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Câncer gástrico após gastroplastia para obesidade mórbida

Gastric cancer after gastroplasty for morbid obesity

Resumo

We report a case of patient in whom a gastric remnant cancer developed about five years after a gastric bypass for morbid obesity. We review the literature on gastric cancer after gastroplasty. Access of gastric remnant after gastroplasty (Fobi-Capella) prevents evaluation and treatment of its disorders.

Obesity, morbid; Bariatric surgery; Gastroplasty; Stomach neoplasms


Obesity, morbid; Bariatric surgery; Gastroplasty; Stomach neoplasms

ARTIGO ORIGINAL

Câncer gástrico após gastroplastia para obesidade mórbida

Gastric cancer after gastroplasty for morbid obesity

Álvaro Queiroz de Godoy, TCBCPRI; André Reichert da Silva GodoyII; Giselle Reichert da Silva GodoyIII

ICirurgião do Aparelho Digestivo do Hospital Evangélico, Hospital Mater Dei, Santa Casa de Misericórdia e Gastrocentro de Londrina PR

IIMédico Residente de Cirurgia Geral – Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná

IIIAcadêmica do Curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Álvaro Queiroz de Godoy Av. Bandeirantes, 324 86010020 Londrina – PR

ABSTRACT

We report a case of patient in whom a gastric remnant cancer developed about five years after a gastric bypass for morbid obesity. We review the literature on gastric cancer after gastroplasty. Access of gastric remnant after gastroplasty (Fobi-Capella) prevents evaluation and treatment of its disorders.

Key words: Obesity, morbid; Bariatric surgery; Gastroplasty; Stomach neoplasms.

INTRODUÇÃO

Há aproximadamente 40 anos tem sido realizado o tratamento cirúrgico da obesidade com ênfase na última década.

Na técnica de Fobi-Capella a redução do reservatório gástrico e criação do "pouch" trazem certa dificuldade de acesso ao estômago remanescente.

Várias complicações têm sido consideradas tais como sangramento, úlcera perfurada e câncer¹.

Este artigo apresenta o caso de uma paciente que desenvolveu câncer no remanescente gástrico cinco anos após a gastroplastia.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 47 anos, há cinco anos foi submetida à gastroplastia tipo Fobi-Capella e há três anos submeteu-se à colecistectomia por videolaparoscopia.

Relatou que há três meses apresentou dor abdominal epigástrica com irradiação para região lombar acompanhada de emagrecimento. Foi submetida a vários exames complementares tais como endoscopia digestiva alta (três vezes), ultrassonografia e investigação laboratorial além de avaliações ortopédica e urológica.

A dor apresentou caráter progressivo atingindo grande intensidade e tornando-se quase incontrolável com analgésicos comuns tendo a paciente sido avaliada por Anestesiologista para analgesia. Subitamente houve aparecimento de icterícia tendo a colangiorressonância magnética evidenciado obstrução do colédoco distal possivelmente provocada por litíase ou estenose cicatricial. A paciente foi encaminhada para tratamento o cirúrgico quando se constatou a presença de extensa lesão tumoral no antro gástrico que invadia o pâncreas, o colédoco e o hilo hepático. Pela grande distensão gástrica havia sinais de sofrimento de sua parede. Como praticamente únicas alternativas no momento, realizou-se gastrostomia a Witzel, drenagem biliar externa, biópsia tumoral (adenocarcinoma) e drenagem da cavidade peritonial.

Após plena recuperação foi iniciado quimioterapia. Dois meses após a operação houve aparecimento de quadro séptico de origem pulmonar, que cedeu não às tentativas de tratamento e a paciente evoluiu para óbito.

DISCUSSÃO

Para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida várias técnicas têm sido empregadas entre as quais a mais freqüente é a gastroplastia de Fobi-Capella já com grandes casuísticas apresentadas².

As complicações precoces desta operação são: infecção de parede, tromboembolismo e hemorragia digestiva. Como complicações tardias podemos citar: vômitos, hérnias incisionais, obstrução da bolsa gástrica, gastrite, esofagite e anemia³.

Existe ainda a possibilidade, embora remota, do aparecimento de lesões neoplásicas tanto na bolsa como no estômago remanescente3,4. Poucos relatos têm sido encontrados na literatura pertinente justamente em conseqüência da sua raridade.

É importante Assinalar que após este tipo de operação há grande dificuldade para se acessar o remanescente gástrico endoscopicamente4, este acesso pode ser conseguido empregando-se, um colonoscópio pediátrico ou enteroscópio de duplo balão, pela alça biliopancreática do "Y de Roux" em casos de alças mais curtas ou mesmo mais longas4. Outra maneira seria através de gastrostomias prévias executadas concomitantemente com a gastroplastia. Radiologicamente o estudo do remanescente gástrico poderá ser feito através da injeção de contraste por punção direta do próprio órgão. A presença de metaplasia intestinal antral encontrada no caso apresentado pode ser detectada em 9 a 13% dos pacientes durante a endoscopia pré-operatória e exige uma acurada avaliação antes da operação5.

No presente caso o diagnóstico de câncer foi realizado cinco anos depois da operação. Quando ocorre com menos de cinco anos alguns autores admitem a hipótese de doença previamente existente. Os procedimentos habitualmente empregados para o estudo dos sintomas digestivos como endoscopia, ultrassonografia, exames laboratoriais e tomografia computadorizada normalmente não permitem o diagnóstico. Considerando que o remanescente gástrico, por estar fora do trânsito, oferece dificuldade para acesso propedêutico, uma alternativa interessante é a realização de gastrostomia com marcação radiopaca para permitir endoscopias e ultrassonografias endoscópicas pós-operatórias². Considerando também que a incidência de metaplasia intestinal no antro do remanescente gira em torno de 13% e que a sua relação com tumores já está bem estabelecida alguns autores têm proposto a gastrectomia junto com gastroplastia5. No presente caso a demora no diagnóstico foi decisiva para agravar o prognóstico.

Recebido em 14/10/2005

Aceito para publicação em 13/12/2005

Trabalho realizado no Gastrocentro de Londrina PR.

  • 1. Lord RV, Edwards PD, Coleman MJ. Gastric cancer in the bypassed segment after operation for morbid obesity. Aust N Z J Surg. 1997; 67(8):580-2.
  • 2. Garrido AB. Cirurgia da obesidade. São Paulo: Atheneu; 2002.
  • 3. Zirak C, Lemaitre J, Lebrun E, Journé S, Carlier P. Adenocarcinoma of the pouch after silastic ring vertical gastroplasty. Obes Surg. 2002; 12(5):693-4.
  • 4. Raijman I, Strother SV, Donegan WL. Gastric cancer after gastric bypass for obesity. Case report. J Clin Gastroenterol. 1999; 13(2):191-4.
  • 5. Voellinger DC, Inabnet WB. Laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass with remnant gastrectomy for focal intestinal metaplasia of the gastric antrum. Obes Surg. 2002; 12(5):695-8.
  • Endereço para correspondência:

    Dr. Álvaro Queiroz de Godoy
    Av. Bandeirantes, 324
    86010020 Londrina – PR
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Set 2007
    • Data do Fascículo
      Ago 2007

    Histórico

    • Aceito
      13 Dez 2005
    • Recebido
      14 Out 2005
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