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Abdome agudo como manifestação inicial de melanoma metastático: relato de caso

Acute abdomen as initial manifestation of metastatic melanoma

Resumo

The malignant melanoma is a relatively common neoplasia, with origin generally in the melanocytics cells in the skin, but with presentation of other possible primary lesions, being presented in this, a case witnessed of liver and mesentery metastases with unknown primary sites.

Abdomen, acute; Neoplasms, unknown primary; Liver neoplasms; Neoplasm metastasis; Melanoma


Abdomen, acute; Neoplasms, unknown primary; Liver neoplasms; Neoplasm metastasis; Melanoma

RELATO DE CASO

Abdome agudo como manifestação inicial de melanoma metastático. Relato de caso

Acute abdomen as initial manifestation of metastatic melanoma

Marcos Aurélio Pessoa Barros, Acbc-CeI; Nathalia Siqueira Robert de CastroII; Thiago Camelo MourãoIII

ICirurgião Oncológico do Hospital Universitário Walter Cantídio - Universidade Federal do Ceará - CE-BR

IIResidente do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Walter Cantídio - Universidade Federal do Ceará

IIIResidente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Marcos Aurélio Pessoa Barros E-mail: maureliopbarros@terra.com.br

ABSTRACT

The malignant melanoma is a relatively common neoplasia, with origin generally in the melanocytics cells in the skin, but with presentation of other possible primary lesions, being presented in this, a case witnessed of liver and mesentery metastases with unknown primary sites.

Key words: Abdomen, acute. Neoplasms, unknown primary. Liver neoplasms. Neoplasm metastasis. Melanoma.

INTRODUÇÃO

Com origem nos melanócitos, células pigmentadas, derivadas da crista neural e normalmente presentes na epiderme, o melanoma pode acometer todas as idades. Embora a grande maioria dos melanomas tenha sua origem na pele, outros locais de início incluem a mucosa oral e anogenital, o esôfago, as meninges e o olho1.

O melanoma é uma das afecções causadoras de metástase para o trato gastrointestinal. Os sintomas podem incluir dor abdominal, disfagia, obstrução, hematêmese e melena. Os sítios primários mais comuns são: tronco (40%), membros (22%), cabeça e garganta (15%). Cerca de 16% dos casos apresentam sítio primário desconhecido. Os locais de metástases mais encontrados em autópsias são: pele e tecido subcutâneo (75%), pulmão (70%), fígado (68%), intestino delgado (58%), pâncreas (53%), coração (49%), cérebro (39%) e baço (36%)2,3.

O período médio da sobrevivência para pacientes com metástases não viscerais é de 7,2 meses, porém cai para 2,4 meses quando existe metástase hepática, associada ou não ao acometimento de outros órgãos3.

RELATO DO CASO

JMBS, masculino, pardo, 36 anos de idade, natural e procedente de Fortaleza (CE), com queixa de dor no membro inferior esquerdo, lombalgia e constipação há uma semana. Procurou o Serviço de Clínica Médica da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, sendo internado para investigação com suspeita de hepatopatia crônica, devido à presença de múltiplos nódulos hepáticos ao ultrassom abdominal. Ao exame físico, referia dor à palpação superficial em hipocôndrio direito e epigástrio. O paciente realizou endoscopia digestiva alta (EDA) que evidenciou gastrite erosiva leve de antro. Apresentando-se em bom estado geral, recebeu alta para continuação da investigação clínica no ambulatório. Retornou após uma semana com abdome agudo, sendo levado ao centro cirúrgico para lapatoromia exploratória de urgência. Foi constatada a presença de múltiplos nódulos enegrecidos no fígado (Figura 1), em alças intestinais e no mesentério (Figura 2), difusamente distribuídos, impossibilitando qualquer procedimento cirúrgico. Foi realizada então a biópsia das lesões. Não foi identificada na pele nenhuma lesão melanocítica visível. O paciente teve rápida progressão do quadro, morrendo dois dias depois. O resultado da biópsia evidenciou nas quatro peças enviadas para análise (nódulos mesentérico, do mesocólon, hepático e peritoneal) implantes metastásticos de melanoma maligno.



DISCUSSÃO

O diagnóstico de melanoma é facilmente confirmado após a análise histológica da lesão, porém se torna difícil quando o paciente é portador de metástases à distância. Isso provavelmente é devido ao fato do intervalo de tempo entre o diagnóstico da lesão primária e o aparecimento das metástases ser muito longo, dificultando ao examinador relacionar a queixa atual com a história pregressa do paciente. Klaase et al. chegaram a um intervalo médio de três anos entre o surgimento do melanoma primário e de suas metástases em um estudo com 30 pacientes portadores de melanoma maligno3.

As metástases do melanoma maligno podem ocorrer muitos anos após a apresentação da lesão primária inicial. Ocasionalmente, representam a primeira evidência da doença ou ocorrem mesmo na ausência de um tumor primário clínico detectável.

No caso relatado, o paciente apresentou-se inicialmente com doença metastática disseminada para o fígado, mensentério e alças intestinais, não sendo levantada a hipótese diagnóstica ao pré-operatório em decorrência desta forma clínica de apresentação inicial do melanoma metastático.

A incidência de metástases gastrointestinais é provavelmente muito maior do que a sugerida pelos estudos atuais. A discrepância relativamente elevada entre a incidência baixa de metástases gastrointestinais clinicamente diagnosticadas e a incidência em autópsias é presumivelmente relacionada à ocorrência de sintomas abdominais inespecíficos durante a vida4.

O plano terapêutico para pacientes com metástases de melanoma é difícil, já que o tratamento cirúrgico, radioterápico e quimioterápico, sozinhos ou combinados, não conduzem ao aumento da sobrevida em longo prazo. Sendo assim, o tratamento atual é em maior parte paliativo5.

A decisão de realizar a ressecção do melanoma metastático deve seguir os princípios gerais que se aplicam ao paciente com metástases de outros tipos de tumores primários. A ressecção paliativa deve ser realizada somente com o intuito de aliviar sintomas, como obstrução, hemorragias ou dor, já que não há ganho significativo na sobrevida. O sucesso no alcance dos objetivos estará dependente da localização metastática, da morbidade do procedimento, do curso da doença e da capacidade de comunicação entre o cirurgião, o paciente e a família4.

A radiologia tem um papel importante na detecção inicial de metástases gastrointestinais. Re-enfatizando, as metástases gastrointestinais podem representar a manifestação inicial do melanoma maligno e que estes podem ocorrer na ausência de uma lesão primária clínica óbvia2.

Agradecimentos

À Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza - CE.

Recebido em 23/05/2007

Aceito para publicação em 30/06/2007

Conflito de interesse: nenhum

Fonte de financiamento: nenhuma

Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Oncológica do Hospital Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, CE - Brasil.

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  • Endereço para correspondência:
    Marcos Aurélio Pessoa Barros
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      23 Maio 2007
    • Aceito
      30 Jun 2007
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