Acessibilidade / Reportar erro

Efeito da temperatura e do fotoperíodo na germinação in vitro de conídios de Alternaria dauci, agente etiológico da queima das folhas da cenoura

A queima das folhas da cenoura causada por Alternaria dauci (Kühn) Groves & Skolko destaca-se como a mais importante doença foliar dessa cultura. Esta doença está amplamente disseminada em regiões produtoras, onde são frequentes os períodos de altas temperaturas e umidade (11 Henz, G.P.; Lopes, C.A.; Reis, A. Manejo de Doenças. In: Nick, C.; Borém, A. (Ed.). Cenoura: do plantio a colheita. UFV: Viçosa, p.98-123, 2016.). Epidemias são favorecidas por temperaturas entre 15 a 26°C e umidade relativa acima de 90% (44 Reis, A. Queima das folhas: uma doença complexa. Brasília: CNPH, 2010, 8p. Circular técnica 91.). Os primeiros sintomas da doença geralmente ocorrem nas folhas mais velhas e baixeiras e em torno de 8-10 dias da infecção, as folhas apresentam lesões marrom-esverdeadas. Com o desenvolvimento dos sintomas, os tecidos tornam-se marrom-escuros a pretos, podendo ser circundados por halos amarelos, sendo que essas lesões aparecem com maior frequência nas margens das folhas (66 Töfoli, J.G.; Domingues, R.J. Sintoma, etiologia e manejo da queima das folhas (Alternaria dauci; Cercospora carotae) na cultura da cenoura. Biológico, São Paulo, v.72, n.1, p.47-50, 2010.). Sabe-se que a germinação de esporos de fungos é influenciada diretamente pela temperatura e fotoperíodo, no entanto as informações desse patógeno são escassas. O conhecimento da biologia do patógeno é de importância para compreender o desenvolvimento da doença no campo, bem como para tomar medidas de manejo da doença. Diante disto, este trabalho teve como objetivo avaliar em condições in vitro a influência da temperatura e do fotoperíodo na germinação de conídios de A. dauci. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia do Instituto Federal Catarinense/Campus Rio do Sul com isolado identificado de A. dauci obtido de plantas de cenoura com sintoma da doença a campo e isolado de folhas em meio de cultura BDA (Batata-dextrose-agar). O experimento foi em delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições. O isolado foi multiplicado em placas de Petri contendo meio de cultura BDA por sete dias a 25ºC e 12 horas de fotoperíodo em câmara de germinação do tipo B.O.D. (Demanda biológica de oxigênio). Após esse período as placas foram submetidas a raspagem com lamina de vidro para favorecer a esporulação e incubado por mais 48 horas. Os conídios foram retirados do crescimento através de lavagem com água estéril com um pincel (nº8) e espalhou-se com auxílio de alça de Drigalski 100 µl de suspensão de conídios contendo a concentração de 1x104 conídios/mL junto com 100 µl de uma suspensão (agitada por 15 minutos) de 10% de extrato aquoso de fragmentos (0,5 cm) de folha de cenoura (para favorecer a germinação dos conídios) em placas de Petri contendo meio Agar-Água 1%. Em seguida, as placas foram incubadas em B.O.D a temperaturas de 1, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40 e 45°C e zero horas de fotoperíodo. Em um segundo momento repetiu-se o experimento incubando conídios de A. dauci em B.O.D a 22°C (temperatura ideal de germinação obtida com o experimento da temperatura) com os fotoperíodos de 0, 6, 12, 18 e 24 horas luz. Ambos os experimentos foi avaliada a percentagem de germinação após 24 horas de incubação. A contagem dos conídios nas placas de Petri foi feita com microscópio óptico a 10 vezes de aumento através da contagem de 100 conídios aleatórios na placa. Foi considerado germinado o que tivesse o tubo germinativo maior ou igual ao comprimento do conídio. Com base nos resultados obtidos, constatou-se a que temperatura exerce grande influência sobre a germinação dos conídios de A. dauci. Observa-se que entre as temperaturas de 15 e 30°C (Figura 1A) houve uma alta percentagem de germinação variando ente 99 e 100% respectivamente, onde os maiores percentuais de germinação (100%) ocorreram no intervalo de 25 a 30°C, temperaturas essas, dentro da faixa de desenvolvimento da doença (11 Henz, G.P.; Lopes, C.A.; Reis, A. Manejo de Doenças. In: Nick, C.; Borém, A. (Ed.). Cenoura: do plantio a colheita. UFV: Viçosa, p.98-123, 2016.,44 Reis, A. Queima das folhas: uma doença complexa. Brasília: CNPH, 2010, 8p. Circular técnica 91.). Park et al. (22 Park, K.H.; Yun, H.J.; Ryu, K.Y.; Yun, J.C.; kim, S.R.; Kim, W.I.; Kim, D.H.; Kwon, Y.C.; Cha, B. Influence of environmental factors on conidial germination of Alternaria dauci. Reserch in plant disease, Seoul, v.17, n.3, p.381-385, 2011.) também verificaram maior geminação na faixa de 15 a 25°C, semelhante ao encontrado esse trabalho, apesar de não terem avaliado a 30°C. A germinação dos conídios de A. dauci é bruscamente reduzida em temperaturas extremas, pois a 40°C a percentagem de germinação foi de apenas 1,2%, sendo 98,8% inferior a germinação a 35°C e na temperatura de 1°C não foi observado germinação. Verificou-se que a 5°C teve 31,8% de germinação com 198% inferior a germinação obtida a 10°C. Por meio da equação gerada pela curva y =-0,239x2+10,66x–7,752 ( R2=0,865) (Figura 1A) a temperatura ótima para a germinação de conídios de A. dauci foi de 22°C, resultado igual ao utilizado por Stramdberg (55 Strandberg, J.0. Infection and colonization of inflorescences and mericarps of carrot by Alternaria dauci. Plant Disease, St. Paul, v. 67, n.12, p.1351-1353, 1983.) para avaliar a germinação e infecção de A.dauci em inflorescência de cenoura. Em relação a germinação de conídios em diferentes fotoperíodos observou-se uma resposta polinomial (Figura 1B), que através da equação y =-0,152x2+4,217x+69,97 (R2=0,950), verificou-se que o fotoperíodo mais favorável ao desenvolvimento é de 14 horas de luz, com 99,2% dos conídios germinados quando comparado com zero horas de luz que obteve apenas 69%, porém pouco expressiva a diferença do fotoperíodo ao se comparar com a temperatura. Pulz & Massola Junior (33 Pulz, P.; Massola Jr., N.S. Efeito de meios de cultura e fatores físicos no crescimento e esporulação de Alternaria dauci e A. solani. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.35, n.2, p.121-126, 2009.) avaliando diferentes regimes de luminosidade sobre a esporulação de A. dauci também constataram o ideal de 12 horas luz/escuro, próximo ao ocorrido nesse trabalho para a germinação. Mediante a isso é possível que A. dauci tem sua germinação favorecida por maiores períodos de luz, assim em dias mais longos e com mais luminosidade como o que acontece durante o cultivo na primavera/verão favorecem a germinação dos conídios e ocorrência da doença desde que as condições de temperatura sejam atendidas. Conclui-se que a germinação dos conídios de A. dauci sofre influência da temperatura e do fotoperíodo, onde as maiores percentagens de germinação são obtidas em temperaturas de 10 a 35°C, sendo a temperatura ótima 22°C, e o fotoperíodo em torno de 12 horas luz. As informações obtidas em relação à temperatura e o fotoperíodo na germinação dos conídios de A. dauci permitem um maior conhecimento da biologia do agente causal da queima das folhas da cenoura, auxiliando assim no entendimento da epidemiologia da doença a campo. Os resultados obtidos servirão de suporte na elaboração de um sistema de previsão da doença.

Figura 1
Curva da germinação de conídios de A. dauci sob diferentes temperaturas (A) e diferentes fotoperíodos (B). IFC/Campus Rio do Sul, 2018.

REFERENCIAS

  • 1
    Henz, G.P.; Lopes, C.A.; Reis, A. Manejo de Doenças. In: Nick, C.; Borém, A. (Ed.). Cenoura: do plantio a colheita UFV: Viçosa, p.98-123, 2016.
  • 2
    Park, K.H.; Yun, H.J.; Ryu, K.Y.; Yun, J.C.; kim, S.R.; Kim, W.I.; Kim, D.H.; Kwon, Y.C.; Cha, B. Influence of environmental factors on conidial germination of Alternaria dauci Reserch in plant disease, Seoul, v.17, n.3, p.381-385, 2011.
  • 3
    Pulz, P.; Massola Jr., N.S. Efeito de meios de cultura e fatores físicos no crescimento e esporulação de Alternaria dauci e A. solani Summa Phytopathologica, Botucatu, v.35, n.2, p.121-126, 2009.
  • 4
    Reis, A. Queima das folhas: uma doença complexa Brasília: CNPH, 2010, 8p. Circular técnica 91.
  • 5
    Strandberg, J.0 Infection and colonization of inflorescences and mericarps of carrot by Alternaria dauci. Plant Disease, St. Paul, v. 67, n.12, p.1351-1353, 1983.
  • 6
    Töfoli, J.G.; Domingues, R.J. Sintoma, etiologia e manejo da queima das folhas (Alternaria dauci; Cercospora carotae) na cultura da cenoura. Biológico, São Paulo, v.72, n.1, p.47-50, 2010.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2019
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    15 Mar 2018
  • Aceito
    05 Fev 2019
Grupo Paulista de Fitopatologia FCA/UNESP - Depto. De Produção Vegetal, Caixa Postal 237, 18603-970 - Botucatu, SP Brasil, Tel.: (55 14) 3811 7262, Fax: (55 14) 3811 7206 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: summa.phyto@gmail.com