Acessibilidade / Reportar erro

A arte de ser professor

The art of being a teacher

A o escreverem que Deus fez o homem à própria imagem, os autores da Bíblia equivocaram-se. Em Sua grande sabedoria, Deus não iria descaracterizar a perfeição da obra, criando uma cópia, pois ninguém e nada no Universo se parece com a energia inicial do Big Bang. Da mesma maneira, quando os antigos hindus, egípcios, maias e gregos, estes plagiados pelos romanos, criaram seus deuses à semelhança humana, fizeram apenas imitações de si, por vezes grotescas, tanto em seu aspecto físico quanto no caráter.

O mesmo efeito constata-se nas artes plásticas. São nítidos os traços físicos dos próprios artistas reproduzidos nas pinturas e esculturas. Essa tendência natural, geralmente involuntária e imperceptível ao autor, indica a vontade de padronizar parte de si como modelo de sua criação.

Não há diferença entre o mestre da arte e o da ciência. O discípulo pode também ser esculpido à semelhança de um mármore, se assim ele o permitir. Entretanto, quando o artista do magistério agir dessa maneira, ele se desmerecerá como professor, pois a criatura moldada perde as suas características, para tornar-se uma caricatura do criador.

Fazendo analogia com o Universo, verifica-se que, em torno de uma estrela, em geral, não há outras estrelas, mas apenas planetas, inferiores em tamanho, sem brilho próprio e, quando esses planetas possuem astros em sua órbita, eles são apenas satélites, de dimensões ainda menores e menos iluminados.

O mais triste é quando a estrela perde o brilho e insiste em manter outros astros ao seu redor e em seu domínio. É assim que se formam os buracos negros, improdutivos e sem utilidade para o desenvolvimento do Universo, aniquilando o que entra em sua órbita, planetas, asteroides e até outras estrelas, transformando tudo em nada.

Como resolver este dilema do ser professor? Sendo preferível ele não revelar seu intenso fulgor de estrela, para não ofuscar o brilho de quem o circunda, e se é inaceitável tornar-se buraco negro, para não destruir o seu ambiente, qual deve ser o seu papel no universo em que se encontra? Cabe-lhe o poder do berço de estrelas. Descobrir os valores intrínsecos de cada discípulo, revelar os seus talentos e encaminhá-lo dentro dos próprios limites. Sua missão é descobrir os sonhos de quem procura a sua orientação e contribuir para transformá-los em realidade.

Cada ser possui qualidades únicas, nas quais é superior aos demais. O maior atributo do professor é perceber a essência de seus alunos e lapidá-los para brilharem em sua grandeza individual. A retirada das lascas impuras das melhores gemas é dolorosa tanto para a joia quanto para o ourives, mas o resultado final é definitivo e supera todo o sofrimento.

A gratidão e a satisfação do dever cumprido são as recompensas de quem fez valer a pena. Em sua minúscula dimensão, a arte do professor certamente desempenha o papel da energia do Big Bang.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2014
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde de Silva, 52 - 3º andar, 22271- 090 Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 2138-0659, Fax: (55 21) 2286-2595 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revista@cbc.org.br