Acessibilidade / Reportar erro

Rotura gástrica por barotrauma

Barogenic rupture of the stomach

Resumo

Barogenic rupture of the stomach is a rare complication following cardiopulmonary resuscitation, administration of nasal oxygen by catheter and diving accidents. We report a case of gastric barotrauma following oroesophageal intubation. In most cases, the tears occur along the lesser curvature, what have been already attributed to Laplace's formula and, more recently, to morphological features of the stomach.

Stomach rupture; Intubation; Barotrauma


Stomach rupture; Intubation; Barotrauma

RELATO DE CASO

Rotura gástrica por barotrauma

Barogenic rupture of the stomach

Rogerio Saad-Hossne, TCBC-SPI; Renê Gaberini Prado,TCBC-SPI; Alexandre Bakoniy NetoI; Rodrigo Severo de Camargo PereiraII; Roberta Thiery Godoy ArashiroII

IProfeesor Doutor do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Medicina de Botucatu

IIResidente em Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rogério Saad-Hossne R. Tenente Silvio Besteti, 366 - Vila Padovan Botucatu - SP 18607-690

ABSTRACT

Barogenic rupture of the stomach is a rare complication following cardiopulmonary resuscitation, administration of nasal oxygen by catheter and diving accidents. We report a case of gastric barotrauma following oroesophageal intubation. In most cases, the tears occur along the lesser curvature, what have been already attributed to Laplace's formula and, more recently, to morphological features of the stomach.

Key words: Stomach rupture; Intubation; Barotrauma

INTRODUÇÃO

A rotura gástrica por barotrauma constitui uma causa rara de abdome agudo perfurativo, tendo sido encontrados poucos relatos na literatura1-,4. É geralmente tratada por laparotomia exploradora e rafia primária da lesão, porém, segundo Yeung et al1, em alguns casos é possível adotar-se conduta conservadora. Descrevemos um caso de rotura traumática de estômago pós intubação oroesofágica.

RELATO DO CASO

S. C. P., 20 anos, sexo feminino, puerpera, em tratamento de tuberculose pulmonar com isoniazida e rifampicina, apresentou no 5º dia de puerpério, piora do quadro pulmonar, intensificação da dispnéia, tosse produtiva e febre; o diagnóstico clinico e radiológico foi compatível com broncopneumonia. Evoluiu com piora progressiva do quadro, mesmo em vigência de antibioticoterapia de amplo espectro (imipenem e clindamicina), progredindo para insuficiência respiratória aguda, necessitando de intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Após a entubação, evoluiu com distensão abdominal importante, desaparecimento da macicez hepática (sinal de Jobert) e dificuldade de ventilação, sendo então constatada canulação iatrogênica do esôfago. Realizado exame radiográfico simples do abdome, que demonstrou pneumoperitônio extenso (Figura 1). Indicada laparotomia exploradora para tratamento do pneumoperitonio, durante a qual foi constatada rotura em pequena curvatura gástrica de aproximadamente 7 cm de extensão; a conduta adotada foi rafia da lesão em dois planos e drenagem da cavidade. A paciente recebeu alta hospitalar no 14º pós-operatório após término da antibióticoterapia e recuperação da insuficiência respiratória causada pela pneumonia.


DISCUSSÃO

As causas mais freqüentes de ruptura gástrica por barotrauma encontrados na literatura estão relacionadas a reanimação cardiopulmonar, oxigenoterapia com cateter nasal e acidentes com mergulhadores1,2,3.

A lesão gástrica por barotrauma pode apresentar-se sob diversas formas, desde lacerações parciais da mucosa até rotura completa da parede gástrica, devido à distensão crescente do órgão associada a espasmo do piloro e angulação do cárdia, o que impede a saída do ar, formando um mecanismo de válvula1.

A lesão gástrica ocorre na pequena curvatura em aproximadamente 73% dos casos1 e algumas séries de autópsias já revelaram a ocorrência de lacerações gástricas parciais em 10% dos pacientes submetidos a reanimação cardiopulmonar, todas na pequena curvatura4.

A ocorrência preferencial da lesão gástrica por barotrauma na pequena curvatura já foi atribuída exclusivamente à Lei de Laplace, segundo a qual a pressão dentro de uma cavidade é diretamente proporcional à tensão exercida em sua parede e inversamente proporcional ao raio desta cavidade, conforme a fórmula: P=T(1/R1+1/R2).

Considerando que na pequena curvatura o raio na visão coronal está direcionado para fora e que na grande curvatura ambos direcionam-se para dentro, conclui-se que, na pequena curvatura, um dos raios tem sinal negativo. Portanto, neste caso, a soma dos raios será significativamente menor que na grande curvatura, exigindo assim maior tensão para resultar em um mesmo valor de P4.(Figura 2)


No entanto, esta teoria não considera a heterogenicidade da parede gástrica. A pequena curvatura freqüentemente apresenta largas pregas longitudinais em sua extensão com variações de espessura, sendo que as porções mais delgadas apresentam maior suscetibilidade aos aumentos de tensão5.

No presente caso optou-se pela intervenção cirúrgica devido ao estado séptico da paciente, a incerteza diagnóstica e a extensão do pneumoperitonio. Apesar de haver relatos na literatura1 de sucesso com o tratamento conservador, baseado em antibioticoterapia de largo espectro e drenagem gástrica via sonda com aspiração contínua, das rupturas gástricas por barotrauma, optamos pelo tratamento operatório em virtude do quadro clinico da paciente. Durante o procedimento verificamos que a rotura ocorreu na pequena curvatura, que é o local freqüentemente acometido1,4. Nossa opção pela ráfia em dois planos, decorreu das condições locais e da extensão da lesão conforme já relatado anteriormente. A causa provável da lesão gástrica desta paciente foi decorrente da ventilação com pressão positiva no esôfago.

Apesar da tuberculose e da pneumonia, a paciente apresentou boa evolução pós-operatória, não apresentando complicações.

Entendemos que todo procedimento realizado, como entubações e drenagens, deva ser seguido de checagem e cuidados imediatos para, assim, evitar complicações com esta.

Recebido em 13/06/2005

Aceito para publicação em 15/08/2005

Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia e Ortopedia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP.

  • 1. Yeung P, Crowe P, Bennett M. Barogenic rupture of the stomach: a case for non-operative management. Aust N Z J Surg. 1998;68(1):76-7.
  • 2. Cole DS, Burcher SK. Accidental pneumatic rupture of oesophagus and stomach. Lancet. 1961;1:24-5.
  • 3. Darke SG, Bloomfield E. Case of complete gastric rupture complicating resuscitation. Br Med J. 1975;3(5980):414-5.
  • 4. Barker SJ, Karagianes T. Gastric barotrauma: a case report and theoretical considerations. Anesth Analg. 1985;64(10):1026-8.
  • 5. Kempen PM. Static and dynamic considerations in gastric barotrauma. Anesth Analg. 1986;65(5):540-1.
  • Endereço para correspondência:

    Rogério Saad-Hossne
    R. Tenente Silvio Besteti, 366 - Vila Padovan
    Botucatu - SP
    18607-690
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Abr 2007

    Histórico

    • Aceito
      15 Ago 2005
    • Recebido
      13 Jun 2005
    Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@cbc.org.br