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AVALIAÇÃO CONTÍNUA: UM FATOR POSITIVO NO APRENDIZADO?

Resumo:

Estabeleceu-se a comparação de um programa de ensino no qual se realizaram várias avaliações do rendimento escolar com outro em que se aplicou apenas prova final. Os dados estatísticos obtidos mostraram diferença significativa em favor do primeiro. Discutem-se os possíveis fatores responsáveis pelo bom êxito desse programa e a reação dos alunos à sua execução.

Summary:

The traditional teaching system, with a sole term evaluation test, is checked against a method consisting of frequent testing, during a Neuroanatomy course.

The statistic comparison of the mean grades for bath methods showed a significant difference in favor of the continued evaluation system.

The possible factors that might have made successful the use of this method and the feed-back provided by the students are discussed. Additionally, the authors suggest some procedures for controlling the validity of the method appraised herein.

INTRODUÇAO

Admite-se que a realização de provas freqüentes seja uma maneira de estimular o aluno a estudar, ou pelo desejo de sucesso, ou pelo medo de um mau desempenho606. MOWBRAY, R.M. & DAVIES, B.M. - “Short-note” and “essay” examinations compared. Br. J. Med. Educ. 1: 326-358, 1967.. Os testes constituem-se, por si sós, numa forma de ensinar505. LEVINSON, D. - A self-testing device as an aind to learning. Br. J. Med. Educ. 4: 126-129, 1970.; alguns autores chegaram, experimentalmente, a essa conclusão303. FITCH, M.L.; DRUCKER, AJ. & NORTON, J.A. Jr. - Frequent testing as a motivation factor in large lecture classes J. Educ. Psych. 42: 1-20, 1951.. Outros, entretanto, não valorizam esses resultados, baseando-se, também, em dados experimentais707. STANDLEE, L. E. & PASHAN, W.J. - Quizzes contribution to learning. J. Educ. Psych . 51: 322-325, 1960..

Desenvolvemos o presente estudo com o intuito de verificar o valor para o aprendizado da realização de avaliações freqüentes, em contraposição ao método tradicional de avaliação, que se utiliza de apenas uma avaliação ao final do curso.

MÉTODO

A experiência foi realizada m a colaboração de 54 alunos de 1o ano do Curso Médico, durante o desenvolvimento da disciplina de Neuroanatomia, em um semestre letivo, totalizando 72 horas-aula.

Numa primeira fase, foram discutidos seis tópicos sobre estrutura microscópica e funcional do Sistema Nervoso Central: medula espinal, medula oblonga, ponte, cerebelo, mesencéfalo e diencéfalo.

Todos os tópicos foram apresentados aos 54 alunos através de aulas expositivas. Após cada aula, todos eram submetidos a uma avaliação que constavam de quatro questões objetivas a respeito do tema; os alunos não eram informados a respeito destas notas, embora soubessem que todos os graus parciais seriam computados para a aprovação final. Após cada teste, participavam de aula prática. Ao final desta primeira fase, os estudantes foram submetidos a uma prova com 20 questões objetivas, versando os seis tópicos estudados.

Os assuntos desenvolvidos na segunda fase foram: telencéfalo, rinencéfalo, nervos cranianos e seus núcleos, sistema nervoso autônomo e grandes vias aferentes e eferentes.

Após as aulas expositivas, todos os alunos participavam de aulas de laboratório, não se realizando provas intermediárias. Ao final deste segundo estágio, os 54 alunos foram novamente avaliados através de 20 questões objetivas que versavam sobre os temas apresentados.

RESULTADOS

Foram calculadas as médias obtidas na primeira fase (6,17 ± 1,90) e na segunda (5,72 ± ± 1,57). A comparação estatística dessas médias através do teste “t” demonstrou haver diferença significativa entre elas (t = 2,18; p <0,05), com um melhor desempenho dos alunos na 1a fase, ou seja, quando foram submetidos a freqüentes avaliações de conhecimentos.

DISCUSSÃO

Embora a escassez de dados, decorrente da limitação imposta pelas condições experimentais, possa levar-nos a questionar a validade do significado estatístico da diferença observada a favor do método de avaliação contínua, podemos tecer alguns comentários a respeito dos resultados obtidos.

Dentre os possíveis motivos que poderiam explicar as melhores notas obtidas na 1a fase, são propostos os seguintes:

  1. os alunos prestavam maior atenção às aulas expositivas, com intuito de obterem melhores notas nas provas parciais subseqüentes; isso pôde ser constantemente observado;

  2. os alunos estudavam os tópicos antes das aulas, pelo mesmo motivo. No diálogo com os mesmos, durante o curso, pudemos constatar a utilização de tal prática;

  3. ambos os fatores levaram a uma melhor compreensão e apreensão dos tópicos ensinados. Informações obtidas junto aos alunos mostraram boa aceitação do método por parte destes, entre outros motivos, porque os mantinha estudando continuamente, eliminando a inevitável ansiedade que acompanha à realização de uma única prova final.

A avaliação contínua seria valiosa no sentido de melhorar o aprendizado? Numa experiência semelhante, em que os testes eram realizados antes das aulas expositivas, não houve diferença significativa entre esse sistema e o método tradicional202. FERRAZ DE CARVALHO, C.A; SOUZA, R.R. de & CASTILHO, E.A. de - Experiências sobre métodos didáticos y de avaliación de conocimientos en Anatomia en el Curso Experimental de Medicina de la Universidad de São Paulo, Brasil. Fol. Clin. Biol. 1 (2): 69-77, 1973.. Por outro lado, os resultados obtidos na presente experiência e os dados fornecidos por outros autores são favoráveis à realização de avaliações freqüentes como método de ensino303. FITCH, M.L.; DRUCKER, AJ. & NORTON, J.A. Jr. - Frequent testing as a motivation factor in large lecture classes J. Educ. Psych. 42: 1-20, 1951.),(505. LEVINSON, D. - A self-testing device as an aind to learning. Br. J. Med. Educ. 4: 126-129, 1970.. Uma das desvantagens da realização freqüente de provas durante um curso, principalmente quando o número de alunos é elevado, é o aumento da carga de trabalho do corpo docente, pela necessidade de formulação e correção das provas; o problema da correção pode, entretanto, ser amenizado utilizando-se um computador, desde que as questões sejam elaboradas sob a forma de testes de escolha múltipla101. BÕHM, G.M - Avaliação do rendimento educacional. Editora Pedagógica e Universitária, São Paulo, 1980, p. 96.. Os resultados aqui apresentados são restritos e válidos para estes alunos e nas condições da presente experiência. É claro, também, que outras variáveis sempre presentes em experiências deste tipo, tais como o maior cansaço dos alunos no final do curso ou uma maior dificuldade intrínseca ao conteúdo da 2ª fase, podem ter influenciado os resultados.

Tendo em vista a impossibilidade de eliminação do fator cansaço, uma maneira de eliminar a influência exercida por um possível grau mais elevado de dificuldade na 2 fase seria a realização de experiências semelhantes, utilizando: a) uma única avaliação no final da 1a fase e avaliações freqüentes na 2a fase; e b) avaliações freqüentes em ambas as fases.

Cremos, assim, que somente a execução mais freqüente de experiências similares nos permitirá chegar a conclusões sobre a vantagem real da utilização do método aqui avaliado.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    BÕHM, G.M - Avaliação do rendimento educacional. Editora Pedagógica e Universitária, São Paulo, 1980, p. 96.
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    FERRAZ DE CARVALHO, C.A; SOUZA, R.R. de & CASTILHO, E.A. de - Experiências sobre métodos didáticos y de avaliación de conocimientos en Anatomia en el Curso Experimental de Medicina de la Universidad de São Paulo, Brasil. Fol. Clin. Biol 1 (2): 69-77, 1973.
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    FITCH, M.L.; DRUCKER, AJ. & NORTON, J.A. Jr. - Frequent testing as a motivation factor in large lecture classes J. Educ. Psych 42: 1-20, 1951.
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  • 07
    STANDLEE, L. E. & PASHAN, W.J. - Quizzes contribution to learning. J. Educ. Psych . 51: 322-325, 1960.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1983
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