Acessibilidade / Reportar erro

Cancro em Calycophyllum spruceanum no Estado do Rio de Janeiro

Chanker in Calycophyllum spruceanum in Rio de Janeiro state

COMUNICAÇÃO

Cancro em Calycophyllum spruceanum no Estado do Rio de Janeiro

Chanker in Calycophyllum spruceanum in Rio de Janeiro state

Paulo Sergio Torres Brioso* * Autor para correspondência: Paulo Sergio Torres Brioso ( brioso@bighost.com.br)

Laboratório Oficial de Diagnóstico Fitossanitário, Área de Fitopatologia/ Área de Fitopatologia/ IB/ UFRRJ, Caixa Postal 74585, 23851-970, Seropédica, RJ, Brasil. Bolsista do CNPq

O pau mulato [C. spruceanum (Benth.) Hook. F. ex K. Schum.] (Rubiaceae) pode atingir quando adulta, 15-40 m de altura/ 4-5 m de diâmetro de copa. Nativa da região amazônica, tem crescimento lento e é utilizada em paisagismo urbano, no reflorestamento, na indústria madeireira e para fins medicinais. Tal planta está distribuída na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru (Almeida, Inf. Téc. Rede Sem. Amazônia 6:1-2, 2004; Lombard et al., Fungal Diversity 31:73-81, 2008). Em aléia adulta da referida árvore, localizada no Jardim Botânico (RJ), foram observadas árvores com cancro no caule, a 1,5 m de altura, calo cicatricial na borda da lesão, seca e morte de ponteiros (Figs. 1A, 1B). Objetivou-se identificar o patógeno a partir de fragmentos de tecido do caule, retirados da área limítrofe da lesão e isolados em BDA sob 12 h luz/ 12 h escuro, a 25 ± 1ºC por 10 dias. O teste de patogenicidade foi realizado por inoculação com disco de micélio de 0,3 cm2, obtido do bordo de colônias com sete dias de crescimento e inserido em ferimento de mesmo diâmetro no caule com auxílio de saca bocado à altura de 15 cm da base, em mudas com 7 meses em casa de vegetação. Depositou-se algodão saturado de água destilada e esterilizada, sobre o local da inoculação, fixando com fita plástica e cobrindo-se com saco plástico, para a manutenção da umidade. Com as plantas testemunhas, inocularam-se discos com o meio de cultura. Decorridos 19 dias da inoculação, retirou-se a câmara úmida procedendo-se ao reisolamento. Além do pau mulato foram inoculadas, conforme a metodologia mencionada, 3 plantas/ espécie de Coffea arabica L., de Genipa americana L., de Gardenia jasminoides J. Ellis. Aos 19 dias, observaram-se nas plantas inoculadas de pau mulato, calo cicatricial sendo o fungo reisolado do tecido lesionado. Além deste, só se infectou G. jasminoides. Em meio de BDA, as colônias fúngicas, aos 10 dias de incubação apresentaram aspecto cotonoso e coloração rosada no fundo da placa de petri (Fig. 1D). O fungo apresentou conidióforos (fiálides) com 28 a 40 µm x 4 a 6 µm; do tipo monofiálides; microconídio oval, hialino com 10 a 15 µm x 3 a 5 µm produzido em cadeia, macroconídio com 55-130 µm x 6-10 µm; ausência de clamidosporo, sendo identificado como Fusarium decemcellulare Brick [anamorfo de Albonectria rigidiuscula (Berk. & Broome) Rossman & Samuels] (Ventura, Rev. An. Pat. Plantas 8:303-338, 2000). Esta espécie fúngica é de origem tropical e tem sido noticiada em espécies de 22 famílias e, pode viver como saprófita, hiperparasita ou como patógeno (Singh & Singh, Mycol. 70(5):1126-1129, 1978; Wadia & Manoharachary, Plant Dis. 64:323-324, 1980; Pimentel et al., Summa Phytop. 13:20, 1987; Amorim et al., Fit. Bras. 18:226-229, 1993; Liberato et al., EMCAPA, 1996; Junqueira et al., Circ. Téc. 16:1-33, 2001; Poletto et al., Ciên. Flor. 16(1):1-10, 2006; Gasparotto et al., Fit. Bras. 31:S37-S38, 2006; Silva et al., Trop. Pl. Pathol. 34:S194, 2009). No Brasil, o fungo já foi registrado no AM, DF, ES, PA, PE, RO, RS, SP. Na região amazônica, no Equador, F. decemcellulare tem sido associado com cancro em Cedrelinga cateniformis (Ducke) Ducke e, no Brasil, tem sido encontrado em plantas de Paullinia cupana Kunth em associação com lesões de tripes ou ácaro e alta umidade (Adis et al., Fit. Bras. 10(3):677-679, 1985). A presença do fungo no RJ, em pau mulato, pode ser devida a procedência amazônica da planta, às lesões feitas nas árvores com canivete por visitantes do Jardim Botânico associadas a um período chuvoso (Fig. 1C). Trata-se do primeiro relato deste fungo como fitopatógeno em C. spruceanum no mundo.


Data de chegada: 28/06/2011

Aceito para publicação em: 08/02/2012

  • *
    Autor para correspondência: Paulo Sergio Torres Brioso (
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012
    Grupo Paulista de Fitopatologia FCA/UNESP - Depto. De Produção Vegetal, Caixa Postal 237, 18603-970 - Botucatu, SP Brasil, Tel.: (55 14) 3811 7262, Fax: (55 14) 3811 7206 - Botucatu - SP - Brazil
    E-mail: summa.phyto@gmail.com