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Reflexões acerca do internato na Faculdade de Ciências Médicas da UERJ

O modelo de internato executado, nos últimos 5 anos, na Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, permite uma primeira análise, já que constitui sistema misto, onde a livre opção do aluno pelos serviços, ou disciplinas, é equilibrada pela exigência de requisitos mínimos impostos pelo Conselho Departamental da Faculdade.

Surgiu em meio a crises estudantis, nas quais o corpo discente se opunha à obrigatoriedade do internato rotativo tradicional (Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia) e propugnava pela livre escolha visando a chegar ao mercado de trabalho com uma especialização definida e treinada. Assim, o programa de internato estabelecido pela Faculdade se propôs a equilibrar as tendências em choque e conciliar, através de sistema misto, os interesses pessoais dos alunos com as linhas básicas de filosofia da instituição. A partir de 1977, o internato passou a ser oferecido aos alunos do 11.o e 12.o períodos nos moldes que vigoram até hoje:

  1. internato com carga horária anual de 1.800 h, desenvolvido no Hospital de Clínicas, podendo, excepcionalmente, ser feito em outra instituição, desde que seu programa se adapte às exigências da Faculdade;

  2. internato com carga horária anual de 3.000 h, desenvolvido no Hospital de Clínicas com direito a bolsa de estudos. Nessa modalidade, o interno cumpre 8h diárias de treinamento, além de plantão semanal. Deve-se assinalar que o número de bolsas atende a todos os optantes, não sendo necessários métodos para seleção de pleiteantes.

Em quaisquer das modalidades acima, o programa de internato é desenvolvido em quatro módulos trimestrais, que podem ser cumpridos das seguintes formas:

  1. Internato rotativo padrão - os quatros módulos são: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia;

  2. Internato especial - um dos módulos é obrigatoriamente cumprido em Clínica Médica; os três outros são de livre escolha do aluno, obedecido o limite máximo de dois módulos na mesma especialidade.

Uma outra opção, denominada Internato exclusivo em disciplina básica, é oferecida para aqueles que desejarem cumprir 12 meses em disciplina vinculada aos Institutos Básicos, ou ao Departamento de Patologia e Laboratórios. Essa alternativa visa a estimular o interesse por essas disciplinas, para as quais o recrutamento de alunos foi prejudicado pelo desestimulo da monitoria.

O Quadro 1 relaciona as opções dos alunos no período 1979-1982, dentro das características acima expostas. Distinguem-se, especialmente, as escolhas que atingiram as disciplinas chaves, isto é, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Clínica Pediátrica e Ginecologia-Obstetrícia. As demais disciplinas são chamadas genericamente de especialidades. Finalmente, por internato em disciplina básica considera-se o que é feito em Microbiologia, Anatomia Patológica, Parasitologia, Farmacologia, Fisiologia, Histologia e Patologia Geral.

QUADRO 1
OPÇÕES POR TIPOS DE INTERNATO NO PERÍODO 1979/82

O Quadro 2 mostra o valor anual das bolsas oferecidas e sua relação com um valor de referência, no caso o valor anual de doze salários mínimos. Se em 1977 representava 2,05 vezes o salário mínimo, em 1982 corresponde apenas a 1,67 vezes.

QUADRO 2
VALOR RELATIVO DAS BOLSAS DE INTERNATO NO PERÍODO 1979/82

A partir dos dados expostos, alguns tópicos merecem reflexão mais profunda:

  1. o número de alunos que optou pelo internato rotativo padrão é desprezível, chegando a zero em 1980 e 1982; igualmente o é o dos postulantes por internato exclusivo em disciplina básica nos dois últimos anos;

  2. inicialmente o esquema preferido foi o de 6 meses em Clínica Médica e 6 meses em especialidade. Tal esquema vem perdendo adeptos, enquanto outros vêm merecendo maior atenção, como: 6 meses em Clínica Médica e 6 meses em Pediatria, (tipo 2, Quadro 1) ou em Pediatria e Cirurgia (tipo 5);

  3. embora a exigência da Faculdade seja de 3 meses em Clínica Médica, o número de alunos que dobra o tempo nessa área (tipos 1 a 10, Quadro 1) vem crescendo, atingindo respectivamente 74, 76, 92 e 115 alunos nos anos de 1979 a 1982. Assim, neste ano 82,73% dos alunos fizeram tal opção, contra 59,6% em 1979;

  4. aumento significativo também ocorreu na opção por 6 meses em Pediatria (tipos 2, 14, 15 do Quadro 1) atingindo 16, 21, 30 e 28 alunos, representando um crescimento de 12,9% em 1979, para 20 ,14% em 1982;

  5. é possível que a obrigatoriedade de questões das disciplinas-chaves nos concursos de Residência Médica tenha sido um dos fatores determinantes dessa mudança. Verifica-se que um esquema próximo ao do rotativo, no qual a Ginecologia/Obstetrícia é substituída por mais um módulo de Clínica Médica (6 meses em Clínica Médica, 3 meses em Pediatria, 3 meses em Clínica Cirúrgica), representava 4,03% das opções em 1979, e em 1982, corresponde a 15,52% (tipo 5 do Quadro 1).

  6. o valor relativo das bolsas vem decrescendo, mas o número de alunos optantes pelo programa com maior carga horária, fazendo jus a bolsa, se mantém estável.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1982
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