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Disponibilidade hídrica do solo e produtividade do eucalipto em três regiões da Bacia do Rio Doce

Soil water availability and eucalyptus productivity in three regions of the Rio Doce Basin

Resumos

Analisou-se a produtividade de povoamentos de eucalipto, localizados nas regiões Belo Oriente, Nova Era e Guanhães, situadas na Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. Estudaram-se as precipitações ocorridas nas estações chuvosas e os componentes do balanço hídrico de Thornthwaite e Mather (1955), relativos ao período de janeiro de 1985 a dezembro de 1998, objetivando estudar a influência desses componentes com o ganho de volume médio anual de madeira (m³ ha-1). Para tal, utilizaram-se dados do inventário florestal da Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira - CENIBRA, relativos à idade de três a sete anos. A produtividade de madeira foi influenciada pelo total precipitado na estação chuvosa (PEC). Os menores valores de incremento periódico mensal (IPM) foram observados nos anos precedidos de estação chuvosa seca (S) ou muito seca (MS), sendo que os maiores valores de IPM ocorreram nos anos precedidos de estações chuvosas, classificadas como chuvosa (C) ou muito chuvosa (MC). Considerando que tal fato foi mais pronunciado em Guanhães e Nova Era, verificou-se a correlação da PEC, finalizada em cada ano, com o IPM nos períodos de aumento (1986 a 1992) e diminuição na PEC (1992 a 1995), sendo que essas correlações atingiram um r² superior a 80%. Para um aumento de 100 mm na PEC de um ano para outro, o aumento no IPM foi, em média, de 0,445 m³ha-1mês-1, enquanto para uma redução de 100 mm a diminuição no IPM foi de 0,64 m³ha-1mês-1, para as duas regiões. Guanhães apresenta o maior índice de local médio, assim como a maior produtividade média, seguindo-se Nova Era e Belo Oriente.

Produtividade florestal; balanço hídrico seqüencial; influência climática


The productivity of eucalyptus stands found in Belo Oriente, Nova Era and Guanhães areas in the Rio Doce Basin, Minas Gerais State were analyzed. The precipitation events occurred over the rainy seasons as well as the water balance components by Thornthwaite and Mather, in 1955, relative to the period from January 1985 to December 1998 were studied, in order to determine the influence of these components on the gain of the annual average volume of wood (m³ha-¹). To do so, the forest inventory data from the Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira - CENIBRA, relative to the 3 - 7 year age range, were used. Wood productivity was affected by the total precipitation in the rainy season (PEC). The lowest values of the monthly periodic increment (IPM) were observed in those years preceded by dry (S) or very dry rainy season (MS), whereas the highest IPM values occurred in those years preceded by rainy season so-classified as rainy (C) or very rainy (MC). Taking into account that this fact was more pronounced in both Guanhães and Nova Era, the correlation between PEC finished at every year and IPM for either the increase (1986 to 1992) and decrease periods (1992 to 1995) in PEC were verified; these correlations reached a r²above 80%. For a 100 mm increase in PEC from a year to another, the increase in IPM averaged 0.445 m³ha-1mo-1, whereas for a reduction of 100 mm the decrease in IPM was 0.64 m³ha-1mo-1 for both regions. Guanhães showed the highest average site index as well as the highest average productivity, following the Nova Era and Belo Oriente regions.

Forest productivity; sequential hydric balance; climate influence


Disponibilidade hídrica do solo e produtividade do eucalipto em três regiões da Bacia do Rio Doce

Soil water availability and eucalyptus productivity in three regions of the Rio Doce Basin

Maria José Hatem de SouzaI; Aristides RibeiroII; Hélio Garcia LeiteIII; Fernando Palha LeiteIV; Rosandro Boligon MinuzziV

IDepartamento de Agronomia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM, 39100-000 Diamantina-MG. E-mail: <mariahatem@yahoo.com.br>. <mjhatem@ufv.br>

IIDepartamento de Engenharia Agrícola da UFV, 36 570-000 Viçosa-MG. E-mail: <ribeiro@ufv.br>

IIIDepartamento de Engenharia Florestal da UFV. E-mail: <hgleite@ufv.br>

IVEmpresa Celulose Nipo-Brasileira S. A. - CENIBRA. E-mail: <fernando.leite@cenibra.com.br>

VPrograma de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da UFV. E-mail: <megadetheoro@bol.com.br>

RESUMO

Analisou-se a produtividade de povoamentos de eucalipto, localizados nas regiões Belo Oriente, Nova Era e Guanhães, situadas na Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. Estudaram-se as precipitações ocorridas nas estações chuvosas e os componentes do balanço hídrico de Thornthwaite e Mather (1955), relativos ao período de janeiro de 1985 a dezembro de 1998, objetivando estudar a influência desses componentes com o ganho de volume médio anual de madeira (m3 ha-1). Para tal, utilizaram-se dados do inventário florestal da Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira — CENIBRA, relativos à idade de três a sete anos. A produtividade de madeira foi influenciada pelo total precipitado na estação chuvosa (PEC). Os menores valores de incremento periódico mensal (IPM) foram observados nos anos precedidos de estação chuvosa seca (S) ou muito seca (MS), sendo que os maiores valores de IPM ocorreram nos anos precedidos de estações chuvosas, classificadas como chuvosa (C) ou muito chuvosa (MC). Considerando que tal fato foi mais pronunciado em Guanhães e Nova Era, verificou-se a correlação da PEC, finalizada em cada ano, com o IPM nos períodos de aumento (1986 a 1992) e diminuição na PEC (1992 a 1995), sendo que essas correlações atingiram um r2 superior a 80%. Para um aumento de 100 mm na PEC de um ano para outro, o aumento no IPM foi, em média, de 0,445 m3ha-1mês-1, enquanto para uma redução de 100 mm a diminuição no IPM foi de 0,64 m3ha-1mês-1, para as duas regiões. Guanhães apresenta o maior índice de local médio, assim como a maior produtividade média, seguindo-se Nova Era e Belo Oriente.

Palavras-chave: Produtividade florestal, balanço hídrico seqüencial e influência climática.

ABSTRACT

The productivity of eucalyptus stands found in Belo Oriente, Nova Era and Guanhães areas in the Rio Doce Basin, Minas Gerais State were analyzed. The precipitation events occurred over the rainy seasons as well as the water balance components by Thornthwaite and Mather, in 1955, relative to the period from January 1985 to December 1998 were studied, in order to determine the influence of these components on the gain of the annual average volume of wood (m3ha-1). To do so, the forest inventory data from the Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira — CENIBRA, relative to the 3 — 7 year age range, were used. Wood productivity was affected by the total precipitation in the rainy season (PEC). The lowest values of the monthly periodic increment (IPM) were observed in those years preceded by dry (S) or very dry rainy season (MS), whereas the highest IPM values occurred in those years preceded by rainy season so-classified as rainy (C) or very rainy (MC). Taking into account that this fact was more pronounced in both Guanhães and Nova Era, the correlation between PEC finished at every year and IPM for either the increase (1986 to 1992) and decrease periods (1992 to 1995) in PEC were verified; these correlations reached a r2above 80%. For a 100 mm increase in PEC from a year to another, the increase in IPM averaged 0.445 m3ha-1mo-1, whereas for a reduction of 100 mm the decrease in IPM was 0.64 m3ha-1mo-1 for both regions. Guanhães showed the highest average site index as well as the highest average productivity, following the Nova Era and Belo Oriente regions.

Keywords: Forest productivity, sequential hydric balance and climate influence.

1. INTRODUÇÃO

A influência climática no crescimento das árvores tem sido estudada por vários autores (WOOLLONS et al., 1997; BERGH et al., 1998; WENSEL e TURNBLOM, 1998 e YET, 1997, citados por YET, 2000; SOARES, 1999; MAESTRI, 2003). Os principais elementos climáticos que afetam o crescimento das árvores são: radiação solar, temperatura e disponibilidade hídrica. A radiação solar constitui a fonte primária de energia para o processo fotossintético (PIRES O'BRIEN, 1995). A temperatura influencia os processos fisiológicos, como fotossíntese, respiração, transpiração e divisão celular; enquanto a água é fundamental a todos os processos fisiológicos e bioquímicos (CAMPOS, 1970; PEREIRA et al., 2002). Portanto, os desenvolvimentos dos plantios florestais apresentam forte dependência das disponibilidades hídricas e energéticas do meio ambiente.

Maestri (2003), estudando a influência das variáveis ambientais no incremento corrente anual em altura dominante de povoamentos de Eucalyptus grandis, concluiu que as variáveis mais significativas foram a precipitação pluviométrica, evapotranspiração potencial, temperatura máxima e temperatura mínima. Stape (2002) concluiu que o aporte hídrico foi o principal elemento controlador da produtividade do eucalipto (clone de Eucalyptus grandis x Eucalyptus uroplhylla) e do uso de recursos naturais, assim como, em períodos de déficit hídrico, a produção de madeira é significativamente afetada.

A relação entre a disponibilidade hídrica e a produtividade florestal é concernente aos efeitos diretos e indiretos da deficiência de água no crescimento das árvores. Dentre esses efeitos, destacam-se: diminuição da taxa fotossintética, em razão do aumento na resistência estomática (VOSE e SWANK, 1994); diminuição do aporte nutricional às árvores, via fluxo de massa e difusão; diminuição na velocidade de mineralização da matéria orgânica; e em grau mais elevado de deficiência hídrica, o próprio colapso funcional em níveis citoplasmático e tissular (SANDS e MULLIGAN, 1990).

A disponibilidade hídrica dos solos é influenciada pelas condições térmicas e pela distribuição espaço-temporal das precipitações. No balanço hídrico, desenvolvido por Thornthwaite e Mather (1955), a taxa evapotranspirativa está diretamente relacionada à temperatura. O balanço hídrico pode ser entendido como a contabilização dos ganhos e perdas de água, em determinado volume de solo. Os ganhos são constituídos, basicamente, pela precipitação pluvial, enquanto as perdas são provenientes de evapotranspiração, percolação profunda e escoamentos superficial e subsuperficial de saída. O volume de solo é definido pela profundidade efetiva do sistema radicular, onde se observa a absorção de água pelas raízes.

Baseado no exposto, o presente trabalho foi desenvolvido objetivando a análise comparativa da produtividade de povoamentos de eucalipto (E. grandis), localizados em três regiões apresentando características climáticas distintas, na Bacia do Rio Doce. Procurou-se explicar a variação de produtividade entre as localidades estudadas, analisando-se os componentes do balanço hídrico.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os dados de temperatura média e precipitação relativos a Guanhães, Nova Era e Belo Oriente foram fornecidos pela Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira — CENIBRA, sendo obtidos em estações meteorológicas convencionais. Essas regiões estão esquematizadas na Figura 1.


O balanço hídrico mensal entre janeiro de 1985 e dezembro de 1998 (Figura 2) foi calculado com o intuito de fazer uma comparação do ponto de vista hídrico entre as três regiões da bacia do rio Doce. Para tal, utilizou-se da metodologia proposta por Thornthwaite e Mather (1955) para uma capacidade de armazenamento do solo (CAD) de 200 mm. Empregou-se esse valor por estar entre a faixa encontrada na literatura. Segundo Pereira et al. (2002), em espécies florestais a CAD varia de 150 a 300 mm. Stape e Gomes (1996) utilizaram uma CAD de 200 mm para contabilização do balanço hídrico de Thornthwaite e Mather (1955) em plantios de eucalipto (E. grandis x urophylla), com idade variando de três a oito anos. Neves (2000) determinou que a CAD para plantios de eucalipto, no litoral do Espírito Santo, com árvores com nove anos, foi de 168 mm. Por sua vez, Sacramento Neto (2001), trabalhando com plantios jovens de eucalipto (1 e 2 anos) na região de Belo Oriente, na bacia do rio Doce, determinou que em solos de baixada a CAD variou de 137 a 171 mm, e, em solos de encosta, essa variação foi de 70 a 110 mm. Foram calculados os componentes do balanço hídrico, bem como a evapotranspiração relativa (ETR/ETP), que é a razão entre a evapotranspiração real e a potencial (DOORENBOS e KASSAM, 1979) (Figura 2).


Os períodos chuvosos foram avaliados empregando-se a técnica dos quantis, metodologia desenvolvida por Pinkayan (1966). Para isso, utilizaram-se os dados de precipitação referentes ao semestre mais chuvoso, denominado e estação chuvosa. O período da estação chuvosa foi classificado, segundo Xavier (2001), como: muito seco (MS), seco (S), normal (N), chuvoso (C) e muito chuvoso (MC). Para tal, foram usados os quantis Q(0,15), Q(0,35), Q(0,65) e Q(0,85), respectivamente, como limites para tais classificações.

A metodologia dos quantis para estudos de precipitação agrupa, geralmente, os períodos de maior ou menor ocorrência de precipitação com duração de quatro meses, denominados "quadra chuvosa". Devido às características dos locais de estudo, bem como à aplicabilidade em estudos florestais, optou-se por trabalhar com períodos de seis meses, aqui denominados estação chuvosa.

Foi quantificado o ganho de volume médio anual de madeira (m3 ha-1), dos plantios de eucalipto (E. grandis), utilizando-se dados do inventário florestal contínuo, da Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira (CENIBRA), realizado entre 1986 e 1998 nas regiões contempladas no presente estudo. Em Guanhães, trabalhou-se com 88 talhões, enquanto em Nova Era o estudo envolveu 75 talhões e em Belo Oriente, 25. A idade das árvores variou de três a sete anos. Maiores detalhes sobre os dados anuais empregados podem ser visualizados no Quadro 2.


Calculou-se o incremento periódico anual (IPA), baseando no intervalo entre duas medições do inventário, conforme metodologia apresentada por Campos e Leite (2002). O incremento periódico mensal (IPM) foi obtido, dividindo-se o IPA pelo número de meses entre as duas mensurações florestais, sendo o IPM contabilizado no ano da última medição.

O índice de local é um indicativo da capacidade produtiva de um local e corresponde à altura dominante média de um povoamento em uma idade específica (idade-índice). Esses índices foram obtidos para cada talhão, empregando-se o método da curva-guia e o modelo de Schumacher, conforme Campos e Leite (2002), com base na idade-índice de 72 meses. No Quadro 2, apresenta-se o índice local médio dos lotes avaliado a cada ano.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A precipitação total anual para Guanhães, Nova Era e Belo Oriente pode ser visualizada na Figura 3. Observou-se que a distribuição anual apresentava comportamento semelhante, nas três regiões. Quanto ao total precipitado, notaram-se valores bem próximos, variando de 1.276 mm anuais em Nova Era a 1.202 mm em Belo Oriente (Tabela 1). Nos três locais, o trimestre mais chuvoso ocorreu de outubro a dezembro e, em seguida, de janeiro a março; dessa forma, a estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro a março (Figura 3). O total precipitado na estação chuvosa representou 87% do total anual precipitado em Guanhães e Belo Oriente e 84% em Nova Era.


Na Figura 4, apresenta-se, para as três regiões, o total precipitado em cada estação chuvosa referente ao período de 1985 a 1998, bem como sua classificação, obtida por meio da técnica dos quantis. Nas três regiões, observou-se alternância inter-anual de estações chuvosas, com totais abaixo e acima da normal. Não se verificou uma coincidência entre as regiões estudadas, entre anos mais ou menos chuvosos, exceto as estações chuvosas de 1986 a 1987, 1988 a 1989, 1991 a 1992 e 1996 a 1997. Esse comportamento demonstrou que o regime de chuva não era homogêneo nas regiões, ou seja, provavelmente não se verificou um sistema dinâmico atmosférico, que originou as chuvas na macrorregião. No entanto, o ritmo das chuvas é governado regionalmente e relaciona-se com a diferença de relevo das regiões.


Como resultado do balanço hídrico seqüencial, obtiveram-se as deficiências e excedentes hídricos mensais, a variação no armazenamento de água no solo e as evapotranspirações potencial e real de Guanhães, Nova Era e Belo Oriente, durante o período de 1985 a 1998, sendo os dados apresentados na Figura 5. Nessa figura, observa-se que Belo Oriente apresentou os maiores valores de deficiência hídrica e menores valores de excedente hídrico.


A deficiência hídrica média, no período estudado, em Belo Oriente foi de 504 mm anuais, em Nova Era de 147 mm e em Guanhães de 194 mm anuais. A média total dos excedentes hídricos no período foi de 180 mm em Belo Oriente, 316 mm em Guanhães e 366 mm anuais em Nova Era. A diferença quanto às deficiências hídricas entre as regiões, por si só, não é explicada pela diferença nos totais anuais de chuva, uma vez que praticamente não se verifica diferença entre esses valores. No mesmo sentido, não é possível explicar a maior deficiência hídrica, observada em Belo Oriente, com base na distribuição mensal de chuva (Figura 3), uma vez que a variação sazonal entre locais é bastante semelhante. Assim, o que explica os menores déficits hídricos e maiores excedentes hídricos nas regiões de Nova Era e Guanhães, em comparação com Belo Oriente, é a maior irradiância solar ocorrida nesta última localidade (SOUZA et al., 2004), acrescido do fato de Belo Oriente apresentar a menor altitude e, conseqüentemente, maiores temperaturas em comparação com as outras localidades. Como resultado, tem-se maior disponibilidade energética em Belo Oriente e, conseqüentemente, maior demanda evapotranspirativa, o que pode ser verificado na Figura 5C.

Em conseqüência de a deficiência hídrica ser maior em Belo Oriente, dentre as três regiões, o armazenamento de água no solo (ARM) médio mensal foi também o mais baixo em Belo Oriente (79 mm), enquanto em Guanhães o foi de 119 mm e em Nova Era, de 132 mm.

Os maiores valores de ETP foram observados em Belo Oriente, isto é, 1.593 mm anuais, seguindo-se Guanhães com 1.103 mm e Nova Era com 1.036 mm. Com relação a ETR, o comportamento é semelhante ao da ETP, com o maior valor em Belo Oriente (1.089 mm anuais), seguido de Guanhães (909 mm) e Nova Era (890 mm). Quanto à evapotranspiração relativa (ETR/ETP) média nas três localidades, esta foi de 0,65; 0,78; e 0,83 em Belo Oriente, Guanhães e Nova Era, respectivamente. Dessa forma, do ponto de vista hídrico, Nova Era apresenta a maior disponibilidade de água, seguindo-se Guanhães e, finalmente, Belo Oriente.

A Figura 6 ilustra o incremento periódico mensal (IPM), nas idades de 3 a 7 anos, nas três regiões. Observa-se, nessa figura, que em Belo Oriente o IPM foi o menor entre o das três regiões, seguido de Nova Era e, por último, Guanhães. O IPM médio foi de 2,38 m3ha-1mês-1 em Belo Oriente, 3,75 m3ha-1mês-1 em Nova Era e 4,00 m3ha-1mês-1 em Guanhães.


Belo Oriente é o local de menor altitude, apresentando as maiores temperaturas (Figura 2) e, conseqüentemente, a maior demanda evapotranspirativa (Figura 5C). Portanto, apresenta os menores valores de condutância estomática (gs), devido ao maior déficit de pressão de vapor (DPV), observado na região, como pode ser visualizado na Figura 7. Essa figura ilustra a variação da condutância estomática em função da DPV em Belo Oriente e Peçanha (localizada na região de Guanhães). Verifica-se, nessa figura, que em Belo Oriente a condutância apresenta redução maior com o aumento do DPV, o que possivelmente esteja relacionado à maior disponibilidade de radiação solar, que também favorece o fechamento estomático. Assim, em Belo Oriente, embora seja verificado maior evapotranspiração, os estômatos tendem a permanecer fechados por mais tempo, ou seja, a transpiração ocorre em taxas mais elevadas. Uma vez que o ganho de CO2 ocorre por difusão, as localidades de Guanhães e Nova Era tendem a fotossintetizar por um tempo maior durante o dia, justificando a maior biossíntese. Dessa forma, a menor condutância estomática e o maior gasto de energia com a respiração, em Belo Oriente, são subsídios para explicar a ocorrência de menor biossíntese nessa região.


Em Belo Oriente, apesar de a precipitação média anual apresentar valor e distribuição anual bem semelhantes àqueles de Guanhães e Nova Era (Figura 2), o IPM foi inferior ao desses dois locais. Em Guanhães o IPM chega a ser 68% superior ao de Belo Oriente. Em Nova Era, esse índice chega a ser 57% superior ao de Belo Oriente. Em razão de a variação nos totais de precipitação (Figura 2) ser muito pequena, não é possível explicar os diferentes ganhos de volume entre as três regiões com base nessa variável. No entanto, Stape e Gomes (1996), estudando a influência dos estresses hídricos e nutricionais no crescimento de plantios de eucaliptos, no Nordeste do Brasil, obtiveram incrementos anuais (IPA) superiores nos locais com maior precipitação, em solos Podzólicos e Latossólicos. Provavelmente, isso ocorreu devido ao fato de a variabilidade de precipitação nos locais estudados ter sido grande (800 a 1.700 mm anuais), além da baixa variabilidade de altitude desses locais (60 a 330 m), sendo que a altitude influencia, diretamente, a temperatura do local e, por conseqüência, a demanda evaporativa. Assim, a chuva e sua distribuição sazonal não pode, por si só, explicar a diferença em produtividade florestal nas diferentes regiões, conforme já apontava Billings (1952), com relação à complexidade de fatores que interferem na produtividade vegetal.

Comparando o IPM obtido (Figura 6) com total precipitado em cada estação chuvosa (Figura 4), verificou-se que o IPM foi menor nos anos precedidos de estações chuvosas, classificadas como seca (S) ou muito seca (MS). Tal fato é mais pronunciado em Guanhães e Nova Era.

Em Nova Era, as estações chuvosas de 1993/1994 e de 1994/1995, classificadas como MS e S, respectivamente, apresentaram IPM de 2,75 m3ha-1mês-1 e 3,56 m3ha-1mês-1 nos anos de 1994 e 1995, respectivamente, sendo esses um dos menores valores obtidos nessa localidade. Em Guanhães, o comportamento foi semelhante, sendo os menores valores de IPM obtidos nos anos precedidos por estação chuvosa S ou MS, exceto o ano de 1996, que teve um dos mais baixos IPM (3,24 m3ha-1mês-1) e estação chuvosa precedente MC, sendo esta a de maior precipitação acumulada (1.366 mm). Isso ocorreu, provavelmente, porque as árvores não haviam se recuperado do período seco, durante as duas estações chuvosas anteriores (classificadas como seca), e, ou, o alto excedente hídrico tenha influenciado negativamente (Figura 5A).

A produtividade foi superior nos anos precedidos de estação chuvosa, classificada como chuvosa (C) ou muito chuvosa (MC), ou seja, os valores de IPM foram maiores (Figuras 4 e 6). Em Guanhães, os maiores valores de IPM foram obtidos nos anos de 1992 (5,92 m3ha-1mês-1), 1993 (4,95 m3ha-1mês-1) e 1997 (4,73 m3ha-1mês-1), os quais foram precedidos de estações chuvosas classificadas como C (1991/1992 e 1992/1993) e MC (1996/1997). Em Nova Era, os maiores valores de IPM foram obtidos nos anos de 1992 (5,24 m3ha-1mês -1), em 1991 (4,74 m3ha-1mês-1) e 1993 (4,26 m3ha-1mês-1), anos esses precedidos de estações chuvosas classificadas como C (1991/1992 e 1990/1991) e MC (1992/1993). Em Belo Oriente, esse fato não foi tão evidente.

Ao relacionar o total precipitado na estação chuvosa finalizada em cada ano com o incremento periódico mensal (IPM), nas regiões de Nova Era e Guanhães (Figura 8), verificou-se aumento na precipitação na estação chuvosa (PEC) e nos IPM entre 1986 e 1992, nas duas regiões. No período de 1992 a 1995, observou-se decréscimo nas PEC e IPM em Nova Era e Guanhães. Correlacionando os IPM e as PEC relativos aos dois períodos e das duas regiões, obteve-se uma relação linear. Os coeficientes das equações, juntamente com os coeficientes de determinação (r2), são apresentados no Quadro 3.



Quanto ao período de 1986 a 1992, o IPM respondeu positivamente à maior disponibilidade de água no solo (Figura 8), conforme as equações obtidas (Quadro 3). Nesse período, o ganho de volume médio foi de 0,51 m3ha-1mês-1 em Guanhães e de 0,38 m3ha-1mês-1 em Nova Era, para um aumento correspondente de 100 mm na PEC. No período de redução anual da PEC (1992 a 1995), entretanto, obteve-se uma redução de volume de 0,98 m3ha-1mês-1 em Guanhães e de 0,30 m3ha-1mês-1 em Nova Era, para uma diminuição de 100 mm na PEC. Dessa feita, observou-se que, nas duas regiões, a taxa de aumento no IPM, ocasionado pelo aumento anual na PEC, é diferente da taxa de redução no IPM, proporcionado pela diminuição anual da PEC, sendo essa diferença maior em Guanhães.

Quanto ao potencial produtivo de cada local, verificou-se que Belo Oriente apresentou o menor índice de local, com valor médio de todos os lotes envolvidos no estudo igual a 24,8 (com um coeficiente de variação, CV, de 4,6%); em Nova Era, esse índice foi de 26,2 (CV de 9,9%) e em Guanhães, de 29,0 (CV de 13,4%). É claro que o índice de local, bem como a produtividade desse local, reflete as condições do meio ambiente, como um todo, e não somente os efeitos do clima, sofrendo a influência de outros fatores ambientais, ou seja, fisiográficos, edáficos e bióticos.

4. CONCLUSÕES

O incremento periódico mensal (IPM) de Belo Oriente foi inferior ao dos outros dois locais, ou seja, em Guanhães foi cerca de 68% superior ao de Belo Oriente, enquanto o de Nova Era, 57% superior ao de Belo Oriente. Como a variação da precipitação anual nas três regiões é muito pequena, ela não possibilita explicar os diferentes ganhos de volume entre as três regiões estudadas.

Belo Oriente apresentou as maiores temperaturas, maiores valores de deficiência hídrica e menores valores de excedentes hídricos, assim como os mais baixos níveis de armazenamento de água no solo. Nova Era teve as temperaturas mais amenas, bem como os maiores excedentes hídricos, as menores deficiências hídricas e os mais altos níveis de armazenamento de água no solo.

A produtividade de madeira foi influenciada pelo total precipitado durante a estação chuvosa, sendo os menores valores de incremento periódico mensal (IPM) observados nos anos precedidos de estações chuvosas, classificadas como secas (S) ou muito secas (MS), enquanto os maiores valores de IPM foram verificados nos anos precedidos de estação chuvosa classificada como chuvosa (C) ou muito chuvosa (MC), fato esse mais pronunciado em Guanhães e Nova Era.

Verificou-se correlação positiva entre o total precipitado durante a estação chuvosa finalizada em cada ano (PEC) e o ganho de volume. A correlação entre o IPM com os períodos de aumento na PEC (1986 a 1992) e de diminuição na PEC (1992 a 1996) em Guanhães e Nova Era apresentou um r2 acima de 80%. Um incremento de 100 mm na PEC significou um ganho de volume médio de 0,51 m3ha-1mês-1 em Guanhães e de 0,38 m3ha-1mês-1 em Nova Era. Entretanto, no período de redução anual da PEC (1992 a 1995), a diminuição de volume foi de 0,98 m3ha-1mês-1 em Guanhães e de 0,30 m3ha-1mês-1 em Nova Era, para uma diminuição de 100 mm na PEC.

Do ponto de vista climático, Guanhães apresentou o maior índice local médio, bem como a maior produtividade média, seguida de Nova Era e, por último, Belo Oriente, sendo esta localidade bem aquém da primeira.

5. AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo financiamento desta pesquisa; e à Empresa Florestal Celulose Nipo-Brasileira (CENIBRA), pelo fornecimento dos dados.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em 05.10.2004 e aceito para publicação em 05.04.2006.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 2006

Histórico

  • Aceito
    05 Abr 2006
  • Recebido
    05 Out 2004
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