Acessibilidade / Reportar erro

Complicações dos catéteres venosos centrais de longa permanência: análise de 500 implantes consecutivos

Complications of long-term central venous catheters: analysis of 500 consecutive implants

Resumos

Neste trabalho, são analisadas retrospectivamente as complicações locais e sistêmicas associadas ao implante e uso de catéteres venosos centrais (CVC) de longa permanência. Num período de oito anos, foram implantados 500 CVC para quimioterapia de doenças malignas ou para suporte em transplantes de medula óssea. Dois tipos de CVC foram usados: 322 CVC totalmente implantáveis (com reservatório subcutâneo) e 178 CVC semi-implantáveis (com segmento externo). Os implantes foram feitos por via percutânea ou por dissecção venosa cirúrgica. As veias de acesso foram: jugular interna, subclávia, cefálica, e safena magna. OS CVC foram usados de três dias a 75 meses (média de 4,8 meses). Foram analisadas as complicações que necessitaram de tratamento, prolongaram a estadia hospitalar ou levaram à retirada do catéter. Complicações menores foram excluídas deste estudo. Os tipos e os números de complicações observadas foram: Anestésicas: broncoespasmo grave (um); enfisema do pescoço por perfuração traqueal (um). Cirúrgicas: deiscência da incisão (duas); hematoma do pescoço (três); infecção aguda no local de implante (duas); lesão temporária do nervo vago (três}; linfocele (uma); fístula do ducto torácico (uma). Venosas: trombose aguda da jugular (três) e da veia subclávia (cinco); síndrome da cava superior (três). Do próprio catéter: bacteremia tardia (39); trombose do catéter (48); erosão da pele sobre o catéter/reservatório(três); torção do reservatório (duas); fratura do catéter (duas). No total, ocorreram 119 complicações, para uma taxa cumulativa de 23,8%. Nenhuma complicação foi fatal. O implante e uso dos CVC de longa permanência estão associados a complicações freqüentes, que podem ser graves. Mas os benefícios trazidos por estes CVC nos pacientes que necessitam de acesso venoso confiável por tempo prolongado são certamente muito maiores do que os riscos das complicações.

Catéter venoso central; Catéter de longa permanência; Acesso venoso


Central venous catheters (CVC) are widely used today in the management of patients with malignant disease. In the present study, local and systemic complications related to implantation and use of long-term central venous access catheters are retrospectively analysed. Over an eight-year period, 500CVC were implanted for chemotherapy of malignant disease and for support in bone marrow transplants. Two types of CVC were used: 322 totally implantable (with subcutaneous ports) and 178 semi-implantable (with external segment). The CVC were implanted percutaneously or by surgical dissection. The CVC were used from three days to 74 months (mean of4.8 months). Complications that needed active treatment, prolonged hospital stay or resulted in catheter removal were included in this study. Minor complications were excluded. The types and number of complications observed were: Anesthetic: severe bronchospasm (one); tracheal perfuration causing neck emphysema (one). Surgical: dehiscence of the incision (two); neck hematoma (three); temporary vagus nerve injury (three); lymphocele (one); thoracic duct fistula (one). Venous: acute jugular vein thrombosis (three); subclavian vein thrombosis (five); superior vena cava syndrome (three).Catheter-Related: acute local infection (three); late bacteremia (39); catheter thrombosis (48); skin erosion over the catheter/port (three); torsion of the port (dois); catheter fracture (dois). Overall, 119 complications occurred, fora cumulative rale of 23, 8 %. No one complication was fatal. Implantation and use of long-term CVCs are associated with frequent, sometimes severe complications. However the benefits of long-term CVCs in patients who need reliable venous acess for long periods of time outweight the risks of such complications.

Central venous catheter; Indwelling venous catheter; Venous access


ARTIGOS ORIGINAIS

Complicações dos catéteres venosos centrais de longa permanência: análise de 500 implantes consecutivos

Complications of long-term central venous catheters: analysis of 500 consecutive implants

Ricardo César Rocha Moreira, TCBC-PRI; Júlio Cesar Batista, ACBC-PRII; Elias Abrão, TCBC-PRIII

ICirurgião Vascular do Hospital Nossa Senhora das Graças e do Hospital de Clínicas da UFPR

IIOncologista Pediátrico do Serviço de Oncologia do Hospital Nossa Senhora das Graças

IIIChefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Nossa Senhora das Graças. Professor Adjunto da UFPR. In Memorian

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Ricardo C. Rocha Moreira Rua Bruno Filgueira, 2.054/702 80730-380 - Curitiba-PR

RESUMO

Neste trabalho, são analisadas retrospectivamente as complicações locais e sistêmicas associadas ao implante e uso de catéteres venosos centrais (CVC) de longa permanência. Num período de oito anos, foram implantados 500 CVC para quimioterapia de doenças malignas ou para suporte em transplantes de medula óssea. Dois tipos de CVC foram usados: 322 CVC totalmente implantáveis (com reservatório subcutâneo) e 178 CVC semi-implantáveis (com segmento externo). Os implantes foram feitos por via percutânea ou por dissecção venosa cirúrgica. As veias de acesso foram: jugular interna, subclávia, cefálica, e safena magna. OS CVC foram usados de três dias a 75 meses (média de 4,8 meses). Foram analisadas as complicações que necessitaram de tratamento, prolongaram a estadia hospitalar ou levaram à retirada do catéter. Complicações menores foram excluídas deste estudo. Os tipos e os números de complicações observadas foram: Anestésicas: broncoespasmo grave (um); enfisema do pescoço por perfuração traqueal (um). Cirúrgicas: deiscência da incisão (duas); hematoma do pescoço (três); infecção aguda no local de implante (duas); lesão temporária do nervo vago (três}; linfocele (uma); fístula do ducto torácico (uma). Venosas: trombose aguda da jugular (três) e da veia subclávia (cinco); síndrome da cava superior (três). Do próprio catéter: bacteremia tardia (39); trombose do catéter (48); erosão da pele sobre o catéter/reservatório(três); torção do reservatório (duas); fratura do catéter (duas). No total, ocorreram 119 complicações, para uma taxa cumulativa de 23,8%. Nenhuma complicação foi fatal. O implante e uso dos CVC de longa permanência estão associados a complicações freqüentes, que podem ser graves. Mas os benefícios trazidos por estes CVC nos pacientes que necessitam de acesso venoso confiável por tempo prolongado são certamente muito maiores do que os riscos das complicações.

Unitermos: Catéter venoso central; Catéter de longa permanência; Acesso venoso.

ABSTRACT

Central venous catheters (CVC) are widely used today in the management of patients with malignant disease. In the present study, local and systemic complications related to implantation and use of long-term central venous access catheters are retrospectively analysed. Over an eight-year period, 500CVC were implanted for chemotherapy of malignant disease and for support in bone marrow transplants. Two types of CVC were used: 322 totally implantable (with subcutaneous ports) and 178 semi-implantable (with external segment). The CVC were implanted percutaneously or by surgical dissection. The CVC were used from three days to 74 months (mean of4.8 months). Complications that needed active treatment, prolonged hospital stay or resulted in catheter removal were included in this study. Minor complications were excluded. The types and number of complications observed were: Anesthetic: severe bronchospasm (one); tracheal perfuration causing neck emphysema (one). Surgical: dehiscence of the incision (two); neck hematoma (three); temporary vagus nerve injury (three); lymphocele (one); thoracic duct fistula (one). Venous: acute jugular vein thrombosis (three); subclavian vein thrombosis (five); superior vena cava syndrome (three).Catheter-Related: acute local infection (three); late bacteremia (39); catheter thrombosis (48); skin erosion over the catheter/port (three); torsion of the port (dois); catheter fracture (dois). Overall, 119 complications occurred, fora cumulative rale of 23, 8 %. No one complication was fatal. Implantation and use of long-term CVCs are associated with frequent, sometimes severe complications. However the benefits of long-term CVCs in patients who need reliable venous acess for long periods of time outweight the risks of such complications.

Key words: Central venous catheter; Indwelling venous catheter; Venous access.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido em 15/10/97

Aceito para publicaçào em 1/1 0/98

Trabalho realizado nos Serviços de Cirurgia Vascular do Hospital Nossa Senhora das Graças e do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - Curitiba-PR .

  • 1. Broviac JW, Schribner BH. Prolonged parenteral nutrition in the home. Surg Gynecol Obstet 1974; 139:24-28.
  • 2. Hickman RO, Buckner CD, Clife RA, et al. A modified right atrial catheter for access to the venous system in bone marrow transplant patients. Surg Gynecol Obstet 1979;148:871-875.
  • 3. Niederhuber JE, Ensminger W, Gyves JW, et al. Totally implanted venous and arterial access system to replace external catheters in cancer treatment. Surgery 1982;92:706-712.
  • 4. Strum S, McDermed J, Korn A, et al. Improved methods for venous access: the PortACath, a totally implanted catheter system. J Clin Oncol 1986;4:596-603.
  • 5. Lopes A, Gonçalves EL, Sabóia LV, et al. Cateterismo venoso central com sistema totalmente implantável ("port-A-cath") como meio auxiliar no tratamento do câncer. Acta Oncol Bras 1988;8: 105-112
  • 6. Kappers-Klunne MC, Degener JE, Stijnen T, et al. Complications from long-term indwelling central venous catheters in hematologic patients with special reference to infection. Cancer 1989; 64:1747-1752.
  • 7. Sariego J, Bootorabi B, Matsumoto T, et al. Major long-term complications in 1,422 permanent venous access devices. Am J Surg 1993;165:249-251.
  • 8. Raaf JH. Results from use of 826 vascular access devices in cancer patients. Cancer 1985;55:1312-1321.
  • 9. Aun R, Waksman H, Silva ES, et al. Utilização da via de acesso venoso totalmente implantável para quimioterapia. Cir Vasc e Angiol 1987;3:27-30.
  • 10. Maki DG, Cobb L, Garman JK, et al. An attachable silver-impregnated cuff for prevention of infection with central venous catheters: a prospective randomized multicenter trial. Am J Med .1988;85:307-314.
  • 11. Guillaumon AT. Indicações, técnicas e resultados do implante de acesso venoso central permanente para quimioterapia. Oncologia Atual 1993;2;285-289
  • 12. Wechsler RJ. Spirn PW. Conant EF, et al. Thrombosis and infection caused by thoracic venous catheters. AJR 1993; 160:467-471.
  • 13. Toyonaga ET. Veran MP. Pasquini R. Complicações do uso de catéteres venosos centrais de longa permanência em transplante de medula óssea. Rev Paulista Enfermagem 1988;8:23-28.
  • 14. Silva RJ. Manuseio do catéter de Hickman pela enfermagem: estudo observacional. Rev Soc Cardiologia do Estado de São Paulo 1994;4 (supl A):1- 4.
  • 15. Faintuch J. Waitzberg DL. Bertevello PL. et al. Infecções do catéter venoso central.Rev Hosp Clin Fac Med Univ São Pau/o 1995;50: 52-54.
  • 16. Maki DG, Weise CE, Sarafin HW. A semiquantative culture method for identifying intravenous catheter-related infection. N Eng J Med 1977;296:1305-1309.
  • Endereço para correspondência:

    Dr. Ricardo C. Rocha Moreira
    Rua Bruno Filgueira, 2.054/702
    80730-380 - Curitiba-PR
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 1998

    Histórico

    • Aceito
      01 Out 1998
    • Recebido
      15 Out 1997
    Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@cbc.org.br