Acessibilidade / Reportar erro

Perfuração espontânea de ducto hepático comum

Spontaneus common bile duct perforation

Resumo

Perforation of common bile duct (CBD) is usually associated with invasive procedures. Spontaneous perforation is rare, and more often described in neonates. We report a case of a spontaneous perforation of CBD in an adult with a family history of cholelithiasis, but with no calculus found during exploration of the biliary tree. The patient was successfully treated by cholecystectomy and T - tube drainage of the CBD.

Common bile duct; Hepatic duct, common; Rupture, spontaneous: Adult


Common bile duct; Hepatic duct, common; Rupture, spontaneous: Adult

RELATO DE CASO

Perfuração espontânea de ducto hepático comum

Spontaneus common bile duct perforation

Carlos Eduardo Barbosa PonteI; Naésio Costa PereiraII; José Huygens Parente Garcia, TCBC-CEIII

IMédico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará

IIResidente de Cirurgia Geral do 2º ano, no Instituto Dr. José Frota

IIIProfessor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Mestre e Doutor em Farmacologia; Coordenador geral do Centro de Transplante Hepático do Ceará

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Recebido em 26/01/2004 Aceito para publicação em 14/09/2004

ABSTRACT

Perforation of common bile duct (CBD) is usually associated with invasive procedures. Spontaneous perforation is rare, and more often described in neonates. We report a case of a spontaneous perforation of CBD in an adult with a family history of cholelithiasis, but with no calculus found during exploration of the biliary tree. The patient was successfully treated by cholecystectomy and T – tube drainage of the CBD.

Key words: Common bile duct; Hepatic duct, common; Rupture, spontaneous: Adult.

INTRODUÇÃO

Em adultos, as perfurações do ducto hepático comum (DHC) são geralmente descritas após procedimentos invasivos.1 As perfurações espontâneas do DHC são raras, sendo mais comuns em neonatos que em adultos.2 Os autores apresentam o caso de uma paciente adulta com quadro de abdome agudo causado por perfuração espontânea de ducto hepático comum.

RELATO DE CASO

Paciente de 24 anos do sexo feminino, deu entrada no serviço de emergência referindo dor intensa há cinco dias na região epigástrica sem irradiação, vômitos, anúria e constipação há três dias. Ao exame, o abdome encontrava-se distendido e com sinais de irritação peritoneal. A paciente tem história patológica pregressa de dor pós-prandial em região epigástrica, que cedia com medicamentos. A história familiar revela que a mãe e três tios maternos foram submetidos à colecistectomia por litíase biliar. Ultra-sonografia mostrou líquido livre na cavidade abdominal em grande quantidade, sem evidências de colelitíase.

Com esse quadro de abdome agudo foi indicada laparotomia exploradora que revelou coleperitônio de aproximadamente 1000ml com dilatação e perfuração de ducto hepático comum. Não havia cálculo no colédoco. Foi realizada colecistectomia e coledocoplastia com aposição de dreno de Kehr em ducto hepático comum e dreno de Penrose em leito hepático. Evoluiu bem e teve alta no 10º dia pós-operatório (PO). O dreno de Kehr foi retirado ambulatorialmente após colangiografia de controle no 17º PO (Figura 1).


DISCUSSÃO

A perfuração espontânea do ducto hepático comum é relatada com mais freqüência em neonatos, geralmente na junção com o ducto cístico, devido à sua maior fragilidade (Figura 2). O quadro clínico é de icterícia súbita, acolia fecal, aumento do volume abdominal com ascite e comprometimento do estado geral. A perfuração do DHC em grávidas está publicada na literatura, e a coledocolitíase è o provável fator etiológico juntamente com o aumento da pressão na veia cava, devido às mudanças hemodinâmicas 3,4.


Já em adultos, as perfurações se dão com mais freqüência após procedimentos invasivos, como colangiopacreatografia retrógrada endoscópica e cirurgias envolvendo as vias biliares. A perfuração espontânea do DHC é uma entidade rara com pouco mais de 40 casos semelhantes relatados2.

A obstrução causada pela coledocolitíase, que é a etiologia mais documentada, leva a um aumento da pressão intra-ductal levando à dilatação das vias biliares e à estase, o que promove infecção e trombose das veias intra-murais, podendo evoluir para necrose e perfuração da parede do ducto5. No caso apresentado, a paciente tinha uma história patológica pregressa e uma história familiar bastante favorável à litíase biliar, mas não foi encontrado cálculo nas vias biliares. Outras causas menos comuns são também relatadas na literatura, tais como: refluxo do suco pancreático ativado, fragilidade congênita da parede do DHC e divertículo infectado1.

O quadro clínico pode ser tanto insidioso como agudo. O primeiro é caracterizado por uma síndrome de obstrução das vias biliares, com distensão abdominal indolor, acolia fecal e icterícia progressiva. O segundo se manifesta como abdome agudo, com sinais de peritonite, vômitos, febre e distensão abdominal2.

As lesões do DHC são raras, mas os cirurgiões que trabalham em grandes serviços de emergência devem estar preparados para fazer o diagnóstico diferencial e tomar a conduta adequada5.

Carlos Eduardo Barbosa Ponte

Av. Bezera de Menes 1172, apto 202

Bairro São Gerardo

CEP 60325-001

Fortaleza – CE

Trabalho realizado no Instituto Dr. José Frota – Hospital Municipal de Fortaleza.

  • 1. Hill NS, Colapinto ND. Spontaneous perforation of the common bile duct. Br J Surg. 1981;68(9):661-2
  • 2. Rege SA, Lambe S, Sethi H, et al Spontaneous common bile duct perforation in adult: a case report and review. Int Surg. 2002;87(2):81-2.
  • 3. Balsarkar DJ, Subramaniyan P, Joshi MA. Spontaneous perforation of the common bile duct in pregnancy. Indian J Gastroenterol. 2001;20 (5):198-9
  • 4. Paladugu R, Rau A, Schein M, et al Spontaneous perforation of the hepatic duct in adults. Dig Surg.1998;15(5):417-20
  • 5. Nomura T, Nikkumi K, Kato H, et al Bile peritonitis due to spontaneous perforation of the common bile duct: report of a case. Surg Today. 1996;26(10):822-4
  • Endereço para correspondência

    Recebido em 26/01/2004
    Aceito para publicação em 14/09/2004
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      14 Set 2004
    • Recebido
      26 Jan 2004
    Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@cbc.org.br