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Prevalência de hiperidrose entre estudantes de medicina

Resumos

OBJETIVO: Identificar a prevalência de hiperidrose entre os estudantes de Medicina de Manaus/AM. MÉTODOS: Estudo observacional, transversal, do tipo inquérito que analisou a prevalência de hiperidrose primária entre os alunos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e sua relação com o índice de massa corporal (IMC) e o stress. Os alunos foram pesados e entrevistados. Utilizou-se questionários com perguntas preconizadas pela International Hyperhidrosis Society, para relacionar a hiperidrose com as atividades diárias de cada pessoa. A análise dos resultados se deu com o cálculo da razão de prevalências e do intervalo de confiança. RESULTADOS: Entre os 293 estudantes analisados, verificou-se que um total de 16 (5,5%) estudantes apresentavam sudorese excessiva dificilmente tolerável ou intolerável, interferindo em suas atividades diárias. Nenhum apresentava causas conhecidas de hiperidrose e 50% possuíam história familiar. Em todos o acometimento foi bilateral, sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), rosto (10,7%), costas (7,1%), tórax (3,6%) e abdome (3,6%). Não houve predomínio em relação ao sexo, idade ou IMC. Encontrou-se relação positiva com o IMC evidenciando sobrepeso e obesidade, sendo observado uma razão de prevalências de 2,48 superior em relação aos estudantes com peso normal ou abaixo do peso. CONCLUSÃO: A prevalência de hiperidrose primária entre os estudantes de Medicina de Manaus/AM foi de 5,5%, existindo uma relação positiva não estatística com o sobrepeso e a obesidade. Foi constatada ainda uma relação observacional com o stress.

Hiperidrose; Prevalência; Estudantes de medicina; Estresse psicológico; Índice de massa corporal


OBJECTIVE: To identify the prevalence of hyperhidrosis among medical students of Manaus, State of Amazonas, Brazil. METHODS: We conducted an observational, transversal, survey which examined the prevalence of primary hyperhidrosis among medical students of the Federal University of Amazonas and its relation to body mass index (BMI) and stress. Students were weighed and interviewed. We used questionnaires with questions recommended by the International Hyperhidrosis Society to relate hyperhidrosis to the daily activities of each person. Results were given by calculating the prevalence ratios and confidence intervals. RESULTS: Among the 293 students examined, it was found that a total of 16 (5.5%) students had barely tolerable or intolerable excessive sweating, interfering with daily activities. None had known causes of hyperhidrosis and 50% had family history. In all suffering from the condition the disease was bilateral, the mainly affected locations being: hands (35.7%), legs (21.4%), axilla (17.9), face (10 7%), back (7.1%), chest (3.6%) and abdomen (3.6%). There was no predominance regarding gender, age or BMI. We found a positive relationship with BMI and observed a prevalence ratio of 2.48 higher in overweight students than in normal weight or underweight ones. CONCLUSION: The prevalence of primary hyperhidrosis among medical students of Manaus was 5.5%. There is a positive non-statistical relationship with overweight and obesity. It was further noted an observational relationship with stress.

Hyperhidrosis; Prevalence; Students,medical; Stress,psychological; Body mass index


ARTIGOS ORIGINAIS

Prevalência de hiperidrose entre estudantes de medicina

Prevalence of hyperhidrosis among medical students

Fernando Luiz Westphal, Thoracic Surgeon, PHD, Head of division thoracic surgery of University of Amazonas, TCBC-AMI; Maria Auxiliadora Neves De CarvalhoII; Luiz Carlos LimaI; Bruna Cecília Neves de CarvalhoIII; Rodrigo PadillaIII; Katiúscia Karla Lêdo AraújoIV

IProfessor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas - AM-BR

IIProfessora da Universidade Estadual do Amazonas- AM-BR

IIIEstudante de Medicina da Universidade Federal do Amazonas - AM - BR

IVMédica do Programa Saúde da Família de Maués - AM - BR

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Fernando Luiz Westphal E-mail: f.l.westphal@uol.com.br

RESUMO

OBJETIVO: Identificar a prevalência de hiperidrose entre os estudantes de Medicina de Manaus/AM.

MÉTODOS: Estudo observacional, transversal, do tipo inquérito que analisou a prevalência de hiperidrose primária entre os alunos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e sua relação com o índice de massa corporal (IMC) e o stress. Os alunos foram pesados e entrevistados. Utilizou-se questionários com perguntas preconizadas pela International Hyperhidrosis Society, para relacionar a hiperidrose com as atividades diárias de cada pessoa. A análise dos resultados se deu com o cálculo da razão de prevalências e do intervalo de confiança.

RESULTADOS: Entre os 293 estudantes analisados, verificou-se que um total de 16 (5,5%) estudantes apresentavam sudorese excessiva dificilmente tolerável ou intolerável, interferindo em suas atividades diárias. Nenhum apresentava causas conhecidas de hiperidrose e 50% possuíam história familiar. Em todos o acometimento foi bilateral, sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), rosto (10,7%), costas (7,1%), tórax (3,6%) e abdome (3,6%). Não houve predomínio em relação ao sexo, idade ou IMC. Encontrou-se relação positiva com o IMC evidenciando sobrepeso e obesidade, sendo observado uma razão de prevalências de 2,48 superior em relação aos estudantes com peso normal ou abaixo do peso.

CONCLUSÃO: A prevalência de hiperidrose primária entre os estudantes de Medicina de Manaus/AM foi de 5,5%, existindo uma relação positiva não estatística com o sobrepeso e a obesidade. Foi constatada ainda uma relação observacional com o stress.

Descritores: Hiperidrose. Prevalência. Estudantes de medicina. Estresse psicológico. Índice de massa corporal.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To identify the prevalence of hyperhidrosis among medical students of Manaus, State of Amazonas, Brazil.

METHODS: We conducted an observational, transversal, survey which examined the prevalence of primary hyperhidrosis among medical students of the Federal University of Amazonas and its relation to body mass index (BMI) and stress. Students were weighed and interviewed. We used questionnaires with questions recommended by the International Hyperhidrosis Society to relate hyperhidrosis to the daily activities of each person. Results were given by calculating the prevalence ratios and confidence intervals.

RESULTS: Among the 293 students examined, it was found that a total of 16 (5.5%) students had barely tolerable or intolerable excessive sweating, interfering with daily activities. None had known causes of hyperhidrosis and 50% had family history. In all suffering from the condition the disease was bilateral, the mainly affected locations being: hands (35.7%), legs (21.4%), axilla (17.9), face (10 7%), back (7.1%), chest (3.6%) and abdomen (3.6%). There was no predominance regarding gender, age or BMI. We found a positive relationship with BMI and observed a prevalence ratio of 2.48 higher in overweight students than in normal weight or underweight ones.

CONCLUSION: The prevalence of primary hyperhidrosis among medical students of Manaus was 5.5%. There is a positive non-statistical relationship with overweight and obesity. It was further noted an observational relationship with stress.

Key words: Hyperhidrosis. Prevalence. Students, medical. Stress, psychological. Body mass index.

INTRODUÇÃO

A hiperidrose primária é uma doença benigna com prevalência de 1% no mundo ocidental, caracterizada pela excessiva produção de suor em uma ou mais regiões anatômicas, possui relação genética (3 a 57%) e ambiental, observando-se influência climática significativa nos portadores dessa doença1,2,3.

A hiperhidrose também pode se manifestar secundariamente em pacientes com hipertireoidismo, diabetes melito, hiperatividade da glândula pituitária e, ainda, em condições nas quais há aumento na produção de catecolaminas, como estado de choque, hipoglicemia e feocromocitoma4. A doença não tem predileção por sexo, porém é mais perceptível nas mulheres1.

O tratamento da hiperidrose pode ser feito por meio da aplicação de toxina botulínica ou com cirurgia minimamente invasiva, quando se utiliza a simpatectomia5,6.

Na Região Norte do Brasil não existe nenhum trabalho sobre a prevalência dessa doença, também não existe nenhum trabalho que avalie a relação entre a hiperidrose e o índice de massa corporal (IMC), logo o presente estudo, realizado no estado do Amazonas, é o primeiro da região sobre a prevalência.

Este trabalho visa estimar a prevalência de hiperidrose primária e avaliar a possível relação desta com o stress e o IMC, entre os alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas em Manaus/AM, considerando que a região Amazônica tem um clima diferente do resto do país. A capital do Amazonas é a oitava cidade mais populosa do Brasil e a maioria dos seus habitantes tem ascendência cabocla7.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, observacional, transversal, do tipo inquérito, realizado no período de agosto de 2008 a julho de 2009, que descreve a prevalência de hiperidrose na população estudada e analisa a relação dessa doença com o nível de IMC e o stress da mesma. A pesquisa foi realizada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A população participante abrange acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas. A população estudada corresponde aos alunos portadores de hiperidrose primária. A amostra utilizada na análise foi calculada com base na prevalência estimada de hiperidrose de 5%, precisão de 95% e margem de erro de 2,5%, totalizando 293 alunos do Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, no município de Manaus/AM, devidamente matriculados nos anos letivos de 2008 e 2009 que aceitaram participar voluntariamente do estudo, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A prevalência estimada de 5% foi utilizada de acordo com estudo anterior sobre a prevalência de hiperidrose primária em alunos universitários e do ensino médio8.

Foram excluídos os estudantes que se recusaram a participar do estudo e aqueles que já haviam se submetido à intervenção cirúrgica (simpatectomia), bem como os portadores de hiperidrose secundária. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas, CAAE - 0119.0.115.000-08.

Os dados foram coletados seguindo os questionários padrões (Figura 1A e B) elaborados pelos pesquisadores, com perguntas relacionadas à hiperidrose e preconizadas pela International Hyperhidrosis Society, tais como identificação do paciente (nome, idade, sexo), padrão da sudorese (local, intensidade, frequência, área envolvida, simetria), perguntas relacionadas ao impedimento das atividades diárias em função da hiperidrose, idade que iniciaram as manifestações e história familiar9.


A pesquisa foi dividida em duas fases, na primeira, foi utilizado como população de estudo alunos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas do 1º ao 12º períodos que responderam a um questionário objetivo, capaz de identificar a presença de hiperidrose, contendo perguntas relacionadas à presença ou não desta doença (Figura 1A). Esse questionário foi então avaliado pelos pesquisadores, que identificaram os indivíduos com hiperidrose. Também foram coletadas medidas do peso e da altura para se calcular o IMC. Na segunda, os alunos que, de acordo com o primeiro questionário foram diagnosticados como portadores de hiperidrose, passaram por uma entrevista com pesquisadores devidamente treinados, que fizeram a diferenciação entre hiperidrose primária e secundária; nessa entrevista foi utilizado outro questionário padrão (Figura 1B).

Os dados foram apresentados por meio de gráficos e tabelas de frequências, foram calculadas as frequências absolutas simples e relativas para os dados qualitativos e média e desvio-padrão (dp) para os dados quantitativos.

Na análise dos dados categóricos do sexo e IMC em relação à hiperidrose foi calculada ainda a razão de prevalências com seus respectivos intervalos de confiança ao nível de 99%. A separação entre casos e controle fez-se do seguinte modo: os casos foram os estudantes que receberam o diagnóstico de hiperidrose, e os controles foram os estudantes sem o diagnóstico de hiperidrose. O fator de risco estudado foi o IMC dos alunos com sobrepeso e obesidade (IMC >25kg/m2). Após a seleção dos participantes, foram comparadas as frequências de exposição dos estudantes com hiperidrose com os estudantes sem hiperidrose, estimando assim, a relação entre o IMC das condições de sobrepeso e obesidade e a prevalência de hiperidrose pela razão de prevalências, prevalência de hiperidrose nos estudantes com IMC acima de 25kg/m2 dividido pela prevalência de hiperidrose nos estudantes com IMC abaixo de 25kg/m2.

Na comparação das médias, devido aos dados encontrarem-se normalmente distribuídos, foi calculada a estatística de teste de t de Student. No cálculo dos intervalos de confiança foi utilizada a estatística do teste do Qui-quadrado.

RESULTADOS

Foram incluídos no estudo 293 estudantes de Medicina. A idade variou de 16 a 46 anos (média de 21,3 ± 3,5), sendo 166 (56,7%) do sexo feminino e 127 (43,3%) do sexo masculino. O peso variou de 41 a 110 Kg (média de 64,4 ± 13,0), a altura de 1,5 a 1,95 (média de 1,7 ± 0,1) e o IMC de 16,4 a 41,9 (média de 22,7 ± 3,6). Conforme o IMC os alunos foram classificados em abaixo do peso (21,5%), com peso adequado (59%), com sobrepeso (14,3%) e com obesidade (5,2%).

Ao avaliar a prevalência de hiperidrose verificou-se um total de 16 estudantes, sendo a taxa de prevalência 5,5% (16/273) com IC95% (3,2 - 8,7), com sudorese excessiva dificilmente tolerável ou intolerável, interferindo nas suas atividades diárias. Destes, nenhum apresentou causas conhecidas de hiperidrose e oito (50%) tinham história familiar positiva (Figura 2).


Em 100% dos casos o acometimento foi bilateral, sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), face (10,7%), costas (7,1%), tórax (3,6%) e abdome (3,6%) (Figura 3).


Na distribuição da hiperidrose em relação ao sexo, foi encontrada uma razão de prevalências de 0,8 para o sexo feminino com IC95%.

Na análise do IMC ao se comparar os portadores de IMC <25kg/m2 com os portadores de IMC menor que esse valor, a razão de prevalências é 2,48 IC 90% -não era IC95% ?- (1,12 - 5,48) para os que têm sobrepeso ou obesidade (Tabela 1).

Observamos que a vida dos estudantes acometidos pela hiperidrose é afetada em todos os aspectos, tais como relacionamentos pessoais, interpessoais e profissionais. No domínio funcional-social, cinco estudantes (31,3%) relataram dificuldades para escrever; três (18,8%) relataram dificuldades para executar atividades manuais; cinco (31,3%) possuíam dificuldade em realizar passatempos prediletos; quatro (25%) consideraram "ruim" e cinco (31,3%) "muito ruim" a prática de alguma atividade física ou esportes; quatro (25%) sentiram-se incomodados em apertar as mãos de conhecidos; oito (60%) consideraram estar com amigos em locais públicos uma atividade "ruim" ou "muito ruim"; 11 (68,8%) não conseguiram dançar socialmente. No que se trata do domínio emocional próprio ou com os outros, seis estudantes (37,6%) referiram ter que se justificar o tempo inteiro, enquanto cinco (31,5%) disseram receber demonstrações de rejeição devido à sudorese excessiva (Figura 4).


Em condições especiais, oito estudantes (68,8%) acharam desagradável ficar em ambientes fechados; dez (62,5%) consideraram-se tensos ou preocupados; quatro (25,1%) não param de pensar no assunto; dez (62,6%) apresentaram dificuldades na realização de provas e apresentações públicas; nove (56,3%) tiveram problemas em usar sandálias e ficar descalços; quatro (25,1%) não puderam usar roupas coloridas; e cinco (31,3%) tiveram problemas na escola ou no serviço.

DISCUSSÃO

Um recente estudo epidemiológico com 150.000 famílias revelou que a hiperidrose focal apresentou uma prevalência de 2,8% na população geral. Essa condição acometeu homens e mulheres igualmente, e a maior prevalência encontrada foi entre 25 e 64 anos de idade. A média da idade de início foi 25 anos. Hiperidrose palmar e axilar foram os tipos que surgiram mais cedo com 13 e 19 anos, respectivamente. Esse trabalho envolveu somente um questionário que foi respondido e, posteriormente, analisado pelos pesquisadores10.

Outro estudo realizado na China8 avaliou adolescentes de idade entre 15 e 22 anos de idade, nas cidades de Fuzhou, Quanzhou e Xiamen. Trinta escolas de ensino médio, e dez faculdades foram randomicamente escolhidas e um total de 33.000 estudantes foi incluído nesse trabalho. O questionário foi aplicado em 97,43% dos alunos; destes, 69% cursavam o ensino médio e 31% cursavam o ensino superior, a média de idade foi 17 anos. Nesse estudo foi encontrada uma prevalência de 4,36% de hiperidrose entre os estudantes.

Uma pesquisa recente estimou uma incidência de hiperidrose axilar em 1,4% da população americana, o que corresponde a quatro milhões de indivíduos, e em um terço desses casos foi relatado muito pouca tolerância ou intolerância em relação aos sintomas da hiperidrose nas atividades diárias na qualidade de vida10. Em Israel, encontrou-se uma incidência de 1%11. A história familiar também é positiva em 30 a 50% dos pacientes12.

Em relação à prevalência da hiperidrose, várias pesquisas8,11-13 mostram diferentes porcentagens variando de 0,6 até 4,36% da população. Nosso estudo mostra que 5,5% da população entrevistada dos alunos de Medicina da UFAM são portadores de hiperidrose primária, prevalência maior que a citada8,11-13.

Não encontramos nenhuma doença que caracterizasse a hiperidrose secundária, tais como hipertireoidismo, hiperpituitarismo, diabetes melito, gravidez, feocromocitoma, síndrome carcinoide e acromegalia. Também não foi encontrada a história de sudorese noturna nos acometidos, fato que excluiria o diagnóstico de hiperidrose primária.

Na distribuição da hiperidrose em relação ao sexo, foi encontrada uma razão de prevalências de 0,8 para o sexo feminino. Apesar desta diferença entre sexos, não houve significância estatística no nível de 5%. Fato que concorda com outros trabalhos, que afirmam não haver diferenças significativas de afetados entre os sexos8,10.

Em outros estudos foram encontrados a relação positiva entre a hereditariedade e a hiperidrose primária1,12. Um relato mostrou que 15,3% dos adolescentes apresentavam historia familiar positiva para hiperidrose8, Já em outro estudo a incidência varia entre 12 e 33%14. No presente trabalho, observou-se que 50% dos portadores de hiperidrose primária possuem história familiar, percentagem superior à da literatura.

Na análise do IMC ao se comparar os portadores de IMC maior que 25kg/m2 com os portadores de IMC menor que 25kg/m2, a razão de prevalências é 2,48 para os que têm IMC acima da normalidade (IC 1,12 - 5,48) p<0,1. Não foram encontrados estudos que comparassem estatisticamente o IMC e a hiperidrose. Outros estudos corroboram com os dados encontrados, relacionando a presença de hiperidrose com IMC elevado. Sabe-se também que o IMC acima de 25kg/m2 é uma contraindicação ao tratamento cirúrgico, uma vez que a presença de sobrepeso e obesidade aumenta a hiperidrose compensatória no pós-operatório da simpatectomia15-17.

Um estudo comparando o IMC e o nível da secção da simpatectomia com a hiperidrose compensatória, evidenciou que quanto maior é o IMC, mais intensa é a hiperidrose compensatória, embora isso não tenha relação com o nível de satisfação dos pacientes17.

Em 100% dos pacientes o acometimento foi bilateral, sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), rosto (10,7%), costas (7,1%), tórax (3,6%) e barriga (3,6%), compatível com a distribuição de trabalhos encontrados na literatura10. As limitações das atividades diárias encontradas pelos entrevistados foram compatíveis com os locais mais acometidos. Não foi observada relação positiva ou negativa do IMC ou das situações de estresse com qualquer local específico de hiperidrose.

Apesar de não se tratar de uma doença grave, quanto ao risco de vida, a hiperidrose é uma condição extremamente desagradável e constrangedora, que afeta negativamente a vida rotineira dos indivíduos acometidos, provocando transtornos sociais, profissionais, psicológicos e de relacionamentos. Muitos desses sujeitos acabam por se isolar socialmente e adquir hábitos que escondam seu problema. Foi evidenciada piora da sudorese em relação a ambientes fechados e quentes e à situações de stress, nos quais, respectivamente, 63% e 69% dos acometidos relatavam como "ruim" ou "muito ruim" a qualidade de vida em tais situações.

O desconforto causado pela hiperidrose pode ser de grande intensidade, criando problemas nas esferas emocional, profissional, educacional e social18. A copiosa sudorese palmar pode trazer dificuldades no contato social, na escrita, nas atividades manuais para controlar e manusear objetos, tornando, muitas vezes, esses indivíduos incapacitados para o trabalho19. Ao avaliar algumas situações diárias dos acometidos pela hiperidrose, são caracterizadas como "ruim" ou "muito ruim" situações como dançar socialmente por 69% dos portadores, estar socialmente em público por 50% e praticar esporte por 56%.

A hiperidrose axilar pode causar problemas sociais para o paciente, uma vez que torna suas roupas excessivamente molhadas, fazendo com que, na maioria das vezes, só se possa usar roupas brancas ou pretas. Diferentemente de outro trabalho19 que afirma existir grande dificuldade para os portadores de hiperidrose usar roupas coloridas, em nossa pesquisa 75% dos acometidos não relataram este problema.

Os alunos de Medicina da UFAM, em Manaus/AM, têm uma prevalência de hiperidrose de 5,5%. Não houve predomínio por sexo ou idade. Foi encontrada associação em relação ao IMC (RP = 2,48), enquanto que relação com o stress foi observacional, visto que, entre os casos encontrados, as situações ditas estressantes aumentam os episódios de hiperidrose.

Recebido em 10/12/2010

Aceito para publicação em 15/02/2011

Conflito de interesse: nenhum

Fonte de financiamento: nenhuma

Trabalho realizado na Universidade Federal do Amazonas - AM-BR.

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  • Endereço para correspondência:
    Fernando Luiz Westphal
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Recebido
      10 Dez 2010
    • Aceito
      15 Fev 2011
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