Vivemos hoje uma verdadeira pandemia de sobrepeso, obesidade mórbida (OM) e síndrome
metabólica. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a prevalência de
pacientes com sobrepeso é de 1,9 bilhões e, a de obesos, 600 milhões11 World Health Organization. Obesity and overweight fact sheet no 311,
March 2013. Acessado em 23 de novembro de 2013. Disponível em:
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/
http://www.who.int/mediacentre/factsheet...
. Atualmente, a OM é o segundo fator de morte
evitável no Brasil, superada apenas pelo tabagismo. O modo de vida do nosso mundo
contemporâneo certamente tem grande parcela de culpa. Não podemos, entretanto, deixar de
refletir sobre as políticas de saúde e o atual modelo de gestão pública assistencial,
criado para os centros de referência para o tratamento da OM no país. Observamos que as
políticas e as diretrizes estão muito mais voltadas para a solução deste problema
através de medidas burocráticas, ineficazes e difíceis de serem executadas na prática,
ao invés de desenvolver ações preventivas e assistenciais eficazes que tornem exequível
o tratamento da obesidade. Não menosprezamos a dimensão do problema que é, sem dúvida,
um grande desafio para gestores e especialistas em saúde pública do país, e nem temos a
pretensão de indicar o caminho para "vencer" esta batalha, mas acreditamos que, como
médico, é nosso dever e compromisso analisar alguns importantes mecanismos ora
existentes no sistema para o atendimento integral do paciente obeso mórbido.
De acordo com a VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
por Inquérito Telefônico), pela primeira vez, no Brasil, mais da metade da população
acima de 18 anos de idade tem o diagnóstico de sobrepeso (51%)22 Vigitel Brasil 2012 - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Acessado em 02 de dezembro de 2013.
Disponível em:
http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Nov/26/Relatorios_Vigitel_2012.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/portalsa...
. Caso nada seja feito, pasmem, estaremos colaborando para termos,
em 2030, três bilhões de obesos mórbidos no mundo.
Paremos para pensar: estamos comentando sobre uma epidemia mal controlada, de número expressivo, que não distingue raça, status econômico, sexo, idade, etnia ou grau de instrução. Atinge a todos de maneira gradual, sem misericórdia, de forma crônica, deletéria, avassaladora e, para piorar, um complexo entendimento do processo saúde-doença. Para agravar ainda mais o quadro de calamidade, o tratamento da OM exige equipe capacitada, infraestrutura adaptada, alto custo e o reconhecimento como questão urgente de saúde pública. A questão é a complexidade que envolve a situação de ser obeso. A falta de informação adequada, o preconceito, o estigma - as barreiras individuais, sociais e culturais - são, sem dúvida, o primeiro aspecto a se enfrentar, muitas vezes o paciente obeso é visto de maneira distorcida por toda a sociedade. A população, as mídias e, mesmo alguns componentes da área de saúde não enxergam o obeso mórbido como uma pessoa doente, mas sim como um indivíduo sedentário, guloso e sem disciplina. A consequência, muitas vezes, é uma recusa no acolhimento desses pacientes no hospital público. As barreiras, outras - desta vez estruturais e físicas - se somam. No dia a dia nos serviços públicos, é comum encontrarmos as seguintes situações limitantes para a atenção que um paciente obeso requer: superlotação de ambulatórios, emergências e setores de imagem; falta de instalações adequadas; sistema de referência e contrarreferência ineficientes, falta de equipes adequadas, desconhecimento da doença, preconceito com a condição deste paciente ou, ainda, ineficaz gestão de prioridades.
É interessante observarmos neste momento como o mundo contemporâneo em que vivemos é paradoxal, especialmente o Brasil. Assistimos de forma exaustiva o emprego das políticas governamentais do "Fome Zero", enquanto nossa população atinge estatísticas recordes de sobrepeso e obesidade nestes últimos anos. Vivemos uma cultura de perfeição escultural - um verdadeiro culto ao corpo - idealizando os "contornos" perfeitos, buscando inúmeros recursos estéticos para tal, sem nos preocuparmos com a "base" deste iceberg: a síndrome metabólica.
Será que não chegou o momento de nos preocuparmos com o processo saúde-doença da obesidade?
REFERENCES
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1World Health Organization. Obesity and overweight fact sheet no 311, March 2013. Acessado em 23 de novembro de 2013. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/
» http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/ -
2Vigitel Brasil 2012 - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Acessado em 02 de dezembro de 2013. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Nov/26/Relatorios_Vigitel_2012.pdf
» http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Nov/26/Relatorios_Vigitel_2012.pdf
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Mar-Apr 2015