Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação CAPES

EDITORIAL

Avaliação CAPES

Alcino Lázaro da Silva, TCBC-MG

Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo da UFMG

Os objetivos da CAPES apóiam-se em estímulo a duas pilastras: pesquisa e docência.

Na pesquisa busca a excelência, o topo, a profundidade dos fenômenos de cada rea e a tentativa de competição com países que os detêm.

Na docência, ao lado da pesquisa, agora não mais com os padrões acima, busca a transformação, a tradição de cultura e o transbordamento em novos valores para a Universidade Brasileira.

Na pesquisa de alto nível (o ponto "7") há que ter uma linha definida, um laboratório que a desenvolva e a incremente e uma liderança que gera, produz e transfere. Isto é fruto de uma longa jornada de experiência e trabalho contínuo.

Na docência há que emergir, evoluir ou manter a excelência em pesquisa; há que mergulhar no método científico e, sobretudo, formar pessoal no compromisso com a profissão, a bioética, a atitude e os valores morais para não fugir jamais à verdade.

Na docência e na pesquisa é possível caminhar, nos dois sentidos, em locais com infra-estrutura econômica e homens que as sustentam e as fazem crescer. São privilegiados, mas existem.

Num só, ou em todos os três acima, a busca do aprimoramento não pode deixar de lado alguns aspectos fundamentais, a saber: desenvolver projetos que interessam a toda a população, independente de posição geográfica ou etnia; ser nacionalista para envolver-se em projetos que solucionem problemas comuns e ser indigenista para atender aos desafios regionais que afligem a população brasileira.

O compromisso de quem investiga e conclui é repassar, imediatamente, à comunidade científica ou à mídia, os resultados para que se distribua o benefício ou se desdobre o processo. Para isto há que ter meios de divulgação. Os preferidos são os de prestígio internacional, seguidos pelos nacionais ou até pelos regionais.

Na rea médica, considerando-se que no Brasil, atualmente, a realidade não é a mesma dos países que estão em vantagem, no tempo e na qualidade, é preciso que a CAPES reconsidere ou hierarquize os seus propósitos de avaliação.

Se não, vejamos:

• Brasil deve, ainda, considerar-se país emergente;

• sua condição econômica é precria e instável;

• há problemas endêmicos muito sérios para terem solução;

• não há, com várias exceções, centros de linha de pesquisa avançada para transbordarem-se em novos outros, com facilidade;

• a Universidade não tem autonomia e é muito heterogênea nas suas condições e na qualidade que oscila de ruim a excelente;

• as fontes de financiamento apresentam quatro categorias: estão restritas a orçamentos acanhados; estão limitadas a determinados objetivos, no financiamento; têm instabilidade orçamentária, a cada ano, ou não têm suporte financeiro para sustentar, a não ser pequena parte das solicitações;

• as fontes são poucas no Brasil e inexistentes em alguns estados;

• as condições geográficas são as mais díspares, não só pelo desnível socioeconômico como também pela extensão territorial;

• os currículos médicos, há mais de vinte anos, são inconstantes, em desenvolvimento ou em experimentações;

• a geração de cursos pós-graduados ainda está vinculada a nomes de profissionais que, por entusiasmo, idealismo, força de vontade, por acreditarem e por viverem nas universidades, criam, desenvolvem e sustentam cursos credenciados pela CAPES;

• as Universidades têm características diversas nos seus objetivos e recursos. Umas se preocupam com a excelência, outras com a fusão de ambas e outras não se definiram porque têm condições ambientais e econômicas pobres;

• a divulgação, na rea médica, no Brasil, é parca e inconstante. Revistas existem. Extinguem-se, são inconstantes, aparecem e reaparecem e outras dependem do sabor da indústria farmacêutica ou de implementos;

• na rea básica há uma boa revista nacional ou internacional para dez profissionais que batem à sua porta apresentando trabalhos. Na rea clínica, h uma revista para mil profissionais que, às vezes, esmolam para que seus resultados sejam comunicados, mesmo em revistas impostas ao leitor desavisado;

• as revistas internacionais repetem estes números, acima idealizados. Ocorre que têm sua política interna ou nacional e, de países emergentes, na rea médica clínica, dificilmente são aceitos trabalhos mesmo que de qualidade.

Concluindo, sugere-se à CAPES que faça, pro tempore, sem data limite, um reestudo na sua política de incentivo e manutenção de cursos, baseada mais em critérios regionais do que na generalização da busca ou da obrigatoriedade de excelência. Por exemplo:

Grupo 1 - cursos de pesquisa de ponta, senhores da excelência

Grupo 2 - cursos para a formação de pessoal voltado à pesquisa

Grupo 3 - idem, voltado à docência

Grupo 4 - cursos de objetivos mistos

Grupo 5 - cursos emergentes ou em diligência

Tomamos a liberdade, data venia, de lembrar que os processos básicos e fundamentais na educação, historicamente, colocam-se em três fases.

Deixamos a fase algedônica (dor e prazer) da pesquisa e estamos na do algoritmo (Cartesiano, racional e lógico). O ideal é que se busque a fase heurística (transcendente, criativa, imaginativa) com nível de holismo acima da excelência.

Punir ou penar alguns, porque não se enquadram em um só paradigma, é desestimular, retardar ou impedir que todos caminhem, por seus próprios esforços, para a excelência.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2010
  • Data do Fascículo
    Ago 1999
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br