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Obituário

OBITUÁRIO

Victoria Rossetti: (1917 - 2010)* * Texto preparado para publicação na revista Summa Phytopathologia, e nos Anais da 18¡ Conferência da Organização Internacional de Virologistas de Citros (IOCV).

VERIDIANA VICTORIA ROSSETTI nasceu em Santa Cruz das Palmeiras, SP, em 15 de outubro de 1917. Filha de imigrantes italianos, ela passou seus primeiros anos na Fazenda Santa Veridiana, de onde se originou o seu primeiro nome. Cresceu em outra fazenda localizada no município de Limeira, que fora adquirida pelo seu pai, também engenheiro agrônomo. Seus dois irmãos mais velhos também cursaram agronomia. A convivência com eles e o ambiente das fazendas fizeram despertar e crescer nela seu grande amor pelas coisas da terra, a natureza, as plantas, as ciências agrárias e, principalmente, a fitopatologia. Gostava de contar que o seu interesse pela fitopatologia nasceu já nessa época, quando, junto com os irmãos, e orientados pelo pai, coletavam materiais vegetais para estudar o efeito de pragas e doenças sobre as plantas da propriedade.

Foi pesquisadora do Instituto Biológico durante mais de sessenta anos, tendo iniciado suas atividades em 1940, como estagiária voluntária. No ano seguinte, ingressou na instituição por concurso público, como assistente da Seção de Fitopatologia, passando então a trabalhar com o Dr. Agesilau Antonio Bitancourt, seu "grande mentor" como se orgulhava de enfatizar, estudando as doenças que afetavam a cultura dos citros. Em 1954, assumiu a chefia da Seção de Fitopatologia, cargo que exerceu até 1969, quando então se tornou diretora da Divisão de Patologia Vegetal, cargo que exerceu até a sua aposentadoria aos 70 anos, em 1987. Mesmo aposentada, deu continuidade às suas atividades como pesquisadora em patologia dos citros na instituição até o ano 2.000, como "servidora emérita", título que lhe foi outorgado pelo Governo do Estado de São Paulo em reconhecimento aos brilhantes serviços por elas prestados ao estado e ao país.

Capacitação no país e no exterior

Iniciou seus estudos básicos no Collegio S. Vicenzo de Paula, na Itália. Depois estudou no Colégio São José, em Limeira, e no Colégio Piracicabano, em Piracicaba. Cursou a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo, tendo concluído o curso em dezembro de 1939, como a primeira engenheira agrônoma formada pela faculdade.

Dra. Victoria tinha uma cultura invejável. Falava fluentemente e escrevia muito bem em inglês, francês e espanhol, além do português e italiano. Conseguia também comunicar-se bastante bem em alguns outros idiomas, dentre eles o alemão. Teve uma formação acadêmica muito sólida e abrangente. Após a sua graduação na ESALQ e o seu ingresso no I. Biológico, participou, em 1947, de um curso de Biometria na Universidade da Carolina do Norte, em Raleigh. Em 1951-52, como bolsista da Fundação Guggenheim, realizou estudos sobre os patógenos do gênero Phytophthora, na Universidade da California, inicialmente em Los Angeles, depois em Berkeley com o Dr. Machlis e, finalmente, em Riverside com o Dr. George A. Zentmyer. Os estudos sobre a fisiologia desses patógenos realizados durante esse período fizeram com que ela fosse agraciada com o prêmio "Sigma Xi Membership"da California. Em 1957, com bolsa de pesquisa do governo francês, permaneceu um ano no Laboratório de Cultura de Tecidos do Dr. Georges Morel, no Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas (INRA), em Versailles, França, onde realizou estudos sobre o parasitismo de patógenos do gênero Phytophthora e de fungos parasitas obrigatórios de plantas. Em 1960, como bolsista da Fundação Rockfeller, realizou pesquisas na Universidade da Califórnia, em Riverside, e participou também da Segunda Conferência da Organização Internacional de Virologistas de Citros (IOCV), na Flórida. Em 1961, retornou à França para, também com bolsa de pesquisa do governo francês, realizar estudos no INRA e no IFAC sobre as doenças provocadas por vírus e viróides em citros, em colaboração com o eminente pesquisador francês Dr. Joseph M. Bové, com quem desenvolveu sólida amizade até seus dias finais. Em 1967, com outra bolsa do governo francês, participou de um programa de colaboração científica no IFAC da França envolvendo pesquisas sobre várias doenças dos citros.

Durante o período de 1966 a 1967 foi contratada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) como fitopatologista assistente da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal, com sede na Itália, em Roma, quando foi responsável pela edição de três séries do Boletim Internacional de Proteção de Plantas. Durante esse período, em colaboração com colegas italianos e o Dr. Joseph Bové, organizou a IV Conferência da IOCV, que contou com sessões formais de apresentação de trabalhos em Roma (FAO), e nas cidades de Palermo e Catânia na Sicília, e com programações de pré- e pós-conferência na Itália, Córsega/França, Espanha e Marrocos. Segundo depoimentos de muitos membros da IOCV, esta foi uma das melhores senão a melhor das conferências que a IOCV já realizou até hoje.

Participação em sociedades científicas e na organização de eventos

Dra. Victoria teve participação marcante em várias sociedades científicas nacionais e internacionais, principalmente aquelas que desenvolvem atividades relacionadas à citricultura e à patologia dos citros. Recebeu homenagens especiais da Sociedade Brasileira de Fitopatologia (SBF), em 1982, durante o XV Congresso Brasileiro de Fitopatologia, e depois em 1985, durante o XVIII Congresso Brasileiro de Fitopatologia, pelos relevantes serviços prestados à SBF e à fitopatologia brasileira. Teve também participação importante na Sociedade Brasileira de Fruticultura, tendo dela recebido várias homenagens. Foi também homenageada pelo Grupo Paulista de Fitopatologia (GPF), em 1983, durante o V Congresso Paulista de Fitopatologia, pelas importantes contribuições ao GPF e à fitopatologia paulista e brasileira.

Dra. Victoria participou também das principais sociedades científicas internacionais ligadas à sua área de atuação. Durante vários anos participou do Comitê Executivo da Sociedade Internacional de Citricultura (ISC). Colaborou na organização do VI Congresso Internacional de Citricultura realizado em São Paulo, em 1984. Em 1970 foi eleita Vice Presidente da Associação Latino Americana de Fitotecnia (ALAF, hoje ALCA), cargo que exerceu até 1973. Foi também Coordenadora do Comitê Nacional da ALCA durante o período de 1973 a 1980.

Participou intensamente das atividades da Organização Internacional de Virologistas de Citros (IOCV) durante quase 40 anos, sempre com muita dedicação, entusiasmo, profissionalismo e amor. Segundo o Dr. Joseph Bové, ela foi "uma fervorosa e dedicada defensora da organização". Além de sua ativa participação na organização e na presidência da IV Conferência da IOCV realizada na Itália e em outros países do Mediterrâneo, em 1966, várias outras importantes contribuições dadas à IOCV merecem especial destaque. Dentre elas, sua participação decisiva na organização, em conjunto com outros colegas brasileiros, da III Conferência da IOCV realizada nas cidades de Campinas e São Paulo, em 1963. Em reconhecimento aos excelentes trabalhos realizados na organização desse evento, ela foi conduzida à presidência da organização naquele ano, cargo que exerceu até 1966. Organizou ainda, em conjunto com colaboradores brasileiros e argentinos, as programações de pré-conferência no Brasil e de pós-conferência na Argentina, da IX Conferência da IOCV, em 1983, cujas sessões formais de apresentação de trabalhos foram realizadas em Iguazu, na Argentina. A IOCV sempre se constituiu numa de suas "grandes paixões", como gostava de enfatizar. Mesmo quando os parcos recursos oficiais da época não eram suficientes para garantir a sua participação nos eventos da organização, bem como a participação de seus colaboradores, ela não media esforços para conseguir esses recursos junto à iniciativa privada, principalmente das grandes indústrias do setor citrícola brasileiro. Com sua argumentação fácil e sempre convincente, reforçada pela forma hábil e competente com que apresentava os resultados importantes das pesquisas conduzidas pelo seu grupo, e da importância desses resultados para toda a cadeia produtiva de citros, ela sempre acabava conseguindo os recursos solicitados. Contudo, os recursos que com frequência ela solicitava à iniciativa particular não eram somente para permitir a participação de pesquisadores em eventos científicos, mas também, e principalmente, recursos para garantir a continuidade dos projetos de pesquisa que estavam sendo desenvolvidos pela sua equipe. Durante todas essas tentativas de obtenção de recursos junto à iniciativa privada ela com frequência dizia aos seus interlocutores: "veja, o que estamos solicitando é muito pouco para vocês, mas esse pouco representa muito para a pesquisa e para o futuro desenvolvimento de toda a citricultura". Dra. Vitoria não deixava de participar dos eventos da IOCV. Assim, mesmo quando os recursos oficiais ou da iniciativa privada não eram disponibilizados, ou quando esses recursos não eram suficientes, ela participava dos eventos utilizando no exterior.

Dra. Victoria participou de mais de 90 congressos no país e no exterior apresentando contribuições científicas do mais alto nível, presidindo ou coordenando sessões técnicas, ou participando de comitês e comissões técnicas.

Principais contribuições na patologia dos citros

No Instituto Biológico, ela trabalhou primeiro com as doenças provocadas por patógenos do gênero Phytophthora, agentes causais da doença gomose de Phytophthora dos citros, outra de suas "grandes paixões". As pesquisas com esses e outros importantes patógenos de citros, nas áreas de etiologia, epidemiologia e controle, fizeram com que ela, em pouco tempo, se tornasse conhecida internacionalmente.

Ainda na década de quarenta, com a ocorrência da tristeza (CTV) em São Paulo, virose que dizimava os pomares de citros do estado, que na época eram formados com plantas enxertadas em laranja azeda, porta- enxerto suscetível ao CTV, ela passou a trabalhar também com essa virose, avaliando, em trabalhos realizados em colaboração com o Instituto Agronômico, combinações de copas e porta-enxertos de citros para resistência tanto ao CTV como também à Phytophthora. Os resultados desses estudos permitiram selecionar o limoeiro Cravo como porta-enxerto tolerante ao CTV e moderadamente resistente à Phytophthora, além de tolerante à seca, vindo a substituir a laranja azeda utilizada até então e a se constituir no principal porta-enxerto da nova citricultura paulista. Os estudos sobre o comportamento dos principais porta-enxertos de citros às infecções experimentais por Phytophthora spp. tiveram continuidade pela sua equipe do Instituto Biológico, incluindo os pesquisadores Orchisio F. Mello, Domingos A. Oliveira e Eduardo Feichtenberger, e contando com a colaboração de pesquisadores do Instituto Agronômico, dentre eles Jorgino Pompeu Junior, Joaquim Teófilo Sobrinho e José Orlando Figueiredo. Os resultados desse projeto cooperativo entre os dois institutos de pesquisa permitiram selecionar porta-enxertos de citros e gêneros afins mais tolerantes à Phytophthora.

Dra. Victoria envolveu-se depois com outras importantes doenças dos citros no país, incluindo outras viroses como a sorose, e doenças provocadas por viróides como a cachexia e o exocorte, gerando informações relevantes aos programas de produção e certificação de materiais propagativos de citros livres desses patógenos. Ela participou ativamente da Comissão Técnica Assessora do Programa de Registro de Plantas Matrizes de Citros do Estado de São Paulo, que previa a seleção de plantas de elite nos pomares, a reprodução e a manutenção dessas plantas no Centro de Citricultura do IAC, e a comprovação inicial e depois periódica de que essas plantas estavam livres de estirpes severas do CTV e dos patógenos agentes causais de sorose, exocorte e cachexia. Borbulhas dessas plantas matrizes selecionadas e sadias eram então fornecidas aos viveiristas para produção de mudas livres desses patógenos. Esse programa foi fundamental para o futuro desenvolvimento da nova citricultura paulista, pois permitiu afastar a séria ameaça que essas doenças representavam na época.

No final da década de cinquenta, colaborou com o Dr. Bitancourt nos trabalhos sobre a leprose dos citros que confirmaram a associação dessa virose com o ácaro Brevipalpus phoenicis. Mais tarde, em conjunto com o Dr. Elliot Kitajima e demais colaboradores comprovou que a leprose é doença provocada por vírus de ação local (CiLV) e que no país o ácaro Brevipalpus phoenicis é o vetor da doença. Junto com o Dr. Cesar Martins Chagas conseguiu também comprovar a transmissão da leprose por enxertia de tecidos. Participou depois de importantes estudos sobre a etiologia da leprose, em colaboração com outros virologistas do Instituto Biológico, dentre eles Addolorata Colariccio.

Após a constatação da ocorrência do cancro cítrico em Presidente Prudente, SP, em 1957, pelo Dr. Bitancourt, ela passou a trabalhar também com essa bacteriose. Durante o período de 1975 a 1977 ela presidiu a Comissão Permanente do Cancro Cítrico da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, que orientava os trabalhos de erradicação da doença no estado. Colaborou nos estudos iniciais sobre a doença no país, estudos que depois tiveram continuidade com as importantes participações dos pesquisadores Takao Namekata e Júlio Rodrigues Neto. Colaborou também em muitos outros estudos sobre a doença realizados por pesquisadores do IB, como A. L. Gonçalves Pereira, Erna E. Bach e Aluisio P. C. Alba. Na década de oitenta, com a criação da Estação Experimental do Instituto Biológico em Presidente Prudente, destinada à realização de estudos de campo com a doença, colaborou em vários projetos de pesquisa que contavam com a participação de pesquisadores da sua Divisão de Patologia Vegetal, como João Adelino Martinez, Valdemar A. Malavolta Junior, Eduardo M. C. Nogueira, Deniza A. Palazzo, Maria Ligia Veiga Carvalho, Marta H. Vechiato, Domingos A. Oliveira e Eduardo Feichtenberger. Publicou em 1982, em conjunto com colaboradores do IB, uma Bibliografia Analítica sobre o Cancro Cítrico.

No final da década de setenta, com a constatação do declínio dos citros no país, doença de etiologia ainda não determinada, Dra. Victoria passou a trabalhar também com essa doença. Junto com colaboradores, conseguiu a sua transmissão por enxertia de raízes, sugerindo um possível envolvimento de um agente infeccioso na sua causa. Os trabalhos realizados em conjunto com vários colaboradores do Instituto Biológico, dentre eles Cesar Martins Chagas, M. Julia G. Beretta, M.Ligia Veiga Carvalho e Martha H. Vechiato, em muito contribuíram para um melhor conhecimento da doença e a sua associação com a utilização de porta-enxertos de citros intolerantes à anomalia.

Dra. Victoria teve participação fundamental na determinação da etiologia da clorose variegada dos citros (CVC), nome por ela dado à doença que em 1987 foi constatada na região norte do Estado de São Paulo. Suspeitando inicialmente tratar-se da temível doença "huanglongbing" (HLB), ou "greening", ela enviou materiais coletados de plantas afetadas para diagnóstico no Laboratório da Universidade de Bordeaux, na França, onde trabalhavam o seu grande e velho amigo Dr. Bové e a pesquisadora Monique Garnier. Os resultados dos estudos realizados pelos dois pesquisadores franceses permitiram concluir que a suspeita da doença ser o HLB era improcedente, pois bactérias não foram encontradas no floema dos materiais amostrados. Porém, a bactéria Xylella fastidiosa foi encontrada nos vasos do xilema das amostras, que em estudos posteriores realizados pelos franceses, contando com a participação do Dr. C.J. Chang, foi confirmada como sendo a agente causal da CVC. X.fastidiosa foi depois objeto do projeto genoma da FAPESP, sendo o primeiro fitopatógeno a ter o seu genoma sequenciado no mundo. O feito teve repercussão internacional e lançou o Brasil no seleto "clube"' dos que dominam esta tecnologia, e contribuiu para a formação de uma nova geração de cientistas envolvidos nessa área biotecnológica.

Dra. Victoria desenvolveu métodos engenhosos para diagnosticar doenças dos citros, como o de avaliar o fluxo de seiva pelos vasos do xilema das plantas no diagnóstico do declínio dos citros, através de injeções com água no tronco das plantas.

Dra. Victoria não teve chance de participar dos estudos em desenvolvimento no país e no exterior com o HLB, doença que sempre destinou enorme atenção e preocupação. Já antevia que a doença poderia colocar em risco a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva envolvida. O HLB sempre se constitui no seu maior temor. Muitos foram os artigos e alertas que ela fez no país sobre a ameaça que a doença representava e das medidas recomendadas para se evitar a sua introdução entre nós. Ironicamente, o relato da ocorrência do HLB no Brasil só foi feito quando ela já se encontrava enferma e sem condições de participar dos trabalhos ora em desenvolvimento. Porém, fica a convicção de que se ela estivesse em boas condições de saúde, sua contribuição para o melhor conhecimento do HLB com certeza também seria notável, a exemplo da enorme contribuição que deu no melhor entendimento de doenças importantes da cultura.

Produção técnico-científica e capacitação de novos pesquisadores

Publicou mais de 450 trabalhos, incluindo artigos científicos, artigos de divulgação e boletins técnicos. Publicou dois livros e mais de dez capítulos de livros editados no país ou no exterior. Participou de dezenas de comissões técnicas e grupos de trabalho. Coordenou inúmeros projetos de pesquisa e participou de vários programas de pesquisa em nível nacional e internacional. Participou de missões técnicas nas principais regiões produtoras de citros do globo, para avaliações sobre problemas e orientações de equipes de pesquisa. Além de associar-se a números cientistas do país e do exterior, contribuiu para a formação de numerosos pesquisadores, como os da Divisão do IB que dirigia e que foram acima referidos. O colega Cesar Martins Chagas, um dos seus muitos discípulos, em comentário feito na nota da FAPESP que divulgou o falecimento da Dra. Victoria, disse com muita justiça: "ser visionário e ter extrema capacidade de desenvolver trabalhos são duas características muito difíceis de encontrar em um pesquisador, mas que a doutora Victoria as tinha de sobra".

Dra. Victoria era uma pessoa generosa. Sempre manifestou enorme gratidão aos seus orientadores, chamando-os de "meus mestres". A eles dedicava com freqüência os seguintes versos da "Divina Comédia", de Dante: "Tu sei lo mio Maestro e Il mio Autore. Tu sei solo colui da cui io tolsi Lo bello stile che mi ha fatto onore", que assim traduzia: "Tu és meu Mestre e meu Autor. Tu és aquele de quem absorvi os ensinamentos que tanto me honram".

Reconhecimento e prêmios

Recebeu dezenas de homenagens e prêmios em reconhecimento à sua brilhante contribuição à patologia dos citros e às citriculturas brasileira e mundial. Dentre eles merecem especial destaque: Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências e condecoração com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, pelo presidente da República do Brasil, em 2004; Membro da Academia Nacional de Agricultura da Itália, em 1976; Membro da "Associação Sigma Xi, pela Universidade da Califórnia, EUA, em 1957; Professora Honorária da Universidade da Flórida, EUA, em 1987; Servidora Emérita do Estado de São Paulo, em 1988; Prêmio "Frederico de Menezes Veiga", da EMBRAPA, em 1993; Medalha "Luiz de Queiroz", pela ESALQ/USP, em 1999; Título de Engenheiro Agrônomo do Ano, pela Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP), em 1982 e "Fellow" da IOCV, em 2008.

Amor pelas artes

Amava as artes. Se de seu pai Tomaso herdou o amor às coisas da terra, e em especial as ciências agrárias, da mãe Lina, pianista, o amor às artes. Sempre que possível, incluía programações artísticas em suas viagens e atividades profissionais. Quando organizava eventos, dava especial destaque à programação sócial do evento, tentando sempre nele incluir atividades artísticas. Durante as viagens de serviço, mesmo após exaustivas jornadas de trabalho, sempre encontrava disposição e enorme prazer em participar de jornadas culturais, como visitas a museus de arte, audiência a espetáculos de arte, principalmente os de balé, e visitas a monumentos e lugares históricos. Era apaixonada por escultura, e não media esforços para visitar as exposições dos grandes escultores. Em suas férias as programações artísticas eram sempre priorizadas. Muitas dessas jornadas culturais, principalmente as realizadas durante os eventos científicos internacionais, foram feitas em companhia do seu colega e particular amigo Dr. Joseph Bové, também grande amante e profundo conhecedor da história da humanidade e das artes. Os relatos feitos pelo Dr. Bové de algumas dessas jornadas culturais são memoráveis, como as visitas feitas a muitos sítios históricos, artísticos ou arqueológicos em vários países, durante as conferências e as programações de pré- e pós- conferência da IOCV, como: as ruínas do Teatro Grego em Taormina, na Sicília, em 1966; o Templo Khmer de Angkor no Camboja, em 1969; a Floresta Baobat em Morandava, Madagascar, em 1972; os dois Templos Egípcios em Aboi Simbel,em 1975; o Teatro de Ópera em Sidnei e o Grande Recife de Corais, na Austrália, em 1979; as Cataratas do Iguaçu, no Brasil e na Argentina, em 1983; a Alhambra em Granada, em 1986; o Mundo Encantado de Disney, em Orlando, em 1989; o Taj Mahal, na Índia, em 1992; as Grutas e as Esculturas Budistas em Dazu, na China, em 1995.

Grandes memórias e belas recordações

O livro "Manual ilustrado de doenças dos citros", editado em 2001, contendo textos e ilustrado com excelentes fotografias da sua coleção pessoal, constituiu-se na sua última grande obra. Grave doença impediu que ela continuasse dando sua valiosa contribuição à patologia vegetal e à citricultura. Faleceu aos 93 anos, deixando um legado inestimável. Será lembrada pelo seu talento, liderança, tenacidade, determinação, e pela capacidade invejável de trabalho e organização, e também pelo carinho, amizade, simpatia, amor e charme no trato com as pessoas. Com certeza, ela continuará viva na memória de seus amigos, familiares, ex-alunos, orientados e colaboradores, e de todos aqueles que tiveram o privilégio de com ela dividir grandes momentos.

Eduardo Feichtenberger, UPDS / APTA / SAA

Elliot W. Kitajima, ESALQ / USP

Joseph Bové, INRA / Université Victor Ségalen Bordeux 2, França

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    Texto preparado para publicação na revista Summa Phytopathologia, e nos Anais da 18¡ Conferência da Organização Internacional de Virologistas de Citros (IOCV).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Abr 2011
    • Data do Fascículo
      Mar 2011
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