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Hepatectomia para metástases hepáticas de câncer de mama

Hepatectomy for liver metastases from breast cancer

Resumo

Patients with metastatic breast cancer, whereas liver is the only site of dissemination, may benefit from hepatectomy. Literature suggests that surgical treatment of these metastases may offer a longer survival rate than systemic chemotherapy and/or isolated homonal therapy. We report two cases of hepatic resection for liver metastases from breast cancer, with survival of 11 and 16 months without recurrence. One patient had a single metastases and the other two. No post-operative complications were observed.

Breast neoplasms; Liver; Hepatectomy; Neoplasm metastasis


Breast neoplasms; Liver; Hepatectomy; Neoplasm metastasis

RELATO DE CASO

Hepatectomia para metástases hepáticas de câncer de mama

Hepatectomy for liver metastases from breast cancer

Antonio Nocchi Kalil, TCBC-RSI; Camila SeveraII

IChefe dos Serviços de Cirurgia Oncológica do Hospital Santa Rita e Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre; Professor Adjunto-Doutor da Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA) e da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

IIAcadêmica de Medicina da Universidade de Caxias do Sul

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Dr. Antonio Nocchi Kalil Rua Marcelo Gama, 924 / 2º andar 90540-041 - Porto Alegre - RS, Brasil Telefone (comercial): (51) 33789993 Fax: (51) 33789994 Telefone (residencial): (51) 3342 8261 E-mail: ankalil@terra.com.br

ABSTRACT

Patients with metastatic breast cancer, whereas liver is the only site of dissemination, may benefit from hepatectomy. Literature suggests that surgical treatment of these metastases may offer a longer survival rate than systemic chemotherapy and/or isolated homonal therapy. We report two cases of hepatic resection for liver metastases from breast cancer, with survival of 11 and 16 months without recurrence. One patient had a single metastases and the other two. No post-operative complications were observed.

Key words: Breast neoplasms; Liver; Hepatectomy; Neoplasm metastasis.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de metástases hepáticas secundárias ao câncer de mama ocorre em aproximadamente 50% das pacientes, com um prognóstico reservado para as mesmas, sendo as taxas médias de sobrevida inferiores a seis meses. Na maioria dos casos, representa a manifestação de uma doença sistêmica avançada, sendo que em somente 1 a 9% das pacientes as metátases ocorrem de forma isolada no fígado1,2. Este pequeno subgrupo de doentes sem metástases extra-hepáticas, e com lesões únicas ou no máximo duas, pode ter a sobrevida prolongada com a ressecção das lesões, em relação ao que lhes proporcionaria o tratamento convencional, com quimioterapia ou hormonioterapia isoladamente1-3. Além disso, atualmente a cirurgia hepática pode ser realizada com mínima morbidade e baixa mortalidade neste grupo de pacientes.

Neste trabalho, relatamos dois casos de tratamento cirúrgico de metástases de câncer de mama com sucesso.

RELATO DOS CASOS

Caso 1 - Paciente feminina, aos 28 anos apresentou diagnóstico de câncer de mama. Após um ano de quimioterapia neo-adjuvante, foi submetida à quadrantectomia + esvaziamento axilar. O anátomo-patológico demonstrou tratar-se de carcinoma ductal invasor grau III, com nenhum linfonodo comprometido em 27 examinados. Os receptores de estrogênio e progesterona foram positivos. Após o tratamento cirúrgico foram efetuadas 60 sessões de radioterapia. Um ano após o aparecimento do tumor primário e nove meses após a cirurgia de mama foi detectado nódulo único, de 3 cm, no lobo esquerdo do fígado à ecografia e confirmado à tomografia. Neste momento a paciente encontrava-se assintomática. Foi realizada biópsia da lesão, que evidenciou tratar-se de metástase de câncer de mama. Optou-se por hormonioterapia por período de seis meses com Goserelin, 1ampola subcutânea/mês (3,6mg) e Anastrazole (1mg/dia), obtendo-se redução tumoral para 0,8 cm. Após este período foi submetida à hepatectomia para exérese da lesão (segmentectomia II e III), cujo anátomo-patológico confirmou lesão metastática e o pós-operatório transcorreu sem complicações.

Após 16 meses a paciente encontra-se assintomática e sem evidência de recidiva, ainda em uso de hormonioterapia com as drogas acima descritas.

Caso 2 - Paciente feminina, aos 39 anos foi diagnosticada como portadora de neoplasia de mama. Neste momento foi submetida à setorectomia e esvaziamento axilar. O anátomo-patológico mostrou carcinoma ductal invasor grau II, com nenhum linfonodo comprometido em 15 examinados. O receptor para estrogênio foi positivo. Após o tratamento cirúrgico foram realizadas 32 sessões de radioterapia e oito ciclos de quimioterapia com ciclofosfamida, methotrexate e fluoracil. Continuou em acompanhamento, sem evidência de recidiva da doença.

Seis anos após a cirurgia de mama, foram detectadas duas lesões hepáticas à ecografia abdominal, confirmadas pela tomografia subseqüente. Com este diagnóstico realizou mais sete ciclos de quimioterapia com as drogas já usadas e após iniciou Letrozol, 2,5 mg, que usou por dois meses. Após este período de tratamento os exames de imagem mostraram aumento das lesões e a paciente foi, então, submetida à exérese das lesões hepáticas (segmentectomia II-III e ressecção da lesão do segmento VI). Um mês após o tratamento cirúrgico foi reintroduzido o tratamento com hormonioterapia. Encontra- se sem evidência de recidiva após 11 meses de acompanhamento.

DISCUSSÃO

Em geral, a maioria das pacientes com metástases hepáticas de câncer de mama recebem tratamento sistêmico convencional (quimioterapia e / ou hormonioterapia) com finalidades paliativas e com baixas taxas de sobrevida. Para alguns casos selecionados, em que o fígado é o único local de acometimento sistêmico da doença, pode ser oferecida a ressecção das lesões, que aparentemente proporciona sobrevida mais longa em relação ao tratamento convencional1,3.

Os estudos realizados até hoje tendem a ser favoráveis a essa nova proposta, embora a literatura ainda careça de estudos randomizados e prospectivos, analisando grupos maiores de pacientes e comparando as possibilidades tera pêuticas. Elias et al3, em um estudo retrospectivo com 21 pacientes submetidas à hepatectomia, observaram taxas de sobrevida de 50% e 9%, aos dois e cinco anos, respectivamente. Estes autores referem que 19 pacientes haviam recebido quimioterpia previamente à cirurgia e 12 após a ressecção. Pocard e Salmon4, também em um estudo retrospectivo, analisaram 21 pacientes cuja progressão da doença foi controlada anteriormente à cirurgia com tratamento sistêmico. Neste grupo a taxa de sobrevida em cinco anos foi de 61%, significativamente superior à taxa de 11% para aquelas que receberam somente tratamento sistêmico. Já Schneebaum et al2 compararam 22 pacientes que receberam quimioterapia sistêmica e 18 pacientes que foram tratadas com quimioterapia regional (quimioterapia intrahepática combinada ou não com ressecção cirúrgica). O grupo de pacientes tratadas com ressecção cirúrgica e quimioterapia regional associada teve maior média de sobrevida (42 meses), seguido por aquelas que somente receberam quimioterapia regional (25 meses) – embora a diferença entre as duas não tenha importância estatística. A menor média de sobrevida (cinco meses, p = 0,001) foi observada nas pacientes que receberam apenas quimioterapia sistêmica. Nos dois casos apresentados, a sobrevida atual é de 11 e 16 meses, sem evidência de recidiva.

Os critérios de seleção para hepatectomia ainda não estão bem definidos. Pacientes jovens, com boa reserva fisiológica, com menos de três lesões hepáticas e com um intervalo entre a mastectomia e o aparecimento das metástases hepáticas maior que um ano provavelmente são os pacientes que mais irão se beneficiar1,3. Nossos pacientes tiveram manifestação hepática da doença com nove meses e seis anos de intervalo, e ambas com menos de três nódulos. O acometimento dos linfonodos pediculares3,4 e o uso de quimioterapia neoadjuvante1, não tiveram significância estatística como fatores prognósticos. Entretanto, foram observadas taxas menores de sobrevida quando os linfonodos foram positivos para presença de tumor e taxas maiores quando a quimioterapia foi aplicada1,3,4.

Segundo Selzner et al1, a alta incidência de recidivas hepáticas desenvolvidas após a hepatectomia pode indicar que fatores biológicos predisponham o fígado ao desenvolvimento de metástases ou que micrometástases não tenham sido detectadas no momento da ressecção. A utilização de ultra-sonografia intraoperatória e de novos métodos de imagem, como "PET scan" (tomografia por emissão de pósitrons), poderá tornar a detecção mais precisa, e conseqüentemente o tratamento das lesões, diminuindo as chances de recidiva. Outra medida a ser avaliada nesse aspecto é o uso de quimioterapia pós-operatória, sistêmica de alta dose ou local (intra-hepática), que parecem oferecer bons resultados1-3.

Recebido em 11/08/2004

Aceito para publicação em 03/01/2005

Trabalho realizado no Serviço de Oncologia Cirúrgica do Hospital Santa Rita, do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre e Departamento de Cirurgia da Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA).

  • 1. Selzner M, Morse MA, Vrendenburgh JJ, et al Liver metastases from breast cancer: long term survival after curative resection. Surgery. 2000;127(4): 383-9.
  • 2. Schneebaum S, Walker MJ, Young D, et al The regional treatment of liver metastases from breast cancer. J Surg Oncol. 1994; 55(1):26-32.
  • 3. Elias D, Lasser PH, Montrucolli D, et al Hepatectomy for liver metastases from breast cancer. Eur J Surg Oncol. 1995; 21(5):510-3.
  • 4. Pocard M, Salmon RJ. Résection hépatique pour métastase du cancer du sein. Le concept de chirurgie adjuvante. Bull Cancer. 1997; 84(1):47-50.
  • 5. Espat NJ, Jarnagin WR, Fong Y, et al Hepatic resection for breast cancer metastases [abstract]. Am Soc Clin Oncol. 2001.
  • Endereço para correspondência

    Dr. Antonio Nocchi Kalil
    Rua Marcelo Gama, 924 / 2º andar
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Dez 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2005

    Histórico

    • Aceito
      03 Jan 2005
    • Recebido
      11 Ago 2004
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