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CARTA AO EDITOR

Chamou-nos a atenção o conteúdo do resumo “NC 05 - Avaliação da Unidade Habilidades e Atitudes - Comunicação do curso de medicina da ESCS” publicado na página 104 dos Anais do XL Congresso Brasileiro de Educação Médica (V 26 Supl.1 maio/ago 2002). Trata-se do resumo de um relatório elaborado pela Comissão de Avaliação da ESCS a partir da avaliação dos alunos do primeiro ano a respeito das atividades do primeiro semestre da Unidade Habilidades e Atitudes em Comunicação.

Por ocasião da apresentação do relatório aos docentes da unidade do mesmo foi objeto de críticas quanto à metodologia e às conclusões apresentadas, a ponto de suscitar a impressão de que o relatório tinha a função de confirmar a ideia pré concebida de que a unidade não estava sendo conduzida adequadamente ou da forma como gostaria o grupo gestor da faculdade.

Um dos maiores atributos de uma análise qualitativa é a possibilidade que o método oferece em alcançar os elementos que a análise qualitativa não alcançada e identificar com isso, as categorias com maior densidade no discurso dos sujeitos, sendo complementar a análise qualitativa e não uma posição ou uma distorção da realidade. Dizemos isso porque constatamos que mais de 80% das frases selecionadas para ilustrar o conteúdo do relatório foram retiradas entre frases, segundo classificação nossa, consideradas desfavoráveis e ambíguas (ambivalentes) em relação aos itens do instrumento de avaliação da unidade (Formulado 5 HAC) e apenas 10,9% das mesmas foram retiradas entre aquelas consideradas favoráveis. Vale dizer ainda que 625 frases consideradas favoráveis (59,7% de todas as frases) apenas 0,8% delas foram aproveitadas no relatório. Enquanto de que 111 frases consideradas desfavoráveis e de 139 frases consideradas ambíguas aproveitou-se 10,8% e 18% das mesmas, respectivamente. Nessas circunstâncias as conclusões encontram-se sob suspeita. Além disso, em um resumo que refere a uma análise de conteúdo que se baseou na avaliação de 50% dos formatos preenchidos, deveria ser cauteloso ao utilizar termos que denotam a ideia de qualidade, tais como ´Predomínio de depoimentos´: foi predominante apontada pelos estudantes´´: foram referidas como aspectos negativos pela maioria dos estudantes´´, ideia de quantidade que não representam a realidade, visto que uma minoria este presentada nesse resumo.

Foi interessante notar que embora não tenha sido utilizado em qualquer oportunidade na unidade de comunicação o recurso de aula expositivas (que não consideramos nenhum “pecado”), essa estratégia de ensino/aprendizagem mereceu um comentário em um resumo de preciosas 300 palavras. O termo restrição à busca de informações não aparece em nenhuma das avaliações dos alunos e, portanto, refere-se a uma interpretação dos autores ou a intenção de estereotipar uma conduta abominável para um docente. O termo apostila também foi destacado, sendo esse termo utilizado por um único aluno o qual possivelmente não soube diferencial à participação desmotivas dos estudantes não foi a percepção dos professores da unidade e não compreendemos como isso foi captado em uma análise de instrumentos de avaliação que não trabalhou com conceito de motivação, muito menos foi feita qualquer observação dos alunos para chegar a tal conclusão. Possivelmente, mais uma interpretação “internacional”.

Pensamos que seja necessário trazer um pouco do contexto da construção da avaliação para que os leitores tenham informações indispensáveis para uma melhor compreensão do texto. O relatório em questão refere-se a apenas 6 atividades de 2 horas de um total de 28 encontros, o que equivale a 21,4% das atividades da unidade para o primeiro ano. Mas, nada foi dito no texto. Irrelevantes? Omissão? É interessante esclarecer que em uma análise quantitativa, 79% dos alunos consideraram as atividades ocorridas nesse semestre satisfatórias e ao final do ano letivo (após os 28 encontros) 87% dos alunos consideraram a unidade satisfatória.

É importante nos posicionarmos perante esse fato, principalmente por que o referido relatório serviu de apoio para uma série de atitudes arbitrárias da direção da escola com relação à unidade e com alguns de seus membros, conflitos estes que, até então, estavam em um âmbito interno da Escola. Porém, no momento em que a comissão de avaliação coloca a público um resumo que não corresponde à realidade, que foi contestado e não concedido o devido consentimento de qualquer das partes envolvidas não podemos deixar de posicionarmo-nos.

A avaliação é um instrumento fundamental e necessário para a melhoria das nossas ações e não podem ser utilizadas como instrumentos de coação, assim como a pesquisa qualitativa não pode ser utilizada de forma manipulativa de acordo com interesses do pesquisador/autor. Se isso acontece sem qualquer consequência corre-se o risco de perder-se a credibilidade de instrumentos e métodos tão enriquecedores para a ciência e para a sociedade.

Esperamos, Sr. Editor, que possamos contar com o espaço da revista como um espaço de diálogo transparente e ético com a comunidade acadêmica.

Atenciosamente,

Profª Gilson Maestrini Muza
Mestre e doutor em pediatria, psicoterapeuta, ex-docente da ESCS, ex-docente da Unidade de Habilidades e Atitudes em ComunicaçãoMestre e doutora em medicina social, psicoterapeuta, ex docente da ESCS e ex-coordenadora da Unidade de Habilidades e Atitudes em ComunicaçãoProfª Marisa Pacini Costa
Mestre e doutor em pediatria, psicoterapeuta, ex-docente da ESCS, ex-docente da Unidade de Habilidades e Atitudes em ComunicaçãoMestre e doutora em medicina social, psicoterapeuta, ex docente da ESCS e ex-coordenadora da Unidade de Habilidades e Atitudes em Comunicação

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2003

Histórico

  • Recebido
    02 Jan 2003
  • Aceito
    16 Jan 2003
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