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Avaliação econômica e financeira de projetos de fornos dos tipos container industrial e retangular de 40 estéreos

Economic and financial evaluation of a project based on container and 40-stere rectangular kilns

Resumos

Este trabalho teve como objetivo principal a análise econômica e financeira de um projeto com 100 fornos tipo container industrial e 100 fornos tipo retangular de 40st. para a produção de carvão vegetal. Para tanto, utilizaram-se como indicadores financeiros a lucratividade, rentabilidade, prazo de retorno do investimento e ponto de equilíbrio. Os indicadores econômicos utilizados para proceder a análise econômica foram o VPL, TIR, B(C)PE e B/C. Concluíram que os fornos são viáveis do ponto de vista econômico e financeiro. Entretanto o forno container por ter maior VPL daria um retorno mais lucrativo quando comparado ao retangular de 40 st.

Carvão vegetal; fornos container e retangular


This work aimed at the economic and financial analysis of a project with 100 units of both industrial container and 40-st rectangular kilns for charcoal production. The following financial indicators were used in the analysis: profitability, yield, payback period and break-even point. The economic indicators used in the economic analysis were VPL, TIR, B(C)PE and B/C. In this study, the two kilns are economic and financially viable. However, the container was more lucrative than the 40-st rectangular kiln.

Charcoal; container and rectangular kilns


Avaliação econômica e financeira de projetos de fornos dos tipos container industrial e retangular de 40 estéreos

Economic and financial evaluation of a project based on container and 40-stere rectangular kilns

Rosalvo Maciel Guimarães NetoI; Alexandre Santos PimentaII; Marcio Lopes da SilvaIII; Naisy Silva SoaresI; Benedito Rocha VitalIII; José de Castro SilvaIII

IPrograma de Pós-Graduação em Ciência Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: <rmgnetto@yahoo.com.br>

IIBRICARBRAS - Briquetagem e Carbonização do Brasil Ltda. E-mail: <alexandrepimenta@bricarbras.com.br>

IIIDepartamento de Engenharia Florestal da UFV. E-mail: <bvital@ufv.br>

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal a análise econômica e financeira de um projeto com 100 fornos tipo container industrial e 100 fornos tipo retangular de 40st. para a produção de carvão vegetal. Para tanto, utilizaram-se como indicadores financeiros a lucratividade, rentabilidade, prazo de retorno do investimento e ponto de equilíbrio. Os indicadores econômicos utilizados para proceder a análise econômica foram o VPL, TIR, B(C)PE e B/C. Concluíram que os fornos são viáveis do ponto de vista econômico e financeiro. Entretanto o forno container por ter maior VPL daria um retorno mais lucrativo quando comparado ao retangular de 40 st.

Palavra-chave: Carvão vegetal, fornos container e retangular.

ABSTRACT

This work aimed at the economic and financial analysis of a project with 100 units of both industrial container and 40-st rectangular kilns for charcoal production. The following financial indicators were used in the analysis: profitability, yield, payback period and break-even point. The economic indicators used in the economic analysis were VPL, TIR, B(C)PE and B/C. In this study, the two kilns are economic and financially viable. However, the container was more lucrative than the 40-st rectangular kiln.

Keywords: Charcoal, container and rectangular kilns.

1. INTRODUÇÃO

Historicamente, a produção de ferro-gusa no Brasil tem sido sustentada por duas fontes termorredutoras: o carvão mineral (coque) e o carvão vegetal. No entanto, foi no início da década de 1980 que o carvão vegetal adquiriu importância estratégica, em virtude da crise mundial do petróleo, no final da década de 1970 (BRITO, 1990).

O Brasil é o maior produtor e consumidor de carvão vegetal. O consumo desta matéria-prima, no país, tem aumentado de 25.400 x 103 mdc, no ano 2000, para 29.202 x 103 em 2003. Este insumo energético, é utilizado, principalmente, pelo segmento siderúrgico, destacando-se o Estado de Minas Gerais como o maior consumidor, com 19.470 mdc, ou 66,7% da produção total (SILVIMINAS, 2004).

No Brasil, a produção do carvão vegetal é realizada, na maioria das vezes, em fornos de alvenaria rudimentares. Nesse sistema, o controle da carbonização é empírico e não há a recuperação dos produtos voláteis que são lançados no meio ambiente (ALMEIDA e REZENDE, 1982).

A necessidade de agregar valor ao carvão vegetal para torná-lo competitivo com outras fontes de energia, principalmente com o coque, motivaram as empresas florestais a buscarem alternativas no sistema de produção por meio de inovações tecnológicas a fim de obterem uma maior produtividade e qualidade do carvão vegetal.

Zuchi (2001) fez um estudo sobre a evolução dos sistemas de produção do carvão vegetal, envolvendo desde o sistema artesanal até o sistema denominado integrado, praticado pelas companhias de reflorestamento, que introduziram a mecanização do carregamento e descarregamento dos fornos e verificaram melhorias na produtividade, nas condições de trabalho e redução dos impactos ambientais.

Para viabilizar a mecanização, tanto do ponto de vista econômico quanto operacional, foi necessária a construção de fornos retangulares, que chegam a produzir volume de carvão equivalente a cinco fornos de superfície (NOGUEIRA et al., 1999). Hoje, encontram-se em operação os fornos retangulares com e sem câmara de combustão externa.

O trabalho de Ferreira (1988) teve por objetivos desenvolver um forno container adaptado às condições brasileiras e analisar seu funcionamento. Os resultados indicaram a viabilidade do sistema, com rendimento gravimétrico médio de 34% e flexibilidade operacional para trabalhar em condições variadas de temperatura máxima e de velocidade de aquecimento, permitindo combinações desejadas. Os perfis térmicos mostraram que é possível trabalhar com temperaturas próximas entre a cúpula e a base da retorta. Neste estudo, no entanto, não se conseguiu dominar perfeitamente a marcha das temperaturas.

No entanto foi a partir do ano 2000 que se ampliaram os estudos com protótipos do container montados nas Empresas V&M do Brasil, na RIMA industrial e na Universidade Federal de Viçosa (UFV), pelo Departamento de Engenharia Florestal. Os estudos indicaram que o forno container apresenta vantagens como a elevada produtividade, durabilidade, rápido resfriamento, carga e descarga que podem ser mecanizadas.

Barcellos (2002) analisou o desempenho de um forno container para produção de carvão vegetal, assim como o perfil térmico e o controle de poluição no processo produtivo. Além disso, o forno foi avaliado economicamente. Os principais resultados foram a viabilidade econômica do forno container, o controle do processo por meio da temperatura dos gases da carbonização e o estabelecimento de um perfil térmico médio do forno.

Apesar da existência de algumas pesquisas, ainda há, carência de conhecimento por parte dos investidores sobre as viabilidades financeira e econômicas dos fornos retangulares e dos containeres. As análises financeira e econômica tem sua importância e interesse à medida que auxiliam as empresas na tomada de decisão do investimento. Tornando-se imprescindíveis estudos nesta linha de conhecimento.

Esse trabalho teve como objetivo principal a análise econômica e financeira de projetos de forno tipo container industrial e retangular de 40 estéreos. Mais especificamente, pretendem-se estimar os principais indicadores de desempenhos econômicos e financeiros de dois diferentes projetos: um com 100 fornos tipo container industrial e outro com 100 retangulares de 40 estereos; elaborar o fluxo de caixa para os projetos dos fornos e analisar a viabilidade econômica e financeira desses dois projetos por meio dos indicadores de desempenho estimados.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para proceder a análise financeira e econômica dos projetos dos fornos, foi utilizada uma taxa de juros de 10% ao ano.

2.1. Análise Financeira do forno container industrial e do forno retangular de 40 estéreos

Os indicadores financeiros estimados foram:

em que:

PVU = preço de venda unitário =

CUP = Custo unitário de produção (soma do rateio dos custos fixos e custo variável unitário);

C = comercialização (5%); ML = Margem de lucro (20%).

CVU = custo variável unitário.

É importante ressaltar que a análise financeira é de curto prazo, ou seja, é uma análise anual.

2.2. Análise econômica

Os indicadores econômicos estimados neste trabalho foram:

Os indicadores econômicos estimados foram o Valor Presente Líquido – VPL (Equação 5), o benefício (custo) Periódico Equivalente – B(C)PE (Equação 6), a Taxa Interna de Retorno – TIR (Equação 7) e a Razão Benefício Custo – B/C (Equação 8), Rj = Receita no final do ano j, em R$; Cj = Custo no final do ano j, em R$; i = Taxa de desconto; n = duração do projeto, em anos; t = número de períodos de capitalização dentro do prazo de ocorrência da parcela.

A análise econômica, por sua vez, é uma análise de longo prazo, que, neste trabalho, envolve horizonte de planejamento de dez anos.

2.3. Fonte de Dados

Os dados utilizados foram fornecidos pela Gerdal, e são referentes aos fornos retangulares de 40 estéreos, com câmara de combustão externa, com dimensões padronizadas de (13,10 m de comprimento, 3,95 m de largura e 3,5 m de altura). E os dados do forno container industrial fornecidos pela empresa Ciafal.

Os custos envolvidos nos projetos do container industrial e no forno retangular de 40 st., estão apresentados no Quadro 1.


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos Quadros 2 e 3, apresentam-se, respectivamente, as estimativas referentes as receitas utilizadas para os cálculos dos indicadores financeiros e econômicos.



Com os dados dos Quadros 1, 2 e 3 foi possível elaborar o fluxo de caixa, bem como estimar os indicadores financeiros e econômicos dos projetos dos fornos container industrial e retangular de 40 estéreos.

3.1. Análise Financeira dos Fornos

No Quadro 4, são apresentadas as estimativas referentes aos indicadores financeiros dos projetos analisados.


Lucratividade

Neste trabalho, considerou-se que a empresa está produzindo para obter uma lucratividade de 20% ao ano, a um custo de comercialização de 5%.

Uma lucratividade de 20% ao ano significa que, para cada R$100,00 vendidos de carvão vegetal, sobram R$20,00 para a empresa, sob a forma de lucro.

Rentabilidade

A rentabilidade do forno container de 36,94% indica que, a cada ano, a empresa recupera 36,94% do que foi investido. No caso do forno retangular, a rentabilidade foi de 111,33%, mostrando que, a cada ano, a empresa recupera 111,33% do que foi investido. A rentabilidade do forno retangular foi maior em razão do menor investimento quando comparado ao do forno container.

Prazo de retorno do investimento

O prazo de retorno do capital investido nos projetos dos fornos retangulares e do container foi, respectivamente, 11 meses e 32 meses. Isso significa que a empresa leva 32 meses para recuperar o capital investido no forno container. Com relação ao retangular, esse prazo é de 11 meses.

Apesar de o lucro líquido com a produção de carvão vegetal no forno container ser maior, o investimento total nesse tipo de forno é 3,3 vezes superior ao do forno retangular. Deste modo, leva-se mais tempo para recuperar o capital investido no forno container.

Ponto de equilíbrio

A empresa que investir em projetos com fornos container deve vender, anualmente, no mínimo 21.783,43 mdc de carvão vegetal. Optando pelo investimento em projetos com fornos retangulares, é necessária a venda de no mínimo 8.480,52 mdc de carvão por ano. Assim, é necessário vender quantidade maior de carvão vegetal quando se produz no forno container para equiparar os custos às receitas. Essa diferença na quantidade a ser vendida de carvão vegetal pode ser explicada em função do forno retangular produzir um volume de 40 st e o container 8st; os custos fixos do forno container são maiores que os do retangular; o preço de venda unitário por mdc de carvão vegetal do forno retangular é maior que a do container (Quadros 2 e 3) e o custo variável unitário do forno container é superior ao do retangular.

3.2. Análise econômica dos fornos

Os resultados referentes a análise econômica dos fornos container e retangular de 40 estéreos, encontram-se no Quadro 5.


Valor Presente Líquido (VPL)

O VPL estimado para o projeto do forno container e do retangular de 40 st foram maiores que zero. Isso indica que os projetos são viáveis economicamente.

O VPL representa o lucro do empreendimento corrigido pela taxa de juros. O valor presente liquido (VPL) obtido para o forno container foi de R$11.352.379,52 e para o retangular; de R$ 9.421.034,99. Assim, o lucro no projeto do forno container é de 20,5% superior ao do retangular.

Taxa Interna de Retorno (TIR)

A TIR representa a rentabilidade do projeto. Para os fornos container, foi obtida uma TIR de 47,7562%, e para os retangulares uma taxa de 97,0257%. Desta forma, a empresa que decidir investir em fornos container conseguirá um retorno de R$ 1.598.013,18 do capital investido. Investindo em retangulares, o retorno será de R$ 970.257,00.

De acordo com esse critério de decisão, a viabilidade ou inviabilidade do projeto surgem, como já foi firmado, da comparação entre as taxas de desconto. Nesse caso, a TIR obtida tanto para o projeto do container quanto para o do retangular foi superior à taxa de desconto de 10% ao ano, como pode ser observado no Quadro 6. Assim, para a análise com base na TIR, os projetos são viáveis.


A TIR foi maior para o projeto do forno retangular de 40 st. Entretanto é preferível obter 47,7562% de retorno de R$3.346.190,00 que 97,0257% de retorno de R$1.000.000,00.

Razão Beneficio Custo (B/C)

O B/C dos projetos analisados foram maior que 1. Este indicador também aponta que eles são viáveis. A razão B/C do projeto dos fornos container foi de 1, 33, indicando que as receitas superaram os custos em 33%. No caso dos fornos retangulares, as receitas superaram os custos em 32%, uma vez que essa relação foi da ordem de 1,32.

Benefício (custo) periódico equivalente (B(C)PE)

Os resultados encontrados para o B(C)PE indicam que os dois projetos de fornos considerados são viáveis, uma vez que fornecem valores positivos. O valor do B(C)PE representa o lucro anual do empreendimento. Assim, o lucro anual do projeto do forno container e do forno retangular foram, de R$1.847.547,48 e R$1.533.230,05, respectivamente.

3.3. Fluxos de Caixa

Os fluxos de caixa para os projetos dos forno container e retangular de 40 estéreos podem ser observados nos Quadros 6 e 7, respectivamente.


Observando os fluxos de caixa, verifica-se que estes projetos tem o mesmo horizonte de planejamento e receitas, que ocorrem logo no primeiro ano. Além disso, observa-se que o forno container apresenta receitas e custos maiores que o retangular.

A análise permite concluir que os projetos dos fornos container industrial e retangular de 40 estéreos são viáveis financeiramente e economicamente, ou seja, são viáveis a curto e longo prazo.

4. REFERÊNCIAS

Recebido em 29.08.2006 e aceito para publicação em 29.03.2007

  • ALMEIDA, M. R.; REZENDE, M. E. A. O Processo de carbonização contínua da madeira. In: FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS. Produção e utilização de carvão vegetal Belo Horizonte: 1982. p.141-156 (Série de Publicações Técnicas, 8).
  • BARCELLOS, D. C. Forno Container para produção de carvão vegetal: desempenho, perfil térmico e eliminação da poluição 2002. 75f. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2002.
  • BRITO, J. O. Carvão vegetal no Brasil. A utilização da biomassa florestal, a madeira e o carvão na matriz energética brasileira. Energia, n.64, p.27-31, 1990.
  • CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. - CEPEA –Informativo Mensal – Setor florestal n.37. Disponível em: www.cepea.esalq.usp.br/florestal/ (Acessado em janeiro de 2005).
  • FERREIRA, L. H. C. Desenvolvimento de uma retorta metálica para carbonização de madeira 1988. 47f. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa,Viçosa, MG, 1996.
  • NOGUEIRA, C. P.; FRANÇA, G. A. C.; SOUZA JÚNIOR, L. Otimização da produção de carvão vegetal em escala industrial. In: SEMINÁRIO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS GLOBAIS E UTILIDADES, 21., 1999, Vitória. Anais... Vitória: 1999. p.1-10 (Mimeografado).
  • ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE SILVICULTURA SILVIMINAS. Anuário Estatístico Disponível em http://www.silviminas.com.br (Acessado em 30 de agosto de 2004).
  • ZUCHI, P. S. A evolução na produção de carvão vegetal e suas repercussões na produtividade e qualidade do carvão, nas condições de trabalho 2001. 143f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2007
  • Data do Fascículo
    Ago 2007

Histórico

  • Aceito
    29 Mar 2007
  • Recebido
    29 Ago 2006
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