2008
  • Recebido
    21 Nov 2006
Grupo Paulista de Fitopatologia FCA/UNESP - Depto. De Produção Vegetal, Caixa Postal 237, 18603-970 - Botucatu, SP Brasil, Tel.: (55 14) 3811 7262, Fax: (55 14) 3811 7206 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: summa.phyto@gmail.com