Acessibilidade / Reportar erro

Tuberculose esofágica primária: relato de caso

Primary esophageal tuberculosis: case report

Resumo

Esophageal tuberculosis is an extremely rare event, accounting for 0.2 percent of these cases affecting the esophagus. Most of them are secondary to pulmonary disease. The authors present a case of primary esophageal tuberculosis in a 40 years old HIV-positive female.

Tuberculosis; Esophagus; Infection; Acquired immune deficiency syndrome


Tuberculosis; Esophagus; Infection; Acquired immune deficiency syndrome

RELATO DE CASO

Tuberculose esofágica primária – relato de caso

Primary esophageal tuberculosis – case report

Sérgio Ricardo Pioner, TCBC-RSI; Daniel RechII; Lucas MenegottoII; Felipe Pioner MachadoIII; Ciana Santos IndicattiIV

IMembro do Serviço de Cirurgia Geral do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre; Mestre em Hepatologia pela FFFCMPA

IICirurgião Geral do Serviço de Cirurgia Geral do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre – RS

IIIAcadêmico de Medicina da Universidade de Caxias do Sul - RS

IVAcadêmica de Medicina da Universidade Luterana do Brasil - RS

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sérgio Ricardo Pioner Endereço Rua Goitacaz, 191 Bairro Assunção 91900-400 -Porto Alegre- RS srpioner@terra.com.br

ABSTRACT

Esophageal tuberculosis is an extremely rare event, accounting for 0.2 percent of these cases affecting the esophagus. Most of them are secondary to pulmonary disease. The authors present a case of primary esophageal tuberculosis in a 40 years old HIV-positive female.

Key words: Tuberculosis; Esophagus; Infection; Acquired immune deficiency syndrome.

INTRODUÇÃO

A tuberculose vem aumentando de incidência nas últimas três décadas devido ao aumento dos casos de imunossupressão. Aproximadamente dois bilhões de pessoas estão infectadas pelo bacilo e 8 milhões de novos casos são diagnosticados por ano1.

A tuberculose no esôfago é um evento extremamente raro, sendo normalmente secundária ao comprometimento mediastinal e linfático hilar. Em 1913, Lockard observou acometimento em 0,15% dos pacientes que foram a óbito por tuberculose2. O primeiro caso de envolvimento deste órgão foi descrito em 1837, por Denonvilliers, em autópsia; porém, o primeiro caso de tuberculose esofágica primária foi descrita por Torek, em 19313, 4. Os autores apresentam um caso de tuberculose esofágica primária, em paciente com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).

RELATO DO CASO

Mulher, 40 anos, foi admitida no Departamento de Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre com quadro de disfagia progressiva, odinofagia, dor retroesternal, febre e emagrecimento de 11 Kg em dois meses. A paciente era portadora de SIDA, em tratamento com zidovudina, lamivudina e nelfinavir desde 2001, porém sem aderëncia ao tratamento, imunologicamente instável, com contagem de lifócitos T CD4+ 15/mm3 e carga viral de 50000 cópias/mm3. Ao exame físico apresentava-se em regular estado geral, hidratada, corada, acianótica, eupneica; com períodos intermitentes de febre (39ºC), abdome indolor à palpação. Realizado endoscopia digestiva alta que evidenciou grande lesão ulcerada de bordo regular, presença de exsudato brancacento grumoso recobrindo a mucosa (Figura 1). A biópsia demonstrou presença de necrose caseosa e bacilo álcool-ácido resistente(BAAR). Rx de esôfago contrastado demonstrou presença de úlcera no terço superior do esôfago (Figura 2). A tomografia computadorizada apresentava zona estenosante nessa mesma porção com adenopatias mediastinais. O Rx de Tórax apresentava infiltrado pulmonar bilateral. A paciente foi então foi submetida à fibrobroncoscopia com lavado bronquico negativo para BAAR e positivo para Legionella pneumophila .



Foi iniciado o esquema triplice (Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida), a infecção pulmonar evoluiu para sepse por germe multirresistente e óbito em 40 dias.

DISCUSSÃO

O acometimento primário do esôfago é muito raro devido aos mecanismos de defesa como: o epitélio estratificado escamoso, a estrutura tubular do órgão, a camada protetora formada pela saliva e muco e o peristaltismo esofágico proporcionando rápido trânsito das substâncias ingeridas prevenindo a estase e a penetração da mucosa por microrganismos2. O envolvimento secundário é devido a invasão advinda do mediastino, linfonodos hilares, pulmão, corpos vertebrais infectados, aneurismas de aorta, faringe e laringe1,3,4. O terço médio é a porção do esôfago mais comprometida, sendo que as alterações mais freqüentes sao: compressão extrínseca (48%), divertículo de tração (22%), estenose ou angulação do esôfago (13%), fístula (13 %), tumoração (4%)4.

A sintomatologia mais comum é a disfagia, podendo apresentar também odinofagia, dor retroesternal e/ou epigástrica, tosse, febre, emagrecimento, astenia e fraqueza1,3. Em nosso caso a paciente apresentava como queixas principais disfagia, odinofagia e emagrecimento.

O diagnóstico é realizado através de biópsia da lesão, que demonstra a presença de inflamação granulomatosa crônica com necrose caseosa e presença do BAAR, ou através da cultura de secreção respiratória ou de abscessos, que demonstram a presença do Micobacterium tuberculosis, como como encontrado nesta paciente. O uso de PCR (polymerase chain reaction) pode ser útil para identificar a micobactéria5.

O tratamento é similar ao da tuberculose pulmonar, sendo utilizado em nosso meio o esquema tríplice. O tratamento cirúrgico é indicado apenas nos casos com perfuração, deve-se realizar debridamento e sutura primária, e nos casos de abscesso, realizar a drenagem1.

Normalmente o prognóstico é bom se diagnosticado precocemente; porém, quando surge em imunodeprimidos a evolução pode ser fatal, devido a agressividade da infecção3,4. Apesar do diagnóstico precoce e do início rápido do tratamento, a paciente evoluiu para óbito devido à sepse.

Recebido em 08/11/2005

Aceito para publicação em 09/01/2006

Conflito de interesses: nenhum

Fonte de financiamento: nenhuma

Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre – RS

  • 1. Grubbs BC, Baldwin DR, Trenkner SW, McCabe RP Jr, Maddaus MA. Distal esophageal perforation caused by tuberculosis. J Thorac Cardiovasc Surg. 2001;121(5):1003-4.
  • 2. Devarbhavi H, Alvares JF, Radhikadevi M. Esophageal tuberculosis associated with esophagotracheal or esophagomediastinal fistula: report of 10 cases. Gastrointest Endosc. 2003;57(4): 588-92.
  • 3. Erođlu A, Kürkçüođlu C, Karaođlanođlu N, Yilmaz O, Gürsan N. Esophageal tuberculosis abscess: an unusual cause of dysphagia. Dis Esophagus. 2002;15(1):93-5
  • 4. Nagi B, Lal A, Kochhar R, Bhasin DK, Gulati M, Suri S, Singh K. Imaging of esophageal tuberculosis: a review of 23 cases. Acta Radiol. 2003;44(3):329-33.
  • 5. Fujiwara T, Yoshida Y, Yamada S, Kawamata H, Fujimori T, Imawari M. A case of primary esophageal tuberculosis diagnosed by identification of Mycobacteria in paraffin-embedded esophageal biopsy specimens by polymerase chain reaction. J Gastroenterol. 2003;38(1):74-8.
  • Endereço para correspondência:
    Sérgio Ricardo Pioner
    Endereço Rua Goitacaz, 191 Bairro Assunção
    91900-400 -Porto Alegre- RS
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Out 2007

    Histórico

    • Recebido
      08 Nov 2005
    • Aceito
      09 Jan 2006
    Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@cbc.org.br