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Unimontes solidária: interação comunitária e prática médica com a extensão

Solidarity at Unimontes: community interaction and medical practice with extension

Resumos

A extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável, possibilitando uma relação transformadora entre Universidade e sociedade. Nesse contexto, o projeto Unimontes Solidária tem como objetivo promover ação solidária articulada, por meio dos diversos cursos da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), nos municípios carentes das regiões norte e noroeste de Minas Gerais, Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, de forma a equacionar os problemas sociais, reduzir a exclusão e as disparidades regionais, colocando a serviço da sociedade o conhecimento que é produzido na Universidade. As ações do projeto no município de Indaiabira (MG) proporcionaram benefícios tanto aos acadêmicos do curso de Medicina como à comunidade local, a partir das atividades extracurriculares desenvolvidas, ampliando o espaço de aprendizado oferecido pela instituição, complementando a formação acadêmica, bem como amenizando as demandas inerentes ao município relacionadas à saúde. Pesquisar, aprender sobre temas relacionados e estender o conhecimento adquirido à comunidade é a tríade que sustenta a formação acadêmica nas mais modernas metodologias de ensino.

Relações Comunidade; Instituição; Educação Médica; Promoção em Saúde; Aprendizagem Baseada na Experiência


University extension is an educational, cultural, and scientific process that combines teaching and research inseparably, transforming the relationship between university and society. In this context, the project "Unimontes Solidarity" aims to promote common action through the different undergraduate courses at the State University in Montes Claros (Unimontes) in the Jequitinhonha and Mucuri Valleys, economically depressed areas in northern and northwestern Minas Gerais State. The purpose is help people deal with social problems and mitigate social exclusion and regional disparities, sharing the knowledge produced at the University with society. The project's activities in the town of Indaiabira benefitted both medical students and the local community. Extracurricular activities allowed students to practice what they had learned in medical school and improved people's health conditions. Researching, learning about related issues, and extending knowledge to the community is the triad for academic training in modern teaching methodologies.

Community; Institutional Relations; Education, Medical; Health Promotion; Problem-Based Learning


RELATO DE EXPERIÊNCIA

Unimontes Solidária: Interação Comunitária e Prática Médica com a Extensão

Solidarity at Unimontes: Community Interaction and Medical Practice with Extension

Jair Almeida Carneiro; Fernanda Marques da Costa; Carolyne César Lima; Marcelo Resende Otaviano; Gilson José Fróes

Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Fernanda Marques da Costa Rua Irmã Beata, 572 apto. 402 Centro - Montes Claros CEP. 39400-110 - MG E-mail: fernandafjjf@yahoo.com.br CEP 59082-180 - RN E-mail: guilherme@multipolo.com.br

RESUMO

A extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável, possibilitando uma relação transformadora entre Universidade e sociedade. Nesse contexto, o projeto Unimontes Solidária tem como objetivo promover ação solidária articulada, por meio dos diversos cursos da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), nos municípios carentes das regiões norte e noroeste de Minas Gerais, Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, de forma a equacionar os problemas sociais, reduzir a exclusão e as disparidades regionais, colocando a serviço da sociedade o conhecimento que é produzido na Universidade. As ações do projeto no município de Indaiabira (MG) proporcionaram benefícios tanto aos acadêmicos do curso de Medicina como à comunidade local, a partir das atividades extracurriculares desenvolvidas, ampliando o espaço de aprendizado oferecido pela instituição, complementando a formação acadêmica, bem como amenizando as demandas inerentes ao município relacionadas à saúde. Pesquisar, aprender sobre temas relacionados e estender o conhecimento adquirido à comunidade é a tríade que sustenta a formação acadêmica nas mais modernas metodologias de ensino.

Palavras-chave: - Relações Comunidade-Instituição - Educação Médica -Promoção em Saúde -Aprendizagem Baseada na Experiência

ABSTRACT

University extension is an educational, cultural, and scientific process that combines teaching and research inseparably, transforming the relationship between university and society. In this context, the project "Unimontes Solidarity" aims to promote common action through the different undergraduate courses at the State University in Montes Claros (Unimontes) in the Jequitinhonha and Mucuri Valleys, economically depressed areas in northern and northwestern Minas Gerais State. The purpose is help people deal with social problems and mitigate social exclusion and regional disparities, sharing the knowledge produced at the University with society. The project's activities in the town of Indaiabira benefitted both medical students and the local community. Extracurricular activities allowed students to practice what they had learned in medical school and improved people's health conditions. Researching, learning about related issues, and extending knowledge to the community is the triad for academic training in modern teaching methodologies.

Keyword: -Community-Institutional Relations -Education, Medical -Health Promotion -Problem-Based Learning

INTRODUÇÃO

A extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável, possibilitando uma relação transformadora entre Universidade e sociedade. Essa relação enriquece o processo pedagógico socializando o saber formal com a participação da comunidade na vida acadêmica. Os resultados desse processo atingem não só os alunos, mas também profissionais dos serviços e comunidade, além de realimentar o ensino e ser fundamental para a pesquisa científica1.

O estabelecimento da extensão como preceito constitucional reconhecido pelo Ministério da Educação veio pela necessidade da relação e do comprometimento das instituições de ensino superior com a sociedade. A extensão atua na difusão de tecnologias sociais, direitos humanos, geração de trabalho e renda e qualidade de vida, assumindo um papel mediador entre Universidade e sociedade, envolvido diretamente nas discussões de políticas e nas práticas sociais, por meio da aproximação e troca de conhecimentos e experiências entre professores, alunos e população2.

Nesse contexto, algumas Universidades constroem propostas de integração comunitária, seja de forma curricular ou extracurricular, inserindo os estudantes em situações concretas que permitem a articulação da teoria com a prática em outros cenários de aprendizagem além da sala de aula.

A diversificação dos cenários de aprendizagem é compreendida como uma das estratégias para a transformação curricular. Essa estratégia aproxima os estudantes da vida cotidiana das pessoas e desenvolve olhares acadêmicos críticos e voltados para os problemas reais da população3.

Uma das opções dessa diversificação é a aprendizagem baseada na comunidade, na qual o estudante permanece durante sua formação inserido em um processo dinâmico de práticas integradas à comunidade, produzindo conhecimento e serviço de saúde para a população4.

Sob essa perspectiva, com a implantação das Novas Diretrizes Curriculares para os cursos da área da saúde, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) reformulou o currículo do curso de Medicina em 2002. Com a metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas, foi criado o módulo IAPSC (Interação, Aprendizagem, Pesquisa, Serviço e Comunidade), ministrado durante os primeiros seis períodos do curso médico em territórios que possuam equipes do Programa Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais (MG), Brasil.No transcorrer do curso, os acadêmicos assumem, sob supervisão docente, responsabilidades crescentes e acumulativas no seu território, à medida que novas competências vão sendo agregadas.

O módulo IAPSC tem o propósito de introduzir o estudante de Medicina na realidade social e na prática sanitária desde o início do curso, de forma a proporcionar-lhe oportunidades de aprendizagem indispensáveis na formação do médico. Permite ao acadêmico inserir-se, conhecer e apropriar-se do território por meio da interação com a comunidade e a equipe de saúde. Dentre os objetivos propostos, há a realização da territorialização na busca da identificação do perfil sanitário da comunidade; a avaliação do cuidado primário local; a integração dos demais módulos de cada período a partir de atividades no território de acordo com os interesses e as necessidades da comunidade; e o desenvolvimento da capacitação pedagógica (habilidades para praticar a metodologia da problematização, a educação em saúde, a androgogia, o planejamento e a prática fundamentada em evidências).

Desse modo, em relação às ações de extensão comunitária extracurriculares, a Unimontes criou o projeto Unimontes Solidária, desenvolvido com o objetivo de promover ação solidária articulada, por meio dos diversos cursos da Universidade nos municípios carentes das regiões norte e noroeste de Minas Gerais, Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, de forma a equacionar os problemas sociais, reduzir a exclusão e as disparidades regionais, colocando a serviço da sociedade o conhecimento que é produzido na academia.

No projeto são atendidos, prioritariamente, municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média do estado de Minas Gerais e que apresentam taxas desfavoráveis de analfabetismo e mortalidade infantil. As ações solidárias acontecem, preferencialmente, nos períodos de férias, estimulando o voluntariado por parte dos acadêmicos.

Na área da saúde, essa linha formativa assume particular importância na medida em que se integra à rede assistencial e pode servir como um novo espaço voltado à humanização e à qualificação da atenção à saúde. Principalmente dentro das escolas médicas, torna-se importante o incentivo à participação e à elaboração de projetos de extensão que cumpram o papel de sensibilização de estudantes e professores para as reais necessidades sociais, além do desenvolvimento de competências importantes, como o trabalho em equipes multiprofissionais e o diálogo com a comunidade2,5.

Este trabalho tem como propósito relatar a experiência das atividades extracurriculares desenvolvidas pelos acadêmicos de Medicina durante a realização do projeto de extensão Unimontes Solidária em Indaiabira (MG).

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto Unimontes Solidária, sob a coordenação da Pró-Reitoria de Extensão da Unimontes, realiza suas atividades no período de férias letivas da Universidade, assim como as visitas bimestrais são feitas nos finais de semana. Os alunos dos diversos cursos da Universidade, acompanhados por professores, deslocam-se para os municípios selecionados onde promovem as atividades. As ações podem abranger tanto as áreas urbanas dos municípios, quanto às áreas rurais, como distritos e adjacências.

Após abertura do edital específico e divulgação, os municípios das regiões norte e noroeste de Minas Gerais, Vales do Jequitinhonha e do Mucuri interessados em participar do projeto se inscrevem por meio de ofício à Pró-Reitoria de Extensão/Coordenadoria de Extensão Comunitária. O município inscrito apresenta um Termo de Compromisso,no qual se responsabiliza pelas despesas estabelecidas no Edital, com indicação, inclusive, da dotação orçamentária própria e da autorização legislativa, se for o caso. Compromete-se ainda com a participação efetiva, tanto na identificação de demandas e prioridades, quanto no planejamento das ações de forma conjunta com a Universidade.

O processo de seleção prioriza os municípios que apresentam os indicadores econômicos e sociais mais precários. A Coordenadoria de Extensão Comunitária da Unimontes é responsável pela seleção dos municípios e dos acadêmicos que participarão do projeto, pelo levantamento das demandas dos municípios, pela capacitação dos estudantes inscritos e pela seleção dos professores que coordenarão o projeto. O planejamento das ações a serem desenvolvidas é realizado de forma colegiada.

Em julho de 2009, professores e acadêmicos, ambos voluntários, vinculados a diversos cursos de graduação, desenvolveram atividades nas áreas de educação, saúde, assistência social, meio ambiente, organização social, esporte e lazer, desenvolvimento sustentável, cidadania, arte, cultura e entretenimento no município de Indaiabira (MG). Distante 289 quilômetros de Montes Claros (MG) -cidade sede da Universidade, o município, antigo distrito de Rio Pardo de Minas (MG), possui 7,8 mil habitantes e situa-se na microrrregião do Alto Rio Pardo.

A fim de relatar a experiência extracurricular realizada pelos cinco acadêmicos de Medicina da Unimontes, foi solicitado o relatório final das atividades desenvolvidas no município de Indaiabira (MG), entre os dias 18 e 28 de julho de 2009, durante a 12ª edição do projeto Unimontes Solidária.

RESULTADOS

Antes da viagem à Indaiabira (MG), a Coordenadoria de Extensão Comunitária da Unimontes realizou algumas reuniões entre acadêmicos e professores com o objetivo de propor planos de ação de acordo com as demandas levantadas pelo município. Nessas reuniões, os acadêmicos são orientados a desenvolver ações de acordo com o conhecimento agregado até então ao longo do curso. Além disso, os professores incentivam a realização de atividades educativas. Para tanto, a Unimontes disponibiliza materiais didáticos necessários para a realização das atividades.

Em relação aos acadêmicos do curso de Medicina, são desenvolvidas, sobretudo, asatividades previamente realizadas durante o módulo IAPSC, já que esse módulo proporciona a integração dos conhecimentos acumulados durante os períodos, bem como permite colocar em prática o aprendizado obtido.As atividades são relacionadas ao cuidado primário, em que são utilizados os manejos adquiridos com os grupos de hipertensão, de idosos, de diabéticos, de planejamento familiar e de adolescentes. São utilizados também materiais informativos (folhetos, panfletos) disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, bem como livros-textos para a realização de atividades educativas por meio de palestras e oficinas.

Os moradores do município de Indaiabira (MG) foram beneficiados com uma série de atividades desenvolvidas por 27 acadêmicos de 14 cursos de graduação, sob a supervisão de dois professores da Unimontes. Foram realizados 3.245 atendimentos, sendo 1.849 relacionados à Educação, Esporte e Lazer; 1.170 à Saúde; e 226 à Cidadania, Direitos Humanos e Justiça. Participaram acadêmicos dos cursos de Artes Visuais, Ciências Sociais, Direito, Educação Física, Enfermagem, Geografia, História, Letras/Português, Matemática, Medicina, Odontologia, Pedagogia, Serviço Social e Sistemas de Informação.

Em relação às atividades desenvolvidas pelos acadêmicos de Medicina, de forma interdisciplinar ou não, vale ressaltar:

• Aferição da pressão arterial, índice de massa corpórea e teste de glicemia durante a ação global em Barra da Alegria e em Indaiabira (MG), bem como nas zonas rurais de Pintado, Boa Vista e Brejo Grande (Quilombolas).

Durante a ação global, todos os acadêmicos participantes do projeto realizavam atividades inerentes à sua área de atuação. O evento acontecia em praças, escolas ou centros de saúde, dependendo da localidade mais apropriada para a sua realização. Foi montada a barraca da saúde pelos acadêmicos de Medicina e Enfermagem, que contava com balança, glicosímetros, esfigmomanômetros e estetoscópios. Logo, era calculado o índice de massa corpórea e realizado o teste de glicemia, além da aferição da pressão arterial dos moradores do município que visitavam a barraca. Quando se encontrava alguma alteração nas medidas, o cidadão era orientado a agendar uma consulta na unidade de saúde mais próxima de sua casa. Além disso, havia a doação de preservativos e a orientação quanto à alimentação saudável.

• Realização de alongamento e aferição da pressão arterial antes e após caminhadas supervisionadas de idosos e hipertensos.

Os idosos e hipertensos foram convidados pelos agentes comunitários de saúde, bem como pelos acadêmicos de Medicina, Enfermagem e Educação Física,a participar da caminhada diária. Eles foram orientados a comunicar aos vizinhos, parentes e amigos sobre a atividade. A Unidade Básica de Saúde (UBS) de Barra da Alegria era o ponto de encontro para o início das atividades, que começava por volta das 7 horas e 30 minutos. Antes da atividade, era aferida a pressão arterial de todos os participantes. Em seguida, todos realizavam alongamento, sob orientação dos acadêmicos de Educação Física, antes da caminhada, que percorria aproximadamente dois quilômetros. Durante o percurso, os participantes cantavam músicas religiosas e contavam "casos", interagindo de maneira satisfatória com toda a equipe. De volta à UBS, ao final do exercício, era realizado novamente o alongamento e a aferição da pressão arterial. Por fim, uma atividade recreativa proporcionava distração e diversão a todos.

• Atendimento clínico sob supervisão médica nas Unidades Básica de Saúde de Indaiabira (MG) e Barra da Alegria, bem como na zona rural de Pintado (crianças, adultos, gestantes, idosos), por meio de consultas, pequenas cirurgias e orientações.

Os acadêmicos de Medicina realizavam atendimento clínico nas UBSs e discutiam a melhor conduta para cada caso com o médico assistente.

• Visitas domiciliares (realização de curativos, aplicação de vacina e orientações).

Acadêmicos de Medicina e Enfermagem realizavam, juntamente com um agente comunitário de saúde, visitas domiciliares, sobretudo, àqueles pacientes que não tinham condições de ir à UBS. Após a visita, era transmitido ao médico ou ao enfermeiro um relatório verbal das condições de cada paciente e dos procedimentos realizados.

• Oficinas (Parasitose intestinal; Doenças sexualmente transmissíveis; Métodos contraceptivos; Gravidez na adolescência; Hipertensão arterial sistêmica - HAS e tabagismo) para crianças, adolescentes do Pró-Jovem e adultos.

As oficinas aconteciam em alguma escola da região. Os acadêmicos de Medicina e Enfermagem eram divididos em duplas. A comunidade era convocada pelos agentes comunitários e pelos acadêmicos. Cada dupla ficava responsável pelo desenvolvimento de uma oficina dinâmica sobre um determinado assuntoque pudesse atender a comunidade de acordo com as suas necessidades, as quais eram indicadas por líderes locais que conheciam as demandas de saúde da região.

• Gincana para promoção da saúde e prevenção da hipertensão arterial sistêmica junto a idosos e hipertensos.

Os idosos e hipertensos que participaram da gincana foram divididos em dois grupos. O evento foi realizado em uma sala de aula pelos enfermeiros, agentes comunitários e acadêmicos de Medicina e Enfermagem. A atividade se baseava em perguntas sobre a alimentação saudável, a realização de atividade física, o uso adequado de medicamentos, a importância da consulta médica e as consequências advindas do controle insatisfatório da pressão arterial. Cada grupo tinha de responder, após discussão e consenso, se a assertiva era verdadeira ou falsa. O grupo vencedor participava de um sorteio de brindes. Ao final, houve a confraternização por meio de um lanche.

No retorno ao município de Indaiabira (MG), em visitas bimestrais nos finais de semana, os acadêmicos e os professores se reuniram com os líderes locais responsáveis pelo levantamento das demandas e pelo acompanhamento e avaliação das atividades implantadas. Após a reunião, os acadêmicos foram orientados a avaliar a repercussão proporcionada pelas atividades desenvolvidas no primeiro momento junto à comunidade, bem como a continuidade do trabalho realizado.

Acadêmicos de Medicina e Enfermagem se reuniram com a equipe de saúde local e, juntos, traçaram estratégias para o prosseguimento e a consolidação de algumas atividades, como a realização das caminhadas diárias, a formação do grupo de hipertensos e do grupo de idosos. Durante as ações globais, realizadas nos retornos ao município, aconteceram a aferição da pressão arterial, do índice de massa corpórea e o teste de glicemia dos cidadãos que frequentam a barraca da saúde, bem como orientações quanto à importância da alimentação saudável e da atividade física.

DISCUSSÃO

Para Feuerwwerker6, há tempos é solicitado à Universidade um repensar sobre o processo de formação dos profissionais da área da saúde de maneira que possam prestar uma atenção mais integral e humanizada, que trabalhem em equipe, que saibam tomar decisões considerando não somente a situação clínica individual, mas o contexto em que vivem os pacientes. Assim, o conhecimento produzido é menos disciplinar e mais contextualizado, concretizando-se por meio da articulação com outras áreas de conhecimento.

Com isso, há uma construção conjunta e contextualizada do conhecimento teórico e prático, em que discentes, docentes e comunidade são sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem. Assim agindo, a Universidade estará proporcionando ao educando oportunidades de participação nos problemas nacionais em sua dimensão regional.

Nesse sentido, a extensão passou a ser pensada como o processo que integra o ensino e a pesquisa junto à comunidade, com objetivo de fortalecer a articulação da teoria com a prática em outros cenários de aprendizagem além da sala de aula, valorizando, assim, a pesquisa individual e coletiva7. As atividades extracurriculares proporcionam a inserção em cenários médicos reais e com a participação em atenção à saúde de pacientes reais como forte componente de aprendizado profissional. Tais atividades permitem contato intenso com a realidade da profissão em cenários diretamente ligados ao trabalho, seja em serviços públicos ou privados, prestando serviços relevantes8.

Percebeu-se, de um lado, pelas atividades desenvolvidas, o intuito de promover a participação cidadã dos usuários de serviços de saúde na discussão de suas necessidades, dos direitos sociais e, especialmente, do direito à saúde. Por outro, permitiu-se a qualificação do processo de formação dos acadêmicos envolvidos, possibilitando a reflexão crítica sobre a realidade e a formulação de propostas investigativas e interventivas sobre ela9.

A expressão assumida pela extensão universitária tem como base o reconhecimento da sua importância na formação intelectual e ético-solidária do acadêmico, uma vez que lhe proporciona condições capazes de exercer sua autonomia na produção do conhecimento e de sensibilização para as questões sociais, promovendo uma melhor qualificação. Além disso, chegam à Universidade, por meio dessa dimensão acadêmica, as demandas sociais, as temáticas que alimentam as pesquisas realizadas, bem como os indicadores para o tipo de formação humana e profissional requerido na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual10.

Tavares et al.11 concluem que as atividades extracurriculares dos estudantes de Medicina são antigas, extensas e acontecem em grande número de faculdades brasileiras, envolvendo grande parte, senão todos, os graduandos,e são consideradas normais e naturais por estudantes, profissionais e professores na busca por complementação da formação e no aumento da experiência clínica dos alunos de Medicina.

Esta experiência vem confirmar que a aprendizagem em grupo traz resultados em seu conjunto, mas, principalmente, um desenvolvimento individual surpreendente para cada membro participante. Para Mendes12, esse aprendizado é sustentado pela produção de conhecimentos e seu intercâmbio contínuo, atuando eficazmente na melhoria da qualidade da assistência prestada, na produção de pesquisas científicas e formação e educação de profissionais voltados para as questões sociais.

Toda escola comprometida com a formação humana crítica deve relembrar o papel social da Universidade e sua importância no desenvolvimento de médicos conscientes e humanamente competentes para trabalhar com as diferenças sociais e culturais, vendo na extensão um caminho possível para a transformação6.

CONCLUSÃO

As ações do projeto Unimontes Solidária, na cidade de Indaiabira (MG), proporcionaram benefícios tanto para os acadêmicos de Medicina como para os moradores da comunidade local, a partir de uma intervenção transformadora, promovendo assistência em saúde por meio do conhecimento adquirido na Universidade. Nessa interação, teve-se a oportunidade de vivenciar a realidade na prática, possibilitando sua transformação pela reflexão crítica e construtiva, na perspectiva de uma sociedade mais justa e democrática na busca da qualidade de vida. Pesquisar, aprender sobre temas relacionados e estender o conhecimento adquirido à comunidade é a tríade que sustenta a formação acadêmica nas mais modernas metodologias de ensino.

REFERÊNCIAS

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12. Mendes IAC, Trevizan MA, Ferraz CA, Higa EFR. Contribuição das disciplinas da organização de aprendizagem ao processo de parceria docente-assistencial na enfermagem. Rev Lat Am Enfermagem. 2000;8 (4):47-52.

Recebido em: 25/07/2010

Reencaminhado em: 29/08/2010

Aprovado em: 07/09/2010

CONFLITO DE INTERESSES

Declarou não haver

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Jair Almeida Carneiro, Carolyne César Lima, Marcelo Resende Otaviano e Gilson José Fróes foram responsáveis por analisar e interpretar os dados colhidos ao longo do desenvolvimento do trabalho, bem como pela revisão de literatura e pela elaboração da versão do artigo. Fernanda Marques da Costa foi responsável pela orientação das atividades desenvolvidas.

  • 1. Nogueira MDP. Manual sobre a extensão universitária para o aluno da UFMG. Belo Horizonte: UFMG; 2005.126p
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  • Endereço para correspondência:
    Fernanda Marques da Costa
    Rua Irmã Beata, 572 apto. 402
    Centro - Montes Claros
    CEP. 39400-110 - MG
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Jul 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Recebido
      25 Jul 2010
    • Aceito
      07 Set 2010
    • Revisado
      29 Ago 2010
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