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Recidiva hemorrágica em pacientes esquistossomóticos operados

Rebleeding in schistosomotics patients after surgery

Resumos

Foram estudados, no período de 1987 a 1991, trinta doentes esquistossomóticos submetidos anteriormente a operações não descompressivas para tratamento da hemorragia digestiva alta, e que apresentaram recidiva hemorrágica. Através de endoscopia digestiva alta, ultra-sonografia abdominal e estudo angiográfico, procurou-se determinar o local do novo sangramento e quais os possíveis fatores de recidiva hemorrágica presentes. Procurou-se também determinar a influência da cirurgia anterior no intervalo de tempo decorrido entre esta e o primeiro episódio de recidiva hemorrágica. Os autores concluem que as varizes esofágicas foram significativamente o local mais freqüente do sangramento nas recidivas hemorrágicas (86,7%); que a úlcera péptica gástrica (13,3%), a não desvascularização gastroesofágica (30%), a desvascularização incompleta (16,7%) ou a trombose da veia porta (26,7%) estão presentes na maioria dos casos de recidiva hemorrágica; e que a associação da desvascularização gastroesofágica à esplenectomia não alterou o intervalo médio de tempo decorrido entre a cirurgia anterior e o primeiro episódio de recidiva do sangramento.

Hipertensão portal; Varizes esofágicas e gástricas; Esquistossomose mansônica


The authors studied 30 schistosomotic patients between 1987 to 1991, previously submitted to non-decompressive surgery for the treatment of upper gastrointestinal hemorrhage who rebled after the surgery. Upper digestive endoscopy, abdominal ultrasonography and angiographic study were carried out in this patients with the aim of trying to detemine the source of rebleeding, and possible factors correlated to this new onset of bleeding. An attempt was also made to determine the influence of previous surgery in the free-time interval from bleding till the first episode of upper hemorrhage. 1t was concluded that esophageal varices are the most common site of bleeding in the rebleeding (86.7%). It was found that peptic gastric ulcer (13.3%) non-gastroesophagic devascularization (30%), uncomplet devascularization (16.7%), and portal thrombosis (26.7%), are present in most cases of rebleeding. It was also found that the association of the gastroesophagic devascularization to esplenectomy did not significantly alter the average time interval between previous surgery and first episode of the rebleeding.

Portal hypertension; Esophageal and gastric varices; Mansonic schistosomiasis


ARTIGOS ORIGINAIS

Recidiva hemorrágica em pacientes esquistossomóticos operados

Rebleeding in schistosomotics patients after surgery

José Cesar Assef, TCBC.SPI; Sérgio San Gregório Fávero, ACBC.SPII; Luiz Arnaldo Szutan, TCBC.SPIII; Armando de Capua Júnior, TCBC.SPIV

IMestre em Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

IIPós-Graduando do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo

IIIProfessor Assistente do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo

IVProfessor Titular e Diretor do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo. Chefe do Grupo de Fígado e Hipertensão Porta

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. José Cesar Assef Rua Estado de Israel, 435/132 04022-001 - São Paulo-SP

RESUMO

Foram estudados, no período de 1987 a 1991, trinta doentes esquistossomóticos submetidos anteriormente a operações não descompressivas para tratamento da hemorragia digestiva alta, e que apresentaram recidiva hemorrágica. Através de endoscopia digestiva alta, ultra-sonografia abdominal e estudo angiográfico, procurou-se determinar o local do novo sangramento e quais os possíveis fatores de recidiva hemorrágica presentes. Procurou-se também determinar a influência da cirurgia anterior no intervalo de tempo decorrido entre esta e o primeiro episódio de recidiva hemorrágica. Os autores concluem que as varizes esofágicas foram significativamente o local mais freqüente do sangramento nas recidivas hemorrágicas (86,7%); que a úlcera péptica gástrica (13,3%), a não desvascularização gastroesofágica (30%), a desvascularização incompleta (16,7%) ou a trombose da veia porta (26,7%) estão presentes na maioria dos casos de recidiva hemorrágica; e que a associação da desvascularização gastroesofágica à esplenectomia não alterou o intervalo médio de tempo decorrido entre a cirurgia anterior e o primeiro episódio de recidiva do sangramento.

Unitermos: Hipertensão portal; Varizes esofágicas e gástricas; Esquistossomose mansônica.

ABSTRACT

The authors studied 30 schistosomotic patients between 1987 to 1991, previously submitted to non-decompressive surgery for the treatment of upper gastrointestinal hemorrhage who rebled after the surgery. Upper digestive endoscopy, abdominal ultrasonography and angiographic study were carried out in this patients with the aim of trying to detemine the source of rebleeding, and possible factors correlated to this new onset of bleeding. An attempt was also made to determine the influence of previous surgery in the free-time interval from bleding till the first episode of upper hemorrhage. 1t was concluded that esophageal varices are the most common site of bleeding in the rebleeding (86.7%). It was found that peptic gastric ulcer (13.3%) non-gastroesophagic devascularization (30%), uncomplet devascularization (16.7%), and portal thrombosis (26.7%), are present in most cases of rebleeding. It was also found that the association of the gastroesophagic devascularization to esplenectomy did not significantly alter the average time interval between previous surgery and first episode of the rebleeding.

Key words: Portal hypertension; Esophageal and gastric varices; Mansonic schistosomiasis.

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Recebido em 16/5/94

Aceito para publicação em 16/3/98

Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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  • Endereço para correspondência:
    Dr. José Cesar Assef
    Rua Estado de Israel, 435/132
    04022-001 - São Paulo-SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 1998

    Histórico

    • Aceito
      16 Mar 1998
    • Recebido
      16 Maio 1994
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