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Promoção de enraizamento de microestacas de um clone de Eucalyptus sp. por Trichoderma spp.

Root induction from microcutting of an Eucalyptus sp. clone by Trichoderma spp.

Resumos

Este trabalho teve como objetivo o emprego de isolados antagonistas de fungos visando à promoção do enraizamento de microestacas de um clone de Eucalyptus sp. Utilizaram-se no teste de promoção de enraizamento de microestacas um isolado não-patogênico de Cylindrocladium spp. e mais três isolados antagonistas de Trichoderma spp. (E15, S2 e St), os quais apresentaram as melhores notas de antagonismo em teste in vitro, pelo método de confrontação direta contra isolado patogênico de Cylindrocladium spp., sendo inoculados no substrato de desenvolvimento das microestacas sob condições de estufa. Observou-se aumento de sobrevivência das microestacas na presença dos isolados de Trichoderma spp. e Cylindrocladium spp., em comparação com a testemunha, em ambiente naturalmente infestado por Botrytis cinerea. O tratamento com os isolados ST, E15 e S2 de Trichoderma spp. e Cyl de Cylindrocladium spp. aumentou a sobrevivência de microestacas de Eucalyptus sp. O isolado E15 promoveu o enraizamento de microestacas, apresentando aumento significativo na porcentagem de enraizamento (62,25%) em relação ao tratamento-testemunha (28,77%).

Propagação; eucalipto; antagonismo; Botrytis cinérea; Cylindrocladium spp


The purpose of this research was to apply antagonistic isolates of fungi to induce microcutting rooting of an Eucalyptus sp. clone. One non-pathogenic isolate of Cylindrocladium spp. and three antagonistic isolates of Trichoderma spp (E15, S2 and St) were used for the microcutting rooting experiment. The latter gave better results in the antagonistic in vitro test using the method of direct confrontation against the pathogenic isolate of Cylindrocladium spp, being inoculated in the microcutting rooting substrate, in greenhouse conditions. Increase of microcutting survival was observed in the presence of isolates of Trichoderma spp. and Cylindrocladium spp. when compared with control in an environment naturally infested with Botrytis cinerea. The treatments with the isolates ST, E15 and S2 of Trichoderma spp. and Cyl of Cylindrocladium spp. increased the survival of Eucalyptus sp. microcuttings. The E15 isolate promoted a significant increase in the rooting percentage (62.25%) compared to the control treatment (28.77% ).

Propagation; eucalyptus; antagonism; Botrytis cinerea; Cylindrocladium spp


Promoção de enraizamento de microestacas de um clone de Eucalyptus sp. por Trichoderma spp.

Root induction from microcutting of an Eucalyptus sp. clone by Trichoderma spp.

Fabiano de Oliveira FortesI; Antônio Carlos Ferreira da SilvaII; Marcus André Kurtz AlmançaI; Solange Bosio TedescoII

ICentro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900 Santa Maria, RS

IIDepartamento de Biologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900 Santa Maria, RS. E-mail:<acfsilva@smail.ufsm.br>

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo o emprego de isolados antagonistas de fungos visando à promoção do enraizamento de microestacas de um clone de Eucalyptus sp. Utilizaram-se no teste de promoção de enraizamento de microestacas um isolado não-patogênico de Cylindrocladium spp. e mais três isolados antagonistas de Trichoderma spp. (E15, S2 e St), os quais apresentaram as melhores notas de antagonismo em teste in vitro, pelo método de confrontação direta contra isolado patogênico de Cylindrocladium spp., sendo inoculados no substrato de desenvolvimento das microestacas sob condições de estufa. Observou-se aumento de sobrevivência das microestacas na presença dos isolados de Trichoderma spp. e Cylindrocladium spp., em comparação com a testemunha, em ambiente naturalmente infestado por Botrytis cinerea. O tratamento com os isolados ST, E15 e S2 de Trichoderma spp. e Cyl de Cylindrocladium spp. aumentou a sobrevivência de microestacas de Eucalyptus sp. O isolado E15 promoveu o enraizamento de microestacas, apresentando aumento significativo na porcentagem de enraizamento (62,25%) em relação ao tratamento-testemunha (28,77%).

Palavras-chave: Propagação, eucalipto, antagonismo, Botrytis cinérea e Cylindrocladium spp.

ABSTRACT

The purpose of this research was to apply antagonistic isolates of fungi to induce microcutting rooting of an Eucalyptus sp. clone. One non-pathogenic isolate of Cylindrocladium spp. and three antagonistic isolates of Trichoderma spp (E15, S2 and St) were used for the microcutting rooting experiment. The latter gave better results in the antagonistic in vitro test using the method of direct confrontation against the pathogenic isolate of Cylindrocladium spp, being inoculated in the microcutting rooting substrate, in greenhouse conditions. Increase of microcutting survival was observed in the presence of isolates of Trichoderma spp. and Cylindrocladium spp. when compared with control in an environment naturally infested with Botrytis cinerea. The treatments with the isolates ST, E15 and S2 of Trichoderma spp. and Cyl of Cylindrocladium spp. increased the survival of Eucalyptus sp. microcuttings. The E15 isolate promoted a significant increase in the rooting percentage (62.25%) compared to the control treatment (28.77% ).

Keywords: Propagation, eucalyptus, antagonism, Botrytis cinerea and Cylindrocladium spp.

1. INTRODUÇÃO

Consideráveis ganhos nos índices de enraizamento de estacas e redução no tempo para formação de mudas de Eucalyptus sp. têm sido conseguidos com o desenvolvimento da técnica da microestaquia (XAVIER e COMÉRIO, 1996). No entanto, o enraizamento ex-vitro é uma das etapas mais críticas desse processo, pois a planta está sob condições ótimas in vitro, com temperatura e nutrientes necessários para a sua sobrevivência, e passa para condições adversas ex-vitro, podendo ocorrer o enfraquecimento de suas raízes, seja por ataque de fitopatógenos, seja por falta de adaptação da plântula.

Trichoderma spp. é um fungo, agente de biocontrole, que promove o enraizamento das estacas, pois libera substâncias que são assimiladas pelas raízes das plantas (MELO, 1998). As espécies de Trichoderma estão entre os microrganismos mais comumente estudados como agentes de biocontrole que apresentam, também, atividade como promotores de crescimento (ALTOMARE et al., 1999). Harman (2000) realizou experimento, mostrando o maior crescimento de raízes de soja e milho tratadas com T. harzianum T-22. Outros trabalhos também mostram também a capacidade de Trichoderma spp. em promover o crescimento de raízes em diferentes culturas (CHANG et al., 1986; SIVAN e HARMAN, 1991; KLEIFELD e CHET, 1992). A utilização do controle biológico na área florestal é possível, principalmente em viveiros, onde as condições ambientais podem ser controladas (GRIGOLETTI JR. et al., 2000).

A capacidade de isolados de fungos não patogênicos ou hipovirulentos de proteger plântulas de uma grande lista de plantas hospedeiras contra a infecção de fitopatógenos também tem sido relatada com significativo grau de proteção e tendo importância no desenvolvimento de novas práticas para a agricultura (SNEH e ICHIELEVICH-AUSTER, 1998; NEL et al., 2006).

Botrytis cinerea e Cylindrocladium spp. Têm-se mostrado, em viveiros florestais do Sul do país, como os principais patógenos relacionados com a podridão de raízes e tombamento de plântulas em espécies de eucalipto. O prejuízo causado por esses patógenos depende da intensidade do ataque, a qual está associada às condições do ambiente (FERREIRA, 1985; SOUZA, 1991).

O controle da doença causada por Cylindrocladium spp. e Botrytis cinerea é feito por meio de técnicas de manejo e aplicação de fungicidas (FERREIRA, 1985). Todavia, o uso de microrganismos antagônicos incorporados ao substrato destinado à produção de mudas pode se constituir numa alternativa de controle da doença. A utilização de técnicas visando ao controle biológico de doenças de plantas pode ser uma forma de redução do uso e dos problemas que surgem com a utilização de fungicidas (SEGURA, 1970; ALFENAS, 1986).

Tomando como base esse contexto, o presente trabalho teve por objetivo utilizar isolados antagonistas de Trichoderma spp. e um isolado não-patogênico de Cylindrocladium spp., para promover o enraizamento in vivo de microestacas de um clone de eucalipto, em ambiente naturalmente infestado pelo fitopatógeno Botrytis cinerea.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos in vitro foram realizados no Laboratório de Interação Planta-Microrganismos do Departamento de Biologia, Centro de Ciências Naturais e Exatas, da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS; e em viveiro do Horto Florestal Barba Negra, localizado no Município de Barra do Ribeiro, RS, 30º 18' 0'' de latitude sul, 51º 17' 60'' de longitude oeste e a 0 m de altitude.

2.1. Isolados de Trichoderma spp. e Cylindrocladium spp.

Os isolados de Trichoderma sp. foram obtidos a partir de amostras de 500 g de solo, retiradas de uma profundidade de até 10 cm, em área de ocorrência de plantas de Eucalyptus sp. no campus da Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, RS, sendo utilizados o procedimento de diluição em série de partículas de solo (WOLLUM, 1982) e o método de iscas (GHINI e KIMATI, 1989; SANFUENTES e FERREIRA, 1997). Também foram utilizadas como colônias de Trichoderma spp. colonizando naturalmente micélios de Cylindrocladium spp. em meio BDA (batata, dextrose, ágar). No método de iscas, utilizaram-se grãos de trigo, sendo 10 grãos para cada trouxa feita com gaze hidrófila (13 fios por cm2; 10,0 x 10,0 cm) enterrada a 10 cm de profundidade em 500 g de solo umedecido com 10 mL de água destilada e esterilizada, coberta com papel-alumínio e mantida a 25 ºC, na ausência de luz. Os grãos de trigo foram retirados das trouxas após 30 dias e preparados segundo Ethur et al. (2005). Os fungos encontrados nos grãos, no procedimento de diluição em série e provenientes da colonização de micélio de Cylindrocladium spp., foram transferidos para meio seletivo de Trichoderma modificado (SILVA, 1997) e incubados por sete dias a 25 ºC, com fotoperíodo de 12 h. A identificação, em nível de gênero, foi feita através de microscópio estereoscópico e óptico, com base na bibliografia especializada (BARNETT e HUNTER, 1998).

Foram utilizados dois isolados de Cylindrocladium spp., sendo um isolado não-patogênico da micoteca do Laboratório de Interação Planta-Microrganismos, UFSM, e um isolado patogênico obtido pelo método direto (FERREIRA, 1986), mediante cultura em BDA do fitopatógeno obtido a partir de plantas com sintomas. As folhas e hastes foram examinadas ao estereoscópio e, a partir das lesões, as estruturas fúngicas foram removidas com o auxílio de estilete, e imersas em hipoclorito de sódio 10%, posteriormente em água destilada e esterilizada, e transferidas para placa de Petri com BDA. As culturas foram incubadas a 25 ºC. A identificação de Cylindrocladium spp. foi feita através de estudos morfológicos das hifas e propágulos em microscópio óptico, baseando-se em Barnett e Hunter (1998).

2.2. Experimento in vitro

Para o experimento in vitro foram selecionados os isolados de Trichoderma spp. que apresentaram colônias com maior diâmetro de micélio após cinco dias de crescimento em meio BDA a 25 ºC na ausência de luz, sendo quatro isolados (E1, E7, E11 e E15) a partir do método de diluição e seis isolados (Cp, IL, Pt, SGA, Sb e St) pelo método de iscas e três isolados (S1, S2 e S3) a partir da colonização de micélios de Cylindrocladium spp. Discos de meio BDA contendo esporos e micélio dos isolados obtidos foram transferidos para placas de Petri contendo meio BDA e incubados em câmara climatizada a 25 ºC, com fotoperíodo de 12 h por sete dias e, após mantidos sob refrigeração a 4 ºC, em meio BDA, até seu uso.

Com o objetivo de selecionar isolados para serem utilizados no teste de promoção de enraizamento de microestacas de Eucalyptus grandis., foram utilizados os 13 isolados de Trichoderma spp. (E1, E7, E11, E15, Cp, IL, Pt, SGA, Sb, St, S1, S2 e S3) em teste de confrontação direta (BELL et al., 1982; SILVA, 1997; ETHUR et al., 2005) onde discos de meio BDA contendo micélios e esporos do isolado patogênico de Cylindrocladium spp. foram transferidos para placas de Petri contendo meio seletivo para Trichoderma. Após oito dias, discos de BDA contendo micélios e esporos dos isolados de Trichoderma spp. foram transferidos em posição oposta ao patógeno. A incubação deu-se a 25 ºC, com fotoperíodo de 12 h por 21 dias a partir da inoculação do patógeno. A avaliação foi baseada no critério de Bell et al. (1982), em que é utilizada uma escala de notas variando de 1 a 5. O valor 1 é atribuído quando o antagonista invade completamente o fitopatógeno e coloniza todo o substrato; 2, quando o antagonista invade pelo menos 2/3 da superfície do meio; 3, quando metade da superfície do meio é colonizada pelo antagonista e a outra metade pelo patógeno; 4, o patógeno coloniza no mínimo 2/3 da superfície do meio, que parece se opor ao antagonista; e, finalmente, o valor 5, quando o patógeno invade completamente o antagonista e ocupa toda a superfície do meio.

2.3. Preparo do inóculo dos isolados para teste in vivo

No preparo do inóculo dos isolados de Trichoderma spp. e Cylindrocladium spp. Não-patogênico, 10 discos de BDA contendo esporos e micélio dos isolados foram transferidos assepticamente para sacos plásticos de polipropileno de 500 mL, contendo 300 g de arroz com casca e 40 mL de água destilada, previamente autoclavados a 121 ºC por 2 h. Os substratos nos sacos plásticos, contendo inóculos do isolado não-patogênico de Cylindrocladium spp. e os isolados de Trichoderma spp., foram incubados em câmara climatizada a 25 ºC, com fotoperíodo de 12 h, por 21 e 25 dias, respectivamente. A concentração de unidades formadoras de micélio dos inóculos dos isolados de Trichoderma spp. e Cylindrocladium spp. (108 u.f.c/g e 106 u.f.c/g, respectivamente) foram determinadas no momento da inoculação do substrato através da diluição de inóculo colonizado em água destilada, transferência da suspensão diluída de 102 esporos/mL em meio BDA e contagem do número de colônias (PAPAVIZAS, 1982; SILVA, 1997).

2.4. Teste de enraizamento in vivo

Para avaliação da promoção do enraizamento de microestacas de Eucalyptus por três isolados de Trichoderma spp., selecionados a partir do teste de confrontação direta, e um isolado de Cylindrocladium sp., foi realizado um experimento, utilizando-se instalações de estufa plástica e estacas com aproximadamente 5 cm de comprimento, provenientes de brotações coletadas em plantas rejuvenescidas por micropropagação de um clone de Eucalyptus sp. do Horto Florestal Barba Negra. Para cada tratamento foram utilizados 150 tubetes cônicos de 50 cm3 de capacidade, previamente esterilizados, conforme o método descrito por Alfenas et al. (1999), contendo uma microestaca cada um. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com cinco tratamentos e três repetições: tratamento 1, testemunha (sem nenhum isolado inoculado); tratamento 2, com isolado ST; tratamento 3, com isolado E15; tratamento 4, com isolado S2; e tratamento 5, com isolado Cyl de Cylindrocladium spp. Não-patogênico.

O substrato utilizado nos tubetes foi vermicomposto (50%) e solo vegetal (50%). A esse substrato foi misturado 1 g de grãos de arroz colonizados com os respectivos isolados com o substrato para cada tratamento e efetuado o plantio das microestacas, sendo estas mantidas em estufa naturalmente infestada por Botrytis cinerea por 28 dias sob irrigação em temperatura ambiente (com variação de 18 a 28 ºC).

Após 30 dias, as microestacas foram avaliadas como: (1) mortas (microestacas totalmente secas), (2) vivas com raízes e com sintomas (BARNETT e HUNTER, 1998) de doença causada por Botrytis cinerea (morte de ponteiro, manchas foliares e lesões nos ramos) com raízes (CS) e (3) com raízes e sem sintomas de Botrytis cinérea (SS), 30 dias após a inoculação.

2.5. Análise estatística

Foi realizada análise de variância dos experimentos, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para análise dos resultados, os dados foram transformados em arcoseno da raiz quadrada (x/100).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Isolamento de Trichoderma spp.

Tanto o procedimento de diluição em série como o método de iscas, ambos a partir de amostras de solo em área de ocorrência de plantas de eucalipto, possibilitaram o isolamento de colônias de Trichoderma spp. Foi verificada, pelo método da diluição, a concentração média de 2.106 esporos.g-1 de solo nas amostras para os isolados, concordando com estudos de colonização do solo por Trichoderma (PAPAVIZAS, 1982; SILVA, 1997). A partir desse procedimento foram selecionados quatro isolados (E1, E7, E11 e E15) de Trichoderma spp. que apresentaram colônias com maior diâmetro de micélio in vitro. Pelo método de iscas foi possível isolar seis colônias de Trichoderma spp., a partir de grãos de trigo, com crescimento e esporulação em meio BDA (SGA; St; Pt; Cp; Sb, IL). Foram obtidos também três isolados de Trichoderma spp. (S1, S2, S3) parasitando naturalmente as hifas do patógeno Cylindrocladium spp. em meio de cultura BDA. Resultados de trabalhos de seleção de antagonistas in vitro têm demonstrado que, embora diferentes gêneros de isolados fúngicos tenham sido encontrados no procedimento de isolamento, os melhores isolados são do gênero Trichoderma (ZAZZERINI e TOSI, 1985; ETHUR et al., 2005)

Mediante a avaliação do crescimento dos 13 isolados de Trichoderma spp. em meio BDA, observou-se que todos colonizaram completamente o meio BDA em até 96 h nas condições estabelecidas. No entanto, os isolados patogênicos e não-patogênicos de Cylindrocladium spp. se desenvolveram mais lentamente, colonizando completamente o meio em 12 dias. Esses dados de crescimento foram importantes para definir a época de transferência dos isolados de Trichoderma e do Cylindrocladium spp. para o meio BDA em placas de Petri, no teste de confrontação in vitro.

3.2. Experimento in vitro

Utilizando diferentes procedimentos, foram observados três isolados com boa capacidade antagonista in vitro, E15 (diluição de partículas de solo), St (método de iscas) e S2 (isolamento a partir de hifas do fitopatógeno). Esses isolados apontaram os melhores resultados no teste de confrontação direta, em que todos obtiveram nota 1, isto é, desenvolveram-se completamente sobre o patógeno e colonizaram todo o meio de cultura BDA. No entanto, os isolados E7, E17, S3, SGA e IL mostraram o menor desempenho no teste em confrontação com o fitopatógeno, pois colonizaram apenas 50% do meio de cultura, obtendo nota 3. Os isolados Cp, E11, S1, Pt e Sb mostraram resultados intermediários (nota 2) in vitro; colonizaram pelo menos 2/3 da superfície do meio (Figura 1). No confronto direto do agente de biocontrole com o fitopatógeno podem ocorrer ações antagônicas, como antibiose, hiperparasitismo e competição (ETHUR et al., 2005), sendo essas características favoráveis que visam à seleção de isolados de Trichoderma spp. com provável capacidade de antagonismo ex vitro com fitopatógenos e promoção de enraizamento das microestacas de Eucalyptus sp.


Os métodos in vitro, além de serem práticos, servem como uma seleção preliminar para avaliar a capacidade antagonista e também indicam o comportamento do microrganismo, com relação a sua capacidade de adaptação, crescimento e reprodução in vitro. Existem algumas restrições com à realização apenas desses testes para a seleção, pois, na maioria das vezes, os resultados positivos obtidos in vitro, ou em condições controladas, não coincidem ou, às vezes, são opostos àqueles obtidos ex vitro (GRIGOLETTI JR. et al., 2000).

A variabilidade observada neste trabalho entre os isolados de Trichoderma spp. em relação ao antagonismo a Cylindrocladium spp. in vitro confirma os resultados de antagonismo in vitro obtidos para outros fitopatógenos (SILVA, 1997; ETHUR et al., 2001; 2005).

3.3. Experimento ex vitro

Devido, provavelmente, às condições ambientais propícias da estufa, principalmente temperatura e umidade, observou-se a ocorrência natural de sintomas do fitopatógeno Botrytis cinerea, sendo possível, além de estudar o fator enraizamento, observar a ocorrência da doença nas microestacas de Eucalyptus sp. Esse patógeno apresentou-se bastante agressivo e com disseminação homogênea entre as microestacas do experimento. Uma vez introduzido nos viveiros, Botrytis cinerea pode sobreviver em substrato orgânico, folhas mortas caídas na superfície dos recipientes e também em tecidos de mudas de eucalipto, como componentes do filoplano (SOUZA e FERREIRA, 1990; SOUZA, 1991; SANFUENTES e FERREIRA, 1997).

A testemunha, sem inoculação dos isolados, apresentou a menor porcentagem de sobrevivência de microestacas mortas (52,44 %), 30 dias após a inoculação; já os tratamentos com os isolados de Trichoderma e Cylindrocladium apresentaram sobrevivência bem maior em relação à testemunha, embora não tenham diferido estatisticamente entre si (Tabela 1).

O tratamento com o isolado Cyl de Cylindrocladium spp. apresentou alta porcentagem de sobrevivência (97,79%) com bom desempenho no controle de Botritys cinrea (Tabela 1). O isolado Cyl, mantido em laboratório por repicagens sucessivas in vitro, mostrou-se hipovirulento ou não-patogênico ex vitro, mas apresentou capacidade de biocontrole, provavelmente por instalar naturalmente mecanismos de resistência da planta hospedeira e, ou, de competição por nutrientes (BLAKEMAN, 1980; DUBUS, 1987; ELAD et al., 1994). Embora o tratamento com o isolado Cyl não tenha mostrado diferença significativa em relação à porcentagem de enraizamento, não foram observadas microestacas enraizadas com sintomas de Botrytis cinerea (Tabela 2).

O tratamento-testemunha não apresentou diferença em relação à porcentagem de microestacas enraizadas com e sem sintomas da doença. No entanto, foi observada nos tratamentos com os isolados ST, E15 e S2 de Trichoderma spp. e Cyl de Cylindrocladium spp. uma porcentagem significativamente maior de plantas sem sintomas (Tabela 2).

O isolado E15 de Trichoderma spp. foi o único tratamento que diferiu da testemunha apresentando média significativamente maior (62,25 %) de porcentagem de microestacas enraizadas (62,25 %) (Tabela 2), confirmando que o biocontrole é eficaz no caso da utilização de isolados antagonistas selecionados de Trichoderma spp., visando à promoção do enraizamento e ao biocontrole de fitopatógenos. Esses resultados confirmam os de Sivan e Harman (1991), Kleifeld e Chet (1992), Melo (1998) e Altomare et al. (1999), que afirmaram, em seus estudos, que Trichoderma spp. promove o crescimento de raízes em diferentes culturas. Sabe-se que a promoção de crescimento de plantas por fungos pode envolver produção de hormônios vegetais, produção de vitaminas ou conversão de materiais a uma forma útil para a planta, absorção e translocação de minerais e controle de patógenos (MELO, 1996). Respostas à aplicação de Trichoderma spp. podem também ser caracterizadas por aumentos significativos na porcentagem de germinação, na área foliar e no peso seco das plantas (KLEIFELD e CHET, 1992). Resende et al. (2004) observaram que o emprego de Trichoderma harzianum em plantas de milho resultou em maior acúmulo de matéria seca nas raízes.

O mecanismo pelo qual os agentes de biocontrole protetores de espécies florestais atuam e pouco conhecido. Produtos químicos sintéticos têm sido usados na agricultura para proteção contra patógenos. Entretanto, seus efeitos nocivos têm estimulado a redução de seu uso e a adoção de métodos naturais menos agressivos. Os principais efeitos indesejáveis do uso de agroquímicos são a poluição ambiental, a intoxicação do homem e animais e o surgimento de resistência dos patógenos a esses produtos. O controle biológico vem ao encontro dessa demanda, pois se baseia em métodos ambientalmente corretos e que podem fazer parte de um controle integrado de doenças. A utilização do controle biológico na área florestal é possível, principalmente em viveiros, onde as condições ambientais podem ser controladas. No campo, a sua utilização é adequada para o controle de patógenos radiculares e também pode ser empregado na preservação de madeiras, evitando a ação de agentes manchadores (GRIGOLETTI JR. et al., 2000).

4. CONCLUSÃO

O tratamento com os isolados ST, E15 e S2 de Trichoderma spp. e Cyl de Cylindrocladium spp. aumentou a sobrevivência de microestacas de Eucalyptus sp nas condições deste experimento. O tratamento com isolado de Trichoderma spp. E15 também promoveu o aumento da porcentagem de enraizamento das microestacas.

5. AGRADECIMENTO

À Tecnoplanta Ltda., em Barra do Ribeiro, RS, pela disponibilização do espaço e material vegetal; e à FAPERGS, pelo suporte financeiro.

6 . REFERÊNCIAS

Recebido em 26.07.2006 e aceito para publicação em 13.11.2006.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 2007

Histórico

  • Aceito
    13 Nov 2006
  • Recebido
    26 Jul 2006
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