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A Avaliação Global da Pessoa Idosa como Instrumento de Educação Médica: Relato de Experiência

Overall Assessment of the Elderly as a Tool for Medical Education: Case Report

RESUMO

O programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) fomentou a integração ensino-serviço por meio da inserção de alunos de graduação nos cenários de prática, permitindo o desenvolvimento de competências no mundo do trabalho. Este relato analisa a experiência de estudantes de Medicina no “Projeto de Avaliação da Pessoa Idosa”, desenvolvido ao longo do PET-Saúde em dois semestres do curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto. A análise situacional de saúde revelou a necessidade de um acompanhamento individualizado ao idoso. Estudantes do segundo e terceiro ano de Medicina foram capacitados a desenvolver a avaliação global de idosos, realizando avaliações domiciliárias de saúde que alcançaram 20% dos idosos da comunidade. As alterações mais prevalentes na população idosa foram avaliadas e analisadas por estatística descritiva, e as conclusões foram encaminhadas à equipe de saúde. O projeto foi relevante para os idosos, com a identificação de fatores de risco de perda de capacidade funcional, para os médicos das equipes de Saúde da Família, devido à identificação de problemas não relatados nas consultas, para os agentes comunitários de saúde, que estreitaram o relacionamento com a população idosa, e para os estudantes, que ampliaram os conhecimentos, entendendo o trabalho em equipe e desenvolvendo competências na área de saúde do idoso.

Idoso; Educação Médica; Atenção Primária à Saúde; Avaliação em Saúde; Avaliação Geriátrica

ABSTRACT

The “Education through Work in Health Program” (PET-Saúde) has promoted integration between teaching and service by inserting undergraduate students in practical scenarios, allowing the development of skills in the workplace. This report analyzes medical students’ experience in the “Elderly Evaluation Project”, developed throughout the PET-Saúde in two semesters at the Federal University of Ouro Preto medical school. Situational analysis revealed the need for individualized monitoring of the elderly. Second and third-year students were able to develop an overall evaluation of the elderly, performing home health assessments that reached 20% of the community’s elderly population. The most prevalent changes were evaluated and subjected to descriptive statistical analysis, and the conclusions were fed back to the health care team. The project was important for the elderly, helping to assess and diagnose risk factors for the loss of functional capacity. The family health teams physicians stressed the importance of reporting health problems not commonly referred to in consultations. For the community health agents, it helped to strengthen their relationship with the elderly population. Finally, for the students, the project was an opportunity to increase knowledge, and develop teamwork and other skills in the area of senior health.

Elderly; Medical Education; Primary Health Care; Health Services for the Aged; Geriatric Assessment

INTRODUÇÃO

A alteração no perfil etário da população mundial aponta o aumento proporcional do número de idosos, e a transição demográfica brasileira ocorre de forma rápida, sem tempo para uma reorganização social e da área de saúde adequada para atender às novas demandas11. Costa RDF, Osorio-de-Castro CGS, Silva RM, Maia AA, Ramos MCB, Caetano R. Aquisição de medicamentos para a Doença de Alzheimer no Brasil: uma análise no sistema federal de compras, 2008 a 2013. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2015. 20(12) [capturado 15 mai 2016]; 3827-3838. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232015001203827&lng=en.
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. Considera-se idosa a pessoa com 65 anos ou mais em países desenvolvidos e com 60 anos em países em desenvolvimento22. World Health Organization (WHO). Active ageing: a policy framework. Geneva: World Health Organization; 2002 [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://www.who.int/ageing/publications/active/en/index.html.
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. Em 2002, 7% da população mundial era composta por idosos33. Worldmapper.org: the world as you’ve never seen it before. [Internet]. USA: Mark Newman [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://www.worldmapper.org/display.php?selected=6.
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, enquanto no Brasil essa parcela representava 8,6%44. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). [Internet] Brasil. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm.
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. Em 2016, estima-se que esse contingente represente mais de 12% da população brasileira55. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade – 2000-2060. [Internet] Brasil. [capturado 7 mai. 2010]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_populacao/2013/default.shtm.
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e que em 2050 atinja cerca de 64 milhões de pessoas66. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). [Internet] Brasil. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_populacao/2008/piramide/piramide.shtm.
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Embora o envelhecimento não seja sinônimo de adoecimento, são mais frequentes problemas de saúde que podem levar à perda de funcionalidade e qualidade de vida da pessoa idosa. O que determina, em última análise, o resultado do processo saúde-doença do idoso é a capacidade de adaptação às mudanças biológicas no decorrer da vida77. Lima Filho JB, Sarmiento SM. Envelhecer Bem É Possível. Edições Loyola: São Paulo; 2004. p.19., fazendo-se necessária a aplicação de instrumentos que visem avaliar a funcionalidade do idoso.

A “Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa” é um instrumento para o rastreio de disfunções que visa à prevenção e promoção de saúde em pessoas idosas, contando com instrumentos sensíveis nos campos de visão, audição, incontinência, humor e depressão, cognição e memória, atividades de vida diária, funcionalidade de membros superiores e inferiores, quedas e outros mais específicos quando necessário88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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. O Ministério da Saúde recomenda a aplicação sistemática desta avaliação por equipes de Atenção Primária à Saúde (APS)88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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, mas relativamente poucos estudos avaliaram o seu desempenho neste nível de atenção no Brasil.

A APS é a nova fronteira da formação médica, e a inserção de estudantes de graduação neste âmbito com foco na aquisição de competências específicas ao longo da formação médica está reforçada pelas últimas duas diretrizes curriculares99. Brasil. Resolução CNE/CES N°4, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. [Internet]. 2001 [capturado 24 abr. 2010] Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/
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,1010. Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Lei n° 12.871, de 22 de outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de 1981, e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da União, 23 out 2013.. Sob esta perspectiva, o Programa de Educação Pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) norteia-se pela integração ensino-serviço-comunidade, objetivando desenvolver grupos de aprendizagem em localidades-chave para o Sistema Único de Saúde (SUS), em especial na APS, fomentando a qualificação e vivência de profissionais e estudantes de graduação da área de saúde, de acordo com as necessidades do SUS1111. Portal da Saúde: Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde[Internet]. Brasil. [Acesso em 15 jun 2010]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=35306
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Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em conjunto com a equipe de Saúde da Família (eSF) Bauxita, no município de Ouro Preto (MG), foi criado no contexto do PET-Saúde o Projeto de Avaliação da Pessoa Idosa. Esse projeto foi realizado por monitores graduandos em Medicina, que buscavam se integrar às ações do serviço de saúde local de forma a realizar um diagnóstico do estado de saúde da população idosa do bairro Bauxita.

CENÁRIO DE PRÁTICA

Em Ouro Preto (MG), a APS é estruturada por equipes de Saúde da Família. O bairro Bauxita, em Ouro Preto, apresenta hoje uma população de 3.681 pessoas, das quais 510 têm mais de 60 anos, mas há poucas informações acerca do perfil de alterações funcionais dos seus idosos.

METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa-ação, que se define como a construção cooperativa de conhecimentos com base na realidade vivida1212. Tripp D. Pesquisa-ação: uma INTRODUÇÃO metodológica [Internet]. Educ. Pesqui. 2005;31(3):443-466; 2005 [capturado 7 ago. 2010]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022005000300009&lng=en&nrm=iso
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, desenvolvida com dados coletados em observações dos participantes nas atividades cotidianas do grupo do PET-Saúde, realizadas de abril de 2010 a abril de 2011.

O projeto organizou-se em: diagnóstico local, treinamento dos monitores, ações de campo, análise estatística descritiva dos resultados e retorno para a equipe de Saúde da Família de Bauxita. O cálculo amostral apontou a necessidade de entrevistar 20% da população idosa, e a distribuição da amostra seguiu como parâmetro de aleatoriedade a sequência de atendimento das agentes comunitárias de saúde (ACS) da Estratégia Saúde da Família (ESF) do bairro, dividido em seis microáreas. Optou-se por realizar 110 entrevistas, totalizando 21,5% do total de idosos de cada microárea, para compensar possíveis perdas amostrais.

Materiais

As avaliações foram pautadas na “Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa”, presente no Caderno de Atenção Básica número 19, do Ministério da Saúde88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Foram incluídos no questionário original: dados pessoais, contendo data de nascimento; sexo; estado civil; endereço; data da entrevista; se sabe ler e escrever; escolaridade; e um questionário socioeconômico indireto, contendo a quantidade de alguns itens domésticos e o grau de escolaridade do chefe da família, estratificado nas classes A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

No campo de alterações visuais, utilizou-se o cartão de Snellen em vez do cartão Jaeger, por ser o mesmo passível de aplicação em indivíduos sem escolaridade. Foi considerada alterada a não visibilidade acima de 20/40. Foi testado cada olho separadamente e, após, os dois olhos juntos, devendo a pessoa estar utilizando suas lentes corretivas, caso fizesse uso88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Para avaliação auditiva, foi utilizado o Teste do Sussurro. O examinador, a 30 cm de cada ouvido da pessoa idosa, sussurra uma pergunta simples. O teste é considerado alterado quando o idoso não responde à pergunta1313. Lachs MS, Feinstein AR, Cooney Jr LM, Drickamer MA, Marottoli RA, Pannill FC, et al. A simple procedure for general screening for functional disability in elderly patients. Ann Intern Med. 1990;112:699-706..

No que se refere à incontinência urinária, foi preparado um questionário simples, de quatro perguntas. “Já teve perda de urina sem querer? Já teve perda de urina quando riu, tossiu ou se exercitou? Já teve perda de urina no caminho para o banheiro? Já teve que usar fraldas, pano ou absorvente nas suas roupas íntimas para reter urina?”. O teste era considerado positivo se houvesse resposta positiva a qualquer pergunta. Tais perguntas são diretas e muitas vezes não relatadas nas consultas médicas88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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,1414. Sirena SA, Moriguchi EH. Promoção e manutenção da saúde do idoso. In: Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. Porto Alegre: Artmed; 2004. p.576-85..

Para avaliação do humor e depressão, foi utilizada a Escala de Depressão Geriátrica de 15 itens (Geriatric Depression Score – GDS-15), sendo considerada positiva com pontuação igual ou superior a seis pontos88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Nos campos de cognição e memória, utilizou-se o Miniexame do Estado Mental (Meem)88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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juntamente com o “Teste do Relógio”, instrumento complementar para o rastreio de alterações das funções cognitivas, sendo que sua associação ao Meem pode melhorar sua acurácia como teste de rastreio1515. Ishizaki J, Meguro K, Ambo H. A normative, community-based study of Mini-Mental State in elderly adults: the effect of age and educational level. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 1998; 53:359-363..

No campo da função dos membros superiores, foi avaliada a capacidade do idoso em tocar a nuca com ambas as mãos e apanhar um lápis sobre a mesa com ambas as mãos e devolvê-lo. No caso de incapacidade, o teste foi considerado alterado88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Para avaliação da função dos membros inferiores, foi aplicada diretamente a Escala de Avaliação do Equilíbrio e da Marcha de Tinneti, sendo o ponto de corte considerado de 19 ou menos88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Para avaliação de atividades de vida diárias, foi aplicado o Formulário de Avaliação das Atividades Básicas de Vida Diária (Katz). Foi considerada alterada a pontuação menor que 488. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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No quesito quedas, avaliou-se o risco perguntando-se se o idoso havia caído nos últimos meses e analisando-se fatores de risco no domicílio, como escadas, tapetes soltos e ausência de corrimãos88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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Analisaram-se também os perfis de “vacinação”, “medicação em uso” e “encaminhamentos”, para completar os dados e fornecer as informações essenciais à equipe da UBS Bauxita. Foram considerados “em dia” com a imunização pacientes vacinados oportunamente contra febre amarela (FA), dT (difteria e tétano) e influenza. Foram considerados sob polifarmácia aqueles que utilizavam cinco ou mais medicamentos1616. Grimmsmann T, Himmel W. Polypharmacy in primary care practices: an analysis using a large health insurance database [Internet]. Pharmacoepidemiology and Drug Safety. 2009; 18(12):1206-13 [capturado 11 mai. 2016]. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19795368
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MÉTODO

Os dados coletados foram transcritos em tabela pelo programa Microsoft Excel 2007 e analisados pelo programa Epi Info para Windows, versão 3.5.1. Foi realizada análise estatística descritiva dos dados e elaborados os quadros e tabelas finais.

Treinamento para homogeneização da aplicação do questionário

De 13 a 17 de julho de 2010, foi realizado um treinamento com os monitores do projeto e com a ESF Bauxita por professores da área da saúde da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) com conhecimentos sobre saúde do idoso e “Avaliação global da pessoa idosa”.

Aspectos éticos

Todos os participantes livremente consentiram em participar, assinando pessoalmente, quando alfabetizados, ou por meio de um responsável legal, quando analfabetos ou impossibilitados funcionalmente de assinar, um Termo de Consentimento Livre Esclarecido, concordando em participar das atividades propostas e com a divulgação dos dados em conjunto, sendo garantido o anonimato de acordo com a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, sobre pesquisa com seres humanos1717. Brasil. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa(CONEP). Brasil [Internet]. Resolução Nº 466, de 12 de Dezembro de 2012. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos [capturado 10 mai. 2016]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
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Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Ouro Preto sob o código CAAE – 0006.0.238.238-10.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados demográficos estão representados na Tabela 1. A amostra consistiu em 103 entrevistados, além de duas recusas e cinco ausências domiciliares, totalizando 110 tentativas, atingindo um total de 20,2% da população idosa local. A população idosa avaliada, predominantemente, tem menos de 80 anos (80,4%). Em média, possui 72,6 anos de idade (desvio padrão de 7,97). A prevalência das variáveis analisadas no instrumento encontra-se representada na Tabela 2. Optou-se por comparar os resultados deste estudo com outras análises realizadas no País, devido a diferenças culturais na definição de critérios clínicos, que podem ser influenciados por questões transculturais. A prevalência dos campos variou pouco em relação à prevalência encontrada em outros estudos, sem elevado grau de disparidade. Essa variação pode se relacionar ao fato de as metodologias serem diferentes, uma vez que o presente estudo utilizou uma avaliação multidimensional da pessoa idosa mediante instrumentos de rastreio, ou seja, que primam pela sensibilidade em sua análise, enquanto alguns estudos de referência usaram métodos mais específicos de diagnóstico para suas respectivas áreas, como veremos a seguir.

TABELA 1
Prevalência e intervalos de confiança (IC) dos dados sociodemográficos. Bauxita, Ouro Preto, 2010

TABELA 2
Prevalência e intervalos de confiança (IC) das alterações das variáveis avaliadas no instrumento. Bauxita, Ouro Preto, 2010

Quanto a alterações visuais, Araújo Filho et al. encontraram 24,2% (IC95%: 21,2-27,3) para deficiência visual1818. Araújo Filho A, Salomão SR, Berezovsky A, Cinoto RW, Morales PH, Santos FR, et al. Prevalence of visual impairment, blindness, ocular disorders and cataract surgery outcomes in low-income elderly from a metropolitan region of São Paulo - Brazil. Arq. Bras. Oftalmol 2008; 71(2):246-253.. Outro estudo, realizado no sertão de Pernambuco, encontrou 37,4% de idosos com alterações da acuidade visual. Em Porto Alegre (RS), no ano de 2008, foi encontrada uma prevalência de déficit visual de 20,9%2020. Schneider RH, Marcolin D, Dalacorte RR. Avaliação funcional de idosos. Scientia Medica. [Internet]. 2008. 18(1) [capturado 7 mai. 2016];4-9. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gpat/wp-content/uploads/2013/03/13-Avalia%C3%A7%C3%A3o-funcional-de-idosos.pdf.
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. O presente trabalho, por sua vez, encontrou uma prevalência de 51,5% (IC95%: 41,4-61,4), enquanto no mesmo município, Ouro Preto (MG), com métodos semelhantes, Chaimowicz e Coelho2121. Chaimowicz F, Coelho GLLM. Expectativa de Vida Livre de Incapacidade em Ouro Preto. Relatório técnico final. Brasília: Conselho Nacional de Pesquisa, 2004, 50 p. descreveram déficit visual em 62% dos idosos. A divergência nos resultados apresentados por aqueles pode ser devida tanto ao uso de métodos mais específicos quanto a uma prevalência maior de deficiência visual localmente em razão de fatores intrínsecos, quando comparada com outras regiões geográficas.

Em Porto Alegre (RS), em 2008, com metodologia semelhante, foi encontrada prevalência de 16,9% de idosos com déficit auditivo2020. Schneider RH, Marcolin D, Dalacorte RR. Avaliação funcional de idosos. Scientia Medica. [Internet]. 2008. 18(1) [capturado 7 mai. 2016];4-9. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gpat/wp-content/uploads/2013/03/13-Avalia%C3%A7%C3%A3o-funcional-de-idosos.pdf.
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, enquanto em Montes Claros (MG), em 2010, a prevalência foi de 32,2% de idosos2222. Silva PLN Da, Menezes GCSC, Rodrigues LCA, Oliveira VGR, Fonseca JR. Hearing screening and quality of life in an elderly population. Ver Enferm UFPI [Internet]. 2014. 3(2) [capturado 7 mai. 2016];11-5. Disponível em: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/reufpi/article/view/1645.
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. Em nosso estudo, a prevalência foi de 28,2% para algum tipo de alteração nesse campo (IC95%: 19,5%-36,9%).

A incontinência urinária é uma variável mais difícil de analisar, uma vez que sua prevalência pode variar de 2,5% a 60%, dependendo dos critérios utilizados, das amostras populacionais, das taxas de respostas e da formatação das perguntas2323. Tamanini JTN, Lebrão ML, Duarte YA, Santos JL, Laurenti R. Analysis of the prevalence of and factors associated with urinary incontinence among elderly people in the Municipality of São Paulo, Brazil: SABE Study (Health, Wellbeing and Aging). Cad. Saúde Pública 2009; 25(8):1756-1762.,2424. Anger JT, Saigal CS, Litwint MS and the Urologic Diseases of America Project. The Prevalence of Urinary Incontinence Among Community Dwelling Adult Women: Results From the National Health and Nutrition Examination Survey. J. Urol 2006; 175:601-604.. O valor para a prevalência da incontinência urinária encontrado em nosso estudo foi de 48,5% (IC95%: 38,6-58,6), enquanto em Porto Alegre (RS), em 2008, com metodologia semelhante, foi de 20,9%2020. Schneider RH, Marcolin D, Dalacorte RR. Avaliação funcional de idosos. Scientia Medica. [Internet]. 2008. 18(1) [capturado 7 mai. 2016];4-9. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gpat/wp-content/uploads/2013/03/13-Avalia%C3%A7%C3%A3o-funcional-de-idosos.pdf.
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Os campos cognitivo-comportamentais incluem as variáveis: humor e depressão, cognição e memória e o Teste do Relógio. No presente estudo, verificou-se que a prevalência de sintomatologia depressiva foi de 23,3% (IC95%: 15,5-32,7), utilizando-se o GDS-15. Este resultado se aproxima do valor obtido no estudo de Lima et al.2525. Lima MTR, Silva RS, Ramos LR. Fatores associados à sintomatologia depressiva numa coorte urbana de idosos. J. bras. psiquiatr 2009; 58(1):1-7. em São Paulo, que foi de 21,1%, de Borges et al.2626. Borges LJ, Benedetti TRB, Mazo GZ. Rastreamento cognitivo e sintomas depressivos em idosos iniciantes em programa de exercício físico. J. Bras. Psiquiatr 2007; 56(4):273-279. em Florianópolis, 17,4%, de Veras2727. Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Relume Dumará, Rio de Janeiro: 1994. 224p. em idosos cariocas, 25,75%, e de Chaimowicz e Coelho2121. Chaimowicz F, Coelho GLLM. Expectativa de Vida Livre de Incapacidade em Ouro Preto. Relatório técnico final. Brasília: Conselho Nacional de Pesquisa, 2004, 50 p., também em Ouro Preto, 28%2121. Chaimowicz F, Coelho GLLM. Expectativa de Vida Livre de Incapacidade em Ouro Preto. Relatório técnico final. Brasília: Conselho Nacional de Pesquisa, 2004, 50 p.. Por outro lado, numa coorte sobre a depressão em Bambuí (MG), encontrou-se 38,5%2828. Castro-Costa E, Lima-Costa MF, Carvalhais S, Firmo JOA, Uchoa E. Factors associated with depressive symptoms measured by the 12-item General Health Questionnaire in Community-Dwelling Older Adults (The Bambuí Health Aging Study). Rev. Bras. Psiquiatr. 2008; 30(2):104-109.de incidência de depressão por meio do General Health Questionnaire de 12 itens (GHQ-12), portanto sob outros critérios. Uma provável explicação para a diferença encontrada entre os estudos que utilizaram o GDS-15 e o que empregou o GHQ-12 seria uma sensibilidade maior deste em relação àquele, enquanto o GDS seria mais específico para depressão88. Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Caderno de Atenção Básica nº19. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. 192p. [capturado 24 fev. 2010]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf.
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,2828. Castro-Costa E, Lima-Costa MF, Carvalhais S, Firmo JOA, Uchoa E. Factors associated with depressive symptoms measured by the 12-item General Health Questionnaire in Community-Dwelling Older Adults (The Bambuí Health Aging Study). Rev. Bras. Psiquiatr. 2008; 30(2):104-109..

A prevalência de transtornos cognitivos deste estudo através do Meem (31,1%; IC95%: 22,3-40,9) se aproxima do estudo anterior em Ouro Preto (2004), de 24%2121. Chaimowicz F, Coelho GLLM. Expectativa de Vida Livre de Incapacidade em Ouro Preto. Relatório técnico final. Brasília: Conselho Nacional de Pesquisa, 2004, 50 p., mas difere do encontrado em Porto Alegre (RS), em 2008 (13,5%)2020. Schneider RH, Marcolin D, Dalacorte RR. Avaliação funcional de idosos. Scientia Medica. [Internet]. 2008. 18(1) [capturado 7 mai. 2016];4-9. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gpat/wp-content/uploads/2013/03/13-Avalia%C3%A7%C3%A3o-funcional-de-idosos.pdf.
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. Visto que a depressão pode ser secundária a déficits cognitivos2525. Lima MTR, Silva RS, Ramos LR. Fatores associados à sintomatologia depressiva numa coorte urbana de idosos. J. bras. psiquiatr 2009; 58(1):1-7., seria possível esperar que numa área de alta prevalência de transtornos cognitivos, como observado nos estudos em Ouro Preto, também se encontre uma alta prevalência de depressão.

O presente trabalho encontrou alterações cognitivas a partir do Teste do Relógio em 42,7% (IC95%: 33-52,8), utilizando a escala de Schulman, que varia de 0 a 5 (melhor), considerando apenas os valores 4 e 5 como normais2929. Shulman KI. Clock-drawing: Is it the ideal cognitive screening test?. Int J Geriat Psychiatry. 2000; 15:548-561..

Com relação aos campos funcionais, as prevalências de alterações funcionais foram 7,8% (IC95%: 3,4-14,2) nos membros superiores e 16,5% (IC95%: 9,9-25,1) nos membros inferiores. Tais resultados foram semelhantes aos encontrados em Porto Alegre (2008) para alterações nos membros superiores (9,5%), porém divergiram no que se refere às alterações em membros inferiores (32,7%)2020. Schneider RH, Marcolin D, Dalacorte RR. Avaliação funcional de idosos. Scientia Medica. [Internet]. 2008. 18(1) [capturado 7 mai. 2016];4-9. Disponível em: http://www.ufrgs.br/gpat/wp-content/uploads/2013/03/13-Avalia%C3%A7%C3%A3o-funcional-de-idosos.pdf.
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. Tal diferença pode ser explicada pelo fato de o estudo conduzido em Porto Alegre ter utilizado o Timed Up And Go Test, enquanto este estudo usou o Teste de Equilíbrio e Marcha de Tinneti.

A prevalência de quedas foi de 48,5% (IC95%: 38,6-58,6), muito superior ao encontrado na literatura3030. Perracini MR, Ramos LR. Fatores associados a quedas em uma coorte de idosos residentes na comunidade. Rev Saúde Pública. 2002; 36(6):709-716.,3131. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS, et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública. 2007; 41(5): 749-756.. Estudos semelhantes apontam uma taxa mais baixa. Perracini e Ramos3030. Perracini MR, Ramos LR. Fatores associados a quedas em uma coorte de idosos residentes na comunidade. Rev Saúde Pública. 2002; 36(6):709-716., em São Paulo, relataram 31%, e Siqueira et al.3131. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS, et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública. 2007; 41(5): 749-756., num estudo em sete estados do Brasil, 34,8%. Tal divergência pode ser consequência da condição da cidade de Ouro Preto, onde este estudo foi realizado, com ladeiras íngremes e ruas de paralelepípedos.

O alto índice de quedas pode estar associado também ao fato de os domicílios apresentarem características que aumentam o risco das mesmas. Pôde-se observar que, no campo “domicílio” (que avalia o risco domiciliar de queda), o valor de prevalência de alterações encontrado foi de 81,6% (IC95%: 72,5-88,5). Há que se ressaltar ainda que grande parte dos entrevistados referiu bom suporte social, apresentando apenas 1% (IC95%: 0,0-5,3) de prevalência para situações de privação desse item.

Entre os idosos avaliados, 77,7% possuíam o cartão de vacinas em dia, percentual superior ao encontrado em Belo Horizonte (MG) (2008), com valores de 66,3%3232. Lima-Costa MF. Fatores associados à vacinação contra gripe em idosos na região metropolitana de Belo Horizonte. Rev. Saúde Pública [Internet]. 2008. 42(1) [capturado 23 set. 2011];100-107. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102008000100013&lng=en.
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, e Duque de Caxias (RJ) (2007), com 61,3% para influenza e 36,3% para dT adulto entre a população idosa3333. Christina K, Matias M, Santos M, Paes GK, Silva VC, Chagas GDC. O Perfil Vacinal de Idosos de uma Comunidade do bairro de Xerém acompanhados por acadêmicos da UNIGRANRIO. Revista Rede de Cuidados em Saúde. 2007; 1(1):8p.. Os resultados sugerem melhor imunização na região estudada, podendo significar um avanço nas práticas preventivas nos últimos anos.

A prevalência de polifarmácia foi de 20,4% (IC95%: 13,1-29,5), abaixo de outros estudos nacionais, com prevalências de polifarmácia de 33,3% a 46,4%, destacando como fatores de risco o status socioeconômico, funcionalidade, institucionalização e idade3434. Medeiros-Souza P, Santos-Neto LL, Kusano LTE, Pereira MG. Diagnosis and control of polypharmacy in the elderly. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(6):1049-1053.,3535. Lucchetti G, Granero AL, Pires SL, Gorzoni ML. Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 2010; 13(1):51-58.. A prevalência ora encontrada pode estar menor do que os estudos de referência por ter sido avaliada em idosos nos seus domicílios, os quais não são necessariamente acompanhados pela ESF ou fazem tratamentos médicos.

Os resultados de campo e as ações do projeto foram apresentados à equipe de APS e aos idosos envolvidos, com coleta de impressões, que serviu para a discussão de melhorias relativas à saúde do idoso na ESF Bauxita.

O “Projeto de Avaliação da Pessoa Idosa” parece ter contribuído para a construção de uma nova forma de pensar os idosos na equipe de Saúde da Família e pelos estudantes envolvidos.

Para os idosos, o projeto proporcionou uma abordagem mais integral da saúde. Segundo a maioria dos idosos entrevistados, a oportunidade de serem avaliados em casa e encaminhados diretamente à equipe, quando necessário, foi percebida como uma forma de ampliação do reconhecimento da legitimidade e importância de seus problemas. Muitos deles até mesmo se mostraram surpresos ao terem a oportunidade de obter cuidados em problemas pessoais muitas vezes pouco abordados anteriormente. Alguns deles consideravam agravos com consequente diminuição da autonomia como fatos naturais do envelhecimento. Para estes, em especial, o projeto pode contribuir para ampliar sua capacidade funcional.

A equipe de Saúde da Família ampliou conhecimentos técnicos acerca do idoso e se responsabilizou pela continuidade do cuidado dos pacientes avaliados, ressaltando a boa adesão da população às consultas, quando encaminhados pelo projeto. Percebeu-se que situações prevalentes, como incontinência urinária, não são relatadas nas consultas de rotina, reforçando-se o cuidado no domicílio como adequado ao aprofundamento na história clínica das pessoas e o entendimento do contexto delas.

Os ACS mostraram-se motivados a ampliar sua capacidade de avaliação e relacionamento com os idosos sob sua responsabilidade, demonstrando a importância da capacitação destes profissionais na temática da saúde da pessoa idosa. Como propostas para melhoria da saúde dos idosos na ESF Bauxita, devem ser levadas a cabo ações que priorizem prevenção e promoção em saúde, sendo desejável a continuidade e ampliação do projeto Avaliação da Pessoa Idosa.

Os estudantes ampliaram seus conhecimentos e o vínculo com o idoso, além de terem tido contato com uma ferramenta de avaliação da saúde desse público e com instrumentos de avaliação, e contextualizaram o aprendizado, num exercício de andragogia e aquisição de competências baseada em problemas reais.

Por fim, nota-se que o projeto serviu de base para a consolidação do PET-Saúde na Universidade Federal de Ouro Preto. Tem-se, desde então, um modelo de funcionamento ideal do programa, mediante a inserção do estudante em atividades de campo, educação em saúde e pesquisa, culminando com a redação deste artigo como peça fundamental no fechamento e reflexão sobre as atividades desenvolvidas durante o projeto. Os participantes deste trabalho saem convictos de que a integração ensino-serviço-comunidade não só é possível como também pode render bons frutos.

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  • ORGANIZAÇÃO DE FOMENTO
    Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) – Portaria Interministerial MS/MEC nº 1.802/2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    14 Ago 2014
  • Aceito
    14 Jan 2016
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