Acessibilidade / Reportar erro

Complexo celulolítico produzido por duas espécies de fungos fitopatogênicos isolados de mandioca

Cellulolytic complex produced by two species of phytopathogenic fungi isolated from cassava

RESUMO

A partir de coletas realizadas em plantios comerciais de mandioca (Manihot esculenta Crantz) em 11 municípios do Estado da Paraíba, obtiveram-se 27 isolados dos fungos Colletotrichum gloeosporoides f. sp. manihotis Henn (Penn.) e Fusarium oxysporum Schlent, fitopatogênicos à cultura. Desses isolados foi obtida a produção enzimática do complexo celulolítico, sob fermentação submersa à 120 rpm e 30 °C durante 7 dias, tendo CMC (Carboximetilcelulose) como fonte de carbono. As atividades enzimáticas foram quantificadas por meio do grau de hidrólise de tiras de papel de filtro (FPAse) e de CMC (CMCase). Utilizou-se a liberação de Paranitrofenol para quantificação das atividades da β-glucosidase (βG). As atividades mais elevadas observadas foram: 23,13 e 1,51 U/ml para FPAse e CMCase pelos isolados de C. gloeosporioides URM 7124 e 7125. Para βG, 0,0014 U/mL, pelo isolado 13.

Palavras-chave
Fusarium oxysporum; Colletotrichum gloeosporioides; FPase; Endoglucanase; Enzimas

ABSTRACT

Material collected from commercial crops of cassava (Manihot esculenta Crantz) in 11 municipalities in the state of Paraíba included 27 isolates of the fungi Colletotrichum gloeosporoides f. sp. manihotis Henn (Penn.) and Fusarium oxysporum Schlent., which are pathogenic to the culture. From these isolates, cellulolytic enzyme complex production was obtained under submerged fermentation at 120 rpm and 30 °C for 7 days, with CMC (Carboxymethyl Cellulose) as carbon source. Enzyme activities were quantified by means of the degree of hydrolysis of strips of filter paper (FPAse) and CMC (CMCase). The release of Paranitrofenol was used to quantify the activities of β-glucosidase (βG). The highest activities were: 23.13 and 1.51 U/ml for FPase and CMCase by the isolates of C. gloeosporioides URM 7124 and 7125. For βG, 0.0014 U/ml by isolate 13.

Keywords
Fusarium oxysporum; Colletotrichum gloeosporioides; FPase; Endoglucanase; enzymes

A celulose é um polímero abundantemente encontrado na natureza (2121 Okunowo, W.O.; Gbenle, G.O.; Osuntoki, A.A.; Adekunle, A.A. e Ojokuku, S.A. Production of cellulolytic and xylanolytic enzymes by a phytopathogenic Myrothecium roridum and some avirulent fungal isolates from water hyacinth. African Journal of Biotechnology, Lagos, v.7, n.9, p.1074-1078, 2010.,2525 Ramanathan, G.; Banupriya, S.; Abirami, D. Production and Optimization of Cellulase from Fusarium oxysporum by submerged fermentation. Journal of Scientific & Industrial research, New Delhi, n.69, p.454-459, 2010.). Sua ampla distribuição deve-se principalmente à participação na composição das paredes celulares dos vegetais (2020 Narasimha, G.; Sridevi, A.; Buddolla, V.; Subhosh C.M.; Rajasekhar, R.B.. Nutrient effects on production of cellulolytic enzymes by Aspergillus niger. African Journal of Biotechnology, Lagos, v.5, n.5, p.472-476, 2006.). Devido à sua estrutura molecular, a celulose é resistente, estável e de difícil degradação (44 Basso, T.P.; Gallo, C.R.; Basso, L.C. Atividade celulolítica de fungos isolados de bagaço de cana‑de‑açucar e madeira em decomposição. Pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v.45, n.11, p.1282-1289. 2010.). Assim, nos processamentos industriais e ambientais em que seja necessária a hidrólise nos componentes vegetais, são exploradas as enzimas celulolíticas para degradação química desse polissacarídeo. Estas enzimas atuam na preparação de materiais das indústrias alimentícia, farmacêutica, de óleos essenciais, rações animais, polpa celulósica e papel, bem como na conversão da biomassa de resíduos agrícolas e industriais em produtos químicos e biocombustíveis (2727 Singh, A.; Singh, N.; Bishnoi, N.R. Production of Cellulases by Aspergillus Heteromorphus from wheat straw under submerged fermentation. International Journal of Civil and Environmental Engineering, Saddar, v.1, n.1, p.23-26, 2009.,2929 Talekhar, S.; Ghodake, V.; Chavare, S. Production and characterization of Cellulase by local fungal isolate of India using water hyacinth as carbon source and reuse of fungal biomass for dye degradation. International Journal of Engineering Science and Technology, Otteri, v.3, n.4, p.3236-3241, 2011.).

Segundo Lynd et al. (1313 Lynd, L.R.; Weimer, P.J.; Vanzil, W.H.; Pretorius, I.S. Microbial Cellulose Utilization. Fundamentals and Molecular Biology Rewiews, New York, v.66, n.3, p.506-577, 2002.) as celulases são classificadas de acordo com a sua ação catalítica e o local de atuação no substrato celulósico. O complexo celulolítico divide-se em três grupos: as endoglucanases (EnG, EC 3.2.1.4), que clivam internamente ligações glucosídicas nas regiões amorfas da fibra celulósica; as exoglucanases (ExG, EC 3.2.1.74) que atuam externamente nas fibras celulósicas e as β-glucosidases (βG, EC 3.2.1.91) que hidrolisam os oligossacarídeos (celodextrinas e celobioses) resultantes das ações catalíticas das enzimas citadas anteriormente em glucose (77 Castro, A.M.; Pereira Júnior, N. Produção, propriedade e aplicação das celulases na hidrólise de resíduos agroindustriais. Química Nova, São Paulo, v.33, n.7, p.181-188. 2010.).

Os fungos filamentosos são produtores de enzimas hidrolíticas e apresentam relativa facilidade em sua excreção (22 Ângelo, R.S. Enzimas hidrolíticas. In: Esposito, E.; Azevedo, J.L. Fungos: Uma introdução a biologia, bioquímica e biotecnologia. 2. ed. Caxias do Sul: Educs, 2010, p. 245-260.), tendo contribuído significativamente no campo da produção enzimática para fins industriais (66 Carlile, M.J.; Watkinson, S.C.; Gooday, C.H. The fungi. London: Academic Press, 2001. 588p.). Para suprimento das necessidades energéticas, muitos destes organismos produzem as enzimas celulolíticas, visando decompor a celulose de fontes vegetais. Todavia, somente poucos destes as produzem em quantidade significativa in vitro (2828 Sukumaran, R.K.; Singhania, R.R.; Pandey, A. Microbial cellulases-production, applications and challenges. Journal of Science Industrial and Research, New Delhi, v.64, n.11, p.832–844, 2005.). Os fungos fitopatogênicos, devido à sua adaptação natural para invadir e parasitar a célula vegetal, apresentam a potencialidade de produzir e secretar enzimas lignocelulíticas (33 Baer, D.; Gudmestad, N.C. In vitro cellulolytic activity of the plant pathogen Clavibacter michiganensis subsp. sepedonicus. Canadian Journal of Microbiolology, Ottawa, v.41, n.10, p.877-888. 1995.,1616 Mendgen, K.M.; Hahn, H. Deising.Morphogenesis and Mechanisms of Penetration by Plant Pathogenic Fungi. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, n.34, p.364-386, 1996.,1919 Moreira, F.G.; Reis, S.; Costa, M.A.F.; Souza, C. G. M.; Peralta, R.M. Production of Hydrolytic Enzimes by the Plant Pathogenic Fungus Myrothecium verrucaria in Submerged Cultures. Brazilian Journal of Microbiology, São Paulo, v.36, n.1, p.7-11, 2005). Como exemplos de fungos fitopatógenos produtores das enzimas do complexo celulolítico foram estudados recentemente Fusarium graminearum, F. oxysporum e Myrothecium roridum (1010 Kikot, G.E.; Hours, R.A.; Alconada, T.M. Extracellular Enzymes of Fusarium graminearum Isolates. Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, v.53, n.4, p.779-783, 2010.,2121 Okunowo, W.O.; Gbenle, G.O.; Osuntoki, A.A.; Adekunle, A.A. e Ojokuku, S.A. Production of cellulolytic and xylanolytic enzymes by a phytopathogenic Myrothecium roridum and some avirulent fungal isolates from water hyacinth. African Journal of Biotechnology, Lagos, v.7, n.9, p.1074-1078, 2010.,2525 Ramanathan, G.; Banupriya, S.; Abirami, D. Production and Optimization of Cellulase from Fusarium oxysporum by submerged fermentation. Journal of Scientific & Industrial research, New Delhi, n.69, p.454-459, 2010.). Fungos fitopatogênicos da cultura da mandioca também apresentam as mesmas adaptações para realizarem os processos de infecção, especialmente para a penetração dos tecidos hospedeiros (1515 Massola, N.S.; Bedendo, I.P. Doenças da Mandioca. In: Kimati, H.; Amorim, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A. Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. São Paulo: Ceres, 2005. v.2, p.449-455.,2323 Pascholati, S.F. Fitopatógenos: Arsenal Enzimático. In: Bergamin filho, A.; Kimati, H.; Amorim, L. Manual de Fitopatologia: Princípios e Conceitos. São Paulo: Ceres, 1995. v.1, p.343-364.).

Levando-se em consideração estas informações, este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a produção de enzimas celulolíticas por fungos fitopatogênicos isolados de mandioca.

MATERIAL E MÉTODOS

A partir do material coletado em um levantamento de doenças realizado no Estado da Paraíba, efetuado por Morais et al. (1818 Morais, M.S.; Nascimento, L.C.; Moreira, K.A.; Cavalcanti, M.S. e Oliveira, N.T. Levantamento e avaliação da incidência das doenças da mandioca no estado da Paraíba. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.39, n.3, p.204-206, 2013.), obtiveram-se isolados de fungos fitopatogênicos em caules, folhas e raízes de mandioca em duas áreas denominadas I e II, localizadas em campos agrícolas comerciais de 11 municípios (Tabela 1). Cada uma das áreas continha 75 plantas que distanciavam de 5 a 10 metros uma da outra, dependendo do tamanho do plantio.

Tabela 1
Fungos isolados de tecidos infectados de mandioca em duas áreas agrícolas de 11 municípios do Estado da Paraíba.

A fermentação seletiva dos fungos foi realizada em frascos de Erlenmeyers de 250 mL, contendo 50 mL de meio composto de 2,0g: KH2PO2, 1,4g: (NH4)2SO4, 0,3 g: MgSO4.7H2O, 0,3 g: CaCl2.H2O, 5,0 g: NaNO3, 1 mL: Tween: 80 e 1 mL de solução de micronutrientes (2,0 g: CoCl2, 1,6 g: MnSO4.H2O, 1,4 g: ZnSO4.H2O, 0,5 g: FeSO4.7H2O/L), pH inicial 5,0 e de carboximetilcelulose (CMC) 1% (p/v) como única fonte de carbono. Os frascos e seu conteúdo foram esterilizados a 121 °C durante 15 minutos em autoclave. Em seguida foram preparadas suspensões de 106 conídios/mL de cada isolado (culturas com 8 dias de crescimento em meio BDA a 25° C e fotoperíodo de 12 horas). Posteriormente os frascos de Erlenmeyers foram inoculados com as suspensões e acondicionados em agitador orbital, na temperatura de 30 °C e 120 rpm durante 7 dias. O ensaio foi realizado em duplicata.

O extrato enzimático bruto foi obtido do meio fermentado, após filtração e centrifugação a 9.000g, 4 °C, durante 15 minutos para separação da biomassa e do sobrenadante. Em seguida, o sobrenadante foi acondicionado em tubos e congelados a temperatura de – 20 °C para as determinações analíticas.

O teor de proteínas totais foi determinado empregando-se o método de Bradford (55 Bradford, M.M.A Rapid and Sensitive Method for the Quantitation of Microgram Quantities of Protein Utilizing the Principle of Protein-Dye Binding. Analytical Biochemistry, Bethesda, n.72, p.248-254. 1976.), utilizando-se albumina sérica bovina como proteína padrão da curva de calibração.

As atividades FPAse (celulase total) e CMCase (endoglucanases) foram determinadas de acordo com o método proposto por Ghose (99 Ghose, T.K. Measurement of Cellulase Activities. Pure and Applied Chemistry, Switzerland, v.59, n.2, p.257-268, 1987.). Para determinação da FPAse, Tiras de papel de filtro Whatman nº 1 (50 mg, 1x6 cm), recortadas e enroladas foram mergulhadas em solução de 0,5 mL do extrato enzimático com 1,0 mL de tampão citrato (50 mM, pH 5,0) contida em tubos de ensaio. Em seguida, o material foi incubado a 50 ºC por 60 minutos.

Para determinação da CMCase, foram incubados 0,5 mL do extrato enzimático com 0,5 mL da solução de CMC a 1% (p/v) em tampão citrato (50 mM, pH 5,0). Posteriormente, esta solução foi incubada a 50 ºC durante 30 minutos em banho termostatizado. A hidrólise foi interrompida com a adição de 1 mL do reagente Ácido Dinitrossalicílico (DNSA) e seguiu-se a quantificação do conteúdo de açúcares redutores.

A absorbância das soluções contendo os açúcares foi mensurada a 540 nm de comprimento de ondas, por meio de espectrofotômetro e por confrontação da leitura óptica com uma curva de calibração, na qual a D-glucose foi utilizada como padrão.

Para a determinação da βG, seguiu-se a metodologia descrita por Deshpande & Eriksson (88 Deshpande, V.; Eriksson, K.E. 1,4-β-D-glucosidases of Sporotrichum pulverulentum. In: Wood, W. A. e Kellogg, S.T. Methods in Enzymology. San Diego: Academic Press, 1988, p. 415-424.) modificada: 200 µL do extrato enzimático foram adicionados a uma solução de 300 µL de ρ-nitrofenil-β-D-glucopiranosídeo (ΡNPG) diluído em tampão acetato de sódio (50 mM, pH 5,0). A mistura foi incubada a 50 ºC por 30 minutos banho termostatizado e em seguida, foram adicionados 500 µL de solução de carbonato de sódio (1M), para interrupção da reação. O ρ-nitrofenol liberado foi quantificado espectrofotometricamente a 405 nm. Os dados obtidos a partir da leitura das absorbâncias foram calculados segundo curva padrão de ρ-nitrofenol.

Uma Unidade (U) de atividade enzimática foi definida como a quantidade de enzima necessária para liberar um mmol de glucose por minuto.

A análise estatística dos dados foi processada através da análise de variância e teste Scott-Knott para as médias das atividades totais (U/ml) obtidas. O programa estatístico empregado foi o Sisvar versão 2008.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A variação da atividade celulolítica entre os isolados fúngicos foi significativa e em todos os casos houve atividades mesmo que em baixos índices (Tabela 2). A divergência significativa entre as atividades enzimáticas dentro de uma espécie permite diferenciar isolados dentro desse âmbito taxonômico (1111 Lima Filho, R.M.; Oliveira, S.M.A.; Menezes, M. Caracterização enzimática e patogenicidade cruzada de Colletotrichum spp. associados a doenças de pós-colheita. Fitopatologia Brasileira, Brasília-DF, v.28, n.6, p.620-625, 2003.,2424 Paterson, R.R.M.; Bridge, R.L.D.L. Biochemical techniques for filamentous fungi. Cambridge: CAB International, 1994. 125p.). Lima Filho et al. (1111 Lima Filho, R.M.; Oliveira, S.M.A.; Menezes, M. Caracterização enzimática e patogenicidade cruzada de Colletotrichum spp. associados a doenças de pós-colheita. Fitopatologia Brasileira, Brasília-DF, v.28, n.6, p.620-625, 2003.) avaliando a atividade da FPAse e de outras enzimas provenientes de isolados de Colletotrichum sp. fitopatogênicos de frutíferas, verificaram valores pouco superiores. Essas atividades também variaram de acordo com os isolados de cada vegetal: 4,89 U/mL em isolados de manga, 4,46 U/mL em isolados de mamão, 4,04 U/mL em isolados de caju.

Tabela 2
Atividade celulolítica (U/ml) de Fusarium oxysporum e Colletotrichum gloeosporioides fitopatogênicos a mandioca

Ainda de acordo com a Tabela 2, foi atingida maior atividade (23,13 U/mL) para FPAse a partir do extrato enzimático obtido do isolado 23 de C. gloeosporioides URM 7124. Para esse mesmo isolado obteve-se a atividade de 1,20 U/mL da enzima endoglucanase (CMCase), valor que seguiu imediatamente o isolado 22, em que observou-se o valor mais elevado para esta mesma enzima. Anand et al. (11 Anand, T.; Bhaskaran, R.; Karthikeyan, T.R.G.M.R.; Senthilraja, G. Production of cell wall degrading enzimes and toxins by Colletotrichum Capsici and Alternaria alternate Causing Fruit rot of Chillies. Journal of Plant Protection, Wielkopolskie, v.48, n.4, p.437-451, 2008.) utilizando pectina e carboximetilcelulose como fontes de carbono, constataram que a atividade FPAse de isolados de C. capsici aumentava de acordo com a virulência da linhagem e com a idade da cultura, alcançando valores entre 9,00 e 12,00 U/mL, mas somente após 20 dias de cultivo. Em comparação a estas atividades, dois fungos isolados da mandioca foram superiores numa fração menor de tempo (sete dias de fermentação): além de C. gloeosporioides URM 7124, o isolado 11, com 13,21 U/mL.

Em estudos utilizando-se a espécie Trichoderma reesei, tendo espiga de milho triturada como fonte de carbono, o valor máximo alcançado foi de 5,20 U/mL (1212 Liming, X.; Xueliang, S. High-yeld production by Trichoderma reesei ZU-02 on corn cob residue. Bioresource Technology, Amsterdam, v.91, n.3, p.259-262, 2004.). Este índice correspondeu às atividades de quatro isolados fúngicos do presente trabalho (O isolado 12, C. gloeosporioides URM 7080, isolados 26 e 27).

Em relação à CMCase, o isolado 22 de C. gloeosporioides URM 7125, foi o fungo que apresentou a mais elevada atividade, 1,51 U/mL. Em fungos saprofíticos se observam variadas taxas de atividades para esta enzima: Sukumaran et al. (2828 Sukumaran, R.K.; Singhania, R.R.; Pandey, A. Microbial cellulases-production, applications and challenges. Journal of Science Industrial and Research, New Delhi, v.64, n.11, p.832–844, 2005.) obtiveram 14,98 U/mL de CMCase utilizando Trichoderma reesei RUT C30. Enquanto Malik et al. (1414 Malik, S.K.; Mukhtari, H.; Farooqi, A.A.; Ikram-ul-haq, M. Optimization of process parameters for the biosynthesis of cellulases by Trichoderma viride. Pakistan Journal of Botany, Karachi, v.42, n.6, p.4243-4251, 2010) obteveram o máximo de produção 1,57 para T. viride, em fermentação submersa pelo período de incubação de 72h a 30 ºC e ajustando-se o pH para 5,5, alcançou-se a máxima produção de 1,66 U/mL. Estes valores são equivalentes aos alcançados no presente trabalho.

A mais elevada atividade para βG foi apresentada pelo isolado 13, C. gloeosporioides, (0,0014 U/mL), a qual não diferenciou estatisticamente dos isolados 7, 12 e 14. Esta taxa foi próxima de valores atingidos por fungos da mesma espécie fitopatogênicos à seringueira (Hevea brasiliensis), os quais apresentaram atividades 0,030 e 0,014 U/mL, mesmo assim, após 10 dias em fermentação contendo carboximetilcelulose como fonte de carbono (2626 Senaratna, L.K.; Wijesundera R.L.C.; Liyanage, A.S. Morphological and physiological characters of two isolates of Colletotrichum gloeosporioides from rubber (Hevea brasiliensis). Mycological Research, Manchester, v.95, n.9, p.1085-1089, 1991.).

Embora o gênero Colletotrichum seja produtor desta enzima, baixas atividades podem ser previsíveis, uma vez que a maioria das espécies fúngicas a produzem intracelularmente e com pequena atividade extracelular. Este fenômeno é observado tanto para espécies de fungos filamentosos como para bactérias (1717 Moldoveanu, N.; Kluepfel, D. Comparison of β-Glucosidase Activities in Different Streptomyces Strains. Applied and Environmental Microbiology, Washington, v.46, n.1, p.17-21. 1983.) e que mesmo em espécies mais exploradas para produção de celulases industriais, como T. reesei, sua secreção in vitro é insuficiente (2222 Park, E.Y.; Naruse, K. e Tatsuya, K. Improvement of cellulase production in cultures of Acremonium cellulolyticus using pretreated waste milk pack with cellulase targeting for biorefinery. Bioresource Technology, Amsterdam, v.102, n.10, p.6120–6127, 2011.,3030 Wen, Z.; Liao, W.; Chen, S. Production of cellulase/β-glucosidase by the mixed fungi culture of Trichoderma reesei and Aspergillus phoenicis on dairy manure. Applied Biochemistry Biotechnology, Hoboken, v.121, n. 1, p.93-104, 2005.).

Em relação à espécie F. oxysporum, o isolado 24,URM 7082 apresentou o maior índice de atividade para FPAse, 5,89 U/mL. A esse valor seguiu-se a atividade do isolado 15, com 5,22 U/mL para FPAse e 0,41 para CMCase. Para a atividade da FPAse, o valor quantificado não diferiu estatisticamente dos isolado 24. (Tabela 2). Estes isolados apresentaram moderada produção de enzimas, sendo o valor da FPAse superior aos de isolados da mesma espécie, patogênicos ao tomateiro, para os quais, o mais elevado valor foi de 1,43 U/mL, sendo necessário um período de fermentação de 12 dias à temperatura de 50 °C, pH 6.0 (2525 Ramanathan, G.; Banupriya, S.; Abirami, D. Production and Optimization of Cellulase from Fusarium oxysporum by submerged fermentation. Journal of Scientific & Industrial research, New Delhi, n.69, p.454-459, 2010.). Este resultado difere do presente trabalho, no qual se obteve superiores resultados no período de 7 dias. Para CMCase, Kikot et al. (1010 Kikot, G.E.; Hours, R.A.; Alconada, T.M. Extracellular Enzymes of Fusarium graminearum Isolates. Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, v.53, n.4, p.779-783, 2010.) obtiveram 0,33 U/mL como maiores valores de atividade para F. graminearum, no quarto dia de incubação. Estas observações confirmam as conclusões de vários estudos do potencial celulolítico por fungos integrantes deste gênero.

Em vista destes resultados, foi confirmado o potencial biotecnológico dos fungos estudados para produção de celulases, sugerindo a necessidade de estudos futuros de caracterização e otimização das condições de produção destas e de outras enzimas, com possibilidade de exploração em benefício do meio ambiente e contribuição para a indústria biotecnológica.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação do Laboratório de Biotecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns pela concessão de recursos laboratoriais e pessoais e à Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior pela fomentação financeira.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Anand, T.; Bhaskaran, R.; Karthikeyan, T.R.G.M.R.; Senthilraja, G. Production of cell wall degrading enzimes and toxins by Colletotrichum Capsici and Alternaria alternate Causing Fruit rot of Chillies. Journal of Plant Protection, Wielkopolskie, v.48, n.4, p.437-451, 2008.
  • 2
    Ângelo, R.S. Enzimas hidrolíticas. In: Esposito, E.; Azevedo, J.L. Fungos: Uma introdução a biologia, bioquímica e biotecnologia. 2. ed. Caxias do Sul: Educs, 2010, p. 245-260.
  • 3
    Baer, D.; Gudmestad, N.C. In vitro cellulolytic activity of the plant pathogen Clavibacter michiganensis subsp. sepedonicus Canadian Journal of Microbiolology, Ottawa, v.41, n.10, p.877-888. 1995.
  • 4
    Basso, T.P.; Gallo, C.R.; Basso, L.C. Atividade celulolítica de fungos isolados de bagaço de cana‑de‑açucar e madeira em decomposição. Pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v.45, n.11, p.1282-1289. 2010.
  • 5
    Bradford, M.M.A Rapid and Sensitive Method for the Quantitation of Microgram Quantities of Protein Utilizing the Principle of Protein-Dye Binding. Analytical Biochemistry, Bethesda, n.72, p.248-254. 1976.
  • 6
    Carlile, M.J.; Watkinson, S.C.; Gooday, C.H. The fungi London: Academic Press, 2001. 588p.
  • 7
    Castro, A.M.; Pereira Júnior, N. Produção, propriedade e aplicação das celulases na hidrólise de resíduos agroindustriais. Química Nova, São Paulo, v.33, n.7, p.181-188. 2010.
  • 8
    Deshpande, V.; Eriksson, K.E. 1,4-β-D-glucosidases of Sporotrichum pulverulentum In: Wood, W. A. e Kellogg, S.T. Methods in Enzymology San Diego: Academic Press, 1988, p. 415-424.
  • 9
    Ghose, T.K. Measurement of Cellulase Activities. Pure and Applied Chemistry, Switzerland, v.59, n.2, p.257-268, 1987.
  • 10
    Kikot, G.E.; Hours, R.A.; Alconada, T.M. Extracellular Enzymes of Fusarium graminearum Isolates. Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, v.53, n.4, p.779-783, 2010.
  • 11
    Lima Filho, R.M.; Oliveira, S.M.A.; Menezes, M. Caracterização enzimática e patogenicidade cruzada de Colletotrichum spp. associados a doenças de pós-colheita. Fitopatologia Brasileira, Brasília-DF, v.28, n.6, p.620-625, 2003.
  • 12
    Liming, X.; Xueliang, S. High-yeld production by Trichoderma reesei ZU-02 on corn cob residue. Bioresource Technology, Amsterdam, v.91, n.3, p.259-262, 2004.
  • 13
    Lynd, L.R.; Weimer, P.J.; Vanzil, W.H.; Pretorius, I.S. Microbial Cellulose Utilization. Fundamentals and Molecular Biology Rewiews, New York, v.66, n.3, p.506-577, 2002.
  • 14
    Malik, S.K.; Mukhtari, H.; Farooqi, A.A.; Ikram-ul-haq, M. Optimization of process parameters for the biosynthesis of cellulases by Trichoderma viride Pakistan Journal of Botany, Karachi, v.42, n.6, p.4243-4251, 2010
  • 15
    Massola, N.S.; Bedendo, I.P. Doenças da Mandioca. In: Kimati, H.; Amorim, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A. Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. São Paulo: Ceres, 2005. v.2, p.449-455.
  • 16
    Mendgen, K.M.; Hahn, H. Deising.Morphogenesis and Mechanisms of Penetration by Plant Pathogenic Fungi. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, n.34, p.364-386, 1996.
  • 17
    Moldoveanu, N.; Kluepfel, D. Comparison of β-Glucosidase Activities in Different Streptomyces Strains. Applied and Environmental Microbiology, Washington, v.46, n.1, p.17-21. 1983.
  • 18
    Morais, M.S.; Nascimento, L.C.; Moreira, K.A.; Cavalcanti, M.S. e Oliveira, N.T. Levantamento e avaliação da incidência das doenças da mandioca no estado da Paraíba. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.39, n.3, p.204-206, 2013.
  • 19
    Moreira, F.G.; Reis, S.; Costa, M.A.F.; Souza, C. G. M.; Peralta, R.M. Production of Hydrolytic Enzimes by the Plant Pathogenic Fungus Myrothecium verrucaria in Submerged Cultures. Brazilian Journal of Microbiology, São Paulo, v.36, n.1, p.7-11, 2005
  • 20
    Narasimha, G.; Sridevi, A.; Buddolla, V.; Subhosh C.M.; Rajasekhar, R.B.. Nutrient effects on production of cellulolytic enzymes by Aspergillus niger African Journal of Biotechnology, Lagos, v.5, n.5, p.472-476, 2006.
  • 21
    Okunowo, W.O.; Gbenle, G.O.; Osuntoki, A.A.; Adekunle, A.A. e Ojokuku, S.A. Production of cellulolytic and xylanolytic enzymes by a phytopathogenic Myrothecium roridum and some avirulent fungal isolates from water hyacinth. African Journal of Biotechnology, Lagos, v.7, n.9, p.1074-1078, 2010.
  • 22
    Park, E.Y.; Naruse, K. e Tatsuya, K. Improvement of cellulase production in cultures of Acremonium cellulolyticus using pretreated waste milk pack with cellulase targeting for biorefinery. Bioresource Technology, Amsterdam, v.102, n.10, p.6120–6127, 2011.
  • 23
    Pascholati, S.F. Fitopatógenos: Arsenal Enzimático. In: Bergamin filho, A.; Kimati, H.; Amorim, L. Manual de Fitopatologia: Princípios e Conceitos. São Paulo: Ceres, 1995. v.1, p.343-364.
  • 24
    Paterson, R.R.M.; Bridge, R.L.D.L. Biochemical techniques for filamentous fungi Cambridge: CAB International, 1994. 125p.
  • 25
    Ramanathan, G.; Banupriya, S.; Abirami, D. Production and Optimization of Cellulase from Fusarium oxysporum by submerged fermentation. Journal of Scientific & Industrial research, New Delhi, n.69, p.454-459, 2010.
  • 26
    Senaratna, L.K.; Wijesundera R.L.C.; Liyanage, A.S. Morphological and physiological characters of two isolates of Colletotrichum gloeosporioides from rubber (Hevea brasiliensis). Mycological Research, Manchester, v.95, n.9, p.1085-1089, 1991.
  • 27
    Singh, A.; Singh, N.; Bishnoi, N.R. Production of Cellulases by Aspergillus Heteromorphus from wheat straw under submerged fermentation. International Journal of Civil and Environmental Engineering, Saddar, v.1, n.1, p.23-26, 2009.
  • 28
    Sukumaran, R.K.; Singhania, R.R.; Pandey, A. Microbial cellulases-production, applications and challenges. Journal of Science Industrial and Research, New Delhi, v.64, n.11, p.832–844, 2005.
  • 29
    Talekhar, S.; Ghodake, V.; Chavare, S. Production and characterization of Cellulase by local fungal isolate of India using water hyacinth as carbon source and reuse of fungal biomass for dye degradation. International Journal of Engineering Science and Technology, Otteri, v.3, n.4, p.3236-3241, 2011.
  • 30
    Wen, Z.; Liao, W.; Chen, S. Production of cellulase/β-glucosidase by the mixed fungi culture of Trichoderma reesei and Aspergillus phoenicis on dairy manure. Applied Biochemistry Biotechnology, Hoboken, v.121, n. 1, p.93-104, 2005.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016

Histórico

  • Recebido
    19 Dez 2015
  • Aceito
    20 Abr 2016
Grupo Paulista de Fitopatologia FCA/UNESP - Depto. De Produção Vegetal, Caixa Postal 237, 18603-970 - Botucatu, SP Brasil, Tel.: (55 14) 3811 7262, Fax: (55 14) 3811 7206 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: summa.phyto@gmail.com