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Representações Sociais de Profissionais da Saúde sobre Aprendizagem e Internet

Social Representations of Health Professionals regarding Learning and the Internet

RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar o núcleo central e os elementos periféricos das representações sociais de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas sobre aprender com apoio da internet. Na pesquisa, foi utilizada a técnica das evocações livres, fundamentada na abordagem estrutural. Identificou-se que a representação social dos sujeitos sobre a temática apresenta uma estrutura da qual participam elementos avaliados pelos próprios sujeitos positivamente e que estão interligados, observando-se uma coerência entre os elementos evocados. Os prováveis elementos que compõem o núcleo central identificados pelos termos “facilidade” e “praticidade” demonstram o caráter funcional e normativo da representação. A primeira e segunda periferias apresentam elementos que complementam e reforçam o possível núcleo central com termos ligados à cultura do fast food. A fim de reverter um possível uso reduzido das tecnologias, conclui-se que a inserção da temática sobre o uso da internet deve estar presente de forma transversalizada às disciplinas dos cursos de formação inicial e permanente dos profissionais de saúde.

Médico; Enfermeiro; Cirurgião-Dentista; Representações Sociais; Internet; Aprendizagem

ABSTRACT

The purpose of this article is to present the central core and the peripheral elements of social representations of doctors, nurses and dentists about learning with support from the internet. In the survey we used the technique of free evocation based on the structural approach. We inferred that the social representation of the subjects on the theme presents a framework which brings together elements positively assessed by the subjects themselves, and that are interconnected, observing consistency between the evoked elements. The elements that likely make up the central core identified by the terms “ease” and “practicality” demonstrate the functional and regulatory nature of the representation. In order to reverse a possible reduced use of technology, it is concluded that the topic of Internet usage should be included across the spectrum of disciplines that form the courses for the initial and ongoing training of health professionals.

Doctor; Nurse; Dentist; Social Representations; Internet; Learning

INTRODUÇÃO

Com o advento da internet, houve uma extinção de fronteiras das atividades econômicas e culturais e um engendramento de novas práticas sociais; houve também a desestabilização do instituído e a constituição de novos habitus. No campo da Educação Permanente na área da saúde, diferentes iniciativas visam formar profissionais com uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Tal fato não é uma tarefa simples, pois impõe uma mudança de postura frente aos processos de aprendizagem a partir de uma dinâmica de atividades que exploram a educação online. Um exemplo de iniciativa é a Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), que é um projeto do Ministério da Saúde em parceria com estados, municípios, instituições públicas de ensino superior e organismos internacionais para oferta de cursos de pós-graduação e de extensão universitária por meio de educação a distância, utilizando a internet11. Brasil. Ministério da Saúde. UNA-SUS [Internet]. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. 2014 [capturado em 25 mar. 2015]. Disponível em: http://unasus.gov.br/
http://unasus.gov.br/...
.

Para Lévy22. Lévy P. Inteligência coletiva: para uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola; 1999., presencia-se hoje uma destas épocas limítrofes em que parece que toda a antiga ordem das representações e dos saberes oscila para ceder lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda pouco estabilizados. Vive-se um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado.

A grande diferença introduzida pela internet é uma nova configuração da comunicação, que libera o polo de emissão e permite a mobilidade das pessoas, determinando novas formas de contato que aproximam mesmo a distância, que interagem, que permitem envio e recebimento de documentos. Além disso, para Silva33. Silva M. Educar na Cibercultura: Desafios à Formação de Professores para Docência em Cursos Online. Rev Digit Tecnol Cogn [on line].2010.3 [capturado em 25 mar. 2015]; 39–51. Disponível em: http://www4.pucsp.br/pos/tidd/teccogs/artigos/2010/edicao_3/3-educar_na_cibercultura-desafios_formacao_de_professores_para_docencia_em_cursos_online-marco_silva.pdf
http://www4.pucsp.br/pos/tidd/teccogs/ar...
, “o hipertexto se apresenta como novo paradigma tecnológico, que liberta o usuário da lógica unívoca, da lógica da distribuição arborescente, próprias da mídia de massa e dos sistemas de ensino predominantes no século XX” (p.41). O sociólogo defende ainda que o hipertexto permite “a reinvenção da própria natureza e materialidade das velhas tecnologias informacionais em novas tecnologias informatizadas conversacionais” (p.41), democratizando a relação do indivíduo com a informação, ao permitir que este ultrapasse a condição de consumidor, de espectador passivo, para a condição de sujeito operativo, participativo e criativo. Conclui citando que o hipertexto é o grande divisor de águas entre a comunicação massiva e a comunicação interativa.

Contrapondo com uma análise crítica, Nichollas Carr44. Carr N. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. Rio de Janeiro: Agir; 2011. defende que a tendência é que se usem tecnologias para facilitar nosso cotidiano e que, com os computadores em rede, o desejo por conveniência acarreta uma enorme influência sobre a vida acadêmica. Acredita que existam evidências de que essa tal facilidade possa obstruir o processo de aprendizagem, além de prejudicar a memória. Os livros digitais tendem a ser lidos de maneira mais superficial, mais distraída do que os livros impressos, o que contribui com a superficialidade da aprendizagem, pois, quando se está online, entra-se em um ambiente que promove a leitura descuidada, o pensamento apressado e distraído. A internet é tanto um “ambiente rico em informações” quanto um “ambiente rico em interrupções”. Dada a plasticidade cerebral, o autor alerta que os novos avanços tecnológicos e da internet oferecem riscos aos nossos cérebros.

Para os tecnófobos, ao transferir as características humanas para as novas máquinas, o homem abre mão de si próprio por não acreditar em si mesmo; abdica de pensar, bem como abdicou do poder. Dessa forma, o homem passa a viver em um mundo que tende ao esvaziamento da cultura humana. O resultado dessa delegação de atributos que determinam o que é o homem para as máquinas constitui uma regressão evolutiva que torna todos deficientes motores e cerebrais, significando também o fim do pensamento.

O Homem Virtual, imóvel diante do computador, faz amor pela tela e faz cursos por teleconferências. Torna-se um deficiente motor, e provavelmente cerebral também. Esse é o preço para que ele se torne operacional. Como se pode prever que os óculos ou as lentes de contato serão um dia a prótese integrada de uma espécie da qual o olhar terá desaparecido, também é de temer que a inteligência artificial e seus suportes técnicos tornem-se a prótese de uma espécie da qual as ideias tenham desaparecido 5 5. Baudrillard J. A transparência do mal. Campinas: Papirus; 1992. . (p. 60)

Fato é que, à margem dessa discussão teórica acerca dos benefícios ou prejuízos da tecnologia, a vida no cotidiano está cada vez mais dependente da internet. Identificou-se neste estudo que, em um grupo de 277 profissionais da saúde, 68% acessam várias vezes ao dia a internet e 27% acessam diariamente, demonstrando que o acesso à tecnologia faz parte do cotidiano dos profissionais de saúde. Isto corrobora a tese de que não cabe mais discutir a questão do acesso, mas, sim, modos e sentidos desse acesso, ampliando os questionamentos sobre essa temática: Como tem sido o acesso dos médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas à web? O que fazem? Pesquisam? Como interagem? Aprendem? Buscam respostas para as suas dúvidas profissionais? Esse uso influencia de alguma forma o dia a dia? Percebem a internet como ferramenta de autoaprendizagem? O uso da web influencia o cotidiano profissional?

As questões propostas foram analisadas pela tese “Aprendizagem do profissional de saúde na web: perfis, percepções e representações sociais”. Antes, no entanto, como caminho para as respostas, é importante compreender as representações sociais que guiam essas práticas e ações. Neste artigo, apresenta-se um recorte da tese que buscou desvelar o núcleo central e os elementos periféricos das representações sociais (RS) de profissionais da saúde – médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas – sobre a expressão indutora “aprender com apoio da internet”.

Políticas voltadas à apropriação de tecnologias, especificamente inclusão digital, devem levar em conta as RS dos sujeitos, os sentidos atribuídos à informática, tendo em vista que possivelmente indicam motivos que levam à negação em alguns casos ou à internet como panaceia. Vale salientar que a apropriação de tecnologias não diz respeito apenas ao aspecto técnico, mas também ao psicossocial, e, nesse âmbito, as RS, ao formatarem padrões de cultura, dinamizam a consciência e induzem à ação.

A Teoria das Representações Sociais

Os símbolos e os significados fazem parte do sistema de RS dos sujeitos, que tem em Moscovici sua primeira base teórica, em 1961, na obra “A Psicanálise, sua imagem e seu público”66. Moscovici S. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.. O objetivo da Teoria das Representações Sociais (TRS) é explicar os fenômenos do homem segundo uma perspectiva coletiva, mas sem perder de vista a individualidade dos sujeitos.

Moscovici negou-se a fazer uma conceituação formal sobre a TRS, mas Jodelet se incumbira de definir sinteticamente as RS como “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”77. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Vozes; 1996. (p. 30).

A representação social designa um mundo de pensamento social que compreende uma gama enorme de significados, produzida por meio do mundo simbólico, por meio da palavra comunicada77. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Vozes; 1996.. As representações são criadas devido à necessidade de identificação e resolução dos problemas gerados pelo mundo em constante transformação, o que dá origem a novos conhecimentos científicos. Logo, o processo de formação de representações que dá sentido a esses conhecimentos científicos é renovado.

Moscovici propõe dois universos de pensamento distintos, mas não opostos, incluídos nas representações de determinado objeto: o universo consensual e o universo reificado. O universo consensual é formado por conhecimentos elaborados pelos sujeitos no seio da vida social e rotineira, em que se produzem e circulam as representações. As teorias do senso comum elaboradas no universo consensual não conhecem limites, obedecendo à lógica que é natural, e mostram-se mais sensíveis a sentimentos compartilhados de verdade do que a requisitos de objetividade77. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Vozes; 1996.. Já o universo reificado consiste em conhecimento obtido por meio da experimentação, objetividade e rigor teórico-metodológico da Ciência.

Ao investigarmos como ocorre o processo de construção das representações de uma sociedade em relação a algum item determinado, estaremos interpretando os símbolos que são evocados para compor um recorte do imaginário social.

Um acontecimento surge no horizonte social que não se pode mostrar indiferente; mobiliza medo, atenção e uma atividade cognitiva para compreendê-lo, dominá-lo e dele se defender. A falta de informação e a incerteza da Ciência favorecem o surgimento de representações que vão circular de boca em boca ou pular de um veículo de comunicação a outro88. Jodelet D. As Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 2001.. (p. 20)

Segundo Jodelet, dependendo da forma como se fixa no cotidiano dos sujeitos, essa nova representação interferirá positiva ou negativamente.

Reconhece-se que as representações sociais – enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação com mundo e com os outros – orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais. Da mesma forma, elas intervêm em processos variados, tais como a difusão e assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais88. Jodelet D. As Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 2001.. (p. 20)

Entretanto, essa fixação também não se dá de maneira neutra: ela é baseada nos protótipos armazenados na memória, corroborando a ideia de que há um vínculo estreito entre a dimensão do imaginário e do afetivo. Na visão de Sawaia:

Com a perspectiva de que a Representação Social é intrinsecamente carregada de afeto, a análise do processo de ancoragem e objetivação está sendo enriquecida com a participação da memória afetiva-emocional no pensamento de fundo, permitindo entender a participação do emocional no processo de produção de ideias hegemônicas e vice-versa. Os afetos, induzidos pela reativação da memória emocional, colocam o sistema representacional num estado receptivo que lhe permita assimilar ou criar novos elementos que contribuam para sua expressão e transformação. Elementos novos vão se inscrevendo na memória emocional, num contexto de diálogo interacional, em que podem ocorrer mudanças e conservação99. Sawaia BB. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense; 2004.. (p. 81)

Para Abric1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998., as representações têm quatro funções: (a) função de saber, que permite compreender e explicar a realidade, já que é um saber prático do senso comum, além de permitir que os atores sociais adquiram conhecimentos e os integrem em um quadro assimilável e compreensível para eles próprios; (b) função identitária, que define a identidade e permite a proteção da especificidade dos grupos; (c) função de orientação, que orienta os comportamentos e as práticas, já que as representações constituem um guia para a ação e são prescritivas de comportamentos ou práticas; (d) função justificadora, que permite a justificativa das tomadas de posição e dos comportamentos. A RS pode ser compreendida como uma forma típica de conhecimento das sociedades, cuja velocidade da informação promove um processamento constante do novo, evitando a cristalização de tradições. A RS não é uma cópia ou um reflexo, nem uma imagem fotográfica da realidade, mas, sim, uma versão desta, e está em transformação com o objeto que tenta elaborar, sendo, portanto, dinâmica e móvel1111. Arruda A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cad Pesqui. 2002;(117):127–47..

Por falta de um esclarecimento maior e também de uma massa teórica e crítica que dê conta dos meandros existentes nas relações entre homem e tecnologia, mais especificamente sobre o uso da internet e sua relação com a prática cotidiana, os sujeitos mostram-se ainda, em sua grande maioria, inseguros, céticos ou, às vezes, otimistas ao extremo, repetindo e reforçando mitos das mais diversas categorias. Assim, acredita-se que seja importante para o processo de incorporação da internet desvelar as representações sobre as concepções que os sujeitos possuem, a fim de propor reflexões sobre as próprias representações, haja vista estarmos na infância da cibercultura. Além de se desenvolver uma concepção crítica, “é uma atividade metacognitiva, uma nova perspectiva nos conceitos de aprender e de motivação para aprender”1212. Silva CMT, Azevedo NSN. Mudanças na formação de professores: proposta de estratégia em relação às tecnologias de informação e comunicação. Ens Avaliação e Políticas Públicas em Educ. 2001;9(31):193–204. (p. 198).

Por todo o exposto, pode-se inferir que as representações frente à tecnologia têm uma base social, compartilhada pelos sujeitos que compõem um mesmo grupo cultural, mas também há uma outra individual, subjetiva, que é importante por interferir nas formas de apropriação e de uso da internet.

METODOLOGIA DO ESTUDO

Diferentes técnicas de pesquisa existem em estudos sobre a TRS. Nesta pesquisa, na identificação e análise do núcleo central, foi utilizada a técnica das evocações livres, também conhecida como análise das quatro casas ou análise prototípica.

A análise das evocações livres fundamenta-se na abordagem estrutural, uma das escolas existentes para o estudo da TRS, desenvolvida por Jean-Claude Abric. Segundo a abordagem estrutural, as RS são um sistema formado por dois tipos de elementos: um núcleo central e o sistema periférico, que possuem características e funções distintas.

A organização de uma RS apresenta uma característica específica, a de ser organizada em torno de um núcleo central, que se constitui de um ou mais elementos, que dão significado à representação1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998..

O núcleo central é composto por um conjunto limitado de elementos que define e organiza a RS, além de ser compartilhado pelo grupo, e por seus elementos que oferecem maior resistência à mudança, persistindo por mais tempo. Qualquer mudança nesse sistema central implica uma mudança da representação. O sistema periférico das representações compreende a maior parte de seus elementos, que contêm natureza condicional, caráter mais flexível e prático, adaptando a representação às experiências cotidianas77. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Vozes; 1996.. O Tipo de pós-graduação apresenta as características do sistema central e do periférico das RS segundo Abric1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998..

QUADRO 1
Características do sistema central e do sistema periférico de uma representação
TABELA 1
Uso da internet no cotidiano

Assim, a abordagem estrutural procura identificar a estrutura ou o núcleo das representações, como elas se organizam e quais elementos as constituem, ocupando-se, então, de seu conteúdo cognitivo. Para Abric1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998., os elementos pertencentes ao núcleo central são mais facilmente detectáveis por meio de técnicas de associação livre de palavras. O maior índice de preferência e a maior prioridade na ordem das evocações, durante os testes de associações livres, configuram seus indicadores. A combinação desses dois aspectos revela o conjunto de itens que indicam o coração da representação.

Aplicação da técnica da evocação livre

O questionário da pesquisa, composto por perguntas abertas e fechadas, permaneceu disponível online de 3 a 23 de janeiro de 2015. Para sua criação e hospedagem, utilizou-se o software SurveyMonkey®. Antes de sua aplicação, foi realizado um pré-teste com grupos similares. Os resultados obtidos no pré-teste possibilitaram verificar a necessidade de adequações na formulação das questões e modificações no tipo de instrumento a ser utilizado. Assim, o questionário foi validado, contemplando 57 questões.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) sob o parecer 432.056.

A técnica de evocação livre consistiu em pedir aos sujeitos que escrevessem as primeiras cinco palavras ou expressões que lhes ocorressem (sendo que apenas três eram obrigatórias), na ordem em que surgissem, associadas à expressão indutora “aprender com apoio da internet”. Em seguida, foi solicitado que hierarquizassem as evocações de acordo com a importância atribuída. Dessa forma, têm-se os conteúdos evocados prontamente com os elementos mais subjetivos e hierarquizados. Ao hierarquizar, os sujeitos têm a oportunidade de refletir sobre os termos evocados e de trazer à tona elementos que fazem parte de seus repertórios cognitivos. Por fim, foi solicitado que avaliassem o sentido atribuído a cada uma das evocações em relação ao termo indutor como positivo, neutro ou negativo. Foram feitos dois vídeos para orientar os participantes, que estavam inseridos no questionário online.

Elaboração do dicionário

Com base no arcabouço de respostas, foi elaborado o dicionário. Para a construção do dicionário, foi adotado o tratamento pelo critério da lematização, agrupando-se palavras que compartilham o mesmo radical e classe (por exemplo: docente e docência), sendo complementado pelo critério semântico, classificando-se as evocações conforme um significado em comum (por exemplo: professor, docente, docência) e mantendo-se os termos de maior frequência. Foram mantidas as expressões ou termos compostos, feita a correção ortográfica, e o texto foi colocado em letra maiúscula. O material foi, então, convertido em formato csv pelo Excel.

Preparação dos dados para análise

O dicionário com as evocações constituiu o corpus para análise com 1.035 palavras ou expressões, sendo 338 diferentes. Passou por processo de análise pelo software Evoc (Ensemble de programmes permettant l’analyse des evocations), versão de 2003, desenvolvido por Vergès1313. Vergès P. Conjunto de programas que permitem a análise de evocações. EVOC, Manual, versão 2002., que calcula, para o conjunto do corpus, a frequência simples de cada palavra evocada, bem como a média das ordens médias de evocação.

Os programas do Evoc utilizados na análise foram:

  • Lexique: possibilita a construção de um vocabulário para as evocações (léxico, vocabulário);

  • Trievoc: organiza as palavras em ordem alfabética (“triagem das evocações”);

  • Nettoie: permite a revisão e as alterações necessárias dos termos evocados e listados em ordem alfabética;

  • Rangmot: analisa os dados e gera uma lista com todas as palavras evocadas em ordem alfabética, com os cálculos estatísticos da frequência das palavras e a posição em que elas foram citadas (ordem de evocação); frequência total de cada palavra; cálculo da média ponderada da ordem de evocação de cada palavra; frequência total e a média geral da ordem de evocações do conjunto dos termos estudados, obtida por meio da soma das médias ponderadas da ordem de evocações dos termos estudados e dividida pelo total das palavras padronizadas (palavras diferentes);

  • Rangfrq: organiza as evocações de acordo com suas frequências e ordem de evocações e gera o Quadro de Quatro Casas com as palavras (evocações).

Dentre estes, destaca-se o programa Rangmot, que tem como função o fornecimento do relatório com todas as palavras evocadas e os cálculos estatísticos que subsidiam a análise do pesquisador para a construção do Quadro de Quatro Casas. Com base na Lei de Zipf, são estabelecidos os parâmetros para a indicação da frequência mínima e da frequência intermediária requerida pelo programa Rangfrq, que fornece o Quadro de Quatro Casas e possibilita a identificação das palavras possivelmente pertencentes ao núcleo central de uma representação.

Se fôssemos seguir a Lei de Zipf rigorosamente para a elaboração do Quadro de Quatro Casas deste estudo, o ponto de corte (frequência mínima) seria 38, porque nesse ponto houve a primeira estabilização das frequências. Porém, tendo em vista que os quadrantes gerados pelo Evoc com ponto de corte 38 ficariam empobrecidos para produzir as análises, foi definido outro ponto de corte, representado pela frequência mínima 12, segundo ponto em que ocorreu estabilização das frequências. A demora para a estabilização ocorrer talvez esteja ligada aos altos números de sujeitos (277) e de palavras citadas ao final do dicionário (1.035, sendo 338 diferentes).

Para a análise da estrutura representacional, foi empregada a técnica de distribuição dos termos produzidos no Quadro de Quatro Casas elaborado pelo software, em que são considerados os critérios de frequência (observado por meio da quantidade de palavras), de ordem de evocação (os termos evocados mais prontamente) ou de importância (termos hierarquizados). No caso deste estudo, os próprios sujeitos hierarquizaram os termos conforme a importância atribuída.

Assim, a distribuição dos termos nos quadrantes obedeceu aos seguintes critérios: os termos que se destacaram em relação à frequência (mais frequentes) e hierarquia (mais importantes de acordo com os sujeitos) foram localizados no quadrante superior esquerdo, formando o provável núcleo central da representação. O quadrante inferior esquerdo é denominado “zona de contraste” e é constituído por termos evocados que atenderam ao critério de importância, mas não de frequência. Os elementos que apresentam alta ou baixa frequência (acima ou abaixo da média) e hierarquia de menor importância localizaram-se nos quadrantes direitos superior (primeira periferia) e inferior (segunda periferia), respectivamente, correspondendo ao sistema periférico da representação. Os termos que atendem concomitantemente aos critérios de evocação com maior frequência e mais prontamente evocados têm maior importância no esquema cognitivo do sujeito, ou seja, configurariam provavelmente núcleos centrais da RS do objeto pesquisado. A Figura 1 apresenta a representação esquemática do Quadro de Quatro Casas segundo Vergès1313. Vergès P. Conjunto de programas que permitem a análise de evocações. EVOC, Manual, versão 2002..

FIGURA 1
Representação esquemática do Quadro de Quatro Casas

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Perfil dos sujeitos

Do total de convites enviados aos participantes, responderam 23% dos profissionais de Enfermagem, 23% de Odontologia e 11% de Medicina. Foram respondidos 356 questionários, mas somente 277 foram plenamente finalizados. Sendo assim, as análises foram feitas apenas com base nestes últimos.

Em relação à faixa etária dos profissionais, optou-se por agrupar os respondentes em três categorias: até 29 anos; de 30 a 39 anos; e 40 anos ou mais (Figura 2). Nota-se uma distribuição relativamente proporcional dos profissionais de Enfermagem em relação à faixa etária; nos participantes de Odontologia, a maior parte do grupo possui mais de 40 anos; já na Medicina, grande parte do grupo tem até 29 anos. Esses profissionais da medicina estão inseridos no Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab) do Ministério da Saúde, o que justifica a faixa etária, e uma das atividades do Provab é a realização do curso de especialização da UNA-SUS. A grande maioria desses profissionais é formada por recentes egressos dos cursos de graduação e participa do programa no decorrer do primeiro ano de exercício da medicina, normalmente anterior à residência médica.

FIGURA 2
Gráfico da faixa etária dos sujeitos

O sexo feminino é predominante, com 74% (n = 212) dos participantes. A Enfermagem possui a maior quantidade de participantes do sexo feminino, 84% (n = 80); a Odontologia 76% (n = 66); já na Medicina, percebe-se maior equilíbrio entre os sexos: 38% (n = 40) de homens e 62% (n = 66) de mulheres. A grande maioria tem entre um [n = 112 (40%)] e dois [n = 115 (42%)] vínculos empregatícios; os demais possuem três ou mais vínculos, sendo que, do total, 93% (n = 257) disseram que atuam no setor público, enquanto 36% (n = 99) no setor privado. Quanto ao nível de atenção à saúde, 88% dos indivíduos (n = 245) trabalham no nível primário.

A Tipo de instituição de ensino resume as informações sobre as três perguntas referentes à utilização da internet no cotidiano dos profissionais da saúde pesquisados. Conforme se pode notar, a maioria [n = 189 (68%)] utiliza a internet várias vezes ao dia, principalmente por meio de smartphone [n = 144 (52%)] e notebook [n = 93 (34%)] para acessar sites de busca [n = 113 (41%)], redes sociais [n = 69 (25%)] e sites de pesquisa [n = 45 (16%)], o que demonstra que é uma população com alto grau de conexão à internet.

Quadro de Quatro Casas

As colunas do Quadro de Quatro Casas (Quadro 2) contêm os dados de frequência média (Freq. Méd), termo evocado, frequência (Freq) e avaliação do sentido de cada um dos termos sendo identificado como Pos (positivo), Neutro e Neg (negativo), e por último a Ordem Média das Evocações (O.M.E.).

QUADRO 2
Quadro de Quatro Casas – Expressão indutora: aprender com apoio da internet

Como explicado anteriormente, a frequência mínima estabelecida do corpus geral para a elaboração do Quadro de Quatro Casas construído para a expressão indutora “aprender com apoio da internet” foi 12, ou seja, as palavras evocadas que têm frequência igual ou menor que 12 foram desconsideradas para a construção desses quadrantes. Apenas o termo “ampliação” obteve frequência 12. A frequência média foi 31, e a O.M.E., numa escala de 1 a 5, foi de 2,4. Relembra-se que, quanto menor a O.M.E., mais importante é a palavra de acordo com a hierarquização dos sujeitos.

Inicialmente, ao se analisar a avaliação do sentido atribuído ao conjunto de termos evocados, percebe-se a positividade da RS. Dos 1.035 termos evocados, 79% foram avaliados pelos participantes como positivos, 9% neutros e 12% negativos. É interessante observar como um mesmo termo evocado pode ser avaliado pelos participantes de forma positiva, neutra ou negativa, como no caso dos termos “praticidade”, “disciplina”, “rapidez” e “comodidade”.

No que se refere à análise das evocações do Quadro de Quatro Casas, no quadrante esquerdo superior estão presentes as palavras mais prontamente evocadas e com maior importância para os sujeitos, sendo consideradas a partir da hierarquização. Assim, os termos “facilidade” e “praticidade” caracterizam o possível núcleo central da representação sobre a expressão indutora “aprender com apoio da internet”.

Segundo Abric1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998., os elementos do núcleo central podem ser classificados em dois tipos: funcionais e normativos. Os normativos seriam diretamente originados do sistema de valores dos indivíduos, consistindo em uma dimensão fundamentalmente social do núcleo. Os funcionais são associados às características descritivas e à inscrição do objeto nas práticas sociais ou operatórias, determinando as condutas diante do objeto. Assim, pode-se dizer que os elementos identificados na composição do Quadro de Quatro Casas como provavelmente centrais neste estudo têm caráter normativo, pois o termo “facilidade” caracteriza o juízo de valor em relação à RS, bem como caráter funcional, já que “praticidade” está associada à conduta concreta de uso da internet para a aprendizagem, sendo que o elemento de maior frequência é “facilidade”. Os dois termos, “praticidade” e “facilidade”, estão relacionados; afinal, demonstram o quanto o uso da internet facilita a vida na sociedade do consumo, da instantaneidade, da leitura descuidada, do pensamento apressado e distraído, da cultura do fast food conforme preconizam os tecnófobos. Vale ressaltar que nem todos os elementos presentes nesse quadrante são obrigatoriamente centrais, porém o núcleo central se encontra nesse quadrante77. Sá CP. Núcleo central das representações sociais. Vozes; 1996..

No quadrante inferior esquerdo encontram-se os termos “acessibilidade”, “agilidade”, “ampliação”, “conhecimento”, “disciplina”, “flexibilidade”, “oportunidade”. Estes elementos fazem parte da chamada zona de contraste, sendo enunciados por um quantitativo menor de sujeitos, porém com um grau de importância relevante por serem mais prontamente evocados. No caso deste estudo, estão hierarquizados de acordo com o nível de importância atribuída pelos sujeitos.

Em termos de significado, foram gerados três grupos neste quadrante: (A) “acessibilidade”, “flexibilidade”, “agilidade”; (B) “ampliação”, “conhecimento”, “oportunidade”; (C) “disciplina”. No grupo A estão presentes os termos de caráter mais correlacionado aos motivos de uso da internet: a aprendizagem na internet é acessível a quem possui conectividade e um dispositivo; flexível, porque pode ser acessada em qualquer hora e de qualquer lugar; e ágil, pois em apenas um clique se obtém a informação pesquisada. No grupo B estão os termos ligados ao que se busca ao usar a internet para a aprendizagem, podendo-se agrupá-los na expressão “oportunidade de ampliação do conhecimento”. O grupo C, que contém um único termo evocado, “disciplina”, possui a O.M.E. mais baixa entre todos os evocados, o que significa que tem uma importância maior do que todos os outros termos para os sujeitos da pesquisa. Esse termo pode estar atrelado aos aspectos que são destacados quando se reflete sobre a necessidade de buscar fontes confiáveis na internet, bem como aos cuidados em geral para uso da rede. Outra interpretação associada ao termo “disciplina” pode ser a necessidade de responsabilização do próprio sujeito pelo gerenciamento do seu tempo, a autonomia na definição das trilhas de aprendizagem e na autoavaliação dos conhecimentos adquiridos, atividades essas às quais não se está acostumado no processo de educação formal.

A zona de contraste pode revelar a existência de um subgrupo com uma RS diferente, cujo núcleo central pode ser constituído por um ou mais elementos deste quadrante. Ela pode, entretanto, igualmente, se apresentar como um complemento da primeira periferia, pois os elementos do grupo A – “acessibilidade”, “agilidade”, “flexibilidade” – parecem reforçar o posicionamento positivo, por parte dos sujeitos, presente no possível núcleo central através das palavras “facilidade” e “praticidade”. De certa forma, o termo “disciplina”, presente na zona de contraste e evocado por 25 participantes dos 277, pode indicar a existência de um subgrupo, pois representa o contraponto do consumo tipo fast food de informações.

Os quadrantes do lado direito compõem a periferia da representação e auxiliam a compreensão do sistema central, além de estarem mais ligados à prática dos sujeitos. No quadrante superior direito encontra-se o termo “rapidez”. Os elementos que compõem este quadrante constituem a primeira periferia da RS, sendo por isso considerados os termos periféricos mais importantes. Os termos presentes nesta casa apresentam elevada frequência e menor importância atribuída pelos sujeitos dentre a totalidade das evocações referidas. Assim, a palavra “rapidez” reforça a ideia presente no quadrante superior esquerdo – “facilidade” e “praticidade”. Com a ubiquidade da internet, facilitada pelos dispositivos móveis, encontra-se uma informação sobre qualquer assunto, independentemente da hora ou da localização. Dessa forma, a rapidez é um elemento que compõe a primeira periferia.

O quadrante inferior direito é a segunda periferia, que agrupa os termos que apresentam frequência baixa e não são tão importantes. É composto pelos elementos “atualização”, “comodidade” e “tempo”, que também estão relacionados ao quadrante superior esquerdo. A “atualização” pode ser destacada como um termo importante para o profissional de saúde, já que é necessária tanto para se manter no mercado de trabalho quanto para o exercício da profissão com qualidade, principalmente levando em consideração o desenvolvimento científico e tecnológico na área da saúde.

O sistema periférico da representação caracteriza-se por se organizar em torno do núcleo central. Estes elementos podem estar mais ou menos próximos do núcleo central. Quanto mais próximos estão, mais importante seu papel na concretização do significado da representação; quando distantes, justificam, esclarecem e ilustram o significado. O sistema periférico constitui a interface entre o núcleo central e a situação concreta em que se constrói a representação. Observa-se que não se trata de um subconjunto menor da representação, mas, sim, fundamental, haja vista estar associado ao núcleo central, permitindo a ancoragem na realidade e a inserção de novos elementos na representação, pois está mais associado às características individuais e ao contexto imediato dos sujeitos1010. Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB;1998..

Com base nos termos identificados nas falas dos participantes e considerando que a ciência tem produzido teorias sobre a cibercultura, que se dá em paralelo ao próprio processo de apropriação tecnológica pela sociedade, percebe-se que as representações sobre o uso da internet sofrem grande influência do universo consensual, ou seja, da prática vivenciada no cotidiano.

O caráter científico, reificado, das RS, com aspectos valorizados pelos teóricos da cibercultura, como, por exemplo, a aprendizagem em redes, o compartilhamento de saberes, a democratização da informação ou a comunicação ubíqua, não foi identificado de forma direta. Supõe-se que possa estar implícito nos termos evocados pelos sujeitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A internet passou a fazer parte de nossas vidas sem que estivéssemos preparados para essa nova ferramenta na plenitude de suas possibilidades. Em poucos anos de existência, tornou-se indispensável ao cotidiano da vida pessoal e profissional, e a tendência é que a cada dia se estejamos todos mais dependentes desses aparatos.

Identificou-se, com base neste trabalho, que a representação social sobre “aprender com apoio da internet” de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas que participaram da pesquisa apresenta uma estrutura em que estão presentes elementos mais positivos do que negativos ou neutros, interligados, não destoando uns dos outros. Com isso, o que se observa é que há uma coerência entre os elementos evocados. Essa coerência também pode ser identificada por meio das justificativas e exemplificações dadas, objetos de análise da tese. Os prováveis elementos centrais demonstram o caráter funcional e normativo da representação identificada por meio dos termos “facilidade” e “praticidade”. A primeira e segunda periferias apresentam elementos que complementam e reforçam o possível núcleo central com os termos “acessibilidade”, “agilidade” e “flexibilidade”, ligados à cultura do fast food. Mas a zona de contraste, por conter termos menos evocados porém com maior importância atribuída, pode indicar a existência de subgrupos pela identificação dos termos “ampliação”, “conhecimento”, “oportunidade” e “disciplina”, o que será objeto de futuras análises.

Nesse contexto de transformação acelerada, é necessário desenvolver ações nos processos de formação que subsidiem uma prática mais reflexiva de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas. Destaca-se a preocupação de que o simples consumo de informações, para os sujeitos, esteja justificando o uso da internet – e a ele se restringindo – em detrimento das possibilidades educacionais da cibercultura.

Como estratégia pedagógica, defende-se que a discussão sobre o impacto do uso da internet não se restrinja ao uso desta por pacientes, mas que, nos processos de formação do profissional de saúde, se reflita sobre o uso que os profissionais fazem da internet, aqui caracterizada como uma ferramenta acessível, ágil e flexível. Como implicação para a educação médica, sugere-se inserir esta temática nos currículos transversalmente às disciplinas dos cursos de formação inicial e permanente, com enfoque especial em estratégias de busca em sites de credibilidade quanto à confiabilidade das informações.

Propõe-se que se debata nas atividades educacionais e em situações do cotidiano do profissional da saúde se a emergência da web 2.0, da cibercultura, seria de fato um fenômeno que impulsiona a inteligência coletiva ou se simplesmente favorece a cultura do fast food, do imediatismo, da instantaneidade, em que qualquer indivíduo se apropria rapidamente de informações, sem um mínimo de reflexão sobre esse consumo aligeirado, como identificado nas representações sociais dos sujeitos da pesquisa. Seria fato que a aprendizagem está se tornando cada vez mais superficial? Quais os impactos de uma informação superficial na conduta médica? Não se trata de demonizar a internet, e conceber um mundo desconectado é inimaginável. Porém, seus custos em longo prazo podem ser altos se a lucidez não prevalecer neste momento de infância da cibercultura.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    23 Jun 2015
  • Aceito
    12 Jan 2016
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