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Interação entre temperatura do solo, profundidade de semeadura e tratamento de sementes com fungicida na emergência de plantas de milho

Interaction between soil temperature, depths of sowing and seed treatment with fungicide in the emergence of maize plants

Resumos

O trabalho avaliou a interação entre temperaturas do solo (13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC), profundidades de semeadura (2,5; 5,0 e 7,5 cm) e tratamento de semente com fungicida (captan + tiabendazole) na emergência de plantas de milho. Utilizaram-se sementes do híbrido AS 1565 com 22% de incidência de Fusarium verticillioides e solo de lavoura naturalmente infestado. O ensaio foi conduzido em câmaras climatizadas por 25 dias, com contagem diária da emergência. Houve diferença significativa entre sementes tratadas e não tratadas, sendo que quanto menor a temperatura do solo e maior a profundidade de semeadura, maior a resposta ao tratamento de sementes na emergência de plantas. A estabilidade de emergência ocorreu aos 23, 18, 12 e 12 dias após a semeadura respectivamente para 13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC, mostrando redução na velocidade de emergência nas temperaturas baixas.

controle químico; Fusarium verticillioides; emergência de plantas


In this study the interaction between soil temperatures (13ºC, 15ºC, 17ºC and 19ºC), depths of sowing (2.5, 5.0 and 7.5 cm) and seed treatment with fungicide (captan + thiabendazol) in the emergence of plants maize was evaluate. Seed of hybrid corn AS1565 with 22% of the incidence of Fusarium verticillioides was used and soil naturally infested. The trays were kept in conditioned chambers for 25 days, measured daily the emergence. There was significance difference between treated and untreated seeds. According to lower soil temperature and higher the depth of seedling, was largest the response of the seed treatment in the plants emergence. The emergence of plants was measured daily to obtain the stability, which occurred at 23, 18, 12 and 12 days after seedling at temperatures of 13ºC, 15ºC, 17ºC and 19ºC respectively, showing reduction in the emergence speed at low temperatures.

chemical control; Fusarium verticillioides; plants emergence


NOTAS CIENTÍFICAS

Interação entre temperatura do solo, profundidade de semeadura e tratamento de sementes com fungicida na emergência de plantas de milho

Interaction between soil temperature, depths of sowing and seed treatment with fungicide in the emergence of maize plants

Ricardo Trezzi CasaI,* * Autor para correspondência: Ricardo Trezzi Casa ( a2rtc@cav.udesc.br) ; Paulo Roberto Kuhnem JúniorII; Erlei Melo ReisIII; Jonatha Marcel BolzanI; Éder Novaes MoreiraIV

IUniversidade do Estado de Santa Catarina CAV/UDESC, Lages, SC, CEP 88520-000

IIDoutorando em Fitotecnia, UFRGS, RS

IIIFAMF/UPF, Passo Fundo, RS

IVDoutorando em Fitopatologia, UFV, Viçosa, MG

RESUMO

O trabalho avaliou a interação entre temperaturas do solo (13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC), profundidades de semeadura (2,5; 5,0 e 7,5 cm) e tratamento de semente com fungicida (captan + tiabendazole) na emergência de plantas de milho. Utilizaram-se sementes do híbrido AS 1565 com 22% de incidência de Fusarium verticillioides e solo de lavoura naturalmente infestado. O ensaio foi conduzido em câmaras climatizadas por 25 dias, com contagem diária da emergência. Houve diferença significativa entre sementes tratadas e não tratadas, sendo que quanto menor a temperatura do solo e maior a profundidade de semeadura, maior a resposta ao tratamento de sementes na emergência de plantas. A estabilidade de emergência ocorreu aos 23, 18, 12 e 12 dias após a semeadura respectivamente para 13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC, mostrando redução na velocidade de emergência nas temperaturas baixas.

Palavras-chave adicionais: controle químico, Fusarium verticillioides, emergência de plantas

ABSTRACT

In this study the interaction between soil temperatures (13ºC, 15ºC, 17ºC and 19ºC), depths of sowing (2.5, 5.0 and 7.5 cm) and seed treatment with fungicide (captan + thiabendazol) in the emergence of plants maize was evaluate. Seed of hybrid corn AS1565 with 22% of the incidence of Fusarium verticillioides was used and soil naturally infested. The trays were kept in conditioned chambers for 25 days, measured daily the emergence. There was significance difference between treated and untreated seeds. According to lower soil temperature and higher the depth of seedling, was largest the response of the seed treatment in the plants emergence. The emergence of plants was measured daily to obtain the stability, which occurred at 23, 18, 12 and 12 days after seedling at temperatures of 13ºC, 15ºC, 17ºC and 19ºC respectively, showing reduction in the emergence speed at low temperatures.

Keywords: chemical control, Fusarium verticillioides, plants emergence

O fungo Fusarium verticillioides [Sin.= Fusarium moniliforme J. Sheld] associado à semente milho pode afetar a germinação (2,9). Quando a semente germina o fungo pode ser transmitido para raízes e/ou parte aérea (12). Dentre os fatores que interferem neste processo são considerados a temperatura e a umidade do solo os mais importantes para o estabelecimento das infecções, desenvolvimento no hospedeiro e transmissão de patógenos a partir de sementes (1). Além disto, semeaduras profundas, solo úmido e frio favorecem fungos de solo que causam dano em sementes e plantas (4).

Sementes de milho são comercializadas quase que universalmente tratadas com fungicidas para proteger a semente de infecções fúngicas após a semeadura ou reduzir a transmissão de fungos da semente infectada para parte aérea (1,6). Nerbass et al. (8) analisando 225 amostras de sementes de milho obtiveram frequência média de 86,6% de F. verticillioides, mesmo sendo estas sementes tratadas com diferentes princípios ativos de fungicidas. Os benzimidazóis são fungicidas sistêmicos que em tratamento de sementes de milho pode erradicar F. verticillioides e Stenocarpella maydis (Berk.) Sutton da semente (2). Já fungicidas protetores como captan e sistêmicos como metalaxil conferem boa proteção contra Pythium spp. no solo (11).

Diante do exposto estudou-se a interação entre temperaturas do solo, profundidades de semeadura e tratamento de semente com mistura de fungicida protetor e sistêmico na emergência de plantas de milho.

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC), Lages, SC, em 2007. Foram utilizadas no ensaio sementes do híbrido de milho AS1565 (Agroeste sementes®) apresentando germinação de 92% e 22% de incidência de F. verticillioides, quantificados pelos métodos de germinação e teste padrão de sanidade de sementes (Blotter teste) (10). A identificação de F. verticillioides foi realizada de acordo com metodologia descrita Leslie & Summerell (3) pela caracterização morfológica de cadeias longas de microconídios em monofiálide. O delineamento experimental utilizado foi de parcelas subsubdivididas, sendo alocado na parcela principal o fator temperatura (13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC) (14), na subparcela o fator profundidade de semeadura (2,5; 5,0 e 7,5 cm) e na subsubparcela o fator tratamento de semente, sem fungicida e com fungicida (Captan + Tiabendazole (100 + 40g i.a./100 kg de sementes)). Para obter as diferentes temperaturas foram utilizadas câmaras de crescimento do tipo B.O.D. com fotoperíodo de 12h e a temperatura ajustada de acordo com cada tratamento. As sementes foram semeadas em bandejas plásticas de 25x45x10 cm de altura contendo solo de lavoura de milho da estação experimental do CAV/UDESC, classificado como Cambissolo Húmico alumínico Léptico, não esterilizado e apresentando pH em água 6,4, acrescido de areia grossa na proporção 3:1 (solo:areia). Foram semeadas 48 sementes por bandeja, distribuídas em duas linhas de oito sementes para cada uma das três profundidades de semeadura, uma linha de semente tratada e outra não tratada, sendo três bandejas por B.O.D. Foram colocados 2,5 cm de solo no fundo das bandejas, posteriormente ajustando-se a profundidade de semeadura desejada. Na profundidade de 7,5 cm as sementes foram semeadas nesta camada inicial e cobertas com 7,5 cm de solo, já para profundidade de 5,0 cm foi acrescido 2,5 cm de solo no fundo, semeado e coberto com 5,0 cm de solo e para a profundidade de 2,5 cm foi acrescido 5,0 cm de solo, semeado e coberto com 2,5 cm de solo, gerando as profundidades de semeadura. Realizou-se a semeadura com pinça de mão e após a semeadura, procedeu-se o umedecimento das bandejas com 250 mL de água destilada. A umidade do solo foi mantida através de irrigações no terceiro, sexto e décimo dia após a semeadura.

A contagem de plantas foi realizada diariamente após a constatação dos primeiros coleóptilos (mínimo 1 cm de altura) até a estabilização da emergência, a qual ocorreu aos 23, 18, 12 e 12 dias após a semeadura, respectivamente para as temperaturas de 13ºC, 15ºC, 17ºC e 19ºC.

Os dados foram submetidos aos testes das pressuposições da análise de variância (P<0,05) utilizando o procedimento PROC GLM no aplicativo estatístico SAS 9.2, para tal utilizou-se o modelo yijk = µ + Ri + Aj + δij + Bk + ABjk + γijk + Cl + ACjl + BCkl + ABCjkl + εijk. Onde µ = média do tratamento; R = bloco; A = parcela principal (temperatura (T)); δ = Erro (a); B subparcela (profundidade de semeadura (P)); AB = interação T x P; γ = Erro (b); C = subsubparcela (tratamento de semente (TS)); AC = interação T x TS; BC = interação P x TS; ABC interação T x P x TS; e ε = Erro. Posteriormente foi realizada separadamente a análise de regressão (P<0,05), para cada temperatura, profundidade de semeadura e tratamento de semente, devido a ocorrência da interação tripla (T x P x F) significativa.

Houve diferença significativa para temperatura do solo e profundidade de semeadura e interação entre estes, inclusive com interação tripla, indicando que sementes tratadas apresentam comportamento diferencial quando semeadas em solo com diferentes temperaturas e profundidades. A elevação da temperatura de 13ºC para 19ºC favoreceu a emergência de plântulas em todas as profundidades, para sementes tratadas e não tratadas com fungicida (Figura 1), indicando que temperaturas baixas do solo influenciam de modo negativo na germinação e na emergência de plântulas de milho, conforme observado anteriormente por Severo (13). Em todas as temperaturas do solo foi observado redução na emergência quando se aumentou a profundidade de semeadura de 2,5 até 7,0 cm (Figura 1). O aumento da temperatura de 13ºC até 19ºC reduziu o tempo de estabilidade de emergência de 23 para 12 dias, concordando com Munkvold & O'Mara (5) que em estudo com ambiente controlado detectaram redução no tempo de emergência de sementes de milho infectadas com F. verticillioides de 21 para 9 dias com aumento da temperatura de 10ºC para 25ºC. Murillo-Willians & Munkvold (7) estudando a processo de infecção sistêmica de F. verticillioides da semente para a parte aérea em três diferentes temperaturas e reisolaram 100% de F. verticillioides independente da temperatura.


Neste estudo demonstrou-se como é fundamental o tratamento de sementes com mistura de fungicidas específicos quando a semeadura ocorre em solo frio, onde a velocidade de emergência é lenta, podendo ser as sementes submetidas à deterioração por F. verticillioides presente na semente e/ou por fungos de solo.

Data de chegada: 18/02/2011

Aceito para publicação em: 18/02/2012

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  • 2. Casa, R.T.; Reis, E.M.; Zambolim, L. Fungos associados à semente de milho produzida nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Fitopatologia Brasileira, v.23, n.3, p.370-373,1998.
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  • 4. Munkvold, G.P. Epidemiology of Fusarium diseases and their mycotoxins in maize ears. European Journal of Plant Pathology, v.109, n.7, p.705-713,2003.
  • 5. Munkvold, G.P.; O'Mara, J.K. Laboratory and Growth Chamber Evaluation of Fungicidal Seed Treatments for Maize Seedling Blight Caused by Fusarium Species. Plant Disease, v.86, n.2, p.143-150,2002.
  • 6. Munkvold, G.P. Seed pathology progress in academia and industry. Annual review of phytopathology, v.47, p.285-311,2009.
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  • 8. Nerbass, F.R.; Casa, R.T.; Angelo, H.R. Sanidade de sementes de milho comercializadas na safra agrícola de 2006/07 em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Revista de Ciências Agroveterinárias, v.7, n.1, p.30-36,2008.
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  • 13. Severo, R. A emergência de milho: os efeitos de fatores bióticos e abióticos Tese (Doutorado em Fitotecnia). Faculdade de Agronomia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. p.244,1999.
  • 14. Wilke, A.L.; Bronson, C.R.; Tomas, A.; Munkvold, G.P. Seed Transmission of Fusarium verticillioides in Maize Plants Grown Under Three Different Temperature Regimes. Plant Disease, v.91, n.9, p.1109-1115,2007.
  • *
    Autor para correspondência: Ricardo Trezzi Casa (
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012

    Histórico

    • Recebido
      18 Fev 2011
    • Aceito
      18 Fev 2012
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