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Regeneração natural em um remanescente de caatinga com diferentes históricos de uso no agreste pernambucano

Advanced natural regeneration in a caatinga remainder with different descriptions of use in the agreste of Pernambuco, Brazil

Resumos

O objetivo deste trabalho foi comparar a regeneração natural de duas áreas de vegetação de caatinga com diferentes históricos de uso no agreste pernambucano. O estudo foi realizado em duas áreas: Área I de mata nativa, sem evidências históricas de eliminação total da vegetação para fins de cultivos agrícolas; e Área II, anteriormente ocupada com cultivo da palma forrageira, abandonada há cerca de 30 anos e que se encontrava em estágio de sucessão secundária. Para coleta dos dados da vegetação, foram utilizadas 24 parcelas de dimensões de 5 x 5 m, em 12 parcelas em cada área, sendo considerados indivíduos em regeneração natural as plantas que possuíram circunferência a 1,30 m do solo (CAP) < 6,0 cm e altura >1,0 m. No levantamento estrutural dos indivíduos regenerantes das duas áreas foram identificados 581 plantas pertencentes a 14 famílias botânicas, 26 gêneros e 30 espécies. As densidades totais obtidas neste estudo foram de 11.200 ind.ha-1 e 8.116 ind.ha-1, nas Áreas I e II, respectivamente. As espécies que obtiveram maiores densidades de regeneração natural na Área I foram: Croton argyrophyllus, Senegalia bahiensis, Croton blanchetianus e Coutareahexandra; e na Área II: Senegalia bahiensis, Poincianella pyramidalis, Zanthoxyllum sp, Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus.

São Bento do Una; Níveis de perturbação; Sucessão ecológica


The objective of this work was to compare a natural regeneration of two areas with Caatinga vegetation with different histories of use in the Agreste of Pernambuco. These studies were carried out in two areas: Area l, native forest, with no historical evidences of deforestation for agriculture purposes; and Area ll, which was previously occupied with the cultivation of forage cactus and was abandoned about 30 years ago at the stage of secondary succession. For data collection, it was used a total of 24 plots of 5 x 5 m dimensions, 12 plots in each area, and considering the plants with circumference at breast height (CBH) of 1.30 m from ground (CAP) < 6.0 cm and height >1.0 m as individuals in natural regeneration. It was identified in the structure survey of regenerating individuals structural survey in both areas, 581 plants of 14 botanical families, 26 genus and 30 species. The total densities obtained in this study were 11,200 and 8,116 individuals.ha-1 in Area l and ll, respectively. The species with the greatest densities of natural regeneration in Area l were the following: Croton argyrophyllus, Senegalia bahiensis, Croton blanchetianus and Coutarea hexandra and in the Area ll: Senegalia bahiensis, Poincianella pyramidalis, Zanthoxyllum sp, Croton blanchetianus and Croton argyrophyllus.

São Bento do Una; Levels of disturbance; Ecological succession


Regeneração natural em um remanescente de caatinga com diferentes históricos de uso no agreste pernambucano

Advanced natural regeneration in a caatinga remainder with different descriptions of use in the agreste of Pernambuco, Brazil

Shirley de Oliveira SilvaI; Rinaldo Luiz Caraciolo FerreiraII; Jose Antonio Aleixo da SilvaII; Mario de Andrade LiraIII; Francisco Tarcísio Alves JuniorII; Maria Olivia de Oliveira CanoIII; José Edson Lima TorresIV

ICentro Universitário de Caratinga, UNEC, Brasil. E-mail: <shirleyoliveira10@yahoo.com.br>

IIUniversidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, Brasil. Email: <rinaldo@dcfl.ufrpe.br>, <aleixo@dcfl.ufrpe.br> e <tarcisioalvesjr@yahoo.com.br>

IIIEmpresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuaria, IPA, Brasil. E-mail: <mariolira@terra.com.br> e <ipa@ipa.br>

IVPós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Brasil

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi comparar a regeneração natural de duas áreas de vegetação de caatinga com diferentes históricos de uso no agreste pernambucano. O estudo foi realizado em duas áreas: Área I de mata nativa, sem evidências históricas de eliminação total da vegetação para fins de cultivos agrícolas; e Área II, anteriormente ocupada com cultivo da palma forrageira, abandonada há cerca de 30 anos e que se encontrava em estágio de sucessão secundária. Para coleta dos dados da vegetação, foram utilizadas 24 parcelas de dimensões de 5 x 5 m, em 12 parcelas em cada área, sendo considerados indivíduos em regeneração natural as plantas que possuíram circunferência a 1,30 m do solo (CAP) < 6,0 cm e altura >1,0 m. No levantamento estrutural dos indivíduos regenerantes das duas áreas foram identificados 581 plantas pertencentes a 14 famílias botânicas, 26 gêneros e 30 espécies. As densidades totais obtidas neste estudo foram de 11.200 ind.ha-1 e 8.116 ind.ha-1, nas Áreas I e II, respectivamente. As espécies que obtiveram maiores densidades de regeneração natural na Área I foram: Croton argyrophyllus, Senegalia bahiensis, Croton blanchetianus e Coutareahexandra; e na Área II: Senegalia bahiensis, Poincianella pyramidalis, Zanthoxyllum sp, Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus.

Palavras-chave: São Bento do Una, Níveis de perturbação e Sucessão ecológica.

ABSTRACT

The objective of this work was to compare a natural regeneration of two areas with Caatinga vegetation with different histories of use in the Agreste of Pernambuco. These studies were carried out in two areas: Area l, native forest, with no historical evidences of deforestation for agriculture purposes; and Area ll, which was previously occupied with the cultivation of forage cactus and was abandoned about 30 years ago at the stage of secondary succession. For data collection, it was used a total of 24 plots of 5 x 5 m dimensions, 12 plots in each area, and considering the plants with circumference at breast height (CBH) of 1.30 m from ground (CAP) < 6.0 cm and height >1.0 m as individuals in natural regeneration. It was identified in the structure survey of regenerating individuals structural survey in both areas, 581 plants of 14 botanical families, 26 genus and 30 species. The total densities obtained in this study were 11,200 and 8,116 individuals.ha-1 in Area l and ll, respectively. The species with the greatest densities of natural regeneration in Area l were the following: Croton argyrophyllus, Senegalia bahiensis, Croton blanchetianus and Coutarea hexandra and in the Area ll: Senegalia bahiensis, Poincianella pyramidalis, Zanthoxyllum sp, Croton blanchetianus and Croton argyrophyllus.

Keywords: São Bento do Una, Levels of disturbance and Ecological succession.

1. INTRODUÇÃO

A distribuição da vegetação no Nordeste do Brasil é influenciada pelo gradiente climático, seguindo-se a diminuição na média pluviométrica do litoral em direção ao interior do continente, onde a vegetação perde em altura e ganha em espécies decíduas e sua fisionomia toma contornos de floresta seca, conhecida regionalmente como caatinga (VICENTE et al., 2005).

Alterações na caatinga tiveram início com o processo de colonização do Brasil, inicialmente como consequência da pecuária bovina, associada às práticas agrícolas rudimentares. Não obstante, a caatinga possui resistência às perturbações antrópicas, como os processos de corte e queima sistematicamente aplicados em muitas áreas de seu domínio (FREITAS et al., 2007).

O semiárido brasileiro é considerado a região árida mais habitada do mundo. Contudo, a pressão antrópica vegetação da caatinga vem se intensificando ao longo dos anos, principalmente a partir do corte indiscriminado de espécies arbóreas nativas (DRUMOND et al., 2008).

As explorações excessivas dos recursos naturais da caatinga com o alto nível de devastação da vegetação nativa vêm provocando impactos ambientais de grande magnitude, cujas consequências exigem intervenção imediata no sentido de amenizar os problemas daí decorrentes (PEREIRA et al., 2002).

A utilização racional e permanente dos recursos florestais de qualquer ecossistema só pode ser planejada a partir do conhecimento de suas dinâmicas biológicas, tornando-se imperativo conhecer, por exemplo, como se dão os processos de regeneração natural diante das perturbações antrópicas (PEREIRA et al., 2001).

O conhecimento sobre a Caatinga tem sido em muito ampliado, principalmente no que se refere às áreas específicas, como a depressão sertaneja; e áreas sedimentares no Sertão (PEREIRA et al., 2002; LEMOS et al., 2002; ALCOFORADO-FILHO et al., 2003; QUEIROZ et al., 2006; BARBOSA et al., 2007; CEZAR et al., 2007; FREITAS et al., 2007; RODAL et al., 2008; FABRICANTE; ANDRADE, 2008). Entretanto, poucos estudos foram publicados sobre a vegetação caducifólia localizada nas áreas transicionais entre as zonas fisiográficas do Sertão e da Mata, a chamada zona do Agreste (PEREIRA et al., 2001; ANDRADE et al., 2007).

Estudos sobre a dinâmica de regeneração natural são de grande interesse científico, no entanto existem escassez e grandes lacunas desses estudos para a vegetação da caatinga pernambucana. Além disso, tais conhecimentos são essenciais para a elaboração e aplicação correta dos planos de manejo e tratamentos silviculturais, permitindo a exploração racional e permanente dos remanescentes.

Dessa forma, este trabalho teve como objetivo comparar a regeneração natural avançada de duas áreas de vegetação de caatinga com diferentes históricos de uso no agreste de Pernambuco.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Caracterização da área

A pesquisa foi realizada na Estação Experimental de São Bento do Una, pertencente ao Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), situada na microrregião homogênea do Vale do Ipojuca, Agreste, Semiárido de pernambucano.

A localização geográfica é 08º 31' 56" de latitude Sul e 36º 33' 00'' de longitude Oeste e altitude de 650 m. O clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo BSh, semiárido, apresentando precipitação média anual de aproximadamente 655 mm (FARIAS et al., 2000). Os dados climáticos de precipitação e temperatura do período de condução do estudo foram adquiridos na Estação Meteorológica da Estação de Experimental de São Bento do Una (Figura 1).


O estudo foi realizado em duas áreas de caatinga: Área I, com 8,9 ha de área nativa, sem evidências históricas de eliminação total da vegetação para fins de cultivos agrícolas; e Área II, com 9,4 ha, a qual foi anteriormente oocupada com cultivo de palma-forrageira (Opuntia ficus-indica Mill) e abandonada há cerca de 30 anos e que se encontrava em estágio de sucessão secundária. As áreas anteriormente eram apenas uma área contínua, totalizando 18,3 ha, em que foi construída uma estrada de 3 m largura, para separá-las em duas áreas, ficando uma para o cultivo da palma-forrageira e a outra para vegetação. Essas áreas vêm sofrendo ações antrópicas de retirada de madeira ao longo dos anos.

2.2. Coleta de dados da estrutura da vegetação

Para coleta dos dados da vegetação foi utilizado um total de 24 parcelas de dimensões de 5 x 5 m, sendo 12 parcelas em cada área e distribuídas de forma sistemática em faixas, cobrindo as áreas de um extremo ao outro, com intervalo de 45 m entre parcelas na faixa e 65 m entre faixas.

Foram considerados indivíduos em regeneração natural avançada as plantas que possuíam circunferência a 1,30 m do solo (CAP) < 6,0 cm e altura >1,0 m. Fez-se a inclusão de indivíduos apenas com altura superior a 1 m, para proporcionar identificações mais seguras das espécies e indivíduos que oferecem maior probabilidade de se estabelecer no local, facilitando futuro estudo da dinâmica na área.

Cada indivíduo amostrado recebeu uma etiqueta de PVC numerada em ordem crescente. A altura foi estimada com o auxílio de uma régua numerada de 2 m de altura, conforme protocolo de medições de parcelas permanentes (Comitê Técnico Científico da Rede de Manejo Florestal da Caatinga, 2005).

Os regenerantes foram divididos em três classes de tamanho de regeneração natural de acordo com Finol (1971) e adaptados às condições da caatinga: Classe I - Indivíduos com altura de 1,0 a 2,0 m; Classe II - Indivíduos com altura de 2,01 a 3,0 m; e Classe III - Indivíduos com altura superior a 3,0 m.

O material botânico foi identificado inicialmente no local por seu nome vulgar e coletado para confecção de exsicatas. O material foi identificado por especialista botânico e por comparação com exsicatas no Herbário Dárdano de Andrade Lima (IPA) e no Herbário Professor Sérgio Tavares (UFRPE), onde estão depositadas. A sinonímia e grafia dos taxa foram realizadas mediante consulta a Forzza et al. (2010). Para separação em famílias, foi adotado o sistema de classificação APG III (2009).

Para determinação da suficiência do número de parcelas amostradas, utilizou-se o procedimento REGRELRP, do Sistema para Análise Estatística e Genética (SAEG), desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa, conforme adotado por Ferreira e Vale (1992), seguindo-se a lógica da curva espécie/área. Esse procedimento é apropriado para análise de regressão de modelos descontínuos, compostos de uma parte linear crescente e de uma na forma de platô (SAEG, 1997).

Foram calculados parâmetros estruturais de acordo com Mueller-Dombois e Ellemberg (1974). Para estimar a diversidade florística, foi utilizado o índice diversidade de Shannon-Wiener (H'), conforme descrito em Magurran (1988). Os dados foram processados com o auxílio do software Mata Nativa 3 (CIENTEC, 2010).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostragem dos dados florísticos, em ambas as áreas, mostrou-se satisfatória para caracterizar a florística da vegetação em estudo utilizando procedimento REGRELRP do SAEG (Figura 2). Nessa figura, observa-se que houve a estabilização do número de espécies.


No levantamento estrutural dos indivíduos regenerantes das duas áreas foram identificadas 581 plantas pertencentes a 17 famílias botânicas, 26 gêneros e 30 espécies, e seis indivíduos não foram identificados devido à falta de material fértil para sua identificação (Tabela 1). Pereira et al. (2001), em uma área com três níveis de perturbação, com 400 m2 cada, no agreste paraibano, encontraram 347 indivíduos no total, representados por 15 famílias, 22 gêneros e 26 espécies.

Já Andrade et al. (2007) também no Estado da Paraíba, estudando campos abandonados de sisal (Agave sisalana Perrine ex Engelm.) há aproximadamente 30 anos, verificaram 797 indivíduos em uma área amostral de 4.000 m2, pertencentes a 15 famílias botânicas, 27 gêneros e 31 espécies; e Fabricante e Andrade (2008), estudando indivíduos regenerantes na caatinga no Seridó paraibano, encontraram os maiores números de indivíduos: 1.129, pertencentes a 15 espécies, 12 gêneros e sete famílias botânicas.

As variabilidades ocorrentes nos levantamentos florísticos, quanto à quantidade de espécies e indivíduos, levaram Andrade-Lima (1981) a afirmar que as caatingas situadas em locais onde as precipitações são mais acentuadas apresentam maior número de espécies. Entretanto, Rodal et al. (2008) relataram que não apenas o total de chuvas pode modificar a quantidade de espécies e indivíduos, embora esse seja um dos fatores mais importantes, elegendo outros elementos a serem considerados, como situação topográfica, classe, profundidade e permeabilidade do solo.

Além dos fatores edafoclimáticos em que esses remanescentes estão inseridos, deve-se levar em consideração o nível de inclusão adotado, que em muitos estudos é diferenciado. Santana e Souto (2006) afirmaram que áreas que sofrem antropismo devem levar em consideração o histórico de seu uso.

Na Área I, registraram-se 17 famílias botânicas, 21 gêneros e 26 espécies, e três indivíduos não foram identificados. As famílias de maior representatividade foram: Fabaceae com cinco, Euphorbiaceae com quatro, Capparaceae e Erytroxylaceae com dois gêneros. Já as demais famílias foram representadas por apenas uma espécie. As famílias Euphorbiaceae e Fabaceae corresponderam a 50% do total de espécies da área. Essas famílias também se apresentaram como de maior número de espécies em outras pesquisas sobre regeneração natural (PEREIRA et al., 2001; ANDRADE et al., 2007).

Na Área II, amostraram-se 14 famílias botânicas, 19 gêneros e 23 espécies, e três indivíduos não foram identificados. As famílias que mais se destacaram foram: Fabaceae, com 6 gêneros, Euphorbiaceae com quatro e Capparaceae com dois; as demais famílias foram representadas por apenas uma espécie e detiveram cerca de 52% do total das espécies amostradas nessa área.

As espécies Schinopsis brasiliensis, Erythroxylum subrotundum, Sapium glandulatum, Senegalia langsdorffii, Prockia crucis e Rhamnidium elaecarpum foram encontradas apenas na Área I, assim como as espécies Ptilochaeta banhiensis e Piptadenia viridiflora, que foram exclusivas da Área II, enquanto as demais espécies foram comuns às duas áreas estudadas.

Analisando o fato de que essas áreas há 30 anos faziam parte de uma área contínua, a afirmação de Pereira et al. (2003) de que a vegetação das áreas de caatinga em regeneração tem estrutura diferente da anterior ao desmatamento, mesmo muitos anos depois, corrobora os resultados deste estudo.

As densidades totais obtidas neste trabalho foram de 11.200 ind.ha-1 e 8.116 ind.ha-1, nas Áreas I e II, respectivamente (Tabelas 2 e 3). Esses valores foram superiores aos encontrados nos estudos na Paraíba, onde Pereira et al. (2001) constataram no Município de Areias, no agreste do Estado, 6.750, 5.500 e 5.100 ind.ha-1 nos ambientes I, II e III, respectivamente, ordenados em níveis crescentes de perturbação. Entretanto, Fabricante e Andrade (2008), pesquisando no Município de Santa Luzia no Seridó, estimaram 2.822,5 ind.ha-1.

Neste estudo, a Área I apresentou maior densidade, e isso reflete quanto dessa área foi alterada, deixando espaços e clareiras que auxiliam no aumento da germinação, promovendo, consequentemente, densidades de regenerantes mais elevadas. Para Amorim et al. (2005), as grandes variações de densidade estão ligadas à ocupação do espaço e ao porte das plantas lenhosas.

As espécies que obtiveram maiores densidades e regeneração natural foram: Croton argyrophyllus, Senegalia bahiensis, Croton blanchetianus e Coutarea hexandra, que juntas representam 81,54% das plantas amostradas; e as espécies Croton argyrophyllus e Croton blanchetianus corresponderam a 56,25%. Segundo Pereira et al. (2001), essas espécies são comuns em áreas sob grandes perturbações, devido à sua facilidade de reprodução e dispersão, características essas que fazem delas pioneiras típicas da caatinga e que tendem a dominar os primeiros estágios serais.

A espécie Coutarea hexandra é amplamente distribuída no Brasil (LUCENA et al., 2006), em alguns levantamentos da flora da caatinga em Pernambuco (RODAL et al., 1998; ALCOFORADO-FILHO et al., 2003; RODAL et al., 2008). Alguns autores classificaram essa espécie como secundária inicial (SILVA et al., 2003; MARANGON et al., 2007). Neste estudo, a contribuição da espécie foi de aproximadamente 7% da densidade relativa.

As informações obtidas a partir dos estudos realizados em outras áreas (RODAL et al., 1998; PEREIRA et al., 2001; ALCOFORADO-FILHO et al., 2003; SILVA et al., 2003; MARANGON et al., 2007; RODAL et al., 2008) ajudaram a inferir que esse remanescente de vegetação caatinga é muito jovem, pois apresenta, na sua maioria, espécies ditas como pioneiras e secundárias iniciais. Na Área II, as maiores densidades e regeneração natural foram das seguintes espécies, em ordem crescente: Senegalia bahiensis, Poincianella pyramidalis, Zanthoxyllum sp, Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus. No cômputo geral, elas representam 76,32% das plantas amostradas, e 68,57% dos indivíduos apresentados são das espécies pioneiras, típicas de ambientes antropizados: Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus,mostrando tolerância a elevados níveis de perturbações (SAMPAIO et al., 1998; PEREIRA et al., 2001; QUEIROZ et al., 2006). Essa tendência também foi manifestada em Senegalia bahiensis e Zanthoxyllum sp.

Na Área I, nota-se que as duas primeiras classes de altura apresentaram densidades semelhantes, com redução acentuada dos indivíduos maiores que 3,0 m. Na Área II, a maioria dos indivíduos (36%) estava na classe III, comportamento esse que reflete que o antropismo recente foi mais acentuado na Área I, onde ocorreu sua maior concentração, com 42% dos indivíduos na primeira classe de altura. Segundo Pereira et al. (2001), o incremento dos indivíduos nas maiores classes de tamanho apresenta razão inversa ao nível de perturbação imputado aos ambientes (Figura 3).


As espécies Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus se destacaram em todas as classes de tamanho e nas duas áreas estudadas. Comportamento esse esperado em virtude de se tratarem de espécies com características pioneiras de ambientes antropizados da caatinga, como apontaram os resultados obtidos por Pereira et al. (2001).

Conclui-se que as duas áreas estudadas sofreram níveis de perturbações antrópicas acentuadas, e isso refletiu no número elevado relacionado à densidade das espécies colonizadoras e típicas de ambientes antropizados, como Croton blanchetianus e Croton argyrophyllus,em ambas as áreas.

Os resultados da Classe I devem ser interpretados com cautela, já que o critério de inclusão dos indivíduos desprezou os exemplares menores que 1 m.

4. AGRADECIMENTOS

Ao IPA, pela disponibilidade da área e das instalações para a pesquisa; ao CNPq, pela bolsa de mestrado do primeiro autor, de produtividade do 2º 3º 4º autores e a bolsa de PNPD/CAPES/FACEPE do 5º autor..

5. REFERÊNCIAS

Recebido em 16.12.2008 e aceito para publicação em 19.04.2012.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jul 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2012

Histórico

  • Recebido
    16 Dez 2008
  • Aceito
    19 Abr 2012
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