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Sphallenum tuberosum (Coleopteria: Cerambycidae) em plantas de Eucalyptus spp. no Município de Prado, Bahia

Sphallenum tuberosum (Coleoptera: Cerambycidae) in Eucalyptus spp. plants in the Municipality of Prado, Bahia, Brazil

Resumos

Foi observada a ocorrência da coleobroca Sphallenum tuberosum Bates, 1870 (Coleoptera: Cerambycidae) atacando árvores de Eucalyptus cloesiana e Eucalyptus grandis no Município de Prado, Estado da Bahia, em setembro de 2002. As árvores atacadas, saudáveis ou decadentes, apresentavam troncos envoltos por cipós da família Malpighiaceae, gênero Stigmaphyllon, que serviam de suporte para penetração da broca no tronco do eucalipto. As galerias formadas por larvas de S. tuberosum apresentavam direção descendente.

Cerambycidae; Sphallenum; coleobroca; eucalipto


The woodborer Sphallenum tuberosum Bates, 1870 (Coleoptera: Cerambycidae) was found damaging Eucalyptus cloesiana and Eucalyptus grandis trees in the Municipality of Prado, State of Bahia, Brazil in September 2002. Damaged trees, either healthy or decadent, had liana of the genus Stigmaphyllon (Malpighiaceae) envolving their trunks which represents a support for the woodborer larvae to penetrate into trunks of eucalyptus forming downward galleries.

Cerambycidae; Sphallenum; woodborer; eucalypt


NOTA TÉCNICA

Sphallenum tuberosum (Coleopteria: Cerambycidae) em plantas de Eucalyptus spp. no Município de Prado, Bahia

Sphallenum tuberosum (Coleoptera: Cerambycidae) in Eucalyptus spp. plants in the Municipality of Prado, Bahia, Brazil

José Cola ZanuncioI; Roosevelt de Paula AlmadaII; Marcos Franklin SossaiI; Ronald ZanettiIII; Teresinha Vinha ZanuncioIV; Maria do Carmo Queiroz FialhoI

IDepartamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa, Minas Gerais. E-mail: <zanuncio@ufv.br>, <msossai@msn.com>

IIGerência de Meio Ambiente, CAF Santa Bárbara, 30130-915 Ltda. Belo Horizonte, Minas Gerais

IIIDepartamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras, 37200-000 Lavras, Minas Gerais. E-mail: <zanetti@ufla.br>

IVBolsista de Pós-Doutorado do CNPq, vinculada ao Departamento de Biologia Animal da UFV. E-mail: <tvzanuncio@ufv.br>

RESUMO

Foi observada a ocorrência da coleobroca Sphallenum tuberosum Bates, 1870 (Coleoptera: Cerambycidae) atacando árvores de Eucalyptus cloesiana e Eucalyptus grandis no Município de Prado, Estado da Bahia, em setembro de 2002. As árvores atacadas, saudáveis ou decadentes, apresentavam troncos envoltos por cipós da família Malpighiaceae, gênero Stigmaphyllon, que serviam de suporte para penetração da broca no tronco do eucalipto. As galerias formadas por larvas de S. tuberosum apresentavam direção descendente.

Palavras-chave: Cerambycidae, Sphallenum, coleobroca e eucalipto.

ABSTRACT

The woodborer Sphallenum tuberosum Bates, 1870 (Coleoptera: Cerambycidae) was found damaging Eucalyptus cloesiana and Eucalyptus grandis trees in the Municipality of Prado, State of Bahia, Brazil in September 2002. Damaged trees, either healthy or decadent, had liana of the genus Stigmaphyllon (Malpighiaceae) envolving their trunks which represents a support for the woodborer larvae to penetrate into trunks of eucalyptus forming downward galleries.

Key words: Cerambycidae, Sphallenum, woodborer and eucalypt.

O Brasil possui 2,9 milhões de hectares cultivados com espécies do gênero Eucalyptus (SBS, 2002). Nessa cultura foi relatada a ocorrência de grande número de espécies de insetos, sendo muitas consideradas pragas (ZANUNCIO, 1993), com destaque para formigas cortadeiras, lepidópteros e coleópteros desfolhadores e broqueadores. Embora as formigas cortadeiras figurem como a principal praga em eucaliptais, os coleópteros broqueadores vêm assumindo maior importância devido ao incremento de seus danos, especialmente em florestas destinadas à produção de madeira para serraria.

Com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre coleópteros broqueadores em plantas de eucalipto, procurou-se coletar, identificar e descrever os danos em povoamentos de eucalipto, plantados em 1998 com espaçamento de 4,0 x 2,0 m em solo argilo-arenoso, por uma espécie de Coleoptera no Município de Prado, Estado da Bahia.

Árvores atacadas foram derrubadas, e obtiveram-se discos de madeira com 15 a 25 cm de altura, os quais foram enviados para o Insetário do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Estado de Minas Gerais, onde foram analisados. Esses discos apresentavam perfurações, que foram abertas com formão e martelo para obtenção do diâmetro, comprimento e direção das galerias da coleobroca, além de se manterem, em laboratório, discos de madeira com insetos na fase larval para obtenção de seus adultos.

Larvas de uma coleobroca perfuraram troncos do eucalipto no sentido alburno-cerne. A direção dessas galerias foi, inicialmente, para o centro do tronco de eucalipto, com inclinação ascendente de aproxima-damente 45º com o eixo da planta, e teve sete a 14 cm de comprimento. A partir desse ponto, no cerne da árvore de eucalipto, a larva da coleobroca passou a perfurar paralelamente ao eixo da árvore de cima para baixo, o que foi comprovado pela presença de larvas dessa espécie no interior das galerias, ainda em desenvolvimento, na direção mencionada (Figura 1).


Verificou-se acúmulo de restos de madeira e excrementos nas galerias descendentes (Figura 1), possivelmente devido à inclinação, o que pode ser uma estratégia dessa broca para evitar a entrada de inimigos naturais em suas galerias. Ao finalizar a galeria, a larva da coleobroca cessava seus movimentos e permanecia no mesmo local até o estágio adulto.

Adultos da broca foram montados e identificados por comparação com a coleção entomológica do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa e confirmada pelo Dr. Ubirajara Ribeiro Martins, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, como Sphallenum tuberosum Bates, 1870 (Coleoptera: Cerambycidae). Adultos desse besouro apresentam corpo com coloração geral escura e três a quatro cm de comprimento, excluindo-se suas antenas (Figura 2).


As espécies de eucalipto atacadas por S. tuberosum foram Eucalyptus cloeziana e Eucalyptus grandis, sendo a primeira consideravelmente mais infestada e, portanto, selecionada para avaliação de danos por essa broca. Por isso, além da identificação, avaliou-se a porcentagem de dano em dois talhões de Eucalyptus cloeziana de aproximadamente 50 ha cada, onde foram contados o número de árvores amostradas, de árvores com cipós, tipos de cipós e o número de árvores com larvas ou perfuradas pela broca em cinco parcelas de 432 m2 por talhão.

Das 460 árvores avaliadas, apenas 4,8% estavam sendo atacadas por S. tuberosum (Quadro 1), tendo todas elas um cipó da família Malpighiaceae, gênero Stigmaphyllon, que servia de suporte para a penetração dessa broca no tronco do eucalipto. O dano ao cipó ocorria apenas quando o seu diâmetro atingia pelo menos 3 cm, e a broca penetrava no tronco de eucalipto a qualquer altura, desde que houvesse a presença do cipó. Apenas 20% das plantas avaliadas apresentavam esse cipó, e o ataque dessa broca ocorreu em árvores aparentemente sadias ou fisiologicamente debilitadas em intensidade semelhante. Plantas com outro tipo de cipó não foram atacadas por S. tuberosum.


Amostras de cipós com larvas de S. tuberosum (Figura 3) indicam que esse inseto oviposita, preferencialmente, nessa planta, e suas larvas migram posteriormente, em diferentes estádios, para o interior do tronco do eucalipto. Isso explicaria a existência de orifícios de entrada dessa broca, com diferentes diâmetros, em troncos de eucalipto (Figura 1) e que esta não teria um período ou idade definida para iniciar suas galerias nessa planta. É possível que a passagem da broca, do cipó para o tronco do eucalipto, ocorra quando o local desse cipó, onde a larva se encontra, entre em contato direto com o tronco do eucalipto, não importando o estádio da broca. Além disso, a presença de pupas de S. tuberosum nos cipós (Figura 3) pode indicar que essa broca possa completar seu desenvolvimento nessa planta, quando a posição onde se encontra no cipó não entra em contato direto com o tronco do eucalipto.


A presença da broca S. tuberosum, em diferentes estádios, no interior do cipó Stimaphyllon e de troncos de eucalipto difere do observado para outros coleópteros broqueadores, como das famílias Euplatypodidae e Scolytidae, que passam todo o seu ciclo no interior das galerias no tronco da planta atacada (ZANUNCIO et al., 2002). Muitas espécies dessas famílias são pragas secundárias, por atacarem e se desenvolverem em árvores danificadas por raios, fogo ou doenças, atacadas por outros insetos, nutricionalmente deficientes, por excesso ou falta de água e aquelas caídas (FREDERICKS e JENKINS, 1988). Isso foi relatado para plantas de Pinus sp. em Ribas do Rio Pardo, Estado do Mato Grosso do Sul, as quais foram atacadas por coleobrocas das famílias Scolytidae e Euplatypodidae após a ocorrência de incêndio (ZANUNCIO et al., 2002). Além disso, o hábito alimentar de S. tuberosum, de poder perfurar o tronco de eucalipto desde o início de seu desenvolvimento, difere daquele de outros coleópteros broqueadores da família Cerambycidae que atacam plantas de eucalipto, como Phoracantha semipunctata (Coleoptera: Cerambycidae), presente na maioria dos países onde se cultiva o eucalipto. Larvas dessa broca alimentam-se do tecido subcortical e perfuram o lenho, apenas, no último estádio para construir sua câmara pupal (RIBEIRO et al., 2000).

Danos por S. tuberosum podem ser caracterizados por perfurações nos troncos do eucalipto com galerias de aproximadamente 2 cm de diâmetro (Figuras 1 e 3), o que pode levar as plantas à morte e inviabilizar o uso de sua madeira para, por exemplo, construção civil ou serraria.

A ocorrência de S. tuberosum em plantas de eucalipto deve ser melhor estudada, pois uma espécie desse gênero foi relatada no Brasil broqueando troncos de Eucalyptus citriodora e Eucalyptus tereticornis (BERTI FILHO, 1997). Finalmente, a presença de larvas de S. tuberosum apenas em árvores de eucalipto com cipós indica ser o mesmo necessário para o estabelecimento e penetração dessa broca nos troncos dessa planta. Por isso, recomenda-se a eliminação de cipós do gênero Stigmaphyllon em plantas de eucalipto, como forma de prevenção e controle dessa praga. Isso foi feito na área onde esse inseto foi encontrado, e sua população decresceu a níveis insignificantes.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo suporte financeiro; e ao Professor Dr. Ubirajara Ribeiro Martins, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, pela identificação do inseto coletado.

Recebido em 01.12.2003 e aceito para publicação em 25.11.2004.

  • BERTI FILHO, E. Impact of Coleoptera Cerambycidae on Eucalyptus forests in Brazil. Scientia Forestalis, n.52, p.51-54, 1997.
  • FREDERICKS, S.E.; JENKINS, M.J. Douglas-fir beetle (Dendroctonus pseudotsuga Hopkins, Coleoptera: Scolytidae) brood production on Douglas-fir defoliated by western spruce budworm (Choristoneura occidentalis Freeman, Lepidoptera: Tortricidae) in Logan Canyon, Utah. Great Basin Naturalist, v.48, n.3, p.348-351, 1988.
  • RIBEIRO, G.T.; ZANUNCIO, J.C.; SOSSAI, M.F. A coleobroca Phoracantha semipunctata e seu potencial de dano em Eucalyptus no Brasil. Revista Folha Florestal, n.96, p.24-26, 2000.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA - SBS. Estatísticas Florestais 2002, [04 dez. 2002]. (http://www.florestal.ipef.br/sbs/estatistica).
  • ZANUNCIO, J.C. (Coord.). Lepidoptera desfolhadores de eucalipto: biologia, ecologia e controle. Viçosa, MG: Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais e Sociedade de Investigações Florestais, Folha Florestal, 1993. 140p.
  • ZANUNCIO, J.C. et al. Occurrence of Euplatypus parallelus, Euplatypus sp. (Col.: Euplatypodidae) and Xyleborus affinis (Col.: Scolytidae) in Pinus sp. in Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, Brazil. Revista Árvore, v.26, n.3, p.387-389, 2002.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jul 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005

Histórico

  • Aceito
    25 Nov 2004
  • Recebido
    01 Dez 2003
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