Acessibilidade / Reportar erro

Colecistite aguda por ascaris lumbricoides

Acute cholecystites for ascaris lumbricoides

Resumo

Biliary’s ascariasis is the most often ectopic site of this helminthiasis, but invasion of the worms into the gallbladder is quite rare. The autors report a case of a patient with clinical symptoms, compatible with cholecystitis induced by the worm, as shown by ultrasonography. Treatament was cholecystectomy and antihelmintic drug therapy with a good outcome.

Gallbladder diseases; Gallbladder diseases; Ascaridiasis; Ascaridiasis; Ascaridiasis; Cholecystitis


Gallbladder diseases; Gallbladder diseases; Ascaridiasis; Ascaridiasis; Ascaridiasis; Cholecystitis

RELATO DE CASO

Colecistite aguda por ascaris lumbricoides

Acute cholecystites for ascaris lumbricoides

Amauri Clemente da Rocha, TCBC - Al I; Severino Lourenço da Silva Júnior II; Rodrigo Fernando Lourenço de AmorimII

IProfessor de Anatomia Humana da Universidade Federal de Alagoas e Escola de Ciências Médicas de Alagoas; Cirurgião do Hospital Geral Severiano da Fonseca

IIAcadêmico do Curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Recebido em 18-01-05 Aceito para publicação em 18-01-05

ABSTRACT

Biliary’s ascariasis is the most often ectopic site of this helminthiasis, but invasion of the worms into the gallbladder is quite rare. The autors report a case of a patient with clinical symptoms, compatible with cholecystitis induced by the worm, as shown by ultrasonography. Treatament was cholecystectomy and antihelmintic drug therapy with a good outcome.

Key words: Gallbladder diseases; Gallbladder diseases/parasitology; Ascaridiasis/ultrasonography; Ascaridiasis/diagnosis; Ascaridiasis /therapy; Cholecystitis.

INTRODUÇÃO

A infestação pelo Ascaris lumbricoides representa a principal forma parasitária que acomete a espécie humana1,2.

Usualmente este verme se instala na luz intestinal, porém em alguns casos, os vermes podem migrar para outros locais como ductos pancreáticos, ductos biliares, vesícula biliar e apêndice cecal podendo complicar com colangite, colecistite, abscesso hepático, pancreatite, apendicite2.

A ascaridíase das vias biliares, embora rara, constitui- se na mais freqüente ascaridíase ectópica sendo mais raramente encontrada na vesícula biliar2.

O objetivo deste trabalho é relatar um caso de colecistite aguda por Áscaris com revisão da literatura.

RELATO DE CASO

Paciente sexo masculino, 35 anos, pardo, atendido no Ambulatório de Cirurgia Geral do Hospital Geral Severiano da Fonseca (Sanatório) com dor no quadrante superior direito do abdome irradiando-se para o dorso, acompanhada de vômitos e febre há três dias. Referia dores semelhantes anteriormente. Ao exame apresentava-se com bom estado geral. Abdome apresentava- se doloroso no hipocôndrio direito e epigástrio, sem irritação peritoneal e com sinal de Murphy presente.

A ultrassonografia (US) do abdome evidenciou vesícula biliar com espessamento dA parede e um Ascaris lumbricoides no seu interior. Apresentava-se com discreta leucocitose (12.000 leucócitos) sem desvio à esquerda; endoscopia digestiva alta sem alterações.

Foi realizada colecistectomia convencional na qual foi detectada a presença de verme morto no interior da vesícula biliar (Figura 1). Iniciou-se antibioticoterapia com cefalotina duas horas antes da cirurgia até o 3º dia de pós-operatório. O paciente recebeu alta hospitalar no 4º dia de pós-operatório sendo tratado com albendazol 400mg por três dias.


DISCUSSÃO

A invasão das vias biliares por Ascaris é justificada por alguns autores como uma tendência dos vermes em penetrar em pequenos orifícios3. No entanto, é raro haver invasão da vesícula biliar devido à tortuosidade e ao diâmetro reduzido do ducto cístico1,4. O diagnóstico pode ser feito durante a cirurgia ou através da US ou colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPRE)4.

O quadro clínico da ascaridíase biliar quase sempre assemelha-se a outras colecistopatias, sobretudo as litiásicas3. O paciente apresenta-se com dor no quadrante superior direito, por vezes associada a febre, vômitos e icterícia3. No presente caso, o paciente apresentou todos estes sinais e sintomas exceto icterícia.

A ultrassonogria da vesícula biliar com ascaridíase pode revelar espessamento da parede, imagem linear ecogênica sem sombra acústica, com ou sem movimentos e uma fina linha hipoecogênica4. Neste caso a US evidenciou imagem cilíndrica ecogênica bem definida com três camadas, sem movimento e vesícula de parede espessada contendo um Ascaris.

A CPRE representa o exame de maior sensibilidade, além do seu papel terapêutico na remoção endoscópica do verme nas vias biliares3,4. No entanto, este método é mais caro, tecnicamente mais difícil, invasivo, mais demorado e requer anestesia geral em pacientes pediátricos (percentagem maior da população infectada)4. A US é o exame de escolha no diagnóstico de ascaridíase biliar, particularmente da vesícula biliar. A CPRE fica reservada para os casos em que a US não foi conclusiva, tendo então sua indicação propedêutica e terapêutica4.

O tratamento preconizado para ascaridíase das vias biliares consiste na administração de drogas anti-helmínticas e a remoção do verme por via endoscópica ou cirúrgica5. No caso da colecistite por áscaris o tratamento de eleição é a colecistectomia , convencional ou laparoscópica5. A abordagem laparoscópica é melhor que a convencional por diminuir o período de hospitalização e a morbidade pós-operatória5. A terapia com drogas anti-helmínticas pode ser feita antes ou depois da cirurgia5.

No presente caso, o paciente foi submetido à colecistectomia convencional devido à falta de disponibilidade de equipamento de videolaparoscopia no serviço na época da cirurgia, complementado posteriormente com tratamento clínico evoluindo de forma favorável.

Amauri Clemente da Rocha

Loteamento Terra de Antares I, Quadra 43, nº 06

Serraria 57045-180 - Maceió - AL

E-mail: amauri.rocha@uol.com.br

Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Geral Severiano da Fonsêca, Maceió – AL.

  • 1. Gómez NA, Ortiz O, León CJ, Iñiguez S. Ascariasis de la vesícula biliar; reporte de dos casos y revisón de la literatura. Acta Gastroenterol Latinoam. 1992;22(2):129-31.
  • 2. Bromberg SH, Waisberg J, Okagawa T, Barreto E, Franco MIF, Torres LCC, Godoy AC. Ascaridíase das vias biliares. Folha Méd. 1996; 112(2):167-71.
  • 3. Ozsarlak O, De Schepper AM, De Backer A, Fierens H, Pelckmans PA. Diagnostic and therapeutic role of ERCP in biliary ascariasis. Rofo. 1995;162(1):84-5.
  • 4. Filice C, Marchi L, Meloni C, Patruno SF, Capellini R, Bruno R. Ultrasound in the diagnosis of gallbladder ascariasis. Abdom Imaging. 1995;20(4):3202.
  • 5. Yoshihara S, Toyoki Y, Takahashi O, Sasaki M. Laparoscopic treatment for biliary ascariasis. Surg Laparosc Endosc Percutan Tech. 2000;10(2):103-5.
  • Endereço para correspondência

    Recebido em 18-01-05
    Aceito para publicação em 18-01-05
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Out 2006
    • Data do Fascículo
      Ago 2006

    Histórico

    • Aceito
      18 Jan 2005
    • Recebido
      18 Jan 2005
    Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@cbc.org.br