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Carcinoma epidermóide "in situ" em divertículo de Zenker

Epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum

Resumo

The epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum is a rare disease. The goal of this work is to report one case of epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum of long lasting symptomatology, treated by conservative surgery. In ambulatorial attendance, this patient showed a good evolution and favorable prognosis.

Carcinoma; squamous cell; Zenker diverticulum; Surgery


Carcinoma; squamous cell; Zenker diverticulum; Surgery

RELATO DE CASO

Carcinoma epidermóide "in situ" em divertículo de Zenker

Epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum

José Luís Braga de Aquino, TCBC-SPI; Marcelo Manzano SaidI; Rogério BordaloII

IProfessor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-Campinas

IIMédico Residente de Cirurgia Geral da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-Campinas Doutor em Cirurgia – UFPR

Endereço para correspondência Endereço para correspondência José Luís Braga de Aquino Rua Boaventura do Amaral, 1250/10º andar - Centro 13015-192 - Campinas – SP

ABSTRACT

The epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum is a rare disease. The goal of this work is to report one case of epidermoid carcinoma "in situ" in a Zenker's diverticulum of long lasting symptomatology, treated by conservative surgery. In ambulatorial attendance, this patient showed a good evolution and favorable prognosis.

Key-words: Carcinoma, squamous cell; Zenker diverticulum; Surgery.

INTRODUÇÃO

Embora o divertículo faringoesofágico tenha sido descrito em 1879 por Zenker e Von Ziemsson1 ele se apresenta até hoje como uma afecção incomum. Estima-se uma incidência anual de 2:100.000 por ano2.

A ocorrência de carcinoma no divertículo faringoesofágico é um achado ímpar, com uma freqüência de 0,3 a 1% e sendo "in situ", com uma freqüência ainda menor3.

Apresentamos o caso de um paciente com divertículo faringoesofágico de longa duração que foi submetido ao tratamento operatório, e teve o diagnóstico pós-operatório de carcinoma epidermóide "in situ".

RELATO DE CASO

Paciente D.J.C., 53 anos, branco, sexo masculino, procurou o Serviço de Cirurgia Torácica com queixa de disfagia alta há 17 anos, inicialmente a alimentos sólidos, progredindo há dois anos para pastosos e acompanhado de regurgitação de partículas digeridas, sialorréia, tumoração cervical pósprandial que podia ser reduzida manualmente e emagrecimento discreto, mas não mensurado.

Ao exame físico encontrava-se em bom estado geral, com índice de massa corpórea (IMC) de 24,2 Kg/m2 e apresentava abaulamento em região supraclavicular direita com cerca de 5 cm de diâmetro, de consistência fibro-elástica, móvel e indolor. O estudo radiográfico contrastado do esôfago evidenciou um amplo divertículo faringoesofágico direito (Figura 1). A endoscopia digestiva alta confirmou o diagnóstico, mas não evidenciou lesão em mucosa do divertículo de Zenker.


O doente foi submetido à ressecção do divertículo e miotomia do músculo cricofaríngeo, através de cervicotomia lateral direita em maio de 2002. O estudo anátomo-patológico diagnosticou carcinoma epidermóide "in situ" em mucosa do divertículo de Zencker (Figura 2).


O paciente evoluiu sem complicações pós-operatórias, e recebeu alta hospitalar no quinto dia após a intervenção cirúrgica. No acompanhamento ambulatorial até um ano depois, pelos parâmetros clínicos, endoscópicos e tomográficos da região cervical e torácica não houve nenhuma evidência de recidiva tumoral.

DISCUSSÃO

O divertículo faringo-esofágico consiste em um divertículo de pulsão, oriundo de uma desordem motora do esfínter esofágico superior com herniação da mucosa faríngea e submucosa que ocorre no ponto de transição entre as fibras oblíquas do músculo tireofaríngeo e as fibras mais horizontais do músculo cricofaríngeo. À medida que o divertículo aumenta, disseca, na grande maioria das vezes, no sentido do lado esquerdo e para baixo. No caso relatado fica claro pelo exame físico e pela esofagografia contrastada, através da incidência anterior, que o deslocamento do divertículo predominava à direita, o que nos permitiu uma abordagem cirúrgica por meio de uma incisão cervical oblíqua direita paralela a borda anterior do músculo esternocleidomastóideo, obtendo exposição adequada do divertículo.

O carcinoma epidermóide no divertículo faringoesofágico geralmente está associado ao divertículo de longa duração (3 a 34 anos) já que a inflamação crônica produzida pelo alimento estagnado e pela saliva pode ser importante para o aparecimento de displasia3. Isso fica evidente no caso em estudo, pois o paciente tinha sintomatologia há 17 anos.

Outro dado que se demonstra é que no carcinoma inicial a maioria dos sintomas não é distinguível dos divertículos de Zenker comuns3. Aumento de disfagia e regurgitação de sangue são sintomas que sugerem carcinoma avançado3.

Nos casos em que o tumor é "in situ" ou localizado dentro do divertículo e sem extensão até a margem cirúrgica, a ressecção do divertículo faringo-esofágico e miotomia do músculo cricofaríngeo podem proporcionar o controle da doença4. Huang et al4 demonstraram sobrevida de quatro a oito anos em dois pacientes com carcinoma "in situ", que foram tratados com a ressecção do divertículo4. O tratamento cirúrgico mais conservador permitiu, no nosso paciente, prognóstico relativamente bom, sem sinais de recidiva na avaliação pós-operatória, embora ainda com pouco tempo de acompanhamento.

Em casos de carcinoma epidermóide avançado no divertículo de Zenker outros autores tem preconizado a faringoesofagectomia com esvaziamento cervical bilateral5.

Enfatizamos, que pacientes com divertículo faringoesofágico de longa duração devam ser submetidos à cirurgia como forma de prevenção da evolução para carcinoma. No carcinoma inicial, o tratamento cirúrgico conservador parece oferecer bom prognóstico.

Recebido em 21/10/2003

Aceito para publicação em 06/01/2004

Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-Campinas.

  • 1. Zenker FA, Von Ziemssen H - Diseases of the oesophagus. Encyclopedia of the Practice of Medicine, vol.8 New York. William-Wood, 1878.
  • 2. Laing MR, Murthy P, Ah-See KW, et al. - Surgery for pharyngeal pouch: audit of management with short-and long-term follow up. J R Coll Surg Edinb. 1995, 40(5):315-319.
  • 3. Bowdler DA, Stell PM - Carcinoma arising in posterior pharyngeal pulsion diverticulum (Zenker´s diverticulum). Br J Surg. 1987, 74(7):561-563.
  • 4. Huang BS, Unni KK, Payne WS - Long term survival following diverticulectomy for cancer in pharyngoesophageal (Zenker´s) diverticulum. Ann Thorac Surg. 1984, 38(3):207-210.
  • 5. Andrade Sobrinho J, Góis Filho JF, Kowalski L, et al. - Cancer in pharyngoesophageal diverticulum: report of Case. Rev Bras Cir Cab Pesc, 1988, 12: 45 - 49.
  • Endereço para correspondência

    José Luís Braga de Aquino
    Rua Boaventura do Amaral, 1250/10º andar - Centro
    13015-192 - Campinas – SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005

    Histórico

    • Aceito
      06 Jan 2004
    • Recebido
      21 Out 2003
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